Elena Gilbert P.O.V.
Eu ainda estava gélida e encalhada no mesmo lugar quando Enzo sacou a arma. Eu conseguia ver tudo que acontecia ao meu arredor, mas não me movia, meu corpo não correspondia e meu estado de transe parecia me bloquear por inteira. Ouvi Damon e Enzo trocarem algumas palavras, mas as vozes deles eram abafadas. Eu parecia um zumbi, olhava para o chão, pálida e debilitada, como um cadáver. Como eu poderia sair daquela situação? Minhas não funcionavam e eu não conseguia senti-las. Quando ouvi um disparo, como um instinto, fechei os olhos e esperei pela dor alucinante. Talvez ele fosse acertar na minha perna, na minha barriga ou na minha cabeça para ser fatal. Naquele momento, eu me sentia tão mal comigo mesma que achava a ideia de tomar um tiro aceitável. A dor física podia me alcançar e seria bem-vinda, pois eu poderia lidar com ela mais facilmente. Continuei aguardando para ser atingida, mas nada aconteceu. Escutei Enzo gritar um palavrão e Damon grunhir. Abri meus olhos e enxerguei ele deitado no chão, com uma mão ensanguentada, a qual pressionava o ferimento, sobre o ombro. Sua blusa clara agora estava manchada de vermelho e senti uma dor horrenda atravessar o meu peito. Ela era familiar. Para a minha surpresa, finalmente sai do lugar, caí de joelhos ao lado dele e me desesperei ao tirar sua mão e ver o buraco na sua pele. Ele também tinha o rosto inchado e um corte no supercilio, sem contar com os seus dedos roxos por conta dos socos da briga de antes.
— Não! — Enzo gritou junto comigo. Vi que o mesmo largou tudo e correu até nós, ofegando de forma desesperada.
— Damon. — Eu chamei, segurando seu rosto entre as minhas mãos. Ele tentava abrir os olhos e gemia de dor. — Damon, mantenha os olhos em mim, ouviu? Fique comigo. — Os olhos azuis cheios de agonia se abriram e ele ficava cada vez mais pálido por causa da perda de sangue.
— Seu imbecil, por que diabos fez isso? Essa bala não era pra você! Olha o que me fez fazer! — Lorenzo disse, com a voz falha. Ele era bipolar? Até pouco tempo espancava o ex amigo e atirou no mesmo, mas agora se sentia culpado?
— Sai de perto dele, seu monstro. — Falei, furiosa, olhando para cima.
— Ele não devia ter feito isso... — Ele balançava a cabeça de um lado para o outro. — Eu não queria... — Percebi que ele engoliu seco e colocou a mão sobre a testa, não acreditando no que tinha acabado de fazer. — Não era pra ser assim. O que... O que eu posso fazer...
— VAI PRA PUTA QUE PARIU! — Berrei, começando a entrar em pânico. Eu já estava aos prantos ao sentir Damon enfraquecer.
— Você tem uma boca muito suja, minha marrenta. — Damon disse com dificuldade, tossindo um pouco de sangue em seguida. Ele tinha um sorriso lindo e fraco no rosto coberto de suor. Ele era tão lindo, meu coração se quebrava ao me imaginar perdendo-o.
— Ei, você. Continue falando comigo, não feche os olhos. — Acariciei seu rosto e chequei seus sinais vitais. Seus batimentos eram vacilantes.
— Você está bem? — Ele tentou erguer o braço para tocar em mim, mas chiou alto pela dor.
— Não se mexa, seu teimoso. Fique quieto até os médicos chegarem e não se preocupe comigo agora. — Peguei o celular dele no seu bolso e disquei o número da emergência, 911. — Alô? Eu preciso de uma ambulância aqui no bairro Downtown, na praça principal. — Comecei a receber instruções, mas vi que Damon tentava se levantar e se esforçava para se sentar. — Me escute, você tem que ficar parado. Permaneça calmo, a ambulância já está a caminho.
— Enzo... — Ele sussurrou, com o cenho franzido. — Onde ele está? Ele fugiu?
— Sim. — Assenti ao olhar para os lados e já não ver mais ninguém. Não vi nenhum rastro, nem dele ou dos deus capangas.
— Me desculpe... Eu meti você nessa... — Ele começou a delirar, murmurar pedidos de desculpas e palavras desconexas.
— Shhhh, temos muito tempo depois, não precisamos fazer isso agora. — O silenciei. Vi que ele relaxou depois disso e começou a lentamente desfalecer.
Deitei com cuidado sobre ele e ali comecei a chorar impulsivamente. Ele não podia me deixar, não depois de se tornar tão essencial para a minha sanidade. A unidade de atendimento chegou alguns minutos depois, três ou quatro no máximo, e exigiram que eu me afastasse. Enquanto eu via eles o socorrerem, notei que só não tinha desmaiado ainda, pois ele precisava de mim. Eu já não pensava sobre o ocorrido com Enzo, só me importava com ele. Eu rezava para que tudo isso não passasse de mais um dos meus pesadelos.
