É hoje. O grande dia. Você vai oficialmente entrar para a gangue, minha rainha...
Já era noite, estava ficando "tarde" para uma princesa estar fora da cama, você ficará com sono? Vai dormir com a bochecha no meu ombro quando estiver voltando de carro para a cede? Nao quero prejudicar seu sono da beleza, embora eu adore que você durma encostada em mim...
Eu e Sanzu fomos na frente, dando início e desenvolvimento à reunião. Os Haitani escoltariam minha irmã até o local quando o encontro estivesse para acabar. Queria que tivesse o máximo de impacto possível.
Eu estava no palanque aguardando ansiosamente por sua presença, e ao meu lado, Sanzu observava curioso os burburinhos dos demais membros, que se questionavam quem estaria a caminho.
Vejo o Haitani mais novo abrir a porta dos fundos do esconderijo, misterioso, ele caminha até mim, me chamando para o canto coberto por uma parede de concreto— era realmente como um palco de teatro. Lá estavam Ran e minha preciosa irmã... mas que droga.
— "Que roupa é essa?" — juro que não pensei para falar, saiu sem querer. Droga, fui grosseiro demais?
Ela vasculha a si mesma das unhas até as pontas dos sapatos, a procura do que eu estava julgando. Ela me olha com uma expressão confusa.
— "O que está errado?" — tão inocente.
— "Querida... por que se arrumou tanto?"
— "Izana essa foi a roupa mais básica que eu consegui arrumar!" — uma blusa social branca, saia preta e botas militares não são uma combinação nada básica naquele corpo detalhadamente esculpido.
Fiquei longos minutos perdido em meus pensamentos e tentando imaginar o que aquele bando de moleques desmamados pensaria ao colocar os olhos em você... de fato era uma roupa simples, mas em você... tudo parece tão... errado. Eu quero dizer, sexy. Porque? Um vestido, uma blusa social, talvez até um saco de lixo, desde que seja usado por você, consegue ser sensualizando. Sinto todos os pelos do meu corpo ficarem eriçados.
— "Rei? Eles estão esperando." — chama Rindou da ponta dos pequenos degraus do palanque.
Dou o braço para minha irmã em um gesto cavalheiro e ela sorri entrelaçando seu braço com o meu. Ajudo-a a caminhar e subir os três degraus do palanque como se fosse um bebê que ainda não consegue se equilibrar de pé. Que mal tem? Eu sou seu irmão mais velho, tenho que estar ao seu lado e cuidar de você, sempre.
Soltamos os braços ao chegar ao centro do palco.
— "Esta linda mulher é minha irmã. A partir de hoje ela fará parte da gangue..." — as vozes incessantes cochichavam — "... Aviso desde já que todos que se aproximarem dela, podem se considerar mortos." — as vozes cessam.
Ela sorri sem mostrar os dentes e acena simpática para a plateia, parece uma criancinha... pura e inocente. O que eu seria capaz de fazer caso alguém tocasse você com segundas intenções, meu tesouro?
— "Alguma dúvida?" — pergunto em um tom certamente desafiador. Não me importo com objeções, não vou mudar de ideia sobre a entrada dela na gangue, a quero ao meu lado para sempre.
Vejo uma mão se levantar da plateia.
— "Pode falar." — Sanzu indaga.
— "M-mas uma garota na gangue? Q-qual o sentido disso? Ela é frágil demais para se envolver nas brigas!" — demonstrava indignação e passa um olhar de cima a baixo em minha irmã, vou ensinar uma lição que esse moleque nunca vai esquecer.
— "Você é burro ou o que? Ela é irmã do rei! Óbvio que vai se juntar a gangue! E não só isso, se preparem todos para serem cachorrinhos a partir de hoje. A única autoridade acima dela é o Izana. ENTENDERAM?" — Kokonoi, do outro lado do palanque, responde por mim.
— "SIM!" — todos exclamam como um exército. É desse jeito que eu gosto, todos em seus devidos lugares.
— "Você..." — viro meu rosto diretamente para o garoto insolente — "... Vem aqui." — digo calmo, soei exatamente como Ran, não gostei disso.
