BTS – So what?
“Alguém me chame de certo, alguém me chama de errado. Eu não ligarei para isso, por que você não faz isso também?”
(Somebody call me right, somebody call me wrong. I won't care about that, why don't you do that too?)
- 'Cause ah, ah, I’m in the stars tonight, so watch me bring the fire and set the night alight (Porque eu ah, ah, estou nas estrelas hoje, então me veja trazer o fogo e iluminar a noite). - Jungkook cantou mexendo o traseiro no ritmo da música, concentrado em não deixar o lixo cair da pá antes de chegar até o lixo.
Ele detestava fazer qualquer tipo de serviço doméstico, acredite, odiava mesmo. Mas sua mãe ômega tinha lhe ensina muita coisa desde seus 11 anos – porque ele também era um ômega e a família era conservadora demais e achava que ômega deveriam ser bons donos de casa. Apesar de saber, normalmente ele não fazia já que isso ficava a cargo da sua mãe, ela adorava fazer toda aquela droga e contato que Jungkook mantivesse o quarto limpo, não precisava fazer nada além de colocar o lixo para fora.
Depois que ela engravidou Jungkook ficou responsável por lavar a louça - todos os malditos dias para seu azar – tanto a do almoço quanto do jantar. Limpava o banheiro. Varia a casa e colocava o lixo para fora. E apesar de odiar, porque ele realmente odiava, não era de todo ruim poder ajudar a mãe. Ela estava esperando dois bebês, já no 6° mês então ficava difícil.
Naquela tarde não foi muito diferente. Ele almoçou e tratou de fazer logo suas obrigações, porque preferia fazer tudo e depois descansar, do que deixar para última hora. Colocou seus fones de ouvido, ligou sua playlist mais animada e foi fazer suas coisas.
Lavou toda a louça, até enxugou e guardou – por mais que odiasse também - depois limpou o banheiro e agora estava terminando de apanhar o lixo depois de varrer para colocar o saco na lixeira da frente. Tudo na maior paz, sem grandes problemas. A música estourando em seus fones enquanto focava no que fazia.
- Jungkook, você já fez suas coisas? - sua mãe falou chegando até a cozinha, vestindo roupas largas da sua esposa segurando a barriga que já estava terrivelmente grande. O ômega não ouviu por conta dos fones de ouvido, e isso acabou irritando sua mãe ainda mais. - Jungkook!
Ele não viu a mãe, apenas quando terminou de fechar o saco e virou-se, tomando um baita de um susto com a ômega parado perto da porta, as mãos ao lado do quadril e a expressão nada contente no rosto. Algo foi dito, e o Jeon só percebeu depois que precisava tirar o fone para entender e assim fez, recebendo um olhar ainda mais duro da mãe.
- O que você falou?
- Você vai ficar surdo com essa merda no ouvido, Jeon Jungkook. - brigou enfezada até o limite. Dentro da sua barriga, uma das bebês chutou bem forte contra o seu umbigo fazendo com que ela alisasse a área porque estava começando a ficar bem dolorido. - Já terminou?
- Sim, só falta colocar o lixo, mas eu coloco mais tarde depois do jantar.
- Tem que fazer agora pra você não esquecer de colocar.
- Depois do jantar eu faço isso, mamãe, depois que lavar a louça. - ele deu de ombros virando de costa para ir guardar a vassoura e deixando a mãe lá, para o desagrado da mulher. - A mãe vai trazer o jantar ou você vai fazer algo?
- Ela vai trazer... Aonde você enfiou seu uniforme do colégio, em? Seu quarto está uma bagunça completa, fui procurar hoje pra lavar e encontrei uma pilha de copos e sua roupa do taekwondo está largada no chão do quarto.
- Amanhã vou arrumar o quarto e lavo as minhas roupas, não precisa ficar entrando lá pra mexer nas coisas, sabe que não gosto.
- Como é? Eu vou entrar lá quando quiser, está escondendo alguma coisa, por acaso?
- Não estou escondendo nada, mas também, se tivesse, você teria descoberto já que fica entrando no meu quarto o tempo todo, mesmo sabendo que eu não gosto.
- Eu comprei tudo que está ali dentro, Jeon Jungkook, tenho direito de entrar lá.
- Sim, você e a sua alfa compraram, mas me deram e a partir de então o dono sou eu, e é obrigação de vocês comprarem as coisas pra mim. Me tiveram porque quis, não forcei ninguém a nada, agora aguente. - deu de ombros furioso já com aquele tipo de conversa. Jungkook odiava quando uma das mães invadiam seu espaço e ficava mexendo em suas coisas. Odiava! E estava em uma fase que não conseguia apenas baixar a cabeça e ouvir, não mesmo, ele batia de frente sem medo algum.
- Você está se tornando um adolescente particularmente insuportável, Jungkook, e muito respondão, fale direitinho comigo.
- Estou falando, mamãe, mas eu não vou fingir que gosto de algo quando não gosto. - ele largou as coisas de qualquer jeito na área de serviço, largando a sacola de lixo lá mesmo e saindo de perto da mãe. - Você vai ter que me engolir.
Jungkook não era do tipo rebelde com suas mães, de verdade, não era, mas Jungkook havia se tornado um adolescente e estava na fase em que suas genitoras não eram suas melhores amigas e que normalmente não as veria com tanta devoção como de costume. Sempre foi um ômega muito educado e quieto, porém tinham crescido e não era mais o mesmo.
Suas mães entendiam a fase que ele estava passando. Mas não significava que se agradavam do comportamento do filho. Ou que ele mesmo gostava de sentir aquele tipo de sentimento revoltante que sentia sempre que as mães falavam algo. Porém era mais comum do que se podiam gostar e, tanto elas, quanto Jungkook, estavam tentando lidar com a fase adolescentes do ômega.
- O que não significava que dava certo sempre. Normalmente Solji, a alfa, perdia a paciência muito mais fácil enquanto Bonah, a ômega, tentava apaziguar os ânimos e não deixar que nada saísse do controle. No entanto, naquela tarde, talvez por todo o clima e pôr está chateada demais, a ômega apenas perdeu a cabeça e saiu da linha. Sem paciência pra lidar com a rebeldia do filho.