[...]
Lily e Giuseppe chegaram em uma rapidez inexplicável desde que souberam do estado do filho. Nós já estávamos no hospital, na espera de novidades. Eles tinham encaminhado Damon para a sala cirúrgica e eu não conseguia ver simplesmente nada. A mãe dele estava uma pilha de nervos e o marido até tentava consolá-la, mas era impossível. Já ia fazer quase uma hora desde que levaram ele e eu estava desolada. Nós tínhamos gritado um com o outro e eu estava decepcionada com ele, mas isso não mudava o fato de que ele ainda era Damon. Em tão pouco tempo, ele tinha me feito tão bem, tinha me conquistado cada vez mais espaços vazios no meu coração, e feito com que eu me sentisse especial e completa de alguma maneira. Meu sorriso vinha sendo seu, assim como meus sentimentos. Eu achava que ia ser miserável ao viver nessa cidade estranha, mas ele tornou tudo melhor. O rapaz tinha me acolhido e cuidado de um jeito que me fazia suspirar. Quer dizer, nós sempre estávamos implicando um com o outro e tínhamos um gênio terrível, porém uma ligação forte nos unia. Nós tínhamos uma conexão única e eu sabia disso por desejar que fosse eu naquela sala e não ele.
Ainda fitando aquelas paredes brancas e nervosa com o que podia estar acontecendo enquanto ficávamos aqui sentados, me afastei um pouco dos pais dele e me virei de costas, não vendo outra opção a não ser rezar, pedir aos céus para que ele fique a salvo. Juntei minhas mãos e fiz o sinal da cruz.
— Por favor. Não tire ele de mim. — Eu implorei, com os olhos fechados, mal percebendo que as lágrimas já caíam sobre o meu rosto. Na verdade, acho que em nenhum instante elas pararam. — Ele é a única coisa boa que eu tenho na minha vida, nesse momento de solidão. Ele vem sendo a minha luz. Não quero que ele se vá como o meu pai se foi... Deus, eu peço que faça isso por mim. Acredito que tudo acontece por um motivo, mas essa não é a hora dele. Eu sei que não é. Eu sinto, aqui dentro. — Coloquei a mão sobre o meu coração, sentindo ele bater rapidamente. — É egoísmo da minha parte pedir para que ele viva porque eu não aguentaria perdê-lo, mas não vejo outra saída. Eu preciso dele. Damon é a minha segurança, o meu abrigo nos meus dias mais frios e obscuros. Sinto que não consigo continuar de pé, afastada da minha família e perdida e quebrada, sem ele por perto para me ajudar. Traz ele de volta para mim, por favor.
Durante o meu momento de paz e de oração, eu ouvi o barulho de uma porta de abrindo. Me virei, com esperança, e vi o médico loiro que ficou responsável por Damon sair caminhando, retirando suas luvas. Corri até ele.
— Doutor, finalmente! O senhor tem notícias no meu menino? Como ele está? — Lily questionou, segurando a mão de Giuseppe com força, enquanto ele beijava o topo da sua cabeça. Aquela era a cena mais linda do mundo.
— Ele está bem. Por sorte, seu filho foi acudido a tempo e não chegou a ter, de fato, uma hemorragia, apesar do sangramento que parecia abundante. Conseguimos retirar a bala com sucesso, a qual, por um triz, não atingiu a artéria axilar ou a veia cefálica. Ele teve muita sorte, os danos poderiam sido muito piores.
Senti um peso enorme sair das minhas costas e um suspiro longo e aliviado ressoou pela minha garganta.
— Então ele está fora de perigo, doutor? — A mulher agora tinha um sorriso lindo no rosto e seus olhos brilhavam com a notícia.
— Sim, posso afirmar com certeza que sim. Ele ainda está sob o efeito da anestesia, mas logo deve acordar. Damon ainda sentirá muita dor, mas nada que alguns medicamentos e dias de repouso não resolvam. — O profissional explicou, deixando-nos mais leves.
Ele está bem. Ele está bem e vivo. Eu repetia mentalmente.
— Graças à Deus. — Giuseppe saudou, chorando de alegria.
Os dois se abraçaram e eu continuei sorrindo, boba, sentindo a felicidade ao receber uma segunda chance. Lily me chamou para o abraço e eu aceitei de boa vontade. Ele não tinha nos deixado e isso era motivo para comemoração.
Tudo o que nos restava fazer agora era esperar pela sua recuperação. Fui até a cafetaria para tomar um café e me manter acordada, pois já era quase uma da manhã. Quando voltei, vi que uma enfermeira parecia procurar alguém e quando me enxergou, veio na minha direção.
