No começo daquela manhã Konoha ainda parecia devastada pela tempestade da noite anterior. Uma neblina gélida havia tirado as cores do lugar, como se tudo fosse preto e branco. Madara deixava as cinzas de seu cigarro caírem no cinzeiro de porcelana, expirando a fumaça da droga bufava ainda apático. Diante dele Hashirama andava de um lado para o outro com o celular no ouvido à procura de Kurotsuchi, porém as persistentes tentativas foram em vão, já que a mulher não atendeu nenhuma das chamadas.
-Continue tentando, uma hora ela vai ter que atender.
Pediu o Uchiha ao acender mais um cigarro, ainda estava nervoso ao ponto de tremer e com a respiração ainda descompassada. Hashirama sentou-se ao seu lado e segurou sua mão que suava frio, entrelaçou uma na outra, percebendo o quão o homem estava trêmulo o Senju tentava apaziguar.
-Já fizemos tudo que estava ao nosso alcance… Você precisa descansar, passou quantos dias dirigindo?
Madara não respondeu, contudo não reagiu às mãos do Senju acariciando seu rosto, colocando seu enorme cabelo para trás. Segurando suas bochechas coradas, Hashirama o beijou docemente, para lembrá-lo de que apesar de tudo que estava acontecendo, seu amor um pelo outro jamais havia mudado. Apesar de toda dor, do sangue derramado e das cinzas deixadas pelo fogo ainda se amavam ternamente, tal como a paixão um pelo outro havia surgido numa época sangrenta. Hashirama ainda se lembrava de como o Uchiha chorava pela perda dos filhos e da esposa, a proximidade após o luto fora tanta, que de melhores amigos tornaram-se companheiros.
Companheirismo esse de uma relação que jamais poderia ser assumida, Madara já era perseguido por diversos motivos e sua bissexualidade poderia se tornar mais um. Em seus sonhos mais particulares, Hashirama o imaginava como seu noivo, utilizando do mesmo sobrenome e com a presença dos trigêmeos nos quais deviam ter criado juntos.
Tiveram de se separar quando alguém atravessou a entrada da delegacia, uma ruiva alta com seus enormes fios vermelhos cruzou as portas olhando para o casal com um sorriso ladino.
-Estou interrompendo o casal?
Mito era a única que sabia do relacionamento entre os dois, foi também ela que protegeu Madara nos anos de perseguição.
-Quando foi que você voltou?
Perguntou o Uchiha se levantando da mesma onde estava, na qual um dia havia sido usada por Obito antes de retornar para à Akatsuki.
- Eu quem te pergunto, foi depois que a Izumi morreu?
- Foi.
-Sinto muito… Mas por que me chamaram aqui?
Hashirama se levantou e pegou uma pasta preta na mesa ao lado e dirigindo-se à mulher que se servia no bebedouro no canto da sala.
-Creio que você saiba que as crianças conseguiram acabar com a indústria terrorista dos Tsukuri.
- Com "crianças" você quis dizer Akatsuki? Isso o Nagato me contou. Só que não acho que vocês souberam que as fábricas não foram destruídas por eles, não sabem?
- Não tive tempo de investigar isso, mas não foi pra isso que te chamamos.
Hashirama suspirou profundamente, pediu para que Mito se sentasse na cadeira em frente à sua mesa. Assim que ela o fez, foram interrompidos por uma ligação para a delegacia na qual foi atendida pelo Senju.
-Polícia militar, emergência
Do outro lado da linha ouviam-se suspiros pesados junto de gruinhos chorosos, as primeiras tentativas de fala eram apenas gaguejos vindos de uma voz trêmula, ao identificar uma voz feminina o delegado tentou manter a calma, sabendo que na maioria dos casos assim eram denúncias de violência doméstica.
-Como podemos ajudá-la?
-Tem um homem morto na sala da minha casa.
-Preciso que seja mais clara, ele já estava aí quando você chegou? O que aconte-
- Ele me perseguiu quando eu voltava pra casa, ele me estuprou e ia me matar, então eu o matei.
-Certo. O que ele fez contra você?
- Ele invadiu minha casa e me algemou na cadeira da cozinha. Eu tentei me soltar mas toda a vez que eu tentava ele me batia.
A voz feminina tremulava, parava o tempo inteiro para chorar.
-Preciso que você informe sua localização, mandarei uma viatura para retirar o corpo e uma ambulância para você.
(...)
As mãos de Obito seguravam o volante inexpressivo, de longe o fogo se alastrava dando a impressão que o rastro vermelho seguia o veículo. Escorado no banco de carona, Deidara se controlava ao máximo para não ter mais uma crise, era desconfortável para o Uchiha vê-lo assim. As horas se passaram e um silêncio ensurdecedor era a única coisa restante naquele carro.
