Passou-se uma semana desde que Kara e Lena estiveram juntas e naqueles dias elas pouco se viram, trocando apenas olhares discretos quando a engenharia aparecia no canteiro de obras do prédio vizinho.
Não houve muito contato por telefone e mensagens trocadas também. Lena estava muito ocupada, porque a obra atrasou e a inauguração aconteceria no próximo fim de semana, então todos os envolvidos precisavam correr contra o tempo para garantir a entrega no prazo.
Por mais que sentisse falta da ômega, Kara entendia a ausência dela e aguardava ansiosamente pelo dia que elas poderiam se encontrar de novo.
— Parabéns, alphinha, seu artigo foi selecionado para o prêmio Lupitzer* — Mxy se encostou na mesa da amiga, mostrando para ela a tela do tablet aberta.
Ainda meio distraída, Kara desviou o olhar do próprio computador para o tablet, que Mxy ainda segurava, e leu o título de uma matéria publicada em um portal de notícias:
“Os indicados ao prêmio Lupitzer deste ano, dividem-se entre ganhadores de edições passadas, como William Dey, e nomes promissores do jornalismo, como Kara Zor-El.”
A alpha levantou da cadeira de repente, pegando o tablet com as mãos trêmulas para ler o resto da publicação.
— O que está acontecendo? — Sam entrou na sala e, percebendo o jeito nervoso da loira, foi logo perguntando.
— Nossa alphinha foi indicada para o Lupitzer — Mxy respondeu depressa.
— Sério?! — Sam exclamou alto, abrindo bem os olhos — Aquele prêmio do jornalismo que paga um dinheirão ao vencedor?
— Esse mesmo! — o ômega disse igualmente animado.
— Isso não é um tipo de brincadeira de mau gosto de vocês dois, é? — Kara encarou os amigos, com a expressão dividida entre a emoção e a incredulidade.
— Claro que não, Zor-El! — o ômega retrucou com indignação, pegando o tablet da mão dela — Tudo que está escrito aqui — fez um gesto de deslizar com o dedo pela tela —, é verdade. Então pare de ser insegura e aceite logo que você é talentosa, alphinha.
— Oh, meu bebê, estou tão feliz por você! — Sam se aproximou com os braços abertos e puxou Kara para um abraço apertado.
— Estamos! — Mxy emendou se juntando a elas, enquanto Kara permitia que as primeiras lágrimas de felicidade caíssem.
— Está rolando um abraço coletivo e ninguém se importou em me chamar? — Nia voltou do almoço e se deparou com a cena inusitada no escritório.
Mxy logo explicou o que se passava e a outra ômega se apressou em se juntar aos três amigos, agora formando um abraço a quatro.
— A gente precisa celebrar a conquista da nossa alpha com uma grande comemoração — Nia sugeriu, empolgada.
— Gente, eu fui apenas indicada, isso não quer dizer que vou ganhar — Kara lembrou, sem falsa modéstia — Vocês já viram quem são meus concorrentes? William Dey, Mercy Graves, James Ol…
— E daí? — Sam interrompeu a fala da amiga apoiando as mãos nos quadris — Você é tão ou mais capaz que esses jornalistas, Kara! Seus artigos costumam abalar as estruturas da nossa sociedade — a ômega continuou, argumentando de forma mais exagerada — Inclusive, é por causa do seu trabalho que a AlphaVerse está ganhando cada vez mais credibilidade no meio midiático.
— Não precisa exagerar, Sam! — Kara sentou-se novamente, mexendo no mouse para acordar a tela do computador de mesa.
— Kara, apesar dos exageros da nossa amiga, Sam tem certa razão — Nia se meteu na conversa, recebendo da outra ômega um olhar um tanto enviesado — Outro dia, quando estava vindo para cá de metrô, presenciei dois caras falando sobre um dos seus artigos, e eles estavam concordando com você, fazendo altas reflexões sobre o que você abordava no texto. De alguma maneira, você está ajudando as pessoas a se tornarem críticas sobre os papéis limitantes, impostos aos alphas e aos ômegas desde sempre.
— Que emoção, nossa alphinha está se tornando uma intelectual famosa! — Mxy aplaudiu e juntou as mãos na frente da boca, dando pulinhos de euforia no mesmo lugar.
Kara e Nia reviraram os olhos para a cena.
— Enfim, o que estou tentando argumentar é que seu trabalho está se destacando, Kara. Então pode deixar a modéstia de lado e começar a pensar na possibilidade de ser a feliz contemplada com o prêmio Lupitzer — Nia sorriu animadamente.
— Isso mesmo, a futura chef do restaurante “Palácio da Nia”, está coberta de razão — Mxy afirmou, colocando as mãos nos ombros da amiga e recebendo um sorriso caloroso dela. — Precisamos começar a nos acostumar com a ideia de, em breve, termos uma amiga mil dólares mais rica e premiada com o Lupitzer.
— Vocês não existem! — Kara sacudiu a cabeça, mas permitiu se contagiar com o otimismo e o bom humor dos melhores amigos, sorrindo alegremente também.
Enquanto os outros três seguiram falando e planejando a festa de comemoração pela indicação de Kara ao prêmio, Snapper Carr apareceu na sala na companhia de outros funcionários, já trazendo uma garrafa de champanhe e parabenizou a jornalista mais jovem (e única) da AlphaVerse a receber uma indicação ao prêmio Lupitzer.