— Elena Gilbert? — Ela perguntou e eu assenti. — O paciente Damon Salvatore está chamando por você desde que acordou.
Meu coração pulou. Ele acordou. E queria me ver.
— Podemos entrar para vê-lo igualmente? — Lily perguntou, ansiosa.
— É claro, iremos abrir uma exceção, mas não por muito tempo, ele ainda está sob a nossa supervisão e a recomendação é de apenas um acompanhante no quarto por vez. — Ela informou as regras.
Ao entrar no quarto, ergui meus olhos e encontrei os dele. Ele estava sentado com um curativo enorme no ombro prejudicado, tinha algumas compressas na barriga e recebia soro na veia. Damon vestia uma roupa azul e larga de hospital e fiquei chocada ao achar que ele ainda continuava irresistível. Eu estava incrivelmente feliz por vê-lo vivo e, na medida do possível, bem. Era inexplicável o tamanho do meu alívio. Lily e Giuseppe correram até ele e eu permaneci um pouco distante, perto da porta, vendo ele me olhar com um sorriso lindo de orelha à orelha. Retribui, é claro, não consegui resistir.
— Meu filho! Você quase nos matou! — Ela exclamava, mantendo-o perto do seu peito. Ele fechava os olhos e ria baixinho, com uma careta de dor, provavelmente porque ela estava o sufocando. Ri com isso. — O que está sentindo? Está com muita dor? — Llily tocava ele por completo, se certificando de que tudo estava no lugar.
— Se continuar me apertando dessa forma, sim. — Ele disse, com certa dificuldade. Dei risada, não segurei. Que bom, ele estava bem humorado.
— Oh, me desculpe. — Ela pediu, se afastando e ajudando ele a ficar mais confortável na cama.
— Garoto, você está muito encrencado... — Giuseppe disse severo e o sorriso desapareceu da face de Damon. Ele tinha muito respeito pelo pai e muito medo também. — Mas, antes de te dar uma bronca, preciso te abraçar. — Ele se agarrou ao filho, batendo devagar nas suas costas.
— Ai, pai. — Ele reclamou, ainda dolorido, mas retribuindo o carinho. — Pessoal, eu sei que dei um baita susto em vocês, mas estou bem, viram? Inteirinho! E, agora que me viram, posso pedir uma coisa? — Os pais concordaram. — Podem voltar mais tarde? Eu realmente preciso falar a sós com Elena.
Tremi, eu sabia que era isso que ele queria.
— Tudo bem, mas por favor não briguem de novo. — Lily apontou o dedo indicador para nós dois.
— Isso depende dela. Ela é a esquentada da história, não eu. — Ele disse, sorrindo e erguendo as sobrancelhas pra mim. Revirei os olhos, pois senti que fiquei vermelha.
— Vou tentar me controlar. — Forcei um sorriso para tentar tranquilizá-la e percebi, com o cantinho dos olhos, que Damon ficou todo bobo.
Lily e Giuseppe saíram e eu não me mexi, continuei olhando para os meus pés. Agora que o desespero passou, eu começava a sentir uma raiva gigantesca crescer dentro de mim pelo que ele me fez passar.
— Vem aqui... — Ele me chamou com a voz rouca e eu o encarei. Seus olhos azuis imploravam para que eu me aproximasse. — Vem pra pertinho de mim. — Pediu, fazendo aquela carinha que eu não resisto. Me aproximei, devagar, louca para pular em cima dele, só não sei se era para enchê-lo de beijos ou de chutes. Eu estava dividida. — Como você está?
Apesar da pergunta ter soado sincera e carinhosa, eu vi aquilo como um deboche. Olhei para ele, incrédula e irritada.
— Como eu estou? Você realmente está me perguntando isso? — Questionei e ele acenou com a cabeça. — O QUE VOCÊ ACHA, HÃ? — Gritei, assuntando-o. — ONDE ESTAVA COM A CABEÇA AO SE METER NA MINHA FRENTE, PRATICAMENTE IMPLORANDO PARA TOMAR A PORRA DE UM TIRO? VOCÊ PIROU DE VEZ? — Eu berrava, sem ter noção de que estávamos em um quarto com mais pessoas.
— Elena, se acalme. Pare de gritar. — Ele disse calmamente, mas com os olhos grandes feito duas bolitas. — Eu acabei de acordar e você já está brigando comigo? — A sua tentativa de brincadeira apenas me deixou mais revoltada. Como ele podia ser irônico depois de quase morrer? Quer dizer, eu sabia que o risco era bem menos, afinal a bala tinha pegado no seu ombro, mas o próprio médico disse que poderia ter sido mais grave. Ele podia ter sequelas e ter sangrado até morrer, nos meus abraços ainda, por Deus!
