C A P Í T U L O I:
O confronto
“As vezes é preciso se aventurar fora do seu mundo para se encontrar.
— Gossip Girl
Naquela manhã, Merida Dunbroch não acordou ao som de seu despertador, mas com os socos incessantes e os gritos familiares de sua prima de segundo grau, com quem dividia o aluguel de um pequeno apartamento sublocado pelo peculiar dono do condomínio, Sr. Oaken.
— Acorde, Mer! — insistiu Rapunzel, que estava do outro lado da porta, enquanto Merida abria os olhos com dificuldade, piscando para focar no teto branco.
Rapunzel Corona, uma adolescente de dezessete anos, está no último ano do ensino médio e conta os dias para se formar e realizar seu grande sonho: estudar em Paris na renomada École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, onde pretende seguir carreira como pintora. Ela tem cabelos loiros que caem lisos até os tornozelos, olhos grandes e gentis, um rosto em formato de coração e traços delicados, pontilhados por sardas nas bochechas que lhe conferem um ar quase etéreo. Criativa e animada, Rapunzel valoriza a organização e a inteligência — tanto que chega ao ponto de considerar um crime qualquer tipo de atraso.
— Não se atrase, ou eu deixo você aqui! — ela berrou uma última vez, antes de se afastar da porta, os passos ecoando pelo pequeno apartamento.
Merida se sentou na cama e suspirou, afastando os cachos ruivos do rosto. Seu celular Nokia tocou o alarme cinco minutos depois, e ela sorriu ao remexer-se na cama. Sempre preferia ser despertada pelo som monótono do aparelho a ter de lidar com o barulho da prima. Abriu a cortina e deixou a luz do sol entrar pela janela, revelando um céu claro e limpo.
Merida Dunbroch, de dezesseis anos, veio de uma família outrora próspera e influente, mas os tempos mudaram. Seu motivo para se mudar da agitada Berk para a pacata Storybrooke não é nada simples: está determinada a vingar seu pai, Fergus, que ela acredita ter sido traído e arruinado pelo poderoso Stoico Haddock. Merida vê sua bolsa de estudos no requisitado Colégio Boulevard e o estágio em uma das multinacionais Haddock como as primeiras etapas de seu plano.
De personalidade forte, com um temperamento que varia como as fases da lua, Merida é independente, impulsiva e otimista. Os cachos ruivos e rebeldes, intensos como fogo, seus olhos azuis penetrantes e o sorriso contagiante fazem dela uma presença vibrante.
— Vamos lá, hoje é o dia de fazer acontecer! — ela murmurou para si mesma, dando alguns tapinhas nas próprias bochechas para acordar de vez.
Depois de uma breve higienização matinal, Merida tentou ajeitar os cabelos em um coque e em um rabo de cavalo, mas nada parecia domar os cachos indomáveis. Rendendo-se, deixou-os soltos e foi até a cozinha, onde encontrou Rapunzel preparando uma omelete de queijo na frigideira antiaderente, um dos itens favoritos de ambos no pequeno apartamento.
— Pensei que teria que derrubar a porta do seu quarto — brincou a loira, com um sorriso, enquanto Merida se sentava, ainda com expressão de poucos amigos. — Suco de laranja?
Merida assentiu, aceitando o copo, e começou a comer. Rapunzel, entre mordidas de torrada, observou a prima com curiosidade.
— Está animada para o primeiro dia de aula? — perguntou, mas a ruiva parecia perdida em pensamentos, encarando a foto do falecido Fergus.
— Ei, está me ouvindo? — insistiu Rapunzel. — Não me diga que você está olhando para a foto do seu pai de novo, Merida.
— E qual é o problema, Punzie? É crime, por acaso? — retrucou Merida, apertando a foto com força.
— Claro que não. Mas, no seu caso, isso está virando uma obsessão! — Rapunzel suspirou.
— Eu quero e vou fazer justiça! — disse Merida, cerrando os punhos.
— Seu pai se suicidou, Mer… não há nada a fazer — a prima tentou argumentar, com um olhar de reprovação. — Mas estou com você, sempre. Só acho que, se esse desejo virar rancor, pode te machucar muito.