Quando já estavam a poucos quilômetros de Konoha, o loiro viu pela janela um corvo que voava poucos metros acima do chão em círculos. Estava caindo, despencou no chão com as asas abertas, ainda tentando recuperar os movimentos. De repente, outros pássaros que migravam junto daquele foram ao seu encontro. As memórias de Deidara associaram a cena de uma lembrança onde ele e suas irmãs prometiam proteger um ao outro.
“Já era tarde da noite, fazia um mês que estavam no Japão aprendendo o idioma. Daichi o tempo todo se coçava devido ao aperto da lingerie que fora obrigada a vestir. Em seu rosto uma maquiagem pesava sua pele, roubando seus traços juvenis para dar à aparência de uma mulher, mas seu pequeno corpo entregava seus 13 anos de idade. Os longos cabelos loiros enrolados suavam sua nuca. As luzes fracas da boate a confortava, pensava que assim não veriam seu corpo com tanta facilidade, de longe no balcão seu pequeno irmãozinho servia bebidas alcóolicas para os homens que ali estavam, Daisuke limpava a bancada onde os coquetéis eram derramados. Daichi se frustrava pela situação em que estavam, contudo não teve tempo para se chatear, já que sua madrasta apareceu por trás, puxando seus cabelos para que a mesma a seguisse. Foram até um corredor mais iluminado onde um homem ruivo vestido formalmente estava parado em frente uma porta vermelha. Haiyku pegou uma faixa rosa, que combinava com a lingerie da loira, e a entregou para a mesma.
-Coloque isso na sua boca, assim não vão te ouvir chorando.
Daichi tapou sua própria boca com a faixa e caminhou até o homem, trêmula e com uma expressão chorosa se preparou para mais uma sessão de tortura e dor, eram assim todas as noites desde que haviam chegado.
No outro dia, ainda deitada naquele quarto escuro, os gêmeos entraram para limpar o quarto, se deparando com a irmã mais velha chorando, estava nua, suja de sangue e semen. Seu corpo inteiro doía, algemada na cabeceira da cama as lágrimas rolavam em seu rosto vermelho e inchado. Era uma visão perturbadora para aquelas crianças, Daisuke sentou na ponta da cama olhando para a mais velha ofegante, sem saber o que fazer.
-Deidara, Daisuke…
Sussurrou ainda trêmula, com dificuldades. Seu pescoço estava completamente roxo, a garganta doía (e por motivo das diretrizes do site não será explicado o porquê, mas imagino que saibam). Os pequenos engatinharam até ela, cada um de lado, abraçando o corpo sujo de Daichi, sem se importarem com seu estado, ou com o cheiro de esperma inebriado na garota.
-Por favor, me prometam que nunca, em nenhum momento, não deixem de estar ao meu lado. E se me matarem, fiquem um ao lado do outro, prometem?
-sim
-Deidara?
O Tsukuri foi tirado de suas memórias e voltou à realidade pela voz de seu amado. Notou que haviam parado em frente à delegacia, Obito o olhava preocupado, se aproximando aos poucos. Entendeu sua expressão preocupada ao sentir os dedos do Uchiha secarem as lágrimas que ele não havia sentido. Encurtou a distância beijando-o gentil e lentamente, finalizando com selinhos molhados os dois se separam com afinco.
-Você já está melhor?
-Não sei dizer, queria ver minhas irmãs, as duas precisam saber.
-Vamos resolver isso. Vem comigo.
O casal adentrou o lugar de braços dados, mas o loiro se soltou ao ver a irmã se soltou daquele contato ao ver sua irmã ensanguentada, chorando. Correu para abraçá-la com toda sua força.
-Dai-daisuke.. O que aconteceu?
Mito estava do lado dos dois observando a cena, Madara havia explicado sobre a relação dos dois, ainda era difícil de se acreditar ou entender. Hashirama saiu de sua sala e foi até a recepção onde todos estavam. A loira continuava chorando ao lado do irmão, apertando sua pele assustada.
-Era o Shisui mesmo.. A autópsia já saiu.
O homem caminhou até os gêmeos, sentando-se ao lado dos dois.
-O resultado do seu exame de corpo de delito também já saiu.
De canto de olho viu Obito parado na porta, sem saber o que fazer ou dizer.
-Capitão.. O que aconteceu?
-Shisui está morto.. E a Daisuke que o matou.
Frustração e amargura eram os sentimentos que pairavam na mente de Deidara, seu coração apertou. Descumpriu a promessa feita com Daichi, o que resultou no atual estado de sua gêmea, assim pensava. Se imaginava se ela tivesse fugido junto com ele, se fosse salva da manipulação e tortura por parte dos pais. O arrependimento doía, tal como as feridas da loira ainda abertas e sangrentas, os irmãos choravam, foram deixados ali sozinhos para as outras pessoas ali presentes conversarem em particular.