- Jeon Jungkook!
- O que é?
- Eu estou falando com você, para aonde está indo?!
- Estou saindo daqui porque não quero mais ouvir nada. - falou ríspido, batendo o pé enquanto seguia para o andar de cima, aonde ficava seu quarto. - Que saco!
- Jungkook!
- Me erra, mãe! - gritou lá de cima, batendo a porta de forma estrondosa, não esquecendo de fechar a porta com a chave porque sabia que se desse brecha, ela subiria ali e lhe encheria de porrada.
Seu quarto estava mesmo bagunçado, Jungkook sabia disso, mas ele odiava alguém se metendo nas suas coisas e sua mãe sabia disso muito bem. Desde que a ômega havia engravidado que Jeon ficou por conta dele mesmo pra fazer suas próprias coisas, era ele quem arrumava seu quarto, lavava sua roupa e tomava conta de si. E não era como se pudesse se importar muito, até gostava de tal liberdade, mas não conseguiu suportar quando as mães invadiam seu espaço pessoal e não respeitavam sua privacidade.
Tudo tinha ficado ainda pior quando elas souberam do seu namoro com Hoseok, o que continuava sendo um assunto para lá de delicado para se tratar naquela casa. Ele até tentou falar com elas mais uma vez, mas Solji foi dura com o filho dizendo que ainda não tinha chegado a uma conclusão, então Banah apenas pediu para ele falar outra hora. Era sempre assim, e isso era outra coisa que fazia com que Jungkook ficasse ainda mais irritado com as mães. Em particular com a alfa.
Perdeu a cabeça com a ômega sem nenhum motivo, mas já estava irritado desde que chegou em casa da aula e a mãe alfa gritou com ele - sem motivo algum – dizendo que era pra ir fazer logo suas obrigações e não ficar deitado o dia todo, sendo que ele só parou 15 minutos após comer porque estava terrivelmente cansado.
Banah só recebeu aquele tratamento por tabela. Mas para ser 100% honesto, não era como se Jeon tivesse completamente arrependido e não voltaria a fazer aquilo. Entraria em muitos outros conflitos com as mães, por várias circunstâncias e não ficava com peso na consciência por isso.
Jungkook chutou algumas coisas que estava no meio do caminho largando o fone em cima da mochila e se jogando na cama. Não queria ficar em casa, ainda mais que sua mãe alfa estava trabalhando por muito mais tempo em casa e chegaria a qualquer momento, aí lhe perturbaria ainda mais.
O chat dos seus amigos estava bem parado. Mas como era segunda-feira, ele sabia que Seokjin estava no estágio e Jimin teria aula de dança, então logo lhe surgiu a ideia de que talvez Min Yoongi pudesse salva-lo. Não iria ficar perturbando Hoseok, mas não ligava em perturbar um pouco seu melhor amigo, ainda mais que sempre era tão bom passar uma tarde de conversa ele. Yoongi era muito divertido de estar por perto e sempre dava os melhores conselhos.
- Gi?
- Oi, Gguk, boa tarde. - cumprimentou do outro lado da chamada telefônica, dava para ouvir que ele estava assistindo algo ao fundo, nada muito interessante, a voz dele saindo terrivelmente arrastada.
- Tá em casa? - o questionamento veio sem rodeios, e Yoongi respondeu positivamente ainda mais direto. Não tinha motivos para agir de outra forma, ainda mais com o melhor amigo. - Tem problema se eu for ficar com você, Gi?
- Não, claro que não, pode vim.
- Tem salgadinho na sua casa?
- Tem sorvete e pipoca de micro-ondas.
- Vou levar refrigerante e chocolate, então. - enquanto falava, Jungkook já foi se colocando de pé empurrando para longe sua camiseta de ficar em casa para colocar outra que pudesse cobrir melhor seus braços. Não ligando muito se estava com short de ficar em casa e seus cabelos estavam uma tremenda bagunça. - Vou de bicicleta, chego aí em 10 minutos.
- Vem com cuidado, vou abrir a garagem pra você colocar a bicicleta.
- Estou indo!
Na sua gaveta de cuecas, embaixo de todos os panos dentro de uma caixinha, ele alcançou a quantia suficiente de dinheiro pra comprar chocolate e refrigerante, não ligando se não deveria mexer naquele dinheiro por conta de coisas supérfluas e que deveria guardar.
Fazia um bom tempo que ele tinha começado a juntar dinheiro, já que não trabalhava e dependia das mães para tudo – principalmente na questão financeira - então ele começou a fazer pequenas economias juntando tudo que ganhava para não ficar pedindo o tempo todo. Não era uma fortuna, e passava bem longe disso, mas ele tinha o suficiente para ir ao cinema com os amigos sem precisar pedir dinheiro, ou comprar algo para comer.
Vestiu uma camisa limpa, até porque a outra estava molhada depois de lavar os pratos, pegou o celular, o dinheiro e desceu para ir pegar sua bicicleta. Costumava ir para os treinos com ela e até deveria estar lá em vez de se entupindo de doce, mas sua professora tinha se machucado no final de semana e academia ficaria fechada pela próxima semana, o que restava a ele fazer exercícios em casa e não na academia.
- Você vai para onde? - Banah questionou vendo-o entrando pela porta dos fundos em direção a garagem. Estava fazendo um lanche e não pode controlar o impulso de perguntar.
Ele, sem ligar muito para a ômega, porque por mais malcriado que ele pudesse parecer agindo assim, Jungkook se chateava bastante com as atitudes das mães em querer roubar tanto do seu espaço pessoal e cobrar coisas a ele que nem deveria. Já dava o seu melhor sempre, e por mais que não agradasse elas, ele ficava triste em notar que tanto Banah quanto Selji não estavam interessadas em apoiar nenhum dos seus esforços, só criticando os pontos negativos nele. E isso cansava demais qualquer um. Cansava e deixava triste.
Então, em vez de conversar com as mães, Jungkook atacava porque também se sentia atacado. Foi o meio que ele achou em se proteger do fato de nenhuma das duas parecer lhe enxergar direito e nunca ficar feliz com nada que ele fizesse.