— EU NÃO VOU PARAR! NÃO ATÉ VOCÊ ME DIZER O QUE ESTAVA PENSANDO DA SUA VIDA!
— Eu estava salvando a sua vida, merda! Ele ia atirar em você! — Ele respondeu, ainda mais baixo, quando a moça do lado pediu silêncio. Agora eu também era obrigada a diminuir o tom.
— Então que deixasse, oras! — Bati na cama com força, querendo na realidade acertar ele.
— O que? Acha mesmo que eu ficaria parado, sem fazer nada, olhando Enzo matar você? — Damon parecia confuso e totalmente surpreso com o que eu alegava.
— Não interessa, você não devia ter feito isso! Você é um idiota! Eu te odeio mil vezes mais agora, não creio que fez uma coisa dessas. Seu desgraçado, se você não estivesse em cima de uma cama de hospital, eu iria te encher de porrada. — Nem eu mesma me reconhecia naquele instante. Nunca fiquei tão brava, nunca falei de forma tão ríspida.
— Meu Deus, por que está sendo tão agressiva assim comigo? Por que está desse jeito? — Ele perguntou, procurando os meus olhos.
É claro que eu sabia o porquê dessa minha reação e eu precisava abrir o jogo com ele. Eu precisava dizer o que senti quando o vi machucado daquele jeito.
— Porque eu quase morri de medo, Damon. — Admiti, olhando dentro da imensidão azul. Vi sua expressão mudar, de repente, com a minha confissão.
— O que?
— Eu... — Tentei segurar o choro, mas falhei. Fechei meus olhos, soluçando de forma grave. — E-eu achei que... Eu achei que tinha perdido você. — Minhas últimas palavras saíram cortadas e foram pronunciadas com muito sofrimento.
— Oh, Elena... — Ele sussurrou, oferecendo a sua mão. Aceitei e a segurei com precisão, entrelaçando meus dedos com os seus.
— Você não faz ideia de como eu me senti quando ouvi o barulho da arma e percebi que você estava caído no chão. Meu mundo parecia que ia desabar e eu não conseguia parar de chorar. Eu... — Funguei e senti minha respiração acelerar. Só de lembrar da cena, meu corpo começava a reagir. Ele ergueu nossas mãos até o meu rosto e secou minhas lágrimas, sorrindo com compaixão. Eu via que seus olhos brilhavam e ele parecia que ia chorar também. — Eu só sentia uma dor insuportável no peito. A última vez que eu senti ela foi quando perdi meu pai e agora ela estava de volta. Quando enxerguei você desacordado, sangrando daquela maneira... Eu não sabia o que eu iria fazer se você não aguentasse. Eu não sabia o que eu iria fazer sem você.
A minha ideia não era fazer uma declaração desse tamanho, mas saiu. Eu não era de expor meus sentimentos assim, mas depois de quase ver ele ir partir, eu sentia que não podia mais me prender. Eu precisava que ele soubesse o quanto era importante pra mim. Os olhinhos de Damon cintilaram e ele parecia contente... Muito contente. O jeito que ele me fitava fazia com que eu me sentisse amada.
— Ah, minha garota. Vem cá, me dá um abraço. — Ele me chamou, já que não podia esticar os braços. Fiquei relutante e hesitei ao chegar perto. Eu não sabia se ter um contato íntimo assim era uma boa ideia. Eu normalmente não gostava de ficar com as pessoas e de muito menos sentir elas me tocarem, mas com ele... Era diferente. Meu medo continuava, mas era como se ele o amenizasse, sabe? Mesmo que por segundos. — Vamos, nós dois precisamos disso. — Isso era verdade, eu tinha que concordar. Devagar, e toda desajeitada, por não fazer isso há um bom tempo, abri meus braços e os coloquei na volta dele com cuidado para não pegar nos seus ferimentos. Tentei manter uma distância entre os nossos corpos, para não pressioná-los, mas ele fez questão de me puxar para ficarmos bem grudadinhos. Fechei meus olhos e suspirei. Por incrível que pareça, não senti nenhuma repulsa e não tive nenhuma memória ruim, tudo o que presenciei foi uma paz de espírito extraordinária.
Só um abraço era capaz de traduzir o que de fato sentimos aqui dentro. No encaixe com ele, eu encontrei meu porto seguro. Nossos batimentos se sincronizavam e nossa dor era partilhada. Eram declarações silenciosas, mas muito bem ditas e esclarecidas.
— Você não tem noção de como isso é bom. — Falei no ouvido dele e, conhecendo-o, eu sabia que ele estava sorrindo. Eu realmente não imaginava o quão bom podia ser ficar agarrada à ele, com tamanha aproximação.
