O som da voz do meu pai começou a me despertar aos poucos. Abri os olhos lentamente e olhei ao redor percebendo que ainda era de madrugada seja lá onde for que estávamos. Passei as mãos nos olhos coçando-os antes de levá-las ao meu cabelo tentando o ajeitar um pouco os fios rebeldes.
– Sou eu, amigo. Da última vez que desapareci, se eu me lembro, você me procurou. – Papai comentou mexendo em uma pasta que estava em seu colo.
"– Tony, santo Deus! Vocês estão bem?" – Sua voz era preocupada e me fez sorrir um pouco.
– Sim, estamos bem, Tio Rhodes. – Respondi atraindo brevemente a atenção do meu pai. – O que você está fazendo?
"– Batendo em portas, fazendo amigos no Paquistão. E vocês?" – Ele questionou me fazendo olhar para meu pai.
– Arranjando soluções para os nossos problemas.
– Seu design novo, sua estilização, foi a IMA, não foi?
"– Sim."
Papai me entregou a folha que estava em suas mãos nervoso, e quando eu passei os olhos pela folha pude compreender o porquê de seu estresse repentino.
– Vamos encontrar um satélite dos grandes. Rhodes, preciso do seu login.
"– O mesmo de sempre: maquinadecombate68."
– Senha, por favor.
"– Preciso mudar sempre que você hackeia, Tony."
– Não são os anos 80, ninguém diz "hackear". Me dê seu login. – Um suspiro foi escutado através da linha telefônica me deixando em alerta.
"– MAQUINADECOMBATEDETONA. Tudo maiúsculo." – Tentei prender a risada, porém, quando meu pai soltou a dele, eu não conseguia mais evitar e gargalhei alto. "– É, está bem." – Pude sentir o sorriso de Tio Rhodes através de sua voz.
– Isso é tão melhor que Patriota de Ferro. Nos falamos depois, Rhodes. – Papai falou sorrindo, mas isso mudou e de repente ele fez uma curva brusca com o carro me fazendo gritar de susto.
– Mas o que... – Parei de falar quando percebi a quantidade de vans transmitindo sinais para satélites. Isso era um evento transmitido ao vivo. – Ah.
[...]
Passamos andando calmamente por entre as pessoas do lugar e entramos disfarçadamente em uma das vans vazias. Me sentei em uma das duas cadeiras ali presente e comecei a ajudar meu pai.
– 9.1 Mbps.
– Não é o suficiente. – Ele concluiu suspirando frustrado.
Antes que pudéssemos falar mais alguma coisa a porta da van se abriu me fazendo arregalar os olhos e olhar rapidamente para trás.
– Desculpe, pessoal. Eu não sei... – Ele parou sua fala assim que analisou melhor meu rosto e olhou para meu pai que também havia acabado de se virar para ele. – Mãe, eu te ligo depois. Algo mágico está acontecendo.
Abri um sorriso amigável junto ao meu pai enquanto o homem estava parado na porta em choque.
– Tony Stark está na minha van. – Ele comemorou baixo, evidentemente tentando não surtar.
– Fique quieto. – Papai quase implorou.
– Tony Stark e Angelina Stark estão na minha van. – Ele parecia eufórico balançando as mãos.
– Não, não estamos. – Eu neguei tentando acalmar o surto do homem.
– Eu sabia que vocês estavam vivos!
– Entra e fecha a porta. – Papai pediu novamente.
– Só quero dizer, senhor...
– Sim.
– Eu sou o seu maior fã.
– Certo. É sua van ou mais alguém chegará?
– Não, não. Só a gente.
– Qual seu nome? – Perguntei a ele quase rindo de sua histeria.
– Gary.
– Nome maneiro. – Comentei balançando a cabeça tentado ser amigável.
– Gary. – Papai se levantou e apertou a mão de Gary que suspirou. – Tudo bem, acontece sempre.
– E aí, cara! – Cumprimentei ele com um toque de punhos descontraído.
– Posso falar uma coisa?
– O que? Claro.
– Não sei se dá pra perceber, mas eu tenho... – Ele apontou para seu próprio rosto rapidamente. – Toda a minha aparência baseada em você.
– Oh, que fanboy mais fofo. – Brinquei achando a situação cômica.
Quando eu pensei que não poderia ficar melhor, ele comentou sobre o rosto do meu pai tatuado em seu braço. Admito, adorei a expressão do meu pai quando ele viu a tatuagem.
– Me escute por um momento. Não quero cortar seu barato, ambos estamos bem animados. Estamos com um problema, estamos atrás de bandidos, tentando pegar algo de arquivos criptografados. Não temos sinal suficiente. Preciso que você vá até no teto, recalibre o ISDN, e o aumente 40%.
– Entendi.
– É uma missão.
– Sim.
– Tony e Angelina precisam do Gary. – Encorajei o quase o levando a ter um colapso.
– Seja discreto. Vai. – Assim que ele saiu da van eu ri baixo olhando para o meu pai brincalhona.