Sendo assim ele não respondeu a mãe. Passou direito controlando-se para não bater a porta outra vez, apenas pegou sua bicicleta e saiu sem dar satisfação alguma. Iria ouvir muito quando voltasse para casa e tivesse que lidar com a mãe alfa. Era sempre a mesma coisa. E como era inevitável, apenas aproveitaria a sua tarde da forma mais plena possível. Depois resolvia tais problemas.
Comprou chocolate e refrigerante em uma loja de conveniência na distância entre sua casa e a casa do melhor amigo. Era um percurso relativamente perto e bem tranquilo, então não demorou mais do que quinze minutos para o ômega chegar já estacionando sua bicicleta na garagem, fechando a porta logo em seguida.
- Gi, cheguei! - gritou entrando pela cozinha, tendo maiores liberdade já que não viu o carro de Naeun na garagem e deduziu que ele não estava em casa. - Cadê você?!
- Na sala.
- Vou guardar as coisas aqui na geladeira, tudo bem?
- Fique à vontade.
Os garotos gostavam de ir para casa de Yoongi, tanto porque ele era uma ótima companhia e era sempre muito divertido, quanto porque sempre ficavam muito à vontade na casa dele. Tanto Yoongi quanto a mãe, e até mesmo Yoseob na época que morava ali, sempre deixava todos muito confortáveis em ir para casa deles.
Então Jungkook não teve a menor vergonha em abrir a geladeira e colocar as coisas lá dentro, também não se incomodou em pegar um biscoito doce dentro do pote perto do fogão e menos ainda em deixar suas sandálias na porta da garagem e entrar descalço dentro de casa.
Yoongi estava largado no sofá, sentado de qualquer jeito enquanto lia alguma coisa no celular, uma cara tremenda de maior tédio. A TV ligada em um programa qualquer, sua mãe tinha pedido para assistirem juntos a série, então tinha virado um programa deles a noite e respeitaria isso, até porque era bem chatinho assistir sem ela. Jeon chegou todo espaçoso, se jogando por cima do melhor amigo que soltou um gritinho desesperado com todo o peso dele em cima de si.
- Você está me esmagando, ômega. - Yoongi gritou em desespero, o celular escorregando da sua mão caindo contra o tapete fofo da sala – Jungkook!
- Você é tão fofinho, Gi. - Jungkook enfiou o rosto contra o pescoço do melhor amigo, dando beijinhos naquela área só porque sabia que o amigo não gostava. - Eu senti saudades de você.
- Saudades por quê?
- Porque você não foi ficar com a gente hoje no intervalo, e saiu todo estranho no sábado do cinema. A gente vacilou em ter chamado os outros alfas, mas não teria problema algum em te trazer pra casa. O Jin-hyung mesmo, ficou bem mal.
- Duvido muito disso, Gguk, e ele precisava de um tempo com a namorada, atrapalhei demais o momento deles.
- Que nada, ele não te contou? Yongsun terminou com ele no sábado.
- Eu soube, ela me falou. - deu de ombros recebendo um olhar confuso do melhor amigo, porque apesar de ser mais calmo, Jungkook era muito perspicaz e observador, então pegava muita coisa sem que usarem muitas palavras – Fez questão de me deixar sabendo disso.
- Ué, assim, do nada?
- Ela só quis me deixar ciente disso, nada demais.
Yoongi não gostava de expor seus problemas a ninguém, tão pouco quando tais problemas envolvia algum dos seus amigos e fazer com que aconteça um conflito dentro do grupo deles. Apesar de todos os erros e o ônus que qualquer relação possuía, o Min ainda amava demais aqueles caras para simplesmente romper aquele laço como se não significasse nada. Ou pior, fazer com que entrassem em um conflito por sua causa.
Sabia que Jimin e Jungkook tomariam sua dor para si, os dois ômegas fariam até mesmo sem nem sentir. E essa era a parte complicada para Yoongi porque ele não queria aquele tipo de responsabilidade, ainda mais quando nem mesmo tinha chegado a uma conclusão sobre o que faria com Kim Seokjin. Precisava colocar a sua cabeça no lugar e pra isso, precisava de tempo e não contaminar ninguém com seus sentimentos ruins.
Por isso não contou nada ao Jeon, e não contaria para Jimin e nem para ninguém. Já tinha se aberto o suficiente com Taehyung e o alfa lhe ajudou o bastante. Não podia, e não iria, colocar responsabilidade alguma em cima dos amigos, quando tivesse pronto iria se resolver com Seokjin. Apenas os dois. Até lá, ficaria na sua.
- E você, em? Fez o que tanto hoje?
- Discuti com a mamãe.
- Ué, com a ômega? Por quê?
- Porque eu estou cansado de tanta injustiça, Gi, tem ficado insuportável ficar naquela casa com toda a droga da cobrança em cima de mim. - resmungou ressentido porque, por mais que parecesse que ele é só um inconsequente rebelde e mal educado, Jungkook só andava se sentindo mal com o modo que as coisas iriam seguindo. - Eu sei que sou preguiçoso pra fazer muita coisa, mas eu tenho tentado bastante por conta da mamãe e da gravidez. Mas pra minha mãe alfa nada nunca é o suficiente. Ontem mesmo, só porque eu falei que iria deixar pra lavar os pratos depois do jantar porque lavava tudo, ela ficou me chamando de preguiçoso, que eu não sabia fazer nada e que só fazia de mal gosto. E eu odeio fazer, mas estou fazendo sem reclamar. É uma tremenda porcaria.
- E sua mãe ômega faz o que?
- Tenta contornar a situação, mas eu estou tão cheio disso tudo que hoje explodi com ela. E tudo ficou pior depois do Hoseok. Toda e qualquer oportunidade, a alfa passa isso na minha cara, de que se eu não me ajeitar vai proibir de vez meu namoro.
- Eu nem sei o que te falar diante essas coisas, Gguk, é muito complicado esse tipo de situação, ainda mais porque nunca passei por isso. Meus pais nunca me cobraram tanto além da escola, e agora a mamãe muito menos já que é nos dois, e mesmo assim, ela sempre me deu muita liberdade pra falar sobre tudo. É muito complicado.
