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História Intimate - Jeon Jungkook - Câmera do Beijo - História escrita por blackswaan - Spirit Fanfics e Histórias
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História Intimate - Jeon Jungkook - Câmera do Beijo


Escrita por: blackswaan

Notas do Autor


Oi, de novo!

Boa leitura, amores! 🥰

Capítulo 16 - Câmera do Beijo


Fanfic / Fanfiction Intimate - Jeon Jungkook - Câmera do Beijo

 

Lee Hyuna

Fico nervosa, e a minha capacidade de raciocinar o que responder demora mais do que eu gostaria. Ele parece muito mais sincero do que o normal neste momento, esperando que eu diga algo sem quebrar o contato visual por nenhum segundo. 

— Acha que é fácil pra mim? Conviver com pessoas que só veem o que querem ver? Que tratam os outros como inferiores?

Sua mudança de tom me desarma.

— Não estou te entendendo. — sussurro. 

Seu riso anasalado é tão irônico que começo a me sentir mal.

— Claro que você não entende. Não é você que tem que se humilhar trabalhando por aí para conseguir sua dignidade de volta. 

Ele se afasta, lentamente, até resolver se sentar no chão, encostado na parede atrás de nós.

— Jungkook, eu…

— Acha que eu gosto disso, Hyuna? Acha que é divertido andar com isso aqui? — ele aponta pra perna, mostrando a tornozeleira eletrônica. — É a porra de um lembrete diário de tudo o que aconteceu comigo, de como fui ferrado por confiar nas pessoas erradas. Então, diferente do que você pensa, não, não é um acessório que gosto de exibir.

Engulo em seco.

— E… o que aconteceu? — pergunto, tentando não demonstrar curiosidade demais ao me sentar um pouco mais distante, me encostando na parede ao lado.

Ele desvia o olhar, balançando a cabeça.

— Pessoas com mais dinheiro passam despercebidas e aquelas com menos dinheiro se fodem. — há uma raiva explícita no jeito como ele xinga. E é… intenso. — Mas eu tô lidando com as consequências. O lar de idosos é só um trabalho voluntário pra diminuir a minha pena até o próximo julgamento.

Sua sinceridade me pega desprevenida. 

Ele parece cansado, exausto de carregar tanto peso sozinho. Não sei porque está decidindo desabafar logo pra mim, que o rotulei das piores formas possíveis, mas levo isso como uma segunda chance para me redimir. Eu sei, sei mesmo que tenho que engolir meu ego e me desculpar. Assumo que às vezes ajo num impulso de afastá-lo, e… pego pesado demais. 

— Não precisa fingir que se importa. — ele me impede de falar, esticando as pernas, encostando a cabeça na parede enquanto me encara. — Sei que sua realidade é outra, e que não tem motivo algum para me conhecer. 

Ouch. 

Talvez, pela primeira vez, eu esteja vendo algo além da fachada de Jungkook, algo que ele não mostra para ninguém. Mas ele ainda é ácido ao jogar minhas próprias palavras contra mim.

Palavras que… hm, eu meio que… esteja… arrependida.

Me perco no silêncio, nos meus próprios pensamentos e na vontade de falar algo relevante. 

— Olha, você não é o único que é rotulado. — pisco os olhos, demonstrando uma certa confiança ao expor aquilo.

Ele me olha com as sobrancelhas erguidas, esperando que eu continue.

— As pessoas me chamam de patricinha, de metida, e pensam que vivo num palácio de cristal e que a minha vida é legal o tempo todo. Mas eu nem acho que sou tanto assim, e… é meio chato ouvir essas coisas.

Pela primeira vez, vejo seus lábios moldarem um sorriso pequeno, como se estivesse achando graça do que acabei de dizer. É raro, mas ainda tem uma pitada de ironia quando ele molha os lábios e me encara.

Você é exatamente uma patricinha.

Reviro os olhos, mas acabo sorrindo um pouco também, fitando minhas unhas pintadas em francesinha. 

— Talvez um pouco, mas não daquele jeito que todo mundo acha. 

— Claro que não. O que seria de você sem saltos altos e um Porshe da Barbie?

Eu finjo indignação, mas é difícil não rir. 

Jungkook sorri junto, mas não diz mais nada. Agora, o ambiente carrega uma naturalidade que nunca imaginei que teríamos, não à essa altura do campeonato.

