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História Inverossímil - Uma Reação Premeditada


Escrita por: BeteP

Capítulo 18 - Uma Reação Premeditada


Fanfic / Fanfiction Inverossímil - Uma Reação Premeditada

Capítulo XVIII

Uma Reação Premeditada

 

Fernando segura no rosto de Nicolau, que sente dor, com uma certa força. - Você não gosta de lutar em favor dos pretos? Agora sinta-se honrado de ser tratado como um deles!

 

Os capangas de Fernando arrastam o homem imobilizado para fora da igreja.

 

- Esperem! – Fernando estava determinado a entregar Nicolau ao delegado, mas ele acaba tendo uma outra ideia. – Eu não irei entregar esse cretino de mão beijada para aquele delegado de meia pacata, dando a ele todo o crédito. Vamos leva-lo para a fazenda! – ele olha para Nicolau, que não reage – Lá você terá o castigo que merece!

 

- O senhor sabe que não tem autoridade para isso. – diz o homem que por meses se passara por um padre, mas que não passa de um foragido da justiça –

 

- O senhor também não o tinha quando invadiu várias fazendas e abriu suas senzalas. – ele coloca o cabo da bengala no rosto de Nicolau – O senhor acha que os coronéis irão ficar do lado de quem? – ele olha para os homens – Vamos!

 

Quando sai da igreja, indo em direção aos cavalos, Fernando, e seus capangas que escoltam Nicolau são avistados por Jafa que ficara na espreita ao ver aqueles homens entrando na igreja. Quando eles saem a galope, o jovem rapaz segue correndo em direção a casa de Raquel, com a intenção de ter com Benjamim.

 

*

 

Jafa adentra pela cozinha, encontrando a mãe que está fazendo os afazeres. – Eu preciso ter com Benjamim! – diz o rapaz, um tanto afoito –

 

- Benjamim não está mais morando aqui. Ele está na fazenda. – diz Consolação – Mas o que aconteceu para você estar nessa aflição?

 

- Senhor Fernando...

 

- O que tem “seu” Fernando?

 

O rapaz levanta e verifica se tem alguém atrás da porta que dá para o interior da casa. – Senhor Fernando levou padre Otto a força da igreja. Ele parece estar transtornado.

 

Consolação surpreende-se com aquela informação. – E por que “seu” Fernando faria isso?

 

Jafa calibra em sua fala. – Benjamim deve saber o motivo, e só ele pode interceder por padre Otto.

 

- O que é interceder? – pergunta a mulher simples –

 

- Fazer algo por ele. – o rapaz olha para o nada – Padre Otto me ensinou o significado de muitas palavras. Ele é um homem bom. – ele volta a olhar para a mãe – Por isso não quero que nada de mau aconteça com ele. – indo em direção a porta de saída – Vou ter que ir até a fazenda, mas senhor Fernando não poderá me ver.

 

Consolação se aproxima do filho e segura no rosto deste. – Meu filho, você está envolvido em alguma coisa com esse padre? – coração de mãe não se engana –

 

- Não conte a ninguém o que está acontecendo. – ele se esquiva - Principalmente a dona Raquel.

 

Consolação dá um beijo na testa do filho. – Tome cuidado, meu filho!

 

*

 

Jafa sai à galope em direção a fazenda. Ele decide ir pela estrada velha, afim de não levantar suspeita quando chegar na casa grande. O que ele não esperava é que Fernando, e seus capangas também tivessem pego o mesmo caminho. Ele os avista um pouco mais à frente. Conhecedor daquela região, o rapaz impulsiona seu cavalo em outra direção.

Ao chegar na casa grande, o filho de Consolação adentra sorrateiramente pela cozinha, assustando Chica, que estava nos afazeres domésticos.

 

- Que susto! – diz ela, levando a mão no colo –

 

- Benjamim está aí? – pergunta ele, olhando para a porta que dá para os cômodos interiores –

 

- Não vejo “seu” Benjamim desde ontem.

 

- Por favor, chame ele para mim! Eu preciso muito falar com ele!

 

Chica vai em direção a porta. Ela volta-se à Jafa. – Fique aqui! Vou perguntar dona Catarina se ele está em casa.

 

Jafa balança a cabeça positivamente. Após alguns segundos Catarina surge, com uma expressão preocupada.

 

- Jafa! – ela vai até o rapaz – Aconteceu alguma coisa?

 

- Eu preciso falar com Benjamim, dona Catarina.