- Eu sei, Gi, e acredite, poder desabafar com você sem ser julgado, é muito mais reconfortante do que algum tipo de conselho hiper mega elaborado e inteligente.
- Quer sorvete pra ajudar?
- Quero. - Jungkook abriu um sorriso imenso logo em seguida, pulando para fora do sofá quando Yoongi se levantou para ir à cozinha.
Yoongi colocou uma embalagem de pipoca no micro-ondas enquanto colocava uma quantidade generosa de sorvete em duas taças separadas, junto a dois copos de refrigerante e os chocolates também. Jungkook ajudou, servindo-se como bem queria porque não havia motivo algum pra ele sentir-se envergonhado na casa do amigo.
Com tudo pronto, eles foram para o quarto de Yoongi porque queriam ouvir música e lá era muito melhor. Ligaram uma playlist de Jungkook, uma mistura de pop atual com R&B. Yoongi não conhecia quase nenhum dos artistas que estava cantando, mas gostava o suficiente das músicas para não ligar quais estavam tocando. Se espalharam contra o tapete do quarto jogando conversa fora sem maiores preocupações.
- Você passou o intervalo aonde, Gi?
- No ginásio.
- Sozinho? - questionou levando mais um pouco de sorvete a boca junto a um punhado de pipoca. Ele tinha gosto peculiares, mas sinceramente não era como se Yoongi ligasse, até porque era bom mesmo pipoca misturado com sorvete de creme.
- Não, Taehyung-ssi foi ficar comigo. - ele falou de um modo tão despreocupado que Jungkook precisou de um tempo para compreender exatamente o que o amigo falou, não deixando de ficar surpreso assim que entendeu para o desespero de Min Yoongi – Nem vem com essa cara para o meu lado.
- Você ficou com Kim Taehyung, o alfa, durante todo o intervalo?
- Sim, acho que estamos virando amigos, ou algo assim, não sei.
- Como isso aconteceu, Gi? Não porque eu acho absurdo a ideia de vocês virarem amigos, mas é que eu nunca tinha visto vocês juntos antes.
- Lembra da festa? Então, ele puxou assunto, mas eu não estava muito de bom humor, então na segunda ele veio se desculpar e pediu meu número. A gente vem conversando desde então e quando ele soube que eu estava no ginásio sozinho, foi ficar lá. O pai dele também me mandou bolo.
- Já estão assim? - havia um tom de provocação muito óbvio na voz de Jungkook, o que fez com que as bochechas de Yoongi ganhassem uma coloração rubra – Tem certeza que rola só amizade?
- O que mais rolaria? Olha bem pra mim, amigo, o que um alfa como Kim Taehyung iria querer comigo?
- Gi, sinceramente, eu estou olhando bem pra você, nesse exato momento, e não vejo nada de errado contigo.
- Você seria um baita de um amigo filho da puta se falasse de forma negativa do seu amigo, Gguk, é tipo uma obrigação moral no código de boa amizade.
- Não vem com essa, eu só não sou maluco, ômega, então eu vejo bem as coisas.
- Bem, independente de qualquer coisa, não é esse o caso porque Taehyung não está interessado em mim dessa forma, ele só é um bom alfa que quer ser meu amigo, nada de muito complicado. - ele deu de ombros tentando disfarçar suas bochechas vermelhas de vergonha tomando um bom gole de refrigerante, o que ajudou muito, tanto que Jungkook não parou de olha-lo instante algum – Ele é legal, de qualquer forma.
- E como você se sente em relação a isso?
- Como assim?
- Tipo, como você se sente tendo ele por perto e tal?
- Eu gosto, sei lá. Como falei, ele é legal, muito legal, e não é um babaca.
- Isso conta muito, no caso.
- Demais. Ele tem um ótimo gosto musical, é engraçado, consciente e eu vejo que ele se esforça bastante pra me deixar o mais confortável possível. A gente vem trocando muitas mensagens e falando no telefone também.
- Você falando no telefone? - questionou muito confuso, conhecia Yoongi fazia um tempo considerável, então não lhe era desconhecido aquele pequeno detalhe. O que lhe deixou particularmente bem surpreso – Que milagre é esse, ômega?
- Pra você ver como as coisas estão estranhas.
- Mas sei lá, Gi, estou feliz por você, se ele te faz bem, amigo, isso que importa.
- É um potencial amigo, ainda não me sinto totalmente confortável com ele, mas também não é estranho. As vezes sinto como se já fosse amigo dele há muito tempo, porque não ficou naquela tensão de querer procurar palavras certas pra dizer ou coisa do tipo, eu apenas digo e pronto. Não há aquela necessidade chata de tentar ser algo quando não sou, porque ele é muito tranquilo e eu não preciso fingir nada.
- O santo bateu, não foi?
- Acho que sim. - acenou mexendo no sorvete sem grande empolgação para comer, a massa cremosa já quase totalmente derretida em sua taça - Não estou acostumado a sentir isso.
- Não fique preocupado demais com isso, sei que parece um pouco inevitável, mas pelo menos tente. E se ele fizer algo pra te magoar, pode falar comigo, que eu acabo com ele.
- O mais engraçado, ômega, é que você nem está brincando. - Yoongi falou e isso foi motivo suficiente para que os dois rissem bem alto, como eles normalmente faziam quando estavam juntos. Sem nenhum problema para ter que lidar.
***
“MENSAGENS NO GRUPO: Leo, Donnie, Mikey e Rapha”
JIMIN: Vocês estão fazendo o quê?
[Responder mensagem no privado]
JUNGKOOK: Estou no Gi, ouvindo música, conversando e com lanche.
JIMIN: Posso ir ficar com vocês? “carinha chorando”
JUNGKOOK: Vem logo, amigo, a gente vai ficar te esperando.
JIMIN: Já estou no caminho.