E me surpreendo por isso. Jungkook não parece tão ameaçador agora. O momento não é tão tenso e pesado. Como se eu não estivesse presa num café e cara a cara com um… um…

Uma pessoa que já foi desprovida de liberdade. 

Não é errado falar dessa forma, né?

— A propósito... sua jaqueta. Eu preciso devolver. 

— Não vai me chantagear assim como fiz com a sua bolsa?

— Pra você ver como somos totalmente diferentes… — estreito os olhos, unindo a ironia à verdade. 

Ele fica em silêncio por alguns segundos, parecendo ponderar algo.

— Me devolva na sexta, sem faltas. Vou precisar dela para trabalhar.

— Tudo bem. Onde vai ser?

Ele me dá o endereço, e eu concordo sem pensar muito. Não parece um grande problema. Depois disso, o silêncio volta, mas dessa vez é diferente. Menos pesado, mais... confortável. Antes que eu perceba, meus olhos começam a pesar. O cansaço do dia e a madrugada de emoções intensas finalmente me vencem, e eu acabo cochilando ali mesmo, sentada, no chão.

Quando acordo, a luz do amanhecer invade o café pelas janelas. Pisquei algumas vezes, tentando me situar, e ouvi vozes familiares ao longe.

— Hyuna! — Jin exclama, parecendo aterrorizado ao me encontrar ali. — O que você tá fazendo aqui? E sozinha, no chão?

— Sozinha? — repito, confusa. Olho ao redor, e não há sinal de Jungkook.

— A gente achou que você tinha ido pra casa, porque a saída dos fundos fica aberta. — Jin explica, enquanto Moon entra logo atrás dele, com uma expressão igualmente confusa.

A saída dos fundos… fica aberta?

Minha mente começa a ligar os pontos. Jungkook foi embora, então ele sabia sobre a saída o tempo todo. Ele podia ter saído a qualquer momento, mas não fez. Ele escolheu ficar comigo naquele lugar, numa situação que nem precisava se prolongar. 

Por quê?

Isso me intriga profundamente, mas eu engulo minhas perguntas. Jin e Moon já estão me bombardeando com desculpas por terem me deixado para trás, e eu apenas aceno, meio distraída.

Despedir-me de Jin, Moon e do Café é mais difícil do que imaginei. Enquanto eles falam, agradecendo pela minha ajuda no projeto, percebo que, de algum jeito, aquele lugar se tornou especial para mim. Não é só um ponto no mapa, mas um espaço cheio de vida, com pessoas que realmente se importam com as outras.

Jin coloca a mão no meu ombro e sorri.

— Hyuna, você sempre será bem-vinda aqui. Pode aparecer quando quiser.

— Isso mesmo! — Moon acrescenta, animada. — Você fez toda a diferença. Nada teria saído tão bom sem a sua ajuda. — ela se inclina um pouco mais para sussurrar algo. — E sem a ajuda de Jungkook também.

Rio sem graça, mas o comentário dela faz meu coração bater um pouco mais rápido.

— Obrigada, de verdade. Vocês não fazem ideia do quanto isso significou pra mim. Foi desafiador, mas aprendi muito. Sentirei falta de vocês.

Nos despedimos com abraços apertados, e eu me afasto, olhando para o Café uma última vez antes de partir. Respiro fundo, sentindo a leveza de um ciclo que se encerra, mas também a nostalgia antecipada.

De volta em casa, tomo um bom banho, almoço e volto para me jogar na cama, exausta. O descanso é longo. Mal vejo o momento que durmo e acabo acordando na madrugada do dia seguinte. Uso esse tempo para editar o vídeo que gravei antes de ir pro Café, e posto nas minhas redes sociais depois de muito tempo. Depois, sigo para a aula na faculdade. Curiosamente, o tempo passa rápido, e não há mais ninguém me perseguindo. 

Durante o intervalo de uma aula e outra, vejo a apresentação do clube de política de Namjoon no centro do gramado, mas ele parece ter dito a verdade quando comentou sobre a perda da sua vaga. Bom, isso não é mais algo da minha conta. Dou meia volta e foco na minha aula seguinte, até dar o horário de ir embora. 

Já no carro com o motorista, meu celular toca. O nome de Wonjae brilha na tela.

Achei que você nunca mais ia querer saber de mim. — ele diz, em tom brincalhão.

Dou uma risada fraca.

— Estive ocupada com aquele projeto da faculdade que comentei. Mas agora tá tudo resolvido. Como você está?