— "E-eu?" — o imbecil já percebeu que a coisa não estava boa para o lado dele.
— "Quem mais seria? Insolente." — respondo perdendo a paciência.
Já conseguia sentir os sorrisos de orelha a orelha de Ran e Sanzu fitando a mim e a minha irmãzinha. O garoto atravessa a plateia, ficando à frente do palanque. Desço sem rodeios. Acerto um soco carregado de ódio em seu rosto, o idiota quase não se aguentou em pé.
— "Se acha mais forte que a minha irmã?" — pergunto ardiloso.
Enquanto ele se recupera do soco no rosto, faço seu estômago engolir mais um. Em cheio.
— "Eu te fiz uma pergunta." — continuo cínico.
— "N-não..." — ele se esforça para que sua voz consiga sair. Mas meus ouvidos não estavam afim de escutar.
— "Como? Eu não ouvi."
Todos estavam completamente em silêncio, imóveis. Imagino a carinha que meu tesouro deve estar fazendo agora, mas estou fazendo isso por você. Pela sua honra. Por favor não me entenda mal, não pense que sou um bruto insensível, um delinquente qualquer...
— "E-eu disse N-NÃO, senhor" — se humilhava como um cachorrinho. Eu o faria limpar as solas das botas da minha rainha com a língua, mas não quero assustá-la, não quero deixá-la com nojo de mim.
— "Espero que todos pensem muito bem antes de se dirigirem a minha irmã." — olho no fundo dos olhos de cada um a minha volta.
Volto ao palanque e me uno à minha rainha.
— "É isso, todos dispensados." — diz Kokonoi, me poupando do trabalho.
Ela me olhava um pouco surpresa, mas nada que demonstrasse estar muito assustada, que bom que não exagerei dessa vez.
Seguro sua cintura e a conduzo para fora do esconderijo, indo até o carro. Abro a porta e ela entra, seguida por mim. Kokonoi e Sanzu ficaram nos acentos do fundo, deixando que nós dois ficassemos a sós nos acentos do meio. Os Haitani iam na frente, e Ran, como de costume, dirigia.
Aos poucos durante a breve viagem ela escorregava cada vez mais e ia acomodando seu corpo na porta, quando parei para olhar, ela estava encolhidinha dormindo. Está com frio? Essa roupa social não parece a mais confortável dada sua posição improvisada... a camiseta marca muito seus seios, sua saia tão justa deve estar querendo se soltar da sua cintura... não quero quer os outros te vejam assim, só de imaginar o que aquelas mentem poluídas poderiam pensar... quero matar todos eles.
Sou interrompido por meus pensamentos quando o carro é estacionado. Lá fora deve estar frio, rapidamente tiro meu casaco e coloco sobre [nome], a segurando em meus braços como um bebê. Eu a carrego por todo o trajeto até a cobertura, ouvindo comentários dos outros no caminho.
— "Ela vai ficar mal acostumada assim." — diz Kokonoi sério.
— "Parece um anjinho." — diz Ran sorridente.
— "Será que se eu der uma chupeta de bebê, ela usa enquanto dorme? Tão fofo." — diz Sanzu, drogado pervertido, consigo ver seu membro cutucando a calça descaradamente.
Eu deveria me preocupar com todos eles, óbvio, mas o único que permanece absolutamente quieto tem me deixado louco... Rindou. Sempre silencioso, observador, passa despercebido, essa é sua arma secreta. E pela primeira vez está começando a me incomodar... que tipo de coisa fica passando pela sua mente quando está assim, imóvel e encarando minha irmã adormecida, indefesa de predadores como você e seu irmão?
A porta do elevador se abre e caminhamos até a porta, que Ran abre proativamente, dando espaço para que eu passasse com [nome] nos braços. Me dirijo imediatamente ao seu quarto, onde a deito na cama... agora há a presença do cobertor, mas não faço questão nenhuma de tirar meu casaco de cima da minha princesinha, quero que durma com o meu cheiro, talvez assim sonhe comigo, e que quando acordar veja que EU a coloquei para dormir.