Jimin fazia aula de dança em uma academia fora da escola – apesar de fazer parte do clube de dança do colégio – mas ele estava realmente interessado em levar a dança como profissão no seu futuro, e para isso, era necessário muita dedicação e trabalho duro. O que, consequentemente, significava fazer aulas com profissionais qualificados e participar de competições.
Tinha ganhado algumas medalhas, e até o troféu de segundo lugar em um tornei de Seoul. Segunda, quarta e sexta. Eram os dias das suas aulas e naquela segunda-feira não foi diferente, e apesar de ser para lá de cansativo aquela rotina, ainda gostava demais para poder reclamar.
Deveria ir direto para casa após o treino, era isso que sempre falava a mãe - e seus pais também - mas naquela tarde fez diferente, pegou um táxi e ligou para a mãe no meio do caminho avisando que iria para casa do Yoongi e só voltaria perto do jantar. Ainda pediu para a mãe ir busca-lo as 18h. Quando chegou na casa dos Min, os amigos estavam mesmo o esperando na porta e o recebeu com abraços - mesmo ele estava um pouco pegajoso por conta do suor. Ao entrar na casa, foi encaminhado imediatamente para o banheiro enquanto Jungkook e Yoongi o esperava no quarto.
- Eu estava precisando mesmo tirar aquela calça. - Jimin resmungou entrando no quarto do amigo, a bolsa sendo deixada em algum lugar perto da porta enquanto ele caminhava até junto dos amigos. - Vocês comeram o que?
- Pipoca e sorvete, a gente fez mais pipocas e pegou sorvete pra você. - Yoongi falou já entregando uma taça cheia com o sorvete de creme.
- Obrigado, Gi. - agradeceu com um sorriso frágil, tinha treinado bastante e estava cansado mesmo que tenha ganhado um ar mais relaxado depois do banho. - Minha professora disse que seria muito bom se eu pudesse ganhar mais dois quilos de músculos daqui para o próximo festival porque isso me daria mais força para dançar.
- Eu te falei que fazer aquelas dietas estúpidas não ia dar em nada. - Jungkook afirmou de forma acusatória, porque tinha tido uma conversa como aquela com o amigo antes e pelo vist o Park ainda não havia criado juizo. - Vocês deveriam ir treinar comigo, um pouco de defesa pessoal não faz mal a ninguém.
- Não nasci pra fazer exercício físico, estou mais para o tipo de bicho que deita e rasteja.
- Uma cobra, Gi, bem que eu suspeitei. - Jimin falou bem humorado, recebendo um empurrão leve como resposta.
O Park contou aos amigos mais ou menos como as coisas estavam se seguindo nos ensaios, tinha um torneio para participar em algumas semanas e estava ralando muito para conseguir uma vaga, apesar de estar bem difícil. Havia muita gente boa que tinha entrado na academia e ainda mais na competição. Sua mãe falou para não se preocupar com tal coisa, que treinasse e ficasse tranquilo porque tudo daria certo. Não estava tão confiante quanto gostaria, porém também não ficava pensando apenas nisso o tempo todo.
- Então, Minie, eu não ia entrar nesse assunto sem você por perto, mas já que está aqui, vou perguntar. - Jungkook começou depois que eles ficaram mais tranquilos, ainda estava tocando música e o ômega tinha sido responsável por comer quase toda a pipoca – O que rolou entre você e o Namjoon-hyung que estava estavam todo estranhos hoje?
- É complicado demais... Sabia que ele foi para a festa do Jay no sábado?
- E você ficou com raiva daquilo?
- Na real, não. Sinceramente eu não me importo, ainda mais que eu acabei de descobrir que o Namjoon é primo do Jay, então é normal que tenham essa proximidade. Eu não gosto é de mentiras e ele mentiu pra mim, porque eu perguntei se ele iria, falei que estava tudo bem, sem problema, e ele disse que ia ficar em casa. No outro dia vi fotos dele lá, bebendo. Isso que não gosto.
- E vocês nem começaram a namorar ainda, imagina quando enfim oficializarem tudo.
- Querem saber de algo exclusivo? Não sinto a menor vontade de oficializar nada depois dessa. Pode parecer besteira...
- Não é besteira, Minie, ele quebrou sua confiança.
- Tentei conversar com ele sobre isso, sabe? Não forcei nada a ele, até porque não quero apressar nada, mas perguntei quando a gente iria oficializar tudo. Pode parecer normal para todos os outros, mas eu não gosto dessas relações casuais e eu deixei bem claro isso a ele, além do mais que apesar de ter uma mãe super de boa, meus pais gostam das coisas mais certas e não iriam aceitar nunca isso. Mas aparentemente o Namjoon não está pronto para uma relação séria. - dando de ombros, ele colocou uma quantidade generosa de sorvete em sua boca enquanto os amigos prestavam total atenção em si. Dando liberdade suficiente para que o Park pudesse falar sem interrupção. - Acho que tem algo muito estranho na família dele, algo que o Namjoon ainda não me contou.
- Tipo o que?
- Uma vez ele me contou que a família dele cobra muita coisa dele, muito mesmo. Falou até que tem uma prima que os pais querem que ele namore, para que se casassem e ficassem tudo em família. Além do mais que têm muitos planos para ele que não envolve um namoro bem no meio do ensino médio.
- O que isso significa, Minie?
- Que talvez ele nunca vá querer oficializar nada, ou até vai, mas ele nunca me apresentaria aos pais e tudo seria às escondidas, o que não ia rolar, porque, sinceramente, meus pais nunca iriam aceitar isso, vocês sabem. E nem eu, não estou fazendo nada de errado pra ter que me esconder, não gosto dessas coisas. Sou bem chatinho mesmo com isso.
- Olha, amigo, eu adoro o Namjoon-hyung, mas se for pra você ficar assim, melhor cair fora. Não vale a pena, nunca vale.
- Ainda mais que eu não sou como você, Gguk, não tenho essa coragem toda pra bater de frente com meus pais e ir contra uma ordem deles, gosto bastante do Namjoon, mas não ao ponto de passar por essas coisas achando que está tudo bem. A última coisa que eu quero na minha vida é problema, e Kim Namjoon parece ter vindo cheio deles. - falou em um tom dramático se jogando contra o tapete. Seu sorvete tinha acabado e ele estava sentindo uma dor chata na lombar, depois de ter feito um passo errado no ensaio. Precisava de muito repouso. - E eu tenho quase certeza que o Siu-ssi gosta dele.