A conversa flui naturalmente. Ele me conta sobre o trabalho no Japão, sobre como está pensando em fazer um curso de algo novo, e sobre o cachorrinho que ele adotou recentemente, coisa que nossos pais nunca permitiriam se fosse eu tomando essa decisão. Eu o escuto atentamente, aproveitando a leveza de falar com alguém que sinto tanta falta.

E você? Como estão as coisas por aí? 

Suspiro, sabendo que ele está se referindo aos nossos pais.

— Eles estão... chatos. Insistindo pra eu continuar com o Namjoon, como se minha vida dependesse disso.

Você ainda não contou que terminou?

— Não. — respondo, hesitante. 

Hyuna, quanto mais você adiar, pior vai ser. Você sabe disso.

Ele está certo, claro, mas a ameaça de Namjoon ainda ecoa na minha cabeça.

— Ainda não é o momento certo.

A conversa muda de rumo quando chego ao meu destino.

— Tenho que desligar, Jae. Almoço e ida ao salão com a mamãe.

Boa sorte com isso. — ele ri. — Você vai precisar.

— Vou mesmo. Nos falamos depois, tá bem? Te amo.

Eu também te amo, irmã.

Almoçamos juntas e seguimos para o salão de beleza, que está lotado de vozes, risadas e o barulho constante dos secadores. Entro com a minha mãe, e imediatamente as recepcionistas nos cumprimentam com um entusiasmo quase ensaiado. O lugar é chique, cheio de espelhos altos, cadeiras de couro e aromas florais que tentam disfarçar o cheiro químico dos produtos.

Mamãe está animada, como sempre. Ela vive para esses momentos semanais. E eu também vivia. Assim que nos sentamos, já começa a conversar com as amigas que também frequentam o salão. São mulheres da alta sociedade, que falam sem parar sobre filhos, festas e viagens. Eu me lembro de quando achava que esse era o meu mundo, mas agora tudo isso me soa artificial.

Uma cabeleireira começa a hidratar meus cabelos, passando os produtos com movimentos precisos. Enquanto isso, as unhas das minhas mãos e pés estão sendo feitas simultaneamente. Minha mãe está ao meu lado, contando sobre como a culinária na Grécia é surpreendente. Eu apenas sorrio de vez em quando, sem realmente prestar atenção. 

Em algum momento, me vejo tão entediada que decido comentar sobre a semana de moda.

— Vocês viram o desfile de ontem? Achei que a coleção da Saint Laurent estava incrível, especialmente os detalhes minimalistas nas peças casuais.

Elas me olham por um segundo, sorriem educadamente, e voltam a conversar sobre suas viagens de verão para a Europa.

Suspiro, resignada. Como é que eu aguentava passar a tarde inteira aqui, toda semana?

— Estou pensando em organizar um evento beneficente de Natal este ano. Algo bem elegante, claro. — ela diz, olhando para as amigas, que concordam prontamente. — Hyuna, talvez você possa ajudar com isso.

— Ajudar como? — pergunto, meio distraída.

— Você poderia organizar tudo. É uma ótima oportunidade para mostrar que você sabe lidar com responsabilidades.

Ah. De novo isso.

Dou um sorriso forçado, não querendo entrar nesse debate. A televisão no canto do salão chama atenção momentaneamente quando um comercial do La Vie aparece. Minha mãe sorri satisfeita.

— Eles realmente acertaram na divulgação. — ela comenta para ninguém em particular, antes de se virar para mim. — Sabe, e o professor Han ligou. Disse que está impressionado com seu empenho e suas notas.

Meus olhos brilham, esperando que ela diga algo mais, talvez um "parabéns" ou um "estou orgulhosa".

— Mas creio que, eventualmente, você vai precisar se preparar para algo maior. — ela continua, casual. — Mostrar que tem capacidade de assumir o que é nosso. Ou não.

Forço um sorriso seco, e suspiro alto. O salão já começa a me sufocar, tanto pela conversa incessante quanto pela expectativa esmagadora. Quando meus tratamentos terminam, uma longa tarde depois, invento uma desculpa para sair dali sozinha.

— Tenho algo urgente para resolver. Até mais.

Ela acena distraída, envolvida em outro assunto com as amigas. Sinto um alívio imediato ao cruzar a porta, respirando fundo o ar de fim de tarde que cai em Seul. No meu corpo, a jaqueta de Jungkook faz todo o trabalho de me esquentar enquanto visto apenas uma saia, um suéter e botas de cano alto.

