Camila:
Hoje era o dia do julgamento, eu estava ansiosa, acordei mais cedo que o normal, fiquei horas no quarto da Sofi olhando a Lisa dormir, eu não poderia me afastar desse ser tão lindo, mesmo não nascendo de mim tenho um afeto maternal por ela enorme, já que acostumei a acordar de madrugada pra fazer a mamadeira, a colocar ela pra dormir cantando canções inventadas, a vê a risada gostosa quando faço caretas, quando ela me olha com um olhar diferente, o olho dela brilha, é como se ela me amasse incondicionalmente, como se eu fosse mesmo a mãe dela, e isso acaba comigo, o advogado da Clara que está nos ajudando nesse processo todo, ele disse pra mim e Lauren que não poderíamos entrar lá dentro com ele, então estamos aqui, no banco perto da porta esperando. Lisa hoje parecia sentir meu nervosismo, ela chorou mais que o normal, e não queria sair do meu colo, foi um sacrifício pra deixar ela com a minha mãe em casa, ela parecia tão frágil, Lauren apertou minha mão e beijou o topo da minha cabeça, respirei fundo e fechei os olhos, tudo tem que dar certo.
- Camz.. - Ouvi a voz da Lauren me chamando e aos poucos abri os olhos, olhei pra ela e seu olho estava vermelho, meu coração disparou a mil
- O que aconteceu Lauren? - Perguntei com um desespero notável na voz
- É.. - Ela gaguejou e desviei meu olhar do seu ao ouvir alguém limpar a garganta
- Então Camila - Era o advogado da Clara - Estamos com muitas chances de ganhar a guarda da bebê, mas apareceu a avó da mãe biológica, ela quer a guarda, mas pelo que ela disse a condição dela pra cuidar do bebê não é das boas, nós podemos ganhar dela, mas a juíza decretou que ela fosse a um orfanato até sair o resultado, que no máximo dura uma semana, ela preferiu assim porque vocês estão criando laços com a bebê, e se a resposta for negativa, pra vocês não sofrerem tanto - Ele falava calmamente, eu não sabia se chorava, se corria dali pra pegar a Lisa no colo e não deixar eles levar ela, eu não sabia o que fazer
- Não - Sussurrei sentindo meus olhos queimarem, minha garganta fechou e senti meu corpo tremer com os soluços desesperados que escapavam
- Amor - Os braços da Lauren me apertaram contra ela, escondi meu rosto no seu pescoço e chorei, chorei até não ter mais lágrimas para cair, até restar os soluços, a dor
- Não deixa eles levarem ela Lolo - Implorei, com a voz totalmente mudada pelo choro, agarrei mais a Lauren contra mim
- Camz - Ela se afastou, com muito esforço porque eu não conseguia deixar de apertar ela contra mim, segurou meu rosto com as duas mãos e olhou bem nos meus olhos - Uma semana, seja forte, por mim, por você, e pela Lisa, vamos conseguir ganhar amor - Ela beijou minha testa e soltou um sorriso triste, fechei os olhos tentando acalmar meus batimentos cardíacos que aumentaram em mil, mas ao fazer isso vários flash apareceram na minha cabeça, eu cantando pra Lisa, assistindo filme com ela e a Lauren, a risada dela, tentando dar a mamadeira pela primeira vez, xixi voando no meu rosto, quando abri os olhos tentei o máximo não chorar, Lauren me olhava com preocupação, respirei fundo novamente e me levantei do banco
- Vamos pra casa, quero me despedir dessa - Olhei pra Lauren e estendi minha mão
- Vamos - Ela pegou minha mão e se levantou
- Obrigada por nos ajudar - Ela sorriu pro advogado
- Não fiquem desanimadas, ainda não é o fim - Ele piscou e saiu de perto da gente
- Vai dar tudo certo - Lauren passou o braço por cima do meu ombro
- Espero que sim - Fomos andando até o carro da minha mãe, Lauren que dirigiu, e eu agradeci por isso, minha cabeça está a mil, só de pensar em chegar em casa e ter que me despedir dela, já sinto uma vontade absurda de chorar
Lauren estacionou o carro e ao sair do carro abriu a porta pra mim, entramos em casa de mãos dadas, a cada passo que eu dava eu apertava mais a mão dela, quando minha mãe abriu a porta, com os olhos vermelhos e o rosto inchado comecei a chorar, cai no chão e enterrei o rosto nas mãos, eu não aguentava mais chorar, meus olhos queimavam, minha barriga queimava, minha garganta queimava, meu peito queimava, queimava pela dor que se instalou nele, a dor de perder a Lisa, não sei se daqui a uma semana ela vai voltar, e se não conseguirmos a guarda dela? Nunca mais irei vê ela, a cena de hoje cedo se instalou na minha cabeça. Eu tentava acalmar ela, ela chorava demais e não queria sair do meu colo por nada, foi vinte minutos pra mim acalmá-la, antes de sair pela porta mandei um beijo pra ela, ela estava no colo da minha mãe, ela sorriu, aquele sorriso banguelo que me deixava tonta só de vê, sorri de volta e fechei a porta.
- Camila, levanta pelo amor de Deus - A voz da minha mãe saia alta, mas estava baixa na minha cabeça, senti minha cabeça rodar, e um grito da Lauren foi a última coisa que escutei
Lauren:
Quando Camila desmaiou a levei pra dentro de casa, deitei ela no sofá e peguei álcool, colocando em frente ao seu nariz, ela tossiu três vezes e abriu os olhos, suspirei aliviada e tirei o álcool de perto dela, ela me olhou confusa e olhou pro lado, segui seu olhar e respirei fundo, tinha uma foto minha, dela e a Lisa em cima da mesa da sala, acho que foi o terceiro dia dela com a gente, estávamos na cama da Camila trocando a Lisa juntas, a Sinu que tirou a foto
- Eu não quero perdê-la Lauren - Camila sussurrou
- Vamos esperar até o resultado sair, temos grandes chances Camz - Voltei a olhá-la e alisei seu rosto - Vamos comer, precisamos estar bem quando ela voltar - Sorri e peguei sua mão levantando ela do sofá
Camila quase não comeu nada, eu estava mal, mas precisava ficar bem pra ela ficar bem, era horrível controlar a enorme vontade de chorar, me controlei o máximo, depois do almoço Sinu saiu com a Sofi, Sofi também estava triste, chorou junto com a Camila por dez minutos, quando elas saíram Camila foi pra sala tentar vê tv, aproveitei e fui pra cozinha, comecei a preparar panquecas pra nós, de banana como ela ama. Estava no fogão virando a panqueca quando olhei pra janela e vi um casal andando na calçada, o homem estava com o bebê no colo, os dois conversavam alegres e o bebê ria, abaixei a cabeça e chorei, o mais baixo possível, eu queria chorar, jogar coisas, extravasar essa dor, respirei fundo e tirei as panquecas do fogo, senti dois braços me cercando e um beijo na minha nuca
- Chora amor, não se prive por mim - Camila sussurrou baixinho, obedeci ela, chorei, alto, soluçando com desespero, me virei pra frente dela e a abracei forte
- Eu estou com tanto medo Camila - Na minha voz se via o medo que eu sentia no momento, era horrível essa dor que se instalou em mim, eu não queria perder a Lisa
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