- Tipo, romanticamente? - Yoongi perguntou ocupado em abrir uma barra de chocolate. Estava precisando de muito doce naquele dia.
- Sim. Eu vejo o modo como ele olhar para o Namjoon, sabe? E tudo bem, isso não é prova alguma, mas dá pra sacar quando alguém está apaixonado por outro.
- Nem todo mundo, Minie, há pessoa que acreditam que o Jin-hyung é apaixonado por mim.
- Porque o hyung age como se fosse um cão de guarda ao seu redor, Gi, ninguém está totalmente errado em pensar dessa forma. - apoiando os joelhos contra o tapete, Jimin se jogou em cima do Min não ligando se iria suja-lo com o chocolate. Nem mesmo Jungkook teve o mesmo cuidado quando se jogou sobre os dois corpos, esmagando o pobrezinho do ômega que gritou desesperado debaixo de todos os corpos. - E você não pode deixar, Gi, porque se não todos os alfas vão acreditar que você está com ele.
- Vocês estão me esmagando! - gritou tentando afastar os amigos, e até conseguiu, mas movendo os dois para deitar ao seu lado, bem juntinho. - E nenhum alfa vai pensar assim porque nenhum está interessado em mim.
- Ué, até aonde eu sei, Kim Taehyung é um alfa.
- Sim, mas Kim Taehyung é um amigo, Jimin.
- Gi, ele olhar pra você do mesmo jeito que o Siu olha para o Namjoon, acho que ele é educado demais pra forçar a barra, porém há interesse genuíno dele em você.
- Não viaja, pelo amor a deusa.
- Gi, o fato de você não acreditar, não significa que não é verdade. - Jungkook falou ganhando a atenção do melhor amigo para si - Só não se feche para as possibilidades, você pode se surpreender de uma boa forma. E a gente vai está aqui com você sempre.
- Principalmente se for pra quebrar ele caso te machuque. A gente gasta o réu primário por você, Gi, sem problema nenhum.
- Pode acreditar que isso é verdade.
- Vocês são malucos.
E eram mesmo. Yoongi teve a confirmação quando voltaram a se jogar por cima dele o esmagando contra o tapete fofo em seu quarto.
***
Seokjin não sabia o que estava fazendo ali. Se fosse tão inteligente quanto gostava de achar que era, teria negado aquele pedido, não, sequer tinha atendido aquele telefonema e fugido de toda confusão que estava prestes a lhe alcançar.
Mas não. Aquela força desconhecida que sempre lhe atraia para a maior confusão da sua vida, foi bem maior e ele atendeu a chamada. Pior, aceitou o convite e agora estava ali, prestes a encontrar outra vez com Bae Chaewon pela segunda vez nas últimas duas semanas. Mas o fim do seu relacionamento com Yongsun tinha lhe dado aquele tipo de coragem que nunca teve até então. A falta de coragem que lhe dava esperança de aquilo ser apenas um erro.
Tinha levado alguns gritos do pai por ter trocado uns documentos de pasta sem avisa-lo, então, enfezado demais, o alfa lhe mandou embora mais cedo, o que foi bom em certo aspecto porque isso deu a ele mais tempo para pensar se iria mesmo fazer aquilo. Desesperado para encontrar forças e se manter longe de toda aquela merda, fugir desesperadamente do que mais queria na sua vida. No entanto, não conseguiu e lá estava ele, em plena 16h da tarde, estacionado no lado de fora daquele mesmo café que se encontraram na semana anterior. O peito apertado em um misto de sentimento que ele sinceramente ainda não tinha compreendido os motivos. Doendo em um misto de ansiedade e pavor, uma sensação tão doida que fazia o pelo da sua nuca se arrepiar.
Sabia que Chaewon já estava lá dentro, o carro dela estacionado em uma vaga lateral deixava bem claro isso, enquanto ele fazia todo um esforço sobrenatural para dar partida no carro e ir embora dali. Mas como ir contra quem você é? Como simplesmente ignorar cada parte da sua essência? Como apenas fechar os olhos, dá as costas e ir embora, quando cada parte do seu corpo, alma e coração queria por aquilo? Ele podia sentir seu alfa rasgando a sua carne, rastejando sob sua pele, a guarda baixa pedindo em agonia para ele ir atrás da Bae, em alento para sentir o cheiro dela nem que fosse de longe.
Seokjin passou muito, muito tempo querendo ser diferente. Odiando cada parte da sua existência porque era defeituoso, não era certo. E ele ainda odiava, não havia nenhuma parte em si que não odiasse. Mas ao lado dela aquilo doía menos, era como um sedativo curando uma ferida terrivelmente dolorosa. Era uma luta dele contra ele mesmo. Mas a parte mais maluca disso tudo era que seu lado humano era muito fraco, e, antes mesmo de poder se controlar, já estava pulando para fora do carro e entrando aquele café.
Chaewon estava sentada na mesma mesa de antes, virada para frente da porta, tentando matar a tensão fazendo pequenos quadrados em um guardanapo, picotando cada um deles. Mas seus olhos permaneceram atentos na porta, tão atentos que não perderam um só movimento do momento em que o alfa passou pela porta da frente, se levantando para recebê-lo em um abraço caloroso, que não foi retribuído, mas também não foi repelido como normalmente seria.
- É tão bom ver você. - ela disse dando espaço para que ele pudesse se sentar, sorrindo tão abertamente que chegava a aquecer o coração do alfa a sua frente. - Oi.
- Oi, Bae.
- Como você está? Parece mais magro...
- Só impressão, continuo do mesmo jeito, só um pouco cansado. - deu de ombros, as mãos passando pelo rosto de modo agoniado.
Uma atendente se aproximou da mesa deles para poder anotar os pedidos e Chaewon não foi nada modesta em pedir algo para comer, enquanto ele ficou apenas em um chá de maracujá para aliviar a tensão no corpo. Tomando distância suficiente logo em seguida para dar privacidade aos dois.