 

- Benjamim não retornou para a fazenda desde ontem. Você tentou a casa dos pais dele?

 

- Eu estive lá, mas minha mãe disse que ele não estava.

 

Catarina percebe uma certa euforia em Jafa, então ela olha bem nos olhos dele e segura suas duas mãos. – Jafa, aconteceu alguma coisa? Estou te achando muito aflito. O que de fato você quer com Benjamim?

 

- Benjamim é doutor. Só ele pode salvar o padre Otto.

 

A expressão de Catarina muda. Ela solta as mãos do rapaz e se afasta. – O que aconteceu com padre Otto? – sussurra ela –

 

- Ele foi preso, mas não pelo delegado. – Jafa se cala –

 

- Quem o prendeu, se não a autoridade competente?

 

- Senhor Fernando!

 

Ela se surpreende. – Fernando?!

 

- Ele o está trazendo para cá. Os encontrei no meio do caminho, mas peguei um atalho para chegar mais rápido.

 

Os olhos de Catarina lacrimejam. – E por que Fernando o está trazendo para cá? Por que ele o prendeu?

 

Jafa se aproxima de Catarina e diz num tom mais baixo. – De certo ele descobriu que foi padre Otto que invadiu a fazenda e libertou os escravos. Acho que senhor Fernando irá trancar o padre na senzala.

 

Catarina desespera-se, quase indo ao chão, sendo aparada por Jafa que a segura pelos braços. – Não! – ela balança a cabeça negativamente – Ele não pode fazer isso! Ele não tem poder para fazer isso!

 

Ciata surge, acudindo a patroa. – O que aconteceu?! Diga moleque!

 

- Eu vim procurar por Benjamim, mas ele não está. – responde Jafa, se afastando –

 

- E o que você disse para deixar dona Catarina assim?

 

- Deixe-o ir! – diz a mulher devastada num tom abafado – Jafa! – ela segura no rosto deste, com as duas mãos – Volte à cidade! Procure meu cunhado Venâncio! Ele deve saber onde Benjamim está! Se você não o encontrar, retorne aqui, com o delegado!

 

- Sim, senhora! – Jafa vai em direção a saída, voltando-se à tia de Benjamim, quando ela o chama –

 

- Jafa! Não deixe que eles o veja!

 

*

 

Enquanto Jafa retorna para a cidade por um lado da fazenda, Fernando e seus capangas, que trazem Nicolau, chega pelo outro lado, indo com este em direção à senzala. Quando eles desmontam do cavalo Fernando vira aos homens.

 

- Eu quero que vocês o prendam a ferro!

 

- Igual aos pretos? – pergunta um dos homens –

 

- Ele não gosta de deixar as senzalas vazias? Então agora irá ocupar uma delas. – ele olha com um olhar frio para o homem imobilizado – Todinha só para você!

 

- O senhor não está irado só porque eu abro senzalas. O senhor nem tem escravos. – Nicolau olha para os dois capangas e depois volta a olhar para Fernando – Existe alguma outra coisa que está fazendo o senhor a cometer essa arbitrariedade.

 

Fernando acena para os capangas. – Prendam-no!

 

Quando os homens que prenderam Nicolau saem da senzala, Fernando faz sinal para que eles aguardem, entrando logo depois no referido local, avistando um homem fragilizado, preso por ferros no pescoço, nas mãos e nos tornozelos. Ele para em frente ao homem que há alguns dias tem lhe deixado desconfiado, batendo a bengala no couro da bota. – Você é o sujeito em quem eu atirei, ou é o outro?

 

- Eu sou o homem que optou em não dar um tiro em vossa face! – responde Nicolau, por entre os dentes –

 

- Ahhh você é o cretino que veio à galope para cima de mim, quando eu estava para desmascarar o outro cretino. – ele para bem em frente de Nicolau, encarando–o – Quem é ele? Não é aquele negrinho que fica com você na igreja. Eu pude ver que ele era branco. Ele veio com você de fora? Ou ele é daqui?

 

Nicolau ignora o interrogatório, mas não deixa de encarar Fernando.

 

- Pelo jeito você não irá me dizer mais nada! – ele segura no pescoço do homem imobilizado, e começa a dizer num tom seco – Pelo jeito você não irá me dizer que, apesar do disfarce de padreco, andava fornicando com ela! – se afastando – Agora só resta saber se ela sabe do seu disfarce.