— Não. Mas, no seu caso isso já está virando uma obsessão! — reclamou a prima, ao franzir o cenho em reprovação.
Merida a ignorou, apertando ainda mais os punhos. — É diferente. Meu pai foi enganado! — sussurrou. — Aquele desgraçado do Stoico Haddock passou a perna e destruiu a nossa vida.
Rapunzel respirou fundo, tentando manter o tom de voz moderado. — Prima, tente seguir em frente…
— Enquanto não vingar a memória do meu pai, nunca vou esquecer! — Merida disse, dando um soco leve na mesa, os olhos fixos no chão.
Rapunzel se aproximou, abraçando-a com carinho. — Só toma cuidado, tá? Essa sua sede de justiça ainda pode lhe trazer problemas. Estou falando sério.
— Vou ficar bem, Punzie — Merida respondeu, forçando um sorriso e retribuindo o abraço.
— Só toma cuidado, tá? — Abraçou a prima num aperto forte e cheio de carinho. — Essa sua sede de justiça ainda vai lhe colocar numa roubada. Só escuta o que estou te dizendo.
— Vou ficar bem, Punzie — Merida respondeu, forçando um sorriso e retribuindo o abraço.
As duas observaram o relógio de parede da cozinha, notando que estava quase na hora de saírem.
— Melhor nos apressarmos — lembrou Rapunzel, recolhendo a louça e se dirigindo para a porta. — Quero te mostrar a escola.
[ ... ]
O trajeto até o colégio foi tranquilo, e elas conversaram o caminho inteiro.
— Estou falando, a Boulevard é uma escola excelente. A estrutura e o nível de ensino fazem jus ao título de melhor da cidade. O único problema é que, se você é bolsista e não tem posses, vira invisível para a maioria das pessoas — comentou a loira, dirigindo seu Fiat Uno vermelho com um toque de orgulho.
— Não tenho a menor intenção de atrair atenção, muito menos me tornar uma Cady Heron buscando "amizades" — respondeu Merida, fazendo aspas com os dedos. — Não vim aqui para lidar com nenhuma Regina George e sua patota.
Rapunzel riu do comentário de Merida, mas não de deboche. Era um riso de total cumplicidade.
— MEU DEUS! — exclamou Merida, surpresa com o tamanho do colégio à sua frente. — É aqui?
Rapunzel assentiu com um sorriso ao ver a prima maravilhada com o lugar. O colégio realmente parecia cenário de filme, com seus três andares, um chafariz na entrada, estátuas renascentistas e um corredor ladeado por árvores de pessegueiro cujas pétalas adornavam o chão.
— Fiz essa mesma cara no meu primeiro dia — comentou Rapunzel, notando o encantamento da prima.
Merida torceu o nariz ao ver os grupos de alunos já reunidos, provavelmente falando sobre a roupa de alguém ou discutindo futilidades.
— Mordomos e limusines?! — murmurou, impressionada com a riqueza do lugar. Logo franziu o cenho quando Rapunzel estacionou na área dos fundos, mesmo com tantas vagas na entrada. — Por que não estaciona lá na frente? Tem vaga de sobra, Punzie.
Rapunzel puxou o freio de mão, tirou a chave rapidamente e suspirou antes de responder, virando-se para a prima.
— Mer, você viu os carros e as motos lá na frente, né? Ferraris, BMWs, conversíveis, Harley-Davidsons, Mercedes e Ducatis — Merida balançou a cabeça concordando. — Pois então. Meu Fiat Uno é praticamente uma lata velha perto daquelas belezuras.
— Ei, não fale assim! Eu gosto do seu carro — disse Merida com sinceridade.
— Também gosto dessa velharia aqui — respondeu Rapunzel, beijando o volante carinhosamente. — Mas o colégio tem uma reputação a zelar, e meu Uno ali no meio certamente iria "estragar a imagem" do lugar. Entendeu?
— Espera, então tudo aqui é uma questão de aparências? — indagou Merida, arqueando a sobrancelha. — Ou seja, uma separação entre bolsistas e ricos, certo?