Chamo um táxi e passo o endereço que ele mesmo me deu, há alguns dias atrás, quando ficamos presos no Café. Estou atrasada, mas honestamente, não é o tipo de situação onde a pontualidade faz diferença... 

Ao menos é o que tento me convencer.

Aperto os braços em volta de mim mesma enquanto o carro avança pelas ruas movimentadas da cidade, e deixo minha mente vagar. Parte de mim ainda não acredita que estou fazendo isso — indo devolver uma jaqueta e me prestando ao risco de lidar com uma versão diferente dele. 

O táxi para em frente a um parque arborizado, rodeado por pequenos estabelecimentos e prédios baixos, com um certo charme comercial. Saio do carro e olho ao redor até avistá-lo. Jungkook está de pé ao lado de Mingyu, que finaliza detalhes de uma arte na lateral de um prédio. O grafite ainda não está completo, mas é impressionante: linhas fortes, cores vibrantes, uma energia que parece saltar da parede.

Jungkook está encostado contra um carro estacionado, os braços cruzados e o olhar atento ao trabalho do amigo. Ele me vê primeiro, e mesmo de longe, percebo quando sua mão vai distraidamente até os seus cabelos, ajeitando os fios. Mingyu, por outro lado, lança um olhar confuso entre mim e Jungkook, como se estivesse tentando encaixar as peças de um quebra-cabeça invisível.

— Você tá atrasada. — Jungkook diz, quando me aproximo. Sua voz não tem peso de cobrança, e ele me olha com um pouco mais de suavidade do que das outras vezes. 

— Não sabia que se tratava de um evento pontual. — forço um sorriso fechado, disfarçando o nervosismo que acabara de aparecer.

Ele não responde, mas há um brilho nos olhos dele, como se tivesse achado graça. Nosso contato visual é quebrado pela voz de Mingyu.

— Hyuna? — ele finalmente se manifesta, tirando a máscara. — Não sabia que vocês dois… estavam… — ele aponta pra gente, insinuando coisas. 

— O quê? Não estamos nada. — respondo rápido demais, o que faz Jungkook abaixar a cabeça para disfarçar o riso. — Quer dizer, estamos apenas cumprindo um combinado. Vim trazer algo que é dele, e só isso.

Tiro a peça de cima de mim e a entrego a ele, mas não sem hesitar. É estranho como algo tão simples parece carregar peso. A tensão que surge entre nós é breve, mas Mingyu parece captá-la mesmo assim. Ele desvia o olhar para o prédio, provavelmente tentando dar espaço, mas logo quebro o silêncio.

— Bom, então…. era isso. Não vou mais atrapalhar vocês.

— Espera aí, Hyuna. — Mingyu desce as escadas e para perto de nós dois. —  Você nem tá atrapalhando. Na verdade, sabia que o estacionamento do parque tá com um cinema ao ar livre hoje?

Olho na direção que ele aponta, vendo os carros alinhados diante de uma tela enorme. Há algumas luzes piscando e uma pequena fila de pessoas comprando ingressos.

— Interessante. — comento, sem muito entusiasmo.

— Quer ir? — é Jungkook quem pergunta, e sua voz é direta, sem rodeios. 

Meus olhos se arregalam na sua direção. Ele parece estar falando sério, pela pose relaxada que mantém, o que não entra na minha cabeça de imediato.

— Nós dois?

Me xingo internamente por aumentar tanto a voz. Ele olha pro seu amigo, como se esperasse um pronunciamento dele. Como não vem, porque Mingyu magicamente se cala, Jungkook se desencosta do carro e toma a frente.

— Ele vai junto. — dita. 

Minha primeira reação é recusar. Isso tudo soa estranho demais. Mas então penso que talvez não seja uma má ideia. Talvez eu consiga redimir um pouco das minhas atitudes inconvenientes e… já estou aqui, afinal. Só tenho essa opção ou voltar pra casa e lidar com o papo chato de mamãe.

— Vamos lá, não seja chata. — Mingyu provoca. 

— Tudo bem. — concordo, finalmente, juntando as mãos na frente do corpo enquanto aguardo os dois. — Mas vocês pagam o ingresso.