 

- O senhor está blefando! Não está dizendo coisa com coisa! – Nicolau muda a fisionomia ao perceber que Fernando possa estar desconfiado dele e de Catarina – O senhor nem mesmo tem escravos para tomar essa raiva para ti!  

 

– Você está me devendo uma negrinha! Aziza! – ele pergunta aos berros – Foi você que a pegou? Ou melhor, a roubou!!!

 

Nicolau nada diz. Ele apenas observa o homem descontrolado. Num acesso de fúria, Fernando desfere um golpe, com a ponta da bengala, no rosto de Nicolau, que começa a sangrar.

 

- Eu tô cansado! Você não vai sair dessa senzala enquanto não me confessar... – ele ofega – Que é você! – o homem, nada cordial, vai em direção a saída, voltando-se para trás – A não ser que algum preto venha lhe salvar! (...) Agora eu vou para a minha casa, tomar um banho delicioso, com a minha esposa! – completa num tom de deboche –

 

Nicolau permanece inerte, não absorvendo o teor das palavras de Fernando. Tudo que este quer é desestruturar o impostor que ele suspeita ser o homem que engravidou Catarina, já que ela vivia para baixo e para cima com padre Otto. Quando Fernando acreditava que aquele homem fosse um padre, ele nunca suspeitara do sacerdote, mas depois de descobrir que este não passa de um médico, foragido da justiça, as pedras começaram a se encaixarem. A negativa de Catarina em não querer que ele realizasse o casamento fora um ponto crucial para tal desconfiança.

 

Ao sair da senzala, ele volta-se ao capangas – Fiquem de olho nesse impostor! E nada de comida! – ele caminha um pouco e volta-se aos homens – E nem água!

 

*

 

Ao chegar na casa grande Fernando é recebido pelos olhares curiosos de Catarina e Ciata. Ele entrega a bengala, manchada de sangue para a esposa e vai em direção ao seu quarto.

 

Catarina segura a farta barriga, cambaleando, e sendo amparada por Ciata. – O que será que ele fez? – sussurra ela à mulher –

 

- “Seu” Fernando parece estar nervoso, senhora.

 

Catarina vai até o exterior da fazenda, sendo acompanhada por Ciata. – Cadê aqueles homens que ficam aqui?

 

- Devem estar vagabundeando por ai!

 

Demonstrando-se aflita, Catarina eleva a mão no pescoço, comprimindo-a. – Procure-nos, por favor! Eles devem estar lá pelos lados da senzala.

 

- A senhora quer alguma coisa com eles? – pergunta a mulher curiosa –

 

- Não! O melhor é que você não deixe que eles percebam a sua presença. – ela segura no rosto da mulher com as duas mãos – Agora vá! E cuidado!

 

Ciata vai em direção a senzala, que fica a alguns longos minutos da casa grande. Ao avistar a mesma, ela observa os dois capangas sentados na parte exterior, e uma tocha acesa pendurada à entrada, pondo a entender que existe alguém naquela senzala. Cuidadosa, ela dá a volta por trás, para não ser surpreendida, e ao chegar bem próximo de algumas gretas, ela avista um homem preso. Um homem branco, mas preso nas mesmas condições dos escravos que já habitaram aquele lugar. Ela se espanta. – Meu Deus! – sussurra a mulher –

 

Atento, Nicolau percebe que está sendo observado. Ele olha para o local onde a mulher se encontra e balança a cabeça negativamente para esta, dando a entender que ela não deve fazer nada, e principalmente, ele não quer que Catarina saiba que ele está ali. Mal sabe ele que Catarina já está à par da situação.

 

Ciata se afasta cuidadosamente da senzala, retornando assim para a casa grande. Catarina a espera no pé da escada principal, e quando Ciata se aproxima ela a segura pelos braços.

 

- Você os encontrou?

 

- Eles “tão” na entrada da senzala. Tem uma chama na porta, aí eu fui assuntar quem estava lá dentro. É um “homi” branco, preso, mas num conheço ele não.

 

Catarina cambaleia, apoiando-se no corrimão da escada. – Ele prendeu Otto. – sussurra ela, chorosa, levando a mão na face –

 

- Quem é Otto? – pergunta Ciata –

 

- O padre. O padre de Soberbo. – murmura –

 

- Acho que ele me viu, senhora, quando eu olhei ele pela greta. Ele olhou pra mim e balançou a cabeça. – ela balança a cabeça em sinal de negação –

 

- Será que Jafa conseguiu encontrar Benjamim?