— Exato! — respondeu Rapunzel.
— Isso me dá nojo! — Merida resmungou ao pegar seus materiais, enquanto Rapunzel fechava o carro e acionava o alarme.
No caminho, Merida percebeu mais carros populares estacionados na área dos fundos.
— A maioria deles é bem esnobe, mas há exceções, como a Elsa e a Astrid. Elas são minhas melhores amigas e não têm essa frescura com os bolsistas — explicou Rapunzel.
— Entendi — murmurou Merida, ajustando a mochila. — E o ensino? É bom mesmo?
— Sim, os professores são dedicados e não fazem distinção entre os alunos. Claro, com exceções, como o chato do Hans, de Biologia, e a Gothel, de Literatura Espanhola — respondeu Rapunzel animada, enquanto passavam pela entrada principal.
Merida estava fascinada com o interior do colégio.
Novamente, Merida ficou encantada com a beleza do local.
— Atualmente, a diretora é a Heather Andersen — comentou Rapunzel, admirada. — Se eu fosse bissexual, com certeza daria em cima dela. A mulher é linda e sofisticada!
— Ai Punzie, só você mesmo! — Ririam. — E você tem amizade com os bolsistas? — continuou Merida com suas perguntas. Tinha fome de saber sobre tudo: sobre as pessoas e os lugares que fariam parte da sua realidade.
— Ai, Punzie, só você mesmo! — riu Merida. — E você tem amigos bolsistas?
— Ah, claro! Tem o Kristoff e os gêmeos Cabeça Quente e Cabeça Dura. Vou te levar ao refeitório para conhecê-los. Só que... está vendo aquela ali? — indicou uma ruiva de trança embutida. — Nunca, em hipótese alguma, fale com a Anna. Apesar de ser irmã da Elsa, ela é uma megera.
Merida assentiu.
— E mais alguém para evitar?
— Sim, o trio de idiotas! — resmungou Rapunzel, cerrando os dentes ao fechar o armário. — Eles se acham os donos do colégio e, se alguém não os "respeita", está condenado.
— Ah, sei... — murmurou Merida.
— Olha, se o ensino aqui não fosse tão bom, eu já teria dado no pé faz tempo! — confessou Rapunzel. — O Flynn Rider é arrogante e narcisista, o Jack Frost é o jogador de basquete e um encrenqueiro, mas o menos insuportável é o Hiccup Haddock. Ele é um idiota, mas comparado aos outros, até que é suportável.
— Hiccup Haddock? Filho do Stoico, não é?
— Merida, por favor! Ele pode ser irritante, mas não tem nada a ver com a história da sua família — repreendeu Rapunzel.
— Eu sei — deu de ombros. — Mas isso não me impede de usá-lo para descobrir mais coisas.
— Argh! — resmungou a loira, batendo na própria testa. — Você é muito teimosa!
— Então, esses garotos são amigos? — perguntou Merida, com um ar de curiosidade inocente.
Merida riu alto. Definitivamente, Rapunzel é muito engraçada, as feições que fazia enquanto criticava era realmente hilárias.
— Amigos? — riu Rapunzel. — Pelo que a Elsa e a Astrid me contaram, eles são "amigos" desde sempre, tipo... merda, papel higiênico e descarga.
Merida riu. Rapunzel era hilária em suas críticas.
— Por isso, mantenha distância deles. Principalmente do Flynn Rider, que se acha "a última bolacha do pacote" — concluiu Rapunzel, arrancando uma risada da prima.
— Não sabia que tinha tanto ódio no coração, representante — uma voz masculina grave soou atrás delas. — Está apresentando o colégio para mais uma gentinha da sua laia?
As duas congelaram.
Rapunzel bufou, e Merida se virou para encarar o rapaz. Era um jovem atraente, de cabelo escuro e desalinhado, e com um cavanhaque bem desenhado. Os olhos castanhos estavam fixos em Rapunzel, como os de uma ave de rapina. Apesar da frieza, Merida admitiu que ele era bonito.