Mingyu ri, e até Jungkook parece menos sério. Ele apenas balança a cabeça, como se eu tivesse dito algo esperado, e faz menção de entrar no carro atrás de nós. É o mesmo carro azul escuro e antigo que Jungkook dirigiu na noite da rave. A mesma “lata velha” que, agora, eu preferia não insultar em voz alta.

Fomos, os três, até o estacionamento do parque. Lá, compramos os ingressos, latas de refrigerante e alguns doces antes de pararmos o carro numa vaga próxima à tela.

Mingyu aponta para as cadeiras dobráveis disponíveis para aluguel, mas Jungkook, claro, rejeita, dizendo que a graça é sentar nas capotas e nos capôs dos seus próprios carros, como a maioria das pessoas estava fazendo. O filme anterior chega aos minutos finais, uma animação que poderia ter sido tirada de qualquer programa de TV das tardes de domingo. As crianças no público estão inquietas, e o locutor anuncia o próximo filme enquanto a tela pisca com comerciais locais.

— Sessão adulta, hein? — Mingyu comenta animado. — Estou ansioso.

Quando a voz do locutor ecoa e anuncia o título, a expressão de Jungkook muda imediatamente. Ele arregala os olhos e depois revira-os dramaticamente.

A Culpa é das Estrelas? — ele diz, incrédulo. — Que porra é essa? Voltamos pra 2014?

Mingyu tenta conter o riso, mas acaba falhando. 

— Vai ver é um clássico pra alguém, sei lá. A gente ainda pode desistir e ir embora.

Jungkook cruza os braços, contrariado. 

—  A gente já pagou, e você que sugeriu isso. Agora aguenta.

Eu fico no meio dos dois, tomando um milkshake de morango que comprei na vendinha. A atmosfera ao meu redor oscila entre a teimosia de Jungkook e a animação de Mingyu, que suspira e se senta no capô do carro, ao meu lado. 

O lugar não é exatamente espaçoso, especialmente para três pessoas. Estamos ombro a ombro, e Mingyu é o primeiro a sentir o desconforto. Ele escorrega, tentando se ajeitar, mas parece que o capô conspira contra ele.

— Tá difícil aqui. — ele comenta, rindo enquanto tenta não cair. — Acho que vou procurar outro lugar.

Não vai, não. — Jungkook o corta, rapidamente, num tom de voz totalmente autoritário. — Fique aí mesmo onde você está.

Olho para ele, surpresa. Mingyu franze a testa, confuso.

— Por quê? Tá com medo do trio virar dois é par? 

Eu genuinamente não entendo. O que significa dois é par?

— Cala essa boca e fique onde está. — Jungkook rebate, mas há um leve desconforto em sua voz que entrega mais do que ele gostaria.

Suspiro, ignorando a troca de farpas e me ajustando no capô. O filme começa, e a trilha sonora melancólica ecoa pelo estacionamento. O som das vozes do elenco invade o ar, enquanto o céu de Seul escurece completamente.

Eu seguro meu milkshake de morango com as duas mãos, tentando ignorar os movimentos inquietos de Mingyu ao meu lado. Ele escorrega no capô pela terceira vez, soltando um gemido frustrado.

— Mingyu, tem espaço suficiente aqui. — resmungo. — Você vai acabar se esbarrando em mim e derramando milkshake na minha roupa. Assim como a última vez.

— Não é culpa minha se sou cinco vezes maior que você. — Mingyu retruca, tentando se equilibrar novamente. — E até quando vai me culpar por aquilo? Foi um erro de principiante.

Jungkook, sentado do outro lado, bufou de impaciência. 

— Sinceramente, quer que eu te coloque na mala?

— Duvido.

— Ei, vocês dois! — sussurro, irritada. — Eu tô tentando assistir!

Jungkook vira a cabeça na minha direção, com um vestígio de sorriso presunçoso que sempre me irrita.

— Espera aí. Você está levando isso a sério? — ele aponta para a tela, onde o casal do filme troca olhares melancólicos sob um céu estrelado. Eu reviro os olhos, tomando um longo gole do meu milkshake antes de responder. 

— Nunca assisti a esse filme, pra sua informação.

Ele me encara, claramente surpreso, e depois deixa escapar um riso baixo e debochado. 

— Você nunca assistiu A Culpa é das Estrelas? Logo você? — balanço a cabeça em negação. — Isso explica tanta coisa…

Antes que pudesse responder com algo à altura, o telefone de Mingyu começa a tocar. Ele pega o aparelho e solta um suspiro aliviado, como se fosse a desculpa perfeita para escapar.