- Eu pensei que não iria atender minha ligação.
- Pensei em não fazer, mas foi mais forte do que eu.
- Queria dizer que sinto muito por isso, mas seria muita mentira. Fico tão feliz em te ver que não posso me controlar.
- Ainda acho errado, sinto muito.
- Me frustra um pouco saber disso, tenho que admitir, mas prometi a mim mesma que iria entender mais o seu lado e julgar menos. - ela arriscou tocar na mão dele que estava em cima da mesa, o coração vibrando quando ele não afastou-se do toque de imediato, esperou alguns segundos e quando fez, foi de um jeito muito mais tranquilo do que normalmente era. - Eu não vou desistir, lembra? Entender você faz parte disso.
- Até quando você vai ter paciência para isso, Bae?
- Sou mais paciente do que você imagina, alfa, não se preocupe com isso. Serei franca com você nesse aspecto também, confia em mim. Acho que a gente já escondeu muita coisa um do outro, Jin, e não podemos continuar fazendo isso.
Ele acenou de forma positiva, não querendo deixar seu coração se envolver e se iludir tanto naquilo, porém era inevitável demais até para ele controlar. Tentou não se deixar abalar, não deixar transparecer suas emoções, tentou se controlar e quase conseguiu porque Chaewon viu o sorriso tímido nascendo nos lábios dele. Mas ela o conhecia o suficiente para não insistir e provoca-lo.
Sabia o quanto era difícil para o mais novo, também já esteve daquele lado da moeda e acredite, era mais complicado do que se podia imaginar. Se aceitar fora do padrão normativo da coisa era doloroso, era cruel e sofrido. Passou por todo processo e teve sorte em ter pais, e pessoas ao seu lado, sempre dispostas a compreende-la e ajuda-la, claro que já passou por preconceito, mas tinha apoio e era a coisa mais gratificante e importante da sua vida. Seokjin não tinha o mesmo. Pelo contrário, além do medo de ser quem era, ele ainda tinha o medo de se deixar mostrar. E aquele era o combo perfeito para o caos.
Entendia. E aquela dor era muito conhecida para ela apenas virar o rosto e ignorar. Não. Jamais faria isso sem ao menos tentar. E foi por isso que ela apenas olhou para ele sem falar nada, observando de perto aquele alfa lindo bem a sua frente, a pessoa que mais queria e que todos erroneamente costumava dizer que não era certo – tanto que até mesmo ele ainda era convencido disso. Mas olhando para Seokjin, Chaewon não conseguia achar nada fora do lugar.
“Como alguém tão parecido com um anjo pode ser errado?”, esse era o maior questionamento dela. Desde a primeira vez que colocou seus olhos sobre aquele alfa.
- Me conta as novidades, o que aconteceu de bom desde o último dia que a gente se encontrou?
- Pra ser bem franco, não aconteceu nada de bom, pelo contrário, só confusão atrás de confusão.
- Confusão com seus pais ou com sua namorada?
- Confusão com meus pais tem sempre, Bae, e eu não tenho mais namorada.
- Oi? - nesse instante, o mesmo atendente que anotou os pedidos dele, levou menos de dois minutos para colocar tudo sobre a mesa e tomar distância, dando mais liberdade para Chaewon continuar com seus questionamentos – Como assim, você não tem mais namorada?
- Ela terminou comigo no sábado. - deu de ombros testando o chá de maracujá. Adorava chá, mas não tomava muito, o que era uma pena. Seu pai dizia que era bebida de ômega e sempre falava besteira a respeito, porque o preconceito impedia até mesmo que alguém bebesse algo – Ela acha que sou apaixonado por meu melhor amigo, e terminou.
- E você é apaixonado por ele?
Jin olhou para ela com uma expressão clara de puro tédio, deixando claro os seus reais sentimentos sobre aquilo, o que arrancou uma gargalhada sonora da alfa sentada a sua frente. Diferente de Kim Yongsun, a ausência de palavras vindo de Seokjin não foi uma afirmação para nenhum sentimento subentendido, muito pelo contrário, foi a clara demonstração de que ele não sentia aquilo que tantos julgavam como certo. E saber disso fez ela muito mais feliz do que estava esperando se sentir.
- Eu amo o Gi, amo todos os meus amigos, Jimin, Jungkook e Yoongi são muito importantes para mim e eu os amo com todo meu coração, mas não dessa forma e não sei porque as pessoas acreditam que não é verdade. - ele pareceu cansado ao falar daquilo, porque sinceramente Seokjin não conseguia enxergar com a dimensão necessária seu comportamento complicado quando o assunto era Min Yoongi. Ele, como praticante e dono da sua verdade, apenas era ignorante quanto a isso e não havia surgido o gatilho para que pudesse entender o erro por trás de tudo. Assim como Yoongi tinha demorado para entender como as coisas pareciam, o alfa ainda estava no andar desse processo. - Yongsun viu coisas aonde não existiam, e eu assumo que não fui o mais diplomático quando apenas deixei ela pensar o que queria, porque era o mais conveniente para mim.
- E o seu amigo, o que falou disso?
- Provavelmente vai socar a minha cara quando souber que eu não desmenti isso, mas estou pronto pra aguentar essas consequências. Ainda mais que tem um alfa qualquer rondando-o, e eu quero me certificar de que ele vai se manter longe o suficiente do Gi.
- Vendo você falar assim, eu entendo porque sua namorada terminou com você.
- Ex-namorada. - corrigiu recebendo um sorriso largo vindo da alfa. Céus, como alguém podia ser tão linda daquele jeito? Como ele podia simplesmente se manter longe de problemas quando o problema tinha um sorriso tão bonito quanto aquele? - E ela não terminou comigo só por isso, mas acho que esse foi a última gota para tirar a paciência dela.
- E eu queria, muito, dizer que não estou feliz com isso, mas claramente seria uma mentira das grandes, porque essa foi a notícia mais feliz que recebi no último mês.
- Fico feliz em saber que o fim do meu relacionamento te alegra, Bae Chaewon.