— Sabia que é feio ouvir e se intrometer na conversa alheia? — provocou Rapunzel, sem hesitar.
— Eu não tenho culpa se você fala como uma feirante — rebateu Flynn.
— Sr. Rider, ajeite essa gravata e abotoe sua camisa direito — respondeu Rapunzel, quase irritada.
— Eu não acho que sou "a última bolacha do pacote". — Flynn ajeitou a camisa e ajustou a gravata de modo relaxado. — Eu sou! — soltou uma risada falsa. — E para alguém com roupa de segunda mão, até que você é bonita. — Piscou ao alisar o cabelo para trás.
Rapunzel pensou em responder, mas respirou fundo e controlou as emoções.
— Cinco pontos a menos pela aparência desleixada — ela respondeu, anotando algo em sua prancheta. — Na próxima, vai para a sala do diretor.
Flynn deu de ombros e se afastou pelo corredor.
— Não te disse? Ele é um babaca! — resmungou Rapunzel.
— Não tenho dúvidas! — Merida concordou.
— Vamos entregar os papéis e pegar sua grade de aulas para não nos atrasarmos — concluiu Rapunzel, praticamente arrastando a prima pelo corredor.
[...]
— Este aqui é o refeitório — informou Corona, e as garotas adentraram no local e Merida ficou impressionada com a quantidade de guloseimas. — Oi pessoal! Essa é minha priminha, Merida.
— Olá! — disse a ruiva com um sorriso gentil para todos na mesa.
— Oi Merida, sou Lilian Walter, mas todos aqui me chamam de Cabeça Quente porque dizem que sou estressadinha, mas é mentira — disse com simpatia, a garota loira com seus olhos azuis acinzentados e um sorriso divertido ao apertar uma das mãos da Dunbroch.
— Chegou em Storybrooke quando? Punzie disse que você veio de Berk, eu tenho parentes lá — comentou outra garota loira e muito bonita por sinal, julgando pelas vestes dela, Merida notou que a mesma poderia ser uma das amigas ricas que Rapunzel mencionou que gostava de se entrosar com os bolsistas.
— Faz uma semana que estou aqui — explicou, ao se sentar ao lado de Lilian que lhe ofereceu um pedaço de uma barra de chocolate Hershey's que foi prontamente recusada. — Punzie já no primeiro dia me levou para dar um pequeno tour pela cidade.
— Rapunzel! No primeiro dia? Nem deixou a coitada descansar da viagem? Definitivamente, você é uma tirana! — comentou a garota divertida. — A propósito, sou Astrid Hofferson. — Sorriu e Merida lhe sorriu de volta.
— Eu tirana? — a Corona se fez de inocente, comprimiu os lábios num biquinho fofo. — Sou um anjinho.
— Essa aí só tem cara de santa — brincou Cabeça Quente. — No fundo, ela é uma daquelas mulheres que gosta de algemar alguém na cama e dar uma de dominadora. — Fez um olhar safado, antes de cair na gargalhada com as outras três.
— Vai se acostumando Merida, essas duas são loucas de pedra — avisou Astrid e fez uma pausa dramática e então: — eu adoro isso!
Mais risadas divertidas preenchiam a mesa.
— Onde está a novata? — perguntou um rapaz loiro e robusto, acompanhado de outro garoto que era idêntico a Cabeça Quente.
— Aqui! — Rapunzel apontou para a prima com um sorriso. — Kristoff e Cabeça Dura, esta aqui é Merida.
— Encantado — brincou ao beijar a palma da mão da ruiva. — Sou Maurice Walter, como deve ter percebido gêmeo daquela bruaca ali — , apontou para a irmã que lhe mostrou o dedo médio. — O pessoal aqui me chama de Cabeça Dura.
— Nunca tente discordar dele — começou Kristoff — , mesmo que você estiver com a razão, pois ele vai lhe vencer no cansaço.
— Mer é outra — comentou Rapunzel. — Às vezes eu tenho vontade de enfiar a cabeça dela em uma privada por conta dessa sua mania irritante.
Todos gargalharam.