– Eu sabia que você abalava as estruturas das mulheres, mas juro que nunca vi uma delas reagir como ele. – Brinquei o vendo revirar os olhos. – Sério. Ele é uma graça.
Sua mão bateu fracamente ao lado de minha cabeça me fazendo reclamar de brincadeira arrancando um sorriso seu. Nós dois ficamos alguns minutos brincando ali dentro enquanto esperávamos que Gary terminar o que estava fazendo. O som de três tapas na lataria da van nos deu o sinal que precisávamos. Meu pai começou a fazer seu trabalho enquanto eu me mantinha ao seu lado observando e absorvendo tudo o que ele fazia. Após entrar no satélite, ele começou a examinar os arquivos até que encontrou uma pasta com vídeos.
"– Qual foi o momento mais importante da sua vida?" – Alguém perguntou ao cara que identifiquei como o Chad do atentado suicida de Rose Hills.
"– Acho que foi quando eu decidi não deixar a dor me vencer." – Sua resposta foi curta e simples.
Meu pai abriu outra pasta de arquivos e colocou um novo vídeo para reproduzir na tela no notebook.
"– Poderia dizer seu nome?" – A mesma voz questionou a mulher sentada.
"– Ellen Brant." – A mulher ruiva sem um braço respondeu.
"– Tudo bem. Então... As injeções são administradas periodicamente." – A imagem da câmera se focou em um rosto conhecido por nós dois.
– Merda. Happy tinha razão. Realmente tem algo errado com Aldrich Killian. – Admiti quando meu pai trincou o maxilar de raiva.
"– Vícios não serão tolerados, e aqueles que não se adaptarem serão cortados do programa." – Papai novamente trocou de arquivo.
"– Os desajustados, aleijados. Vocês são a nova geração da evolução humana." – O vídeo foi fechado novamente enquanto papai acessava uma nova pasta.
PROJETO EXTREMIS
Testes de Injeções
Fase 01
25/06/09
"– Atenção todos. Antes de começarmos, prometo que quando forem velhos, não haverá nada mais amargo que a memória do glorioso risco que permitiram-se correr."
– É doentio. Eles se voluntariaram para isso. – Eu disse enquanto assistia as pessoas caminhando até o local onde receberam as injeções por vontade própria.
"– Hoje é a glória de vocês. Vamos começar."
Eu cobri os lábios com as mãos enquanto assistia às imagens a minha frente, até mesmo meu pai parecia chocado. A mulher Ellen após receber o soro teve seu braço regenerado quase que instantaneamente, porém, o homem ao seu lado não teve a mesma sorte. Sua pele brilhou em um laranja que lembrava muito a lava de um vulcão; era como se ele fosse uma bomba.
"– Temos que sair daqui!" – Killian ordenou. "– Tire-os daqui."
O homem que estava brilhando em laranja foi deixado na sala, e o porquê foi revelado segundos depois. Ele explodiu.
– Uma bomba não é uma bomba quando não é acionada. – Meu pai afirmou entredentes. – As coisas nem sempre funcionam, não é colega? É defeituoso, mas achou quem comprasse. Vendeu para o Mandarim.
– Te pegamos. – Concluí apoiando a mão esquerda no ombro do meu pai sorrindo levemente.
Nos despedimos de Gary e caminhamos até o carro novamente, e acredite, eu já não aguento mais andar pra lá e pra cá atrás do Mandarim, que agora sabemos que trabalha com Killian.
– Pai. – Chamei baixo atraindo sua atenção. – Eu juro que esses estão sendo os dois dias mais longos da minha vida.
– Eu concordo plenamente. – Ele fez careta enquanto assentiu.
– É sério. Têm apenas 24 horas que nossa casa foi destruída. – Minha fala o fez parar para pensar por alguns segundos antes de confirmar novamente.
– Essa é a rotina de um Stark. Está no seu sangue, querida. – Comentou irônico. – Ligue para Harley.
Eu assenti antes de segurar o celular e discar para o garoto que atendeu no segundo toque.
– Harley, o que está acontecendo? Quero um relatório completo. – Papai pediu enquanto eu colocava a chamada no viva voz.
"– Ainda estou comendo aquele doce. Quer que eu continue comendo?" – Sua pergunta me fez rir.
– Quanto tem?
"– Duas ou três tigelas."
– Ainda consegue ver direito?
"– Hum... Mais ou menos."
– Então tudo bem, passe para o JARVIS.
– Se fosse eu você já estaria brigando comigo! – Minha voz soou indignada.
– Você é minha filha, e por isso dorme pouco e é agitada. Açúcar, cafeína, energético, coisas do tipo, te deixam doida. – Revirei meus olhos fazendo bico enquanto cruzava os braços como uma criança birrenta faria.
– JARVIS, como estamos?
"– Tudo bem, senhor. Estou indo bem por um tempo, mas no fim da frase falo errado uva-do-monte." – Olhei para meu pai com uma careta engraçada o vendo na mesma situação que eu. "– E, senhor, você estava certo. Quando investiguei as instalações da IMA, pude identificar o sinal de transmissão do Mandarim."