-Tobi, essa é a Mito, fotógrafa criminalista e investigadora da perícia criminal. E… Mãe do..
-Nagato.
Completou a ruiva, cumprimentando o rapaz sorridente.
- Ela trabalhou com a Kurotsuchi por uns anos, e ela está vindo pra cá. Mas não contamos sobre o Deidara.
-Por que não?
- Ela acha que estão todos mortos, então teoricamente vai ser uma surpresa para todos.
(...)
O restante da tarde passou rápido. Porém o clima desconfortável para todos ali permaneciam. Por hora, Daisuke era a vítima até que fosse comprovado o contrário, a mesma não tinha forças para se soltar dos braços do irmão. Além dele, ela só conseguia conversar com Mito sem ter medo, já que ela era a única outra mulher ali presente.
O crepúsculo se iniciava, Hashirama não havia conseguido convencer Madara a ir para casa descansar. Não queria sair de perto do seu único filho vivo, por mas que Obito não se manifestasse sobre isso.
Em um momento em que Deidara estava no banheiro, Mito sentou-se ao lado de Daisuke abraçando a loira.
-Sinto muito pelo o que aconteceu querida. Tem algo que eu possa fazer por você?
-E-eu quero ir pra casa. Se já tiverem tirado o corpo dele, quero ir embora.
Deidara voltou do banheiro se esforçando para sorrir para a irmã que ainda estava melancólica, Mito se levantou para dar seu lugar ao loiro. Óbito caminhou até os gêmeos parando na frente de Deidara.
-Dei, precisamos ir pra casa.
-Não posso deixar ela sozinha. Vou pra minha casa com ela.
O Uchiha não teve reação, apenas chamou o loiro para que conversassem um canto afastado de todos.
- Ela pode ir pra nossa casa e ficar lá com a gente. Você não precisa voltar pra aquele lugar onde te maltratavam.
-Tobi, não é pelo lugar, é pela minha irmã. E você é irmão gêmeo do cara que estuprou ela, acha mesmo que ela vai se sentir confortável na sua casa?
- Amanhã posso buscar você pelo menos?
-Só vou quando tiver certeza de que ela está bem, ela precisa de mim e seu pai também precisa de você.
Os lábios de Óbito tremiam, jamais se imaginou querer ficar longe de Deidara, ou que o mesmo quisesse distância dele. Para ele, o loiro era tudo, Deidara era seu mundo e pouco importava quem estivesse ao redor. Pensava assim desde a morte de Rin, achando que o loiro o amasse da mesma forma, de fato, Deidara o amava igualmente. Porém suas irmãs haviam tido uma vida tão conturbada quanto a dele, e não as deixaria, em momento algum.
-Isso não me importa, eu só não quero te deixar sozinho.
- Não importa? Seu pai biológico te procurou a vida inteira, viu os outros dois filhos e a esposa morrerem.. E você me diz que não se importa? Tudo que eu desejei a minha vida inteira foi um pai que me amasse, já que eu não tinha minha mãe. Você tinha dois…
Sem querer, Deidara soava choroso, tremendo e quando frio pelas lembranças engatilhadas do seu passado sombrio. A família de ambos precisava dos dois, entretanto Obito preferia pensar que o loiro era sua família, não queria assumir sua origem verdadeira. Estava preso na história contada por Minato e Kushina, o conto de superação onde o Uchiha foi resgatado no mesmo dia do nascimento do irmão, era doloroso acreditar que seu pai biológico nunca quis perdê-lo e que na verdade, sempre o amou, o amava naquele momento da mesma maneira em que sua falecida esposa lhe entregou o primeiro ultrassom mostrando os três juntos no ventre.
Com a garganta seca, Óbito relutava dentro de si para falar, mas seus descompassos eram mais altos, tal como seus batimentos galopantes que pareciam querer saltar de seu peito.
- Minhas irmãs… São tudo pra mim, se eu perder você vai ser à elas que eu vou recorrer. Isso não significa que eu te ame mais ou menos, eu amo você de um jeito, e elas de outro.
Aos prantos, se abraçaram sentido o sabor salgado das lágrimas um do outro, Óbito apertava o corpo magro de Deidara com certo afinco, já sentindo a saudade que ele o faria.
- Por favor.. Me deixe cuidar dela, e pelo menos tente conversar com Madara.
O Uchiha apenas assentiu, uma troca de olhares profundamente dolorosa durou por alguns segundos antes de beijar seu namorado pela última vez, um beijo sedento, faminto. Já sentindo as dores da falta que será feita.