O refeitório é enorme, os alunos presentes se agrupavam em suas turminhas.
— Quem é aquele? — sussurrou Merida para prima, olhando na direção de um garoto de cabelos loiros platinados, quase brancos, olhos azuis tão rasos. Ele se juntou a uma mesa no fundo do refeitório e, reconheceu Flynn Rider entre um dos garotos sentados.
— Aquele é o tal Jack que te falei — cochichou. — Viu como ele é esquisito? Bonito, mas beeem esquisito — soltou um risinho.
— Bonito, esquisito e muito bom de cama — se intrometeu uma garota de olhos azuis, cabelos loiros presos por uma trança embutida na lateral e uma maquiagem elegante. Aquela é Elsa e a Dunbroch sabia porque sua prima havia lhe dito o qual simpática ela é.
Elsa Snow é uma das garotas mais ricas de Storybrooke e com a segurança dobrada. Seu pai é o governador da cidade e um dos políticos mais conceituados do mundo, sua fortuna e influência estão espalhados pelos quatro cantos do globo, no entanto, ela nunca faz diferença entre bolsistas e alunos ricos e, sua humildade faz com que amplie ainda mais suas características honráveis.
— Como você sabe disso? — perguntou a ruiva em inocência, ainda observando os garotos.
— Como ela sabe disso? — repetiu Rapunzel divertida. — Porque ela dormiu com ele.
— Na verdade, ela dormiu com os três — corrigiu Astrid, Merida olhou para mesma e ela sorria abertamente.
— Olha quem fala, você também dormiu com Hic e até com Flynn que diz só sair com mulheres mais velhas — retrucou Elsa com diversão, não se incomodando com nada daquilo.
— Uau! — balbuciou a Dunbroch não sabendo o que falar.
— Pois é, duas piranhas! — Cabeça Quente disse de cara limpa e Kristoff a olhou aterrorizado pelo modo com o qual se referiu as amigas, mas o restante do pessoal caiu na gargalhada.
— E aquela ali que acabou de chegar? — Merida apontou na direção de um garota de um metro e sessenta e cinco, cabelos negros e escorrido, olhos lilases e pele pálida que passou pela porta do refeitório ganhando a atenção de todos.
— Ah, aquela é a Deusa das deusas! — suspirou Cabeça Dura apaixonadamente, colocando as mãos em seu coração de forma dramática. — Violet Parr.
— Aquela é só uma das melhores amigas da minha irmã — comentou Elsa rindo.
Mas de repente, as garotas ficaram sérias, assim como todos no salão.
— Tem alguma coisa errada? — a ruiva perguntou, seguindo o olhar para onde todos estavam observando.
Viram a tal Violet falar algo em voz baixa para Flynn e Jack e ambos levantaram-se depressa e caminharam para fora do salão.
— Vamos lá! — incentivou Astrid toda animada e Rapunzel deu de ombros.
— Não tenho nada pra fazer mesmo — Cabeça Quente falou, para logo puxar Merida.
Lá, elas viram Rider bufando de raiva e Frost balançando a cabeça negativamente com um sorriso de satisfação, ele parecia se divertir, Astrid e Elsa foram ao encontro deles.
— Como esse corno tem coragem de defendê-la? — Ouviram os burburinhos de alguns garotos.
— O que está acontecendo? — Merida quis saber, Cabeça Quente segurou em uma de suas mãos.
— Nada de diferente — comentou a Walter. — Algum garoto corajoso o bastante para enfrentar aquele cara — apontou na direção de Melequento.
— Ouvi dizer que ele engravidou a Gogo — cochichou Punzie, roendo uma das unhas e ficando na ponta dos pés para ver o que a multidão de pessoas escondiam.
— Mas isso é absurdo! — a Dunbroch se pronunciou. — Ele tem que assumir essa criança.
As garotas riram.
— O que foi?
— Melequento assumir alguma coisa? — repetiu Cabeça Quente, e todos começaram a caminhar para dentro da escola ao som do sinal.