— Eu tenho. — Ele disse, depositando um beijo carinhoso perto do meu maxilar. Senti um arrepio gostoso descer pelo meu corpo e os pelos da minha nuca se arrepiaram quando a mão dele se ergueu pelas minhas costas e me segurou por ali.
Ok, acho que estava na hora de me afastar. Delicadamente, não querendo ser grossa e estragar o momento, me retirei do meio dos seus braços.
— Damon, não faz mais isso comigo, por favor. Você não pode me matar do coração assim. — Pedi com certa súplica e vi a felicidade estampada na sua cara.
— E eu acreditando que você não se importava comigo, hã? — Sugeriu, flertando, e eu bufei. — Eu não sei de nada mesmo. Você é uma caixinha de surpresas.
— Ainda não consigo acreditar que fez isso. — Neguei com a cabeça, o repreendendo.
— Pois, acredite. Eu agi por impulso, Elena. Eu tremi e quase surtei de tanta raiva quando vi o que ele estava tentando fazer com você, mas não tive outra reação a não ser te proteger. Eu não sei explicar direito o que senti, tudo o que eu sei é que a ideia de ver você machucada, seja como for, era e é insuportável. — Ele dizia tudo isso me olhando com intensidade, sendo cem por cento honesto.
Meu Deus, por que ele acaba comigo desse jeito?
— Uau. Você realmente gosta de mim. — Falei com um tom de divertimento, mesmo sabendo que na verdade aquilo era sério.
— Precisei levar um tiro pra você perceber isso? Porra, Elena.
Apesar da situação não ter graça, acabamos caindo na gargalhada. Ele era a maior preciosidade que existe, eu não podia sequer pensar em deixar de falar com ele novamente. Ele era meu amigo e cuidava de mim, não encontramos isso com muita facilidade hoje em dia, certo?
— Me perdoa. Me perdoa por ser paranoica e não botar fé em você. — Me referi a antes, quando li a mensagem absurda de Enzo e não parei para ouvir suas explicações.
— Só se você me perdoar também. — Ele disse, acariciando o meu queixo com o polegar. Deus, eu sentia tanto amor da sua parte por mim, será que isso procede?
— Você não fez nada de errado, Damon.
— Como não? Eu te coloquei em perigo. Graças aos meus erros do passado, Enzo quase... — Ele fechou os punhos, ao terminou a frase e balançou a cabeça tentando não pensar no que poderia ter acontecido. Era o que eu também estava tentando fazer. Pensar em Enzo e no que ele tinha tentado fazer, me fazia lembrar de Logan, automaticamente, e eu não queria isso, não agora. Eu tinha que aproveitar o momento e ficar em paz com Damon e comigo mesma. — Enfim, podia ter sido muito pior. Sem contar com o que aconteceu antes disso tudo... Eu quebrei minha promessa. Eu não devia ter feito tantas perguntas ou invadido o seu espaço. — Nossa, ele parecia muito arrependido disso, mas essa questão já não era mais tão importante.
— Não, eu entendo... — Tentei falar, mas ele me interrompeu.
— Elena, eu fui um babaca e admito esse fato, tudo bem? Mas isso não vai se repetir de novo. Eu não me importo se você não quer me falar nada do seu passado, não vou te submeter ou te obrigar a nada. Se você não quer se abrir comigo, eu vou aceitar isso. — Damon estava convicto do que dizia. Ele parecia resolvido em relação a suas dúvidas comigo.
Isso sim era a maior prova de amor que alguém podia fazer por mim. Senti meus olhos umedecerem de novo. Droga, eu estava muito sensível.
— Tá falando sério? Faria isso por mim? Sei que é complicado... Quer dizer, você deve se sentir mal ao ver que eu tenho tantos segredos e que não me sinto à vontade em compartilhá-los. — É claro que eu entendia, se fosse vice-versa, eu também iria querer saber da verdade.
— Não vou mentir, isso é bem ruim. Quer dizer, eu só quero o seu bem. Se desejo saber o que te incomoda e machuca, não é por mal, mas sim porque quero te ajudar a superar isso. — Agora eu estava com aquela mesma indecisão de antes. Será que ele serviria como um grande auxílio para mim, para que eu pudesse passar por cima de Logan e todos os danos que causou em mim? Será que ele poderia me compreender e ter paciência com a minha tendência em ser autodestrutiva? — Porém, isso não vem mais ao caso. Quando brigamos, você voltou a ser indiferente comigo e eu senti que podia estar perdendo tudo aquilo que estávamos começando a criar... Eu me senti horrível. Não queria perder você também. Sinto que conheci uma garota incrivelmente especial e que eu não posso deixar escapá-la. Nada mais importa, apenas quero te ter do meu lado. Não consigo me imaginar sem você... — No meio de todas as palavras carinhosas, vi que ele parou, subitamente, ficando nervoso. — Sinto tudo isso como amigo, é claro. — Damon garantiu, mas me olhou com certa oscilação, esperando que, talvez, eu o contrariasse.