— Já volto. — ele anuncia, já descendo do capô com uma agilidade suspeita para alguém que estava escorregando sem parar. — Divirtam-se.

Posso ver o maxilar de Jungkook trincado, porque diversão é a última palavra que eu usaria para descrever o que restou. Agora somos só eu e ele, que fica super quieto, mais do que o normal, com o olhar fixo na tela.

Minha garganta seca de nervoso enquanto pondero o que dizer. Finalmente, decido que é melhor falar de uma vez.

— Jungkook, eu queria te pedir desculpas. — minha voz sai mais hesitante do que planejei, mas continuo antes que ele possa dizer qualquer coisa. — Pela forma como te tratei esse tempo todo. E também queria agradecer pelo grafite no Café. Ficou muito bom. 

Jungkook vira o rosto lentamente na minha direção, como se não acreditasse no que acabou de ouvir. Me encara de cima e baixo, e depois, o canto de sua boca se ergue em um sorriso zombeteiro. 

— Uau. Então você tem a capacidade de engolir o orgulho. Não achei que fosse possível.

Meu rosto esquenta, mas eu me obrigo a manter a calma enquanto desvio o olhar do dele.

— Estou tentando manter a bandeira branca entre nós. E nem ouse achar que você vai ouvir isso de novo. 

— Acho que ficar trancada nos lugares comigo altera a química do seu cérebro. 

— O que quer dizer com isso? — ergo uma sobrancelha. — E à propósito, eu não esqueci de ontem. Você sabia sobre a saída dos fundos e me deixou lá à mercê dos perigos noturnos. 

Jungkook ri fraco, abaixando a cabeça para brincar com os rasgos da sua calça jeans.

— Só fui embora quando o dia amanheceu, dondoca. Não sou tão ruim quanto você pensa.

Volto minha atenção para a tela, sem saber como continuar. Mesmo assim, sinto que fiz o que precisava. Talvez essa seja uma trégua. 

Resolvo me deitar no capô depois de um tempo. A posição é desconfortável, e Jungkook percebe. Ele tira a jaqueta de si, dobra, e me oferece como um travesseiro. 

— Vai acabar com torcicolo desse jeito.

Hesito por um momento antes de aceitar. Dobro a jaqueta um pouco mais para que possamos compartilhar, afinal não sou de todo uma megera, e ele também se deita, mantendo uma distância calculada, mas não consigo ignorar o calor da proximidade.

O filme segue em sua narrativa melodramática, mas eu mal consigo me concentrar. Ao meu lado, Jungkook se mexe, desconfortável. Dou uma rápida olhada para ele e vejo que ele também tenta disfarçar, cruzando os braços e franzindo o cenho como se estivesse profundamente entediado. Até começarem as cenas em Amsterdam, quando o casal fica bem mais… íntimo.

— Essa cena é meio intensa pra um cinema ao ar livre, não? 

Jungkook dá uma risada curta, como se eu tivesse dito uma piada.

— Você não sabe mesmo o que é algo intenso.

— Então, o que é? — o desafio. 

— Coisas de verdade. — murmura casualmente, enquanto eu finjo desinteresse, mas ouço atenta. — Quando há conexão, sentimento e prazer, juntos. Isso aí tá mais pra um romance água com sal. 

Engulo em seco, processando suas palavras. Até que fazem sentido.

Será que um dia vou viver tudo isso?

— Onde está Mingyu? — pergunto depois de um tempo, erguendo a cabeça.

Jungkook suspira profundamente, como se já soubesse a resposta. 

— Sumiu, como sempre. Ele faz isso o tempo todo.

— E você não vai procurar por ele?

— Não. Ele sabe como voltar pra casa.

— Vocês são amigos há muito tempo?

Jungkook vira o rosto levemente para mim, parecendo ponderar se deve responder. Tem os braços atrás do pescoço, como se estivesse na praia. A visão é totalmente inesperada por mim. Quando eu iria imaginar que ficaria deitada lado a lado com ele, no capô da sua lata velha?

— Agora você quer me conhecer?

Bufo, já arrependida de ter perguntado. 

— Até quando vai jogar minhas próprias palavras contra mim?

Minha reação parece ser exatamente a que ele almejava, por que um sorriso vitorioso surge no canto dos seus lábios, fazendo as argolinhas dos piercings brilharem. 