 

*

 

Jafa retorna à casa de Venâncio, disposto, desta vez, a ter com este. – Senhor Venâncio, preciso muito saber onde encontrar Benjamim.

 

- Calma rapaz! Você parece estar em grande aflição! O que aconteceu? –

 

Jafa reluta, mas ele não vê motivo para guardar segredo quanto a o que está acontecendo na fazenda Bastos. – Senhor Fernando...

 

- O que tem Fernando? – Venâncio interrompe o rapaz –

 

- Senhor Fernando esteve hoje cedo na igreja e levou padre Otto preso.

 

Venâncio começa a sorrir frouxamente. Ele achou que havia acontecido algo com Fernando. Um acidente? Um ataque? Caiu do cavalo? Sei lá... Mas ele nunca imaginou que Fernando teria prendido o padre da cidade. E quais motivos ele teria? Seria ele um anticristão? Não, Venâncio não vê motivo para tal atitude do primo de sua esposa. – E por que Fernando fez uma coisa dessa? Afinal, ele fora nomeado delegado?

 

- Senhor Venâncio, é sério! – Jafa irrita-se – Senhor Fernando chegou à igreja, querendo falar com padre Otto. Depois ele, junto de seus capangas saíram da igreja com o padre com as mãos amarradas. Achei que ele fosse leva-lo ao delegado, mas como eles pegaram os cavalos, eu os segui até a fazenda.

 

Enquanto Jafa relata o ocorrido, Raquel surge, mas não é percebida, nem pelo marido, que está atento a o que Jafa fala, tampouco pelo rapaz, que está afoito. – Fernando levou padre Otto, preso, para a fazenda? – pergunta ela, num tom surpresa – Qual a lógica nisso?

 

- É o que estou tentando entender, Raquel! – responde Venâncio, num tom abespinhado –

 

– Esse negrinho deve saber o que padre Otto andava aprontando. Eu já havia percebido que esse padre tem atitudes muito estranhas, que não condizem com a de um padre. - Raquel aponta para Jafa – Abre o bico moleque! O que você sabe?!

 

- Eu não sei de nada, não senhora! – responde Jafa, balançando a cabeça negativamente –

 

- O melhor mesmo seria encontrar Benjamim. Ele conhece as leis, e saberá como proceder nesse caso. Eu não confio naquele delegado! – aconselha Venâncio -

 

- Dona Catarina pediu que eu levasse o delegado, caso não encontrasse Benjamim.

 

- Catarina sabe do que está acontecendo? – interpela Raquel –

 

- Eu fui até à fazenda ter com Benjamim, já que ele está morando lá...

 

Raquel interrompe o rapaz. – Ele não está morando lá! Ele estava fazendo companhia a tia, enquanto Fernando não retornava da corte!

 

- E agora ele não está lá e nem cá! – braveja Venâncio – Precisamos traçar um plano!

 

- Consolação! – Raquel chama pela serviçal que logo surge – Pegue o meu xale e a minha bolsa no quarto – Eu irei até a fazenda!

 

- Você? – surpreende-se Venâncio –

 

- É! Eu! Alguém tem que fazer alguma coisa. Sinto-me responsável por esse padre, já que pedi tanto ao bispo que o enviasse. – ela volta-se para Jafa – Moleque, peça para Sebastião preparar a charrete! Você vai comigo!

 

- Mas senhora! – Jafa não acha uma boa ideia chegar à fazenda com Raquel, já que Catarina havia pedido para ele ir com Benjamim ou o delegado –

 

Ela o interrompe. – Vá! – ordena –

 

Jafa olha para Venâncio que balança a cabeça positivamente, saindo logo em seguida.

 

- Eu também irei! – decide Venâncio – Acho que mesmo em cima de uma cadeira de rodas, ainda sou um homem que impõe algum respeito -

 

- Fernando não tem respeito por ninguém. – Raquel usa o xale, enquanto fala –

 

- Por isso mesmo! Não irei deixar você e sua prima à mercê daquele indivíduo.

 

Apesar de decidida a tirar tal situação à limpo, Raquel ainda não entende os primórdios daquela situação. – Meu Deus, que tipo de ligação existe entre padre Otto e Fernando, para ele ter tomado tal atitude?