- Isso me dá esperanças, alfa, é por isso a minha felicidade. Não vou desistir de você, não vou desistir do que sinto, mas saber que agora não tem, também, um relacionamento pra lidar, me faz muito feliz. A menos que você me diga, olhando bem no fundo dos meus olhos, pra eu desistir.
- Eu... - ele deixou os ombros caírem em uma clara demonstração de que não restava mais força alguma para resistir. Estava cansado. Exausto. E pela forma como sua postura desmoronou, Bae pode entender que ainda não era o fim, mas tinha dado um passo importante para a relação deles. - Não quero que desista, ainda não, Chaewon.
- Então não irei.
***
- Você sabe alguma coisa sobre Kim Seokjin?
- Além do fato dele ser melhor amigo do seu ômega?
- O Yoongi não é meu ômega, Seojoon-hyung. - Taehyung disse em um gesto cansado, se jogando contra a cama do amigo, bem ao lado dele. Tinha passado a tarde com o alfa mais velho, precisavam estudar para um teste no dia seguinte e Seojoon era muito melhor na matéria que ele, então pediu sua ajuda. - Mas, me diz, você sabe alguma coisa sobre o amigo dele?
- Não muito, o básico, que ele namora uma ômega do segundo ano e que é meio esquentadinho. Mas por que está querendo saber?
- Eu encontrei o Yoongi no shopping no sábado e fui falar com ele, mas Seokjin-ssi não pareceu gostar muito, na verdade, ele não parece gostar muito de mim. Não ligo pra isso, se quer saber, não dou um puto pra alfa que quer colocar banca pra cima de mim. Mas ele andou deixando Yoongi triste com umas coisas e eu não gostei disso, hyung.
- Vai fazer o quê? - sentando-se ele olhou para o melhor amigo com um ar muito interrogativo. Conhecia Taehyung há um tempo, já tinha o visto todas as faces dele e por isso agia com receio quando o via daquela forma. Não queria ver ele se envolvendo em problemas por conta de seu ninguém. - Ir atrás dele pra tirar satisfação?
- Queria, mas não vou. Não é como se o Yoongi fosse um ômega frágil que precisasse de um alfa defendendo-o. Mas eu sei que Seokjin-ssi não está gostando de me ver por perto, e uma hora ou outra vai vim tirar satisfação comigo. E eu não vou recuar.
- Nesse caso, se precisar de ajuda, pode contar comigo.
- Valeu, hyung. Eu só não quero ficar mal com o Yoongi por conta disso.
- Converse com ele.
- Ele sabe, quer dizer, eu nunca adentrei esse assunto 100%, mas ele sabe que eu não vou recuar caso precise de um conflito.
- Vale a pena, Taetae?
- O que, hyung?
- Vale a pena você enfrentar esse alfa pelo Yoongi-ssi?
- Quer que eu seja honesto, hyung?
- Quero, com certeza.
- Podia haver dúvidas em mim antes, aquela leve desconfiança e incerteza, sabe? Mas agora, depois que eu tive mais proximidade com ele, e pude conviver esse pouquinho com o Yoongi, poxa, hyung, ele é tão perfeito que sinceramente eu enfrentaria 100 alfas que ainda valeria a pena.
- Own, o Taetae está mesmo apaixonado. - Seojoon se jogou contra o amigo, esfregando seu punho contra os cabelos dele de uma forma quase dolorosa – Ele cresceu tão rápido.
- Hyung, isso machuca!
- Taetae...
- Hyung!
***
Yoongi vestiu seu pijama quentinho logo depois do seu banho, os dentes bem escovados e os cabelos arrumados, suas bochechas estavam até coradas pelo banho gelado que tinha tomado poucos minutos antes.
Em cima da cama, alcançou seu cobertor preferido – porque sua mãe tinha o acostumado desde bebê a dormir cheirando pano assim como ela fazia, e apesar daquele tamanho, ainda não tinha perdido o costume, e talvez nunca conseguissem – e seguiu com os pés descalços até o quarto em frente ao seu aonde sua mãe estava também preparada para ir dormir.
Naeun tinha chegado perto da hora do jantar, e para felicidade de Yoongi, tinha levado o jantar também. Os dois então comeram juntos na cozinha e depois a ômega ficou com a missão de lavar a louca porque Yoongi tinha algumas tarefas para fazer. Ambos estavam cansados, Jimin e Jungkook só tinha ido para suas respectivas casas meia hora antes de Shin chegar, e ela teve uma tarde movimentada na casa do amigo.
Agora estavam os dois prontos para dormir e ele não pode controlar o impulso de pedir um pouco de colo a mãe depois de um dia tão tristinho. Queria não sentir tal coisa, mas era bem mais forte do que podia controlar.
- Mamãe, posso dormir com você hoje de novo?
- Oh, filhote, claro que sim, vem ficar com a mamãe.
E ele foi, se enfiando debaixo nas cobertas e se aconchegando junto a mãe. Os dois tinham a mesmo porte física e a mesma estatura, mas Naeun sempre parecia ter o tamanho exato para abriga-lo dentro dos seus braços.
- Você está triste?
- Não, só cansado. - deu de ombros esfregando o nariz contra o pescoço dela tentando sentir mais do seu cheiro. Filhotes, independente da idade, costumavam se acalmar com o cheiro dos seus genitores ômegas, e Yoongi andava sensível demais sem seu pai alfa por perto, o que dificultava ainda mais sua situação em um dia tão delicado.
- Quer conversar sobre isso?
- Não tem nada pra falar, eu só... Queria ser mais parecido com você, mãe, minha vida seria mais fácil.
- Parecido comigo como, filho?
- Linda, divertida, simpática. Todo mundo gosta de você, no ensino médio era popular. Queria ser assim, odeio ser quem eu sou, mãe. E odeio a forma como me tratam por isso.
Naeun não soube nem o que falar diante palavras tão grosseiras vinda do filho. Seu coração apertou em angustia quando sua única alternativa foi apertar o seu pequeno filhote contra seus braços, encurralada, sem saber o que tinham feito para Yoongi pensar daquele jeito, porém sentindo a dor tão forte quanto.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.