— Sabe quando isso vai acontecer? Nunca. Aquele ali é o filho do dono da escola. É claro que não será punido — resumiu Kristoff ao se aproximar das garotas, com a raiva nítida em sua face. — Se ele ao menos pagar um médico para essa menina fazer um aborto decente já é muito.
— Mas é um absurdo essa garota ter a vida arruinada por causa da imprudência desse idiota! — grunhiu a novata entre dentes, cerrando os punhos, inconformada com aquela justiça.
— Por isso que eu digo para ficar bem longe desses riquinhos — sussurrou Rapunzel no ouvido da prima. — Esqueça sua vingança e deixe o Haddock, ele é outro que pode lhe colocar em uma enrascada. Porque ao contrário dos dois amigos dele, ele pensa.
Merida sentiu um arrepio na espinha, mas teimosa que só, não iria desistir tão fácil. Não até o filho de Stoico e chegar em seu objetivo.
— Aqueles três já são terríveis sozinhos, juntos eles são o apocalipse dessa escola — ouviram Kristoff dizer ao cruzar os braços.
[…]
As últimas aulas pareciam ser de uma tremenda chatice. Quanto mais Merida olhava para o ponteiro do relógio, menos ele parecia se mover. Bufou irritada. Batucava os dedos na mesa com a expressão de tédio do qual não fazia questão alguma de esconder, e apoiou uma das mãos em sua bochecha, sustentando o peso da cabeça curvada para o lado.
Estava nervosa por diversos motivos.
O primeiro é por não ter suprido sua curiosidade em conhecer o herdeiro de seu maior inimigo, o segundo é por não dar um bom chute nos testículos do tal Melequento para nunca mais tentar fornicar com ninguém. E por último, não via a hora da aula que mais se parecia com uma tortura psicológica se encerrar. Queria que seu estágio se iniciasse logo, e finalmente conhecer Stoico Haddock.
— Viram a briga do Hiro com Melequento hoje? — comentou uma das garotas, Merida bufou ainda mais. — Aí ele tão atlético!
— Não, Haddock é o melhor! Pena que ele não sai com ninguém do colégio. — Mais burburinhos e tolices foram ditas.
— Prefiro o Rider. — A ruiva ouviu outra garota de voz esganiçada dizer.
— Sai fora. O Frost é bem melhor e mais gostoso, sinceramente, não me importaria de dar pra ele — outra garota respondeu e risos foram soltos.
Merida mordeu com força a tampa da caneta para não gritar com elas e dizer o quão estúpidas são.
— Credo, nem fale isso de brincadeira! — respondeu a outra com uma voz irritante de nariz entupido. — Sabe que esse tipo de garota são consideradas pela sociedade como putas que só servem para uma boa foda. Nenhum cara de respeito vai querer se casar com uma garota assim…
— Aquela GoGo Tamago é uma grande vadia! Todos nós sabemos que ela deu pra todos os garotos do colégio… Demorou até para ela engravidar — o comentário maldoso de uma das colegas atrás de si não passou despercebido pela Dunbroch que virou bruscamente para trás e bateu uma das mãos na mesa da garota com raiva.
— Qual é o problema? A sexualidade não determina o caráter de ninguém! — Merida gritou, o seu pavio curto havia sido acionado. — Ela é livre para julgar e fazer o que bem quiser com seu próprio corpo ou vida — riu sem um pingo de humor. — Me admira vocês, mulheres, ao invés de ficarem ao lado dela, defendem aquele crápula que pensa com a cabeça de baixo ao invés do cérebro!
Todos na sala ficaram em silêncio, até mesmo Cruella De Vil, a professora de história mundial interrompeu a aula para prestar atenção naquela confusão.
— Não sei do que essa louca está falando. — A tal garota tentou disfarçar, mas todos a olhavam com desaprovação e fofocavam.
— Algum problema garotas?
A Dunbroch respirou fundo e contou de um a dez para não se descontrolar novamente.
— Desculpe professora, foi só um mal entendido — a contragosto, ela se desculpou.
Para o seu alívio, o sinal havia soado e todos voaram para saída. Mas antes de sair, a tal garota olhou Merida com desprezo e a mesma lhe encarou com mais altivez e imponência. Então ela saiu e Lilian aproximou já com a mochila nas costas.