Eu sabia que o que estávamos sentindo era muito mais do que apenas amizade, isso já era óbvio, mas não podíamos simplesmente admitir isso e correr o risco de estragar tudo.
— É claro. — Confirmei, sorrindo.
Nós sabíamos da verdade. Nós sabíamos o que de fato estava diante das nossas caras, mas o medo era maior. É claro que os motivos dele eram muito diferentes dos meus, mas não queríamos jogar limpo e tornar daquilo um possível romance. Talvez fosse cedo demais. Nos olhamos com intensidade, deixando claro, através do olhar, que estávamos escondendo aquele amor intenso. Percebi que ele, pela segunda vez, desde que nos conhecemos, olhou para a minha boca e entreabriu os lábios. Nós estávamos ofegando e a tensão sexual era eminente no ar. Mais uma vez, eu precisava acabar com aquilo e quebrar o contato visual.
— Aliás, me desculpe pelo tapa que dei em você. — Falei, um pouco envergonhada.
— Aquilo me pegou de jeito, me senti no fundo do poço.
— Eu sei, peguei pesado, naquele momento você segurou o meu braço com força e isso eu não suporto, me lembra de violência. Me desculpa por pensar tão mal assim de você. — Ok, talvez eu tivesse abrindo a boca demais. Vi que ele ficou intrigado com o que eu falei, mas não teve nenhuma intenção de perguntar nada. — Entretanto, se você continuar aprontando, vai vir mais de onde veio esse.
— Assim que eu gosto. — Ele disse com malícia. — Você bate e eu gamo.
Sorri. Lá estávamos nós, de volta a paquera.
— E esquece daquele apelido que eu te chamei no outro dia... Você não é nenhum pouco frouxo. Você é corajoso... E forte. — Olhei para o seu corpo, fazendo a mesma cara que ele costumava me olhar ao me cantar.
Ele abriu a boca, apavorado com o meu atrevimento. Vi suas bochechas ruborizarem, o que era muito raro, e me senti orgulhosa por conseguir deixá-lo assim.
— Bom, não sou nenhum Capitão América, mas até que dou pro gasto.
— Ô se dá...
O clima gostoso e descontraído entre nós estava de volta. Logo em seguida, o médico entrou para checar ele e disse que o mesmo precisava descansar. Nos despedimos e ele se surpreendeu quando eu dei um beijo, rápido, na sua bochecha. Nunca vi ele ficar tão alegre com um simples ato. Lily me obrigou a pegar um táxi e ir para casa. Fui, mesmo contrariada, pois também precisava dormir e pretendia voltar cedinho para vê-lo.
[...]
Como eu tinha planejado, logo de manhã cedo eu estava de pé, me arrumando para ir ao hospital. Coloquei uma calça jeans e uma blusinha bordô, tentando arrumar a bagunça que meus cabelos estavam. Por um milagre, dormi bem essa noite e não tive pesadelos como imaginei que teria. Isso era estranho.
Dei meu nome na recepção e ganhei um papelzinho de visitante colado no peito. Ao chegar no quarto de Damon, entrei e a primeira coisa que escutei foi a sua risada. Ah, era muito bom ouvir isso. Vi que ele falava com os pais e que quando me viu entrar, seu rosto se iluminou.
— Ah, chegou o meu raio de sol! — Ele saudou, erguendo os seus braços. Ok, ele estava bem melhor. — Não falei que ela vinha? Essa me ama de paixão. — Deu de ombros.
— Ih, durante a briga acertaram a sua cabeça também? Você é muito convencido. — Lily riu, olhando para nós dois com um olhar bobo e uma expressão realizada. Me aproximei dele e olhei nos seus olhos. — Como está?
— Bem melhor agora que você chegou.
— Damon, fala sério. — Eu disse, mas acabei soltando uma leve risadinha.
— Eu estou prestes a ter alta.
— Sério? Que maravilha! — Falei, quase pulando de alegria. Tudo estava bem, então, seu machucado não havia infeccionado e seu quadro continuava normal. — Aliás, senhora Salvatore, se não for incômodo, eu queria muito ficar por perto nesses próximos dias, para ajudar a ficar de olho na melhora dele. — Pedi, vendo Damon me olhar com admiração.
— Opa, então quer dizer que eu vou ter uma enfermeira particular? Adorei a ideia.
— Damon, para com a obscenidade. — O pai dele disse e eu não segurei a risada, quase chorei de tanto rir quando Damon olhou para ele carrancudo.
— Por mim tudo bem, Elena. Adoramos ter você conosco. — Lily aceitou, sorrindo pra mim. — Nós vamos ali acertar as coisas com o doutor. Já voltamos.