 

- Um minuto! – Venâncio vai até seu quarto, retornando em um breve tempo –

 

*

 

Uns dez minutos após a partida de Venâncio, Raquel e Jafa, Benjamim chega em casa, com a intenção de ver o pai. Ele é recebido por Consolação que o comunica sobre a sua procura.

 

- Jafa está que nem louco atrás de você, pois só você pode salvar padre Otto. – diz a mulher, em aflição –

 

- O que houve com padre Otto? – Benjamim deduz que o padre tenha sido pego por seus delitos cometidos, mas ele imagina que o padre esteja na cela da delegacia, e não em uma senzala –

 

- “Seu” Fernando levou padre Otto para a fazenda, preso! – responde ela –

 

- Meu Deus! Ele descobriu tudo! – dados os fatos, então ele deduz que o primo tenha descoberto o romance clandestino de sua tia com o padre – E tia Catarina?

 

- O que tem sua tia?

 

Benjamim segue em direção ao exterior da casa. – Eu preciso alcança-los antes que ocorra uma tragédia!

 

- Não seria melhor levar o delegado? – sugere Consolação –

 

- Não! Eu não confio nesse delegado! – já na parte exterior da casa, ele monta em seu cavalo – Isso é assunto de família! – saindo à galope –

 

*

 

Quando Ciata retornara com informações sobre o que viu na senzala, Catarina decide ir ter com Fernando. Determinada, ela sobe os degraus da escada, mas para no meio do percurso.

 

- O que foi, senhora? Está sentindo alguma coisa? – preocupa-se Ciata –

 

Catarina balança a cabeça negativamente. - Ele não irá me dizer o que se passa. – ela segura no colarinho do vestido da serviçal, com uma das mãos – Eu quero vê-lo! Eu preciso vê-lo!

 

- O padre, senhora?

 

- Sim! Eu quero ver Otto... mas eu não tenho forças para ri até lá!

 

- Aqueles capangas não vão deixar a senhora ver o padre.

                                                     

Catarina, que estava um degrau à frente, volta a subir os degraus. Ciata continua parada e põe-se a pensar, diante ao desespero daquela mulher, que toma para si a dor daquele homem que está preso naquela senzala. Um padre em uma senzala, não um escravo fujão. E o que aquele padre pode ter feito para que Fernando o colocasse em tal condição? E por que Catarina está tão emocionada? Sempre fora perceptível por Ciata a relação distante entre os patrões. Dormirem em quartos separados, não existir o menor sinal de intimidade entre ambos, uma gravidez, onde os pares não se mostram animados. A serviçal balança a cabeça negativamente. Talvez ela não queira mais fazer suposições que não lhe dizem respeito. Ela acelera os passos, tomada a alcançar sua senhora. – Vamos! A senhora precisa descansar!

 

Ao entrarem pela sala, elas encontram Chica, um tanto confusa. – Eu não sabia se deveria colocar à mesa do almoço.

 

- Eu não tenho fome. – murmura Catarina, indo em direção a porta de dá para o corredor dos quartos –

 

- Mas a senhora precisa comer alguma coisa. Ainda mais no estado em que a senhora se encontra. – aconselha Ciata, mas Catarina nada diz, indo em direção ao seu quarto –

 

- O que eu faço? – pergunta Chica – “Seu” Fernando gritou comigo quando fui ao quarto dele.

 

Ciata olha para a mulher com uma expressão duvidosa. – E o que você foi fazer no quarto dele?

 

- Ver se ele estava precisando de alguma coisa. Ele parecia transtornado, quando chegou.

 

- Ele não iria precisar mesmo do que você costuma dar a ele, no estado em que ele se encontra. – não é de hoje que Ciata repudia certas atitudes de Chica naquela casa –

 

Chica abaixa o olhar. – Eu não tenho escolha. “Seu” Fernando é nosso dono. “Nóis” faz o que ele quer. E não vou negar que ele é bom pra mim. Nunca me fez nada a força.

 

Ciata balança a cabeça negativamente. – Tá bom Chica! Não é a mim que você tem que se justificar.

 

- Eu gosto de dona Catarina, e a respeito. Ela é uma boa mulher. Mas eu sei que ele num gosta dela.

 

- Por que você diz isso?

 

- Porque quando ele tá nos meus braços é o nome daquela bruxa da dona Raquel que ele chama...

 

O diálogo entre ambas é interrompido por alguém que adentra pela sala sem se fazer anunciar. – Onde está o patrão de vocês?!

 

Continua...


Notas Finais


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