— Conheci o Mingyu na universidade. A gente fazia o mesmo curso, Tecnologia da Informação. — ele retoma.

— Não imaginei que você cursava faculdade. — comento.

Ele dá de ombros, os olhos agora fixos no céu. 

— Não foi por muito tempo. Eu estava no último ano quando... as coisas deram errado. Não consegui terminar.

— As coisas? — pergunto, mas sua expressão endurece, e percebo que não vou conseguir detalhes.

— Vamos dizer que foi por causa do B.O. que me levou pra prisão. Mingyu não tinha nada a ver com isso, mas acabou ficando do meu lado. É o tipo de cara que não desiste fácil das pessoas. — ele pausa, o tom ficando mais seco. — Quando saí, entrei em regime semiaberto. Por sorte, consegui retomar o contato com ele e fizemos alguns trabalhos.

Assinto lentamente, absorvendo suas palavras. A tensão no rosto dele é evidente, como se essas memórias ainda fossem dolorosas de revisitar.

— Vocês são como uma dupla do grafite? 

— Mais ou menos. Eu tenho outros trabalhos, e ele também. Mas já fiz muita coisa. Até trabalhos de modelo.

Uno as sobrancelhas.

Você, modelando?

Jungkook me olha de cima a baixo. 

— Acha que só você consegue?

— Eu não disse isso, só… fiquei surpresa. — desvio o olhar, procurando um jeito de mudar o assunto. — Bom, parece que Mingyu se importa muito com você, de qualquer forma.

— É, ele se importa. — Jungkook sorri de canto, mas não há muita alegria ali. — Mesmo quando eu não mereço. 

Minha atenção está tão dividida entre Jungkook e o filme que mal percebo os créditos subindo, já no fim. Então, ouço os primeiros sons de uma música animada e uma voz ao microfone:

— E agora, a nossa tradicional Cam Kiss! Vamos ver quem vai aparecer na tela hoje!

Nós dois nos sentamos ao mesmo tempo, assustados. Eu olho de canto para Jungkook, que parece igualmente apreensivo. Ele abaixa a cabeça, olha pros lados, claramente tentando se camuflar, mas sua tentativa só me faz sentir mais exposta.

A câmera começa a rodar pela multidão. Risadas. Gritos. Casais beijando timidamente enquanto são projetados na tela gigantesca. Meu coração dispara quando percebo que estamos exatamente no ângulo dela.

E então, lá estamos nós na tela.

Emoldurados por corações brilhantes e o título "Cam Kiss" em letras exageradas. 

— Ah, vai se foder… — ouço Jungkook resmungar.

A multidão ao nosso redor explode em risos e gritos, enquanto eu posso facilmente desmaiar de nervoso.

— Beijem logo! — alguém grita. — Vamos, não sejam tímidos!

Minha respiração falha. Olho para Jungkook, esperando alguma reação, qualquer reação. Mas ele também me encara, o que faz meu coração bater mais rápido por não saber o que virá a seguir.

E a imagem de nós dois claramente tensos segue sendo projetada bem na nossa frente. Com meu cabelo bagunçado, ainda por cima. Tudo bem, sou acostumada com câmeras, mas nunca presenciei esta em específico.

— O que a gente faz agora? — gesticulo, minha voz quase inaudível diante do burburinho ao redor. 

Jungkook suspira. Parece lutar contra si mesmo para tomar uma decisão, mas quando o faz, se vira completamente pra mim.

Acabamos logo com isso.

 

 

 

 


Notas Finais


MUITA CALMA NESSA HORA 🚨🚨🚨🚨

respirem fundo e não deixem a ansiedade atacar, tá? juro que os cortes secos e suspenses são sempre por uma boa causa 🥰 mas óh, tivemos conversas sinceronas e batemos o recordes de diálogos sem patadas! VENCEMOS?

espero que vocês tenham captado um pouco o feeling de agora em diante, com a hyuna tomando um pouco de noção das coisas, engolindo o orgulho pra tratar o pobre melhor e o jungkook também abaixando a bolinha dele. é aquele famosos ditado, de milho em milho a galinha enche o papo, né?

me digam tudoooo, não me escondam nadica de nada! quero as REACTIONS na minha mesa pra já! 😶‍🌫️ tô doida pra interagir com vocês, fiquei muito motivada com os comentários nos últimos capítulos e espero que continue assim!

e aqui vai um spoilerzinho... 🏳️🍔🎤👙🧖🏻

até o próximo!


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