— Punzie tinha nos dito que você é estourada, mas não imaginei que fosse a esse ponto — comentou rindo.
— Eu só acho um absurdo ficarem crucificando a tal Gogo como se ela fosse a maior biscate só pelo fato dela ser uma mulher e ser bem resolvida sexualmente. — Jogou os materiais com raiva dentro da mochila. — Homens que saem por aí pegando geral são considerados maravilhosos, os garanhões — desabafou para colega com raiva. — Estou cansada disso!
— Infelizmente Mer, essa sociedade ainda é muito machista.
— O pior nessa história não são eles, mas, sim, garotas bobas como aquelas que nos envergonham! — falou possessa, já saindo da sala ao lado da amiga loira.
— Aí estão vocês. Como foram o restante das aulas? — perguntou Rapunzel, quando se esbarraram no corredor.
— Mer acabou de dar uma linda lição de moral em um bando de garotas atrás dela — comentou Cabeça Quente orgulhosa.
— Pelo amor de Deus, não me diga que ela já levou uma advertência? — Corona fechou os olhos e sua boca ficou uma linha reta.
— Nada — continuou — , ficou tão abismado com as palavras dessa fera aqui que deixou passar.
— Não é bem assim… Eu não disse nada demais… — A ruiva sentiu as bochechas queimarem.
— Nada demais? Foi discurso feminista mais bonito que já ouvi! — Cabeça Quente estava admirada e apertou os ombros de Merida em apoio. — Ela disse para as garotas que a Gogo é livre para fazer do corpo e vida dela o que quiser e que a sexualidade não define o caráter de alguém. Agora me fale se isso não é bonito?!
Rapunzel balançou a cabeça em reprovação.
— Prima eu admiro sua coragem, mas isso pode a tornar numa grande idiota se não usar sua cabeça — a repreendeu. — Já pensou se Cruella resolvesse mandá-la para diretoria? A esse instante você teria perdido sua bolsa e estaria com seus materiais indo somente para seu estágio.
— Meu deus! — exclamou a Dunbroch, puxando o pulso direito da Corona e vendo as horas no relógio digital da mesma. — Preciso ir pegar o ônibus, não posso me atrasar, afinal, a primeira impressão é super importante!
— Você vai assim? — perguntou Rapunzel, avaliando-a de cima abaixo enrugando a testa.
Merida maneou um não com a cabeça.
— Tenho roupa de troca. Assim que chegar lá, vou diretamente para o banheiro. — Mordeu o lábio inferior. — Agora preciso ir… Nos vemos mais tarde Punzie. Tchau Lily.
— Tá bom! — Corona gritou parada na porta da entrada do colégio e a Walter sorriu ao observar a nova colega correndo feito uma zebra desesperada pela savana da África.
A DunBroch saiu de Boulevard correndo feito um jato, pouco se importando com os olhares ultrajados sobre si. Estava quase alcançando o portão quando ouviu um rodopio intenso de uma moto e fechou os olhos esperando pelo impacto que não veio, pois o motorista conseguiu puxar o freio.
— Olha por onde anda, seu idiota! — Em meio agitação e desespero ela gritou, e sem pensar chutou o farol de uma Harley Davidson modelo Night Rod.
A confusão já havia se formado. Todos que estavam presentes no estacionamento permaneceram estáticos e Merida sentiu o sangue se esvair do seu corpo.
— Aquela não é a moto do Haddock? — Ouviu alguém dizer completamente em choque.
— Vish, essa daí tá ferrada! — Arregalou os olhos, ao ouvir outro comentário de um dos garotos que estava próximo de si.
O rapaz tirou o capacete preto, os fios desalinhados de seu cabelo balançava levemente acompanhando o ritmo da brisa.
A ruiva puxou todo o ar para dentro de seus pulmões. Notou que os cabelos na tonalização entre o chocolate e o mel contrastava muito bem as íris verdes como a grama. Os ombros de Hiccup são largos e o físico é perfeito, pois não fazia o gênero musculoso e nem magrelo. O rosto fino; o nariz arrebitado, traços másculos ao mesmo tempo suaves.