O beta estava empolgado, tagarelando algo sobre sempre ter acreditado no potencial de Kara e ela preservava um sorriso tímido nos lábios, ao mesmo tempo que recebia apertos de mãos e tapinhas nas costas, enquanto sua mente divagava para o prédio vizinho.
Naquela hora, ela imaginava onde Lena estaria, sentindo uma imensa vontade de dividir a felicidade de sua indicação com ela também.
Ω
Ainda no mesmo dia, mas já de noite, Kara destrancou a porta do seu kitnet, e entrou no espaço pequeno, deixando a bolsa na mesinha encostada perto da porta.
Missy, a gatinha preta que a alpha resgatou da rua ainda filhote, logo veio rodeá-la, ronronando e, eventualmente, miando atrás de comida.
A alpha sorriu e foi providenciar o jantar da gatinha, enquanto pensava que precisava de um bom banho refrescante. Estava fazendo um calor incomum para aquela época do ano na cidade.
Depois do banho, a alpha voltou para o espaço que dividia a sala e a cozinha, enxugando os cabelos molhados com uma toalha.
Já de barriga cheia, Missy dormia toda enrolada na caminha embaixo da janela. Como sempre, Kara ficou enternecida com a cena, enquanto pegava um regador para molhar as plantas no peitoril da janela.
Pensando nas opções que tinha na geladeira para comer, a alpha ouviu batidas na porta e logo franziu o cenho. Ela não costumava receber visitas naquela hora. Exceto quando um dos amigos decidia visitá-la de surpresa e tentava convencê-la a sair para um bar ou festa qualquer.
“Será que eles decidiram antecipar a comemoração para hoje e quiseram me fazer uma surpresa?”, Kara considerou.
Quando estava saindo da revista no fim do expediente, ficou certo que eles se encontrariam no bar preferido da loira para comemorar a indicação ao prêmio, mas isso aconteceria apenas na noite de sábado, que seria dali a dois dias, porque segundo Mxy e Sam aquele era o dia mais perfeito para beber até cair, sem se preocupar com trabalho na manhã seguinte.
— Um momento! — a alpha falou, alcançando a calça de moletom deixada no sofá cama. Ela tinha saído do banheiro e vestido apenas uma cueca e um top branco. Gostava de ficar mais à vontade em casa, principalmente quando o clima estava tão sufocante e quente.
Abriu a porta e se surpreendeu ao se deparar com uma pessoa conhecida, embora não fosse nenhum dos três amigos dela.
— Soube que você foi indicada ao prêmio Lupitzer, Srta. Zor-El — aquela voz sensual e única preencheu os ouvidos de Kara como uma canção envolvente — Então quis vir pessoalmente parabenizá-la! — o sorriso nos lábios carnudos cresceu.
Kara continuava atônita com a surpresa.
— Lena, mas como…
— Eu sei seu endereço? — a ômega ergueu uma sobrancelha perfeitamente esculpida — Você mesma o informou, quando assinou o termo de confidencialidade que firmou comigo — explicou num tom divertido.
Kara teve vontade de bater no próprio rosto com a mão, por causa de sua distraída babaquice. Certamente, Lena deveria considerá-la uma grande idiota.
— Vai me convidar para entrar? — a ômega perguntou insinuante, ainda mantendo o sorriso brincalhão nos lábios e depois de ter lançado um olhar apreciativo e demorado para o corpo de Kara.
“Ela fica tão gostosa usando esse top!”, a ômega pensou, mordendo o lábio levemente e excitada com os braços definidos da alpha.
— Claro, por favor entre! — Kara conseguiu não gaguejar.
Como sempre, Lena estava linda e o perfume dela deixou um feitiço no ar. Kara respirou fundo, enchendo os pulmões com aquele requintado cheiro.
— Você não está cheirando igual a uma alpha! — Zor-El comentou sem pensar, arrependendo-se em seguida, sabendo que aquele tópico poderia ser sensível para a ômega.
Lena lançou uma rápida espiada no kitnet, achando o espaço compacto, mas muito adorável. A personalidade única e encantadora de Kara podia ser vista em cada detalhe da decoração. Depois, ela se virou para encarar a outra mulher.
— Não? — questionou com uma ruga de preocupação surgindo na testa — Estranho, porque estou usando o mesmo perfume que imita o cheiro de alphas que sempre usei.
Kara ficou mais nervosa e esfregou as mãos suadas na calça de moletom.
— Eh… Talvez esse perfume não tenha mais efeito sobre mim, porque sei que você é… bem, uma falsa alpha — argumentou de maneira gaguejante.
A expressão de Lena mudou e ela se aproximou mais da alpha, fechando a porta que Kara esquecera aberta.
— Pode ser! — a ômega sussurrou quase tocando os lábios nos da outra — Senti sua falta, alpha — pontuou num tom mais rouco, mudando o olhar dos olhos para a boca de Kara. — E como disse antes, vim aqui para parabenizá-la. Me deixe te dar… o melhor presente de todos.
O coração de Kara disparou e ela sentiu que ia desfalecer, mal se sustentando nos joelhos fracos, no instante em que Lena pronunciou essas palavras e pegou-a em seguida pela nuca, puxando-a para um beijo molhado e profundo.
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