– Onde? Extremo Oriente, Europa, África, Irã, Síria, Paquistão. Onde estamos?
"– Na verdade, senhor, está em Miami."
– Certo. Garoto, terei que ensiná-lo a reiniciar o drive de fala do JARVIS, mas não agora. Harley, onde realmente está? Olhe na tela e me diga onde está.
"– Aqui diz Miami, Florida." – Encarei meu pai por alguns segundos esperando uma reação de sua parte.
– Tudo bem. Antes de tudo preciso das armaduras. Como estamos com elas?
"– Não está carregando." – Meu pai freou o carro de forma brusca, com isso fui obrigada a colocar as mãos no painel para conter meu corpo. Me virei para encará-lo e percebi que ele estava à beira de um colapso.
"– Na verdade, senhor, está carregando. Mas a fonte de energia é questionável." – A fala de JARVIS me fez suspirar em alívio. "– Talvez não consiga revitalizar as armaduras."
– O que é questionável na eletricidade? – Meu pai perguntou surtando. – Tudo bem, são nossas armaduras, e nós não poderemos... Deus, de novo não.
"– Tony?"
– Pai! – Chamei enquanto dava a volta no carro correndo e me abaixava ao lado dele.
"– Ele está tendo outro ataque? Mas eu nem falei sobre Nova Iorque."
– Harley! – Eu gritei indignada com ele.
"– Desculpa."
– O que eu vou fazer? – Ele perguntou a si mesmo enquanto abraçava seu próprio corpo.
– Pai, apenas respire, okay? – Pedi com um falso tom de voz calmo. Eu estava quase tendo um ataque de histeria também. – Olha, foca em mim. Quando eu tinha cinco anos de idade comecei a reparar que sempre que você estava nervoso, ansioso, irritado ou qualquer outra coisa do tipo, você reconstruía ou inventava algo. Afinal, você é um mecânico, certo? Porque não construímos algumas coisas?
Ele me encarava enquanto prestava atenção na minha voz. Sua cabeça se encostou na lataria do carro quando ele relaxou e conseguiu respirar novamente. Passei as mãos no rosto aliviada e logo em seguida fui puxada para uma abraço.
– Vamos lá.
[...]
Andei ao lado do meu pai o assistindo colocar coisas dentro do carrinho de compras. Assim que terminou de pegar as coisas nós dois fomos comprar algo para comer e partimos para um hotel da região.
Me sentei na cama o observando montar suas "armas" enquanto comia meu hambúrguer calmamente. Afinal, tem forma melhor de aprender do que observar quem já sabe?
– Você sabe que eu vou precisar realmente usar minha armadura, não é? – Perguntei a ele atraindo sua atenção.
– Eu não vou deixar você ir para o meio de uma briga como essa. – Ele respondeu indiferente.
– Pai, eu já estou no meio dessa briga. – Rebati quando terminei meu lanche.
– Por isso eu estou te tirando dela agora.
– Você não pode fazer isso.
– Eu posso sim, sabe por que? – Ele perguntou nervoso. – Porque você é minha filha, você é menor de idade, e você só tem treze anos.
– Mas eu vou ficar sempre do seu lado. – Respondi após admitir internamente que ele estava certo. – Prometo evitar ao máximo a luta corporal com alguém. Você não pode me pedir para ficar esperando você voltar para casa para depois acontecer a mesma coisa que aconteceu em Nova Iorque.
Ele ficou alguns segundo em silêncio me encarando sem saber o que realmente dizer. Nova Iorque era um assunto delicado para nós dois, já que eu o tinha visto entrar em um buraco de minhoca com um míssil nuclear de suas costas.
– Tudo bem, mas evite ao máximo uma briga. Okay? Seja a assistente que me livra dos problemas. – Eu sorri e comemorei levemente o vendo negar com a cabeça antes de me chamar para me ensinar na prática a improvisar armas.
Assim que terminamos nós dois retornamos ao carro e partimos para Miami. Esse era o terceiro dia desde que nossa vida foi virada o avesso pelo Mandarim, e eu sinceramente não vejo a hora disso tudo acabar.
– Eu vou invadir o local, e você vai ficar bem aqui no carro esperando o tempo certo para sair dele. Quando eu digo o tempo certo, significa que você só sai no momento em que a sua armadura pousar ao lado nesse carro.
– Okay. – O encarei preocupada. – E se você não voltar?
Ele me olhou por alguns segundos e, naquele momento, minha visão começou a ficar embaçada por conta das lágrimas que brotaram nos meus olhos.
– Você vai saber que eu estou bem Assim que nós dois entrarmos na nossa armadura JARVIS estará nos conectando um com o outro. – Ele limpou as lágrimas das minhas bochechas com os polegares. – Mas se eu não sair de lá com a minha armadura, eu quero que você entre na sua e vá para casa. Pepper vai cuidar de você.
– Papai, eu não...
– Me prometa! – Ele pediu baixo. – Eu não sei o que faria se te perdesse.
– Eu prometo. – Disse baixo o sentindo beijar a minha testa e sair do carro.
Agora é só esperar.
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