Ele usava o uniforme do colégio, mas nele não ficava sem graça como dos demais, pelo contrário, parecia despojado. A camisa de linho tinha dois botões abertos, sendo possível ver um pouco de sua pele levemente bronzeada, como também a corrente de prata, a gravata frouxa em seu pescoço, e nos pés calçava um tênis All Star cano longo preto e cadarços brancos, um clássico.
Por um minuto, a jovem pensou que fosse uma ilusão da sua mente, um sonho ao qual ela estava vivendo enquanto dormia na sala de aula. Infelizmente, é real.
Hiccup Haddock… Ele é… Lindo!
Merida engoliu em seco, sabia que naquela noite sonharia com os olhos dele. Mas não eram quaisquer olhos; são as íris do filho do homem que arruinara a vida da sua família, intensos como as águas que deságuam no Caribe, perigosos, pois eram um convite para se apaixonar.
Ele colocou o capacete no banco e se aproximou em passos lentos do farol, avaliando o estrago. A ruiva arfou, prendendo o fôlego, todas as pessoas o fitavam em absoluto silêncio.
Como um leão prestes a dominar sua presa, ele foi em direção à Merida a olhando diretamente nos olhos, de modo penetrante. Ela teria ficado fascinada com o caminhar desleixado e firme dele se não estivesse completamente assustada com aquele olhar sério cavado sob sua face.
— Então... — Ouviu a voz masculina e decidida de Hiccup em um tom brando, mesmo com impaciência, saiu arrastada, causando um arrepio prazeroso na Dunbroch. — Estou esperando…
— Esperando pelo quê? — indagou a ruiva confusa, ao retirar o pé direito do farol e cruzar os braços, piscando diversas vezes suas íris, obrigando-se a se concentrar na situação formada e não nas orbes verdes.
Hiccup entortou os lábios em diversão, para logo replicar uma resposta cheia de prepotência e audácia:
— Oras, que você me peça desculpas por ter acabado com farol da minha moto favorita!
A arrogância em suas palavras, como se fosse uma ordem a qual devia ser acatada fizeram a adrenalina percorrer pelas suas veias e a raiva tomar conta das suas emoções, deixando a razão de lado.
— Ah é mesmo? — Se fez de cínica ao cruzar os braços, o encarando com altivez. — Então estamos quites porque você deveria se desculpar por quase me matar!
O estacionamento explodiu em comentários, por tamanha afronta e disparate de Merida.
— Com certeza ela é uma bolsista medíocre! — falou uma adolescente com a voz enojada.
— E você é a Lady Gaga depois de três plásticas mal realizadas e ainda de ressaca! — gritou em resposta, se segurando para não voar em cima daquela garota cheia de maquiagem que daria para rebocar o muro do colégio inteiro, mas se controlou, voltando os olhos para o rapaz à frente.
Uma leve surpresa passou pelos olhos verdes, então ele entortou ainda mais os lábios num sorriso meia lua, tão atraente e sexy que Merida pensou que seu coração saltaria pela boca. Diferente de todos ao redor, Hiccup era único que realmente não estava com raiva, pelo contrário, ele aparentava se divertir com a situação. O fato foi comprovado quando o moreno gargalhou alto, como se tivessem lhe contado a piada mais engraçada do mundo.
Então ele voltou a se aproximar da garota.
A Dunbroch pensou em dar um passo para trás, no entanto, suas pernas não obedeciam os comandos de sua mente. Era como se Haddock emergisse um magnetismo que a atraia completamente para ele.
Hiccup colocou uma das mechas encaracoladas e revoltosas atrás da orelha direita da jovem que prendeu o fôlego. O rapaz estava tão perto si que podia sentir o hálito dele.
Então ele inclinou o rosto e puxou um dos braços da mesma e segurou a cintura dela de forma firme. O coração da jovem parou de bater por um segundo ao ouvir:
— Tem sorte de ser tão linda, Marreta.
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