— Sabia que eu estava falando de você antes de chegar? — Ele perguntou, insinuando alguma coisa, depois que seus pais saíram do local.
— É mesmo? Espero que não muito mal.
— Só um pouquinho. — Disse e eu coloquei a língua para ele, fazendo-o rir. — Não, eu... Só estava perguntando para minha mãe se não seria muito estranho eu te convidar para sair. — Fiquei atônita. Ele não tinha me prometido que ia parar de tentar investir em mim? — Como amigo, relaxa. Programinha inocente. — Ele ergueu as mãos.
— Hm, sei... — Desconfiei. — E o que ela disse?
— Ela disse que mal pode esperar pelos netinhos.
— Palhaço, ela nem disse isso! — Eu ralhei, mesmo sabendo que ele só falava essas coisas para me tirar do sério. — Quer que eu te deixe com o outro ombro machucado?
— Tá, calma aí, brutamontes. Mas, falando sério agora, acho que devíamos passear mais juntos. O que acha? — No fundo, eu achei um amorzinho o fato dele querer sair comigo.
— Desde que você não me leve para nenhum lugar pornográfico, ou algum motel ou boate, por mim tudo bem.
Damon riu.
— É isso que pensa de mim? Eu sou um anjo! — Disse, piscando os olhos e fazendo um círculo sobre a cabeça, fingindo ter uma auréola.
— Rá, essa é a maior piada que você já me contou!
— Onde você nunca foi, mas sempre quis ir? — Ele questionou, mas eu permaneci quieta e suspeitosa. — Vamos lá, me diga, quero te agradar.
— Não é preciso.
— Você sabe como eu posso ser chato, é melhor você falar. — Ele começou a me cutucar e eu fechei os olhos, impaciente.
— Ok... Nunca entrei em um parque de diversões. — Confessei. — Aí está.
— Tá brincando!? Nunca? — Ele parecia chocado.
— Nunca. Nenhum vinha para a minha cidade e nós quase não saíamos de casa, então foi mais por falta de oportunidade. — Isso não era uma mentira, mas eu omiti grande parte dessa história. Quando eu tinha a chance de ir, depois que papai se foi, Logan não deixava. Eu era praticamente uma prisioneira e não podia sair com as minhas amigas. Minha vida era estudar, ajudar em casa e deixar ele abusar de mim, sempre com a boca fechada. — Alaric tinha prometido que ia me levar em um, mas morreu antes que pudesse cumprir.
— Sinto muito.
— Tudo bem, eu sou medrosa mesmo, provavelmente teria medo de ir até no carrossel. — Ele sorriu. — Até é melhor que eu não vá, mas apesar do meu medo de altura, a ideia de ver o céu de cima da roda gigante... — Eu estava encantada, só de imaginar.
E, então, nossa conversa foi interrompida pelos pais de Damon que entraram com o seu papel de alta. Depois de pegarmos as receitas de alguns remédios e ouvirmos as ordens médicas, pegamos um táxi e fomos para casa.
[...]
Uma semana depois...
Minha rotina continuava normal e nós estávamos abrindo a padaria de qualquer jeito. A única diferença é que, depois de terminar o meu trabalho, eu voltava para a casa dos Salvatore para cuidar de Damon. Ele estava muito melhor e seu machucado estava começando a cicatrizar. Ele estava adorando o fato de eu estar com ele quase toda noite para prestar todo o tipo de assistência que eu pudesse, o que havia o deixado bem folgado. Nós jogávamos cartas até mais tarde e eu escutava algumas histórias de família na hora da janta, me divertindo com Stefan, o qual estava sempre emburrado, com Giuseppe e sua sinceridade e com Lily, sempre xingando os filhos. Eu me sentia bem com eles, era como se já fosse parte da família. Minhas noites agora eram mais divertidas e eu mal lembrava da pensão, só ia lá para buscar alguma muda de roupa.
— Ai, Elena, você não é nada delicada. — Damon reclamou quando eu apertei com força a gaze sobre o seu ferimento.
— E você é a rainha do drama, viu? Já está bem melhor e fica aí se fazendo de coitadinho para não voltar a trabalhar! Preguiçoso! — Ele fez um beicinho. Terminei de limpar o local, apliquei o remédio para não contaminar a área e fechei com outro curativo.
— Ou talvez eu realmente ainda esteja dodói e precise dos seus cuidados.
Nossa, era muita carência para uma pessoa só.
— Então, tá fazendo isso para que eu não vá embora? — Ele assentiu, descarado.
Sorri, como uma tapada. Já era noite e todos já estavam dormindo. Stefan tinha se retirado cedo da sala, pois ele se irritava apenas com a respiração de Damon. Falando nele, o mesmo estava um pouco estranho nesses dias que passaram. Ele parecia enciumado ao me ver cuidando do seu irmão mais velho e fiquei encasquetada com isso. Lily e Giuseppe já estavam na cama e nós também deveríamos estar.