Não fico muito tempo observando, pois ela estava se mexendo um pouquinho, provavelmente tentando achar o equilíbrio e ficar confortável entre meu casaco e o cobertor, mas de qualquer maneira, não quero que acorde e me veja encima dela.
Minha querida irmã... como você é linda. Dou um beijo em sua testa e um cheirinho em seu cabelo. Eu te amo.
Fecho a porta e volto à sala, onde os outros esperavam confortavelmente por um diálogo relacionado a reunião. Não tenho nada para comentar, então sigo para o quarto — deixando todos no vácuo — tomar um banho para poder me deitar, minhas costas estão doloridas. Não consigo parar de pensar em como vão ser nossos dias, irmã, vamos recuperar o tempo perdido, sei que vamos.
Coloco um kimono de seda confortável e me dirijo a minha cama, deitando e adormecendo com doces fantasias com minha irmãzinha.
...
Tem alguém batendo na porta. Estou muito confortável nessa cama enorme e macia, ela me engole e me suga, me envolvendo em seus lençóis suaves... como deve ser fazer sexo assim?
Não consigo dizer "pode entrar", em meros segundos em que mantive os olhos abertos, já quase voltei a terra dos sonhos.
Consigo ouvir a porta abrindo devagar, não era como se alguém estivesse invadindo. Posso notar que a pessoa que entra usa uma roupa vermelha, e aos poucos sua silhueta foi ficando mais nítida... Izana, meu querido irmão Izana... que alívio! Pensei que fosse o Sanzu vindo me assustar ou me puxar para fora da cama, com certeza deve passar de meio dia.
— "Querida?" — sinto mãos confortáveis tocarem meu ombro, ele parece calmo, então acho que não devo ter dormido tanto assim.
— "Oi..." — digo ainda despertando. Sorrio para ele, ele parece ficar muito feliz quando me vê feliz. Que sorte eu tenho por ter encontrado você, irmão!
— "Pronta para o grande dia?"
— "Estou nervosa, Izana."
— "Não fique, estarei com você em todo o caminho..." — ele parece um pouco filosófico agora, coisa de irmão — "... Eu e Sanzu estamos indo na frente, tá?"
— "Uhum, tudo bem" — balanço a cabeça em concordância.
Izana me dá um beijo na testa já se levantando para sair.
— "Te amo." — digo.
— "Também te amo, princesa."
Ele sai, fechando a porta atrás de si e me deixando dormir mais um pouco. Bem pouco, não muito tempo depois ouço mais batidas, acompanhadas de uma voz que eu reconhecia muito bem.
— "Estou entrando." — a porta se abre um tanto euforicamente.
Ran adentra o cômodo, me fazendo puxar a coberta até a altura do nariz tamanho susto que levei.
— "O que faz no meu quarto?" — pergunto fitando-o como uma coruja.
— "Você quer dizer meu quarto..." — o que? — "... que agora é seu. Só vim terminar de pegar as minhas coisas, já vou sair." — diz se dirigindo ao guarda-roupa.
Izana me deixaria ficar no quarto de outra pessoa? Bom, ele deve ter considerado plausível que ele se mudasse para o quarto do irmão.
— "Uhm..." — murmuro interessada, essa conversa estava um pouco suspeita.
Ele termina de fuçar e pegar suas roupas, virando-se para mim e me encarando descaradamente. Por que está fazendo isso? Porque não diz nada?
— "Que foi?" — pergunto.
Ran abre bem os olhos e começa a rir. Realmente a cena deveria estar engraçada, eu me cobrindo com a coberta somente com os olhos e os dedos das mãos para fora, como um coelho se escondendo da raposa predadora que me devorava com os olhos.
— "Nada, nada..." — ele diz — "... Mas já pode começar a se arrumar para irmos para a reunião, Izana disse que te avisou que eu e Rindou vamos levá-la."
— "Tá bom." — digo ainda imóvel, esperando pacientemente que ele saísse.
Ran sorri e sai do quarto, fechando a porta. Espero alguns minutos para ter certeza de que ele não vai voltar de surpresa. Nada. Me levanto às pressas, tomo banho e começo a me arrumar. Uma roupa simples e coturnos militares parece o look perfeito, não quero distoar muito do uniforme que os meninos usam na gangue.