Naquele fim de tarde Óbito seguiu os conselhos de Deidara, enquanto o mesmo voltava ao seu antigo lar. Dessa vez, sozinhos, sem o olhar sombrio de Akuma ou a frieza de Hayku. Apenas os gêmeos, Daichi também chegou na noite próxima noite para acalentar a caçula.
(...)
O tempo não estava sendo generoso com o Uchiha, as semanas passaram lenta e torturosamente. As malas semi-abertas no canto do quarto não foram desfeitas, sua cama estava gelada, o cheiro de sua falecida ex-esposa estava em tudo naquela casa, vez ou outra Obito visitava seu túmulo e se perguntava como tudo havia sido se houvesse negado pegar aquele caso. "Um adolescente, loiro dos olhos cinzentos com um cabelo longo o suficiente pra ser confundido com uma mulher, crime: ataques terroristas em série."
Abril terminaria mais uma vez, já completariam três anos que havia resgatado o loiro. O aniversário do mesmo também se aproximava, fato esse que não fazia muita diferença para ele.
Deidara havia o visitado duas vezes nesse tempo, já tinha se reabituado à sua antiga casa. Daichi convenceu os gêmeos à se inscreverem no vestibular para retomarem os estudos e seguirem seus sonhos, ambos tinham diplomas de cursos cujo foram obrigados à fazer para ampliarem suas funções nas indústrias terroristas. Porém os dois tinham sonhos, Deidara prestou para Artes visuais e Daisuke queria se graduar em ciências da computação.
Em 30 de abril a mais velha completou seus 26 anos de uma maneira que jamais imaginaria. Hidan à presenteou com um anel de noivado e uma declaração que a deixou em prantos, os gêmeos lhe deram um conjunto brilhante de berloques azuis, a pulseira, colar e brincos continham joias safiras que realçavam seus olhos.
Maio se iniciou trazendo consigo a primavera, Kurotsuchi e Mito investigavam as explosões em Hokkaido. Porém fora apenas uma explosão acidental numa fábrica localizada na cidade vizinha, o fogo se alastrou na vegetação ao redor, queimando tudo que havia na ilha, inclusive a cabana onde o casal viveu.
(...)
No aniversário dos gêmeos, Daisuke optou por gastar a fortuna de seu infeliz pai ao lado de Daichi e Temari. As três loiras juntas se pudessem comprariam o shopping inteiro.
Obito e Deidara optaram por fazerem um piquenique juntos no bosque do orfanato abandonado. Sentiram tanto falta um do outro que queriam mais a companhia um do outro do que comemorarem.
Para Deidara, era uma superação estar completando 22 anos. A morte o encarou de perto em diversos momentos, mas nunca o levou, sem contar as vezes em que ele mesmo queria causar seu fim, de tão cansado da miséria. Felizmente nenhuma de suas tentativas de suicídio deram certo, suas cicatrizes no pulso, a cegueira de seu olho esquerdo e outras marcas pelo seu corpo contavam sua triste, porém inspiradora trajetória. Tal como a profundidade das cicatrizes em formato de espirais no rosto de Óbito, os buracos de bala de diversos combates provavam sua coragem.
O florescer da primavera proporcionava às flores o mais belo desabrochar, nas brumas mais leves os raios solares reluziam. Levemente bronzeado e com as bochechas avermelhando como as pétalas de rosas, os olhos de Deidara já não eram mais tão cinzentos, suas safiras pareciam puras e brilhantes como o céu límpido daquele dia, o cabelo já havia começado a crescer novamente, abaixo da altura da orelha pequenas ondas douradas cresciam, seu olhar se cruzou com o do seu amado no topo da colina.
Correram para se encontrarem, se abraçando tão forte ao ponto que sem querer Tobi estralou as costas do loiro. Se beijaram calorosamente, Óbito puxava os cabelos de Deidara pela raiz com uma mão conforme a outra pressionava sua cintura, aumento o calor entre seus corpos era tanto que chegavam a tremer.
-Senti sua falta… Senti muito a sua falta.. Por favor me prometa que não vai ficar mais tanto tempo longe de mim.. Eu amo você demais para não te ter, Deidara.
Disse o Uchiha, sem soltar seu namorado, olhando profundamente em seus olhos.
-Também senti muito a sua falta, eu te amo, eu te amo demais….
Aquelas simples palavras soavam com um mantra para Óbito, olhou para os céus com Konan em seus pensamentos. Se viva, agradeceria à mesma por ter designado para ele o caso do desaparecimento do Tsukuri. Também se ainda fosse policial, teria cumprido a missão passada por sua rígida superintendente. Com Deidara em seus braços, ergueu-o em seus braços e rodopiaram juntos sentindo a brisa salgada invadir suas narinas.
-Feliz aniversário, Dara.
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