— Acho que já está na hora. — Damon disse, olhando para o relógio, enquanto eu o ajudava a vestir a camisa. Nessas horas eu tinha que me controlar para não babar pelo seu abdômen... Que corpo de deus grego que ele tinha, meu Deus, mas eu não podia elogiá-lo e aumentar o seu ego que já era grande o suficiente.
— De dormir? Com certeza. — Já eram dez horas da noite.
— Não, senhora. Tenho uma surpresa para você. Vamos sair.
— O quê? Olha a hora que é, não viaja!
— Não interessa. — Ele disse, se escorando com o braço bom no sofá para se levantar.
— Você ainda não pode sair. — Resmunguei.
— Você é minha mãe, por acaso? — Ele questionou, levantando as sobrancelhas e eu olhei para ele com fúria. — Qual é, não sou mais um bebê, sei o que estou fazendo. Aliás, preciso te retribuir pelos cuidados que vem tendo comigo. — Ele me ofereceu a sua mão e eu, sem pensar, aceitei, sabendo que ele me convenceria de ir de um jeito ou de outro.
— Onde vamos? — Perguntei, sem fazer ideia do que ele pretendia. Onde podíamos ir a esse horário?
— Você vai ver. Feche os olhos. — Ele pediu e eu obedeci. Senti um pano sendo amarrado na minha cabeça para tapar a minha visão.
— Precisa mesmo de uma venda? — Bati os pés no chão.
— É claro, dá mais emoção. E vê se larga de ser uma ranzinza.
Agora sem enxergar nada, ele solicitou que eu não fizesse nenhuma pergunta. Saímos pelo portão, o qual ele passou a chave, e logo senti a brisa fria que estava. Já dentro de um carro, provavelmente um táxi, ele me entregou um moletom seu e é claro que eu amei ver o quanto ele tinha se preocupado com a temperatura que fazia. Nosso trajeto não demorou muito e ele logo me ajudou a descer. Caminhamos mais um pouco e eu era guiada pelas suas mãos, até pararmos, de supetão.
— Agora preciso que você pule. Na verdade, escale. — Ele disse baixinho, no meu ouvido, como se fosse um foragido.
— O que? Onde diabos estamos indo, Damon? Estamos fazendo algo ilegal? — Me desesperei, com medo de me meter em mais uma confusão.
— Qual é, pra nós dois isso não é nada, até que gostamos um pouquinho do proibido, hã? — Damon brincou e colocou minhas mãos sobre a grade. — Vamos, Elena, é baixinho. Eu te dou um pezinho.
Vencida, fiz o que ele pediu. Eu não sabia como ele faria para subir com aquele ombro doendo, mas também não questionei. Depois que ambos estávamos do outro lado, ele finalmente permitiu que eu retirasse o tecido dos meus olhos. Assim que olhei para onde estávamos, meu queixo caiu e meu coração acelerou.
Um parque de diversões. Não acredito que ele levou a sério aquilo. Eu achei que ele tivesse esquecido e que não se daria o trabalho de me levar em um.
— Damon... — Sussurrei, sem palavras.
— Acredito, pela sua cara, que gostou da surpresa? — Ele perguntou com expectativas. — Eu sei que poderia ter te trazido de dia, com ele funcionando, mas minha mãe nunca iria permitir que eu saísse de casa ainda com o ombro enfaixado e apenas de noite se pode ver as estrelas e a lua com clareza, pois elas se destacam. E você citou apenas um brinquedo em especial e então falei com um amigo meu que trabalha aqui e... Voilà! — Assim que ele terminou de falar, as luzes da roda gigante se acenderam. Meus olhos brilharam com a beleza do cenário, romântico e colorido. — Quer dizer, não podemos ficar muito tempo, mas... — Não deixei que ele terminasse de falar e o sufoquei com um abraço.
— Muito obrigada. — Sussurrei no seu ouvido, sentindo as lágrimas queimarem os meus olhos.
Não acredito que ele fez isso por mim.
— O prazer é meu. — Ele sorriu, doce. — Vamos? — O seu convite fez as minhas pernas fraquejarem. Olhei para o alto, com medo, e senti tudo girar. — Eu vou estar com você o tempo todo... Confia em mim?
— Confio.
Eu gostava dele, eu gostava do seu jeito, do seu olhar e do seu sorriso e nunca tive tanta certeza na minha vida como naquele momento. Segurei sua mão, pronta para ir para qualquer lugar e viver a maior das aventuras ao lado dele. Eu não queria me apaixonar ou me decepcionar, eu só queria uma calmaria antes da tempestade chegar... Porque, sabe, elas sempre vem, mas eu sentia que ele me manteria segura de qualquer vento ou chuva.
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