Saio do quarto após uma hora, não estava atrasada, Ran veio me ver de moletom e meia, com certeza ainda ia tomar banho e passar pelos mesmos processos que eu. Isso indicava que eu estava no mesmo time que eles. Saio do quarto trancando a porta — que mal faz né? Ran já pegou as coisas dele mesmo — e me dirijo a sala.
Os Haitani aparentavam estar prontos, e Kokonoi acabara de chegar junto a mim, estávamos na hora certinha!
— "Então... vamos?" — Ran pergunta.
— "Vamos." — diz Kokonoi.
Eu e Rindou balançamos a cabeça em concordância.
Saímos da cobertura e seguimos todo o trajeto até o carro, porém dessa vez quem ficara no banco do motorista era Kokonoi. Me resta ficar sentada no banco de trás com um Haitani de cada lado.
Rindou me encarou o caminho inteiro, eu percebia o quanto encarava minhas pernas expostas, mas de agora em diante teriam que se acostumar. Da maneira como agem, parecem nunca ter visto uma mulher na vida. Isso me faz pensar se eles são órfãos de mãe — como meu irmão —, e todas as coisas ruins que já devem ter passado sem ninguém para os cuidar, Izana me disse que Ran foi preso com 16 anos e isso agravou muito o quadro violento dele, isso também explica seu jeito assanhado. Fico com pena de todos eles ao pensar nesse assunto.
Sou tirada do mundinho dos pensamentos quando o carro é estacionado. Estamos do lado de fora de um galpão numa parte isolada da cidade, nunca me imaginei num lugar assim, mas o fato de ter Izana e os meninos para me proteger torna tudo uma aventura bem interessante.
Saímos do carro, Rindou foi primeiro e segurou a porta aberta para mim, ainda estou decidindo se ele é assustador ou só um fofo silencioso mesmo. Kokonoi simplesmente saiu andando na frente e adentrando o tal esconderijo da reunião esperando que fossemos atrás.
— "Se eu fosse o Izana jamais perderia todo esse tempo, a essa altura já estaria enchendo essa sua bunda de tapas." — Ran diz com a maior naturalidade do mundo. Isso é uma ameaça?
— "Ran, onde quer chegar com isso?" — esse cara de pau só esperou que ficássemos sozinhos para soltar essa gracinha.
Ele não me assusta, pelo contrário. Mas a maneira como diz coisas chocantes com a voz e o olhar tão calmos, sempre me surpreende.
— "Que fofa ela." — Rindou solta como quem diz "coitada, tão inocente".
Eu alternava olhares entre o mais velho e o mais novo, realmente esperando que alguém me explicasse o que acabou de acontecer, mas não foi feito.
— "Estou falando com você Haitani." — digo séria olhando para Ran. Estou começando a ficar irritada com o joguinho dele.
Paramos de caminhar.
— "Sua roupa... está absurdamente sexy." — ele sussurra em meu ouvido esquerdo, sorrindo logo após completar sua fala.
— "Não interessa se vocês gostam ou não, não tem nada demais nessa roupa e a partir de hoje eu faço parte do dia-a-dia de vocês, tratem de se acostumar. Da próxima vez que tiver uma opinião sobre mim guarde para si" — digo em um tom sério, colocando o Haitani mais velho em seu lugar.
Eles arregalam os olhos.
— "Falou igualzinho ao rei..." — Ran sorri ladino e me olha com satisfação. Isso era um teste? — "... Vai ser muito divertido ter você como nossa garota." — fala como se eu fosse garota de banda.
— "É interessante ver como... você e o Izana são tão iguais, mesmo tendo vivido a vida toda separados, sem sequer saber da existência um do outro." — diz Rindou.
— "Pois é, mas estamos juntos agora. E não vamos nos separar tão cedo, podem ter certeza."
Ficamos um tempinho em silêncio, até que Rindou abre a porta, que aparentemente escondia todos os outros meninos da gangue, era possível ouvir suas vozes conversando por trás dela.
É agora...
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