P.O.V. Elena Gilbert
Deitada na cama, deixando que o pouco da luz do sol que entrava pelo cantinho aberto da cortina aquecesse meu corpo, percebi o quanto essa casa era parecida com a de minha avó. As paredes, pelo menos. Talvez isso tivesse ajudado no processo que passei para me sentir confortável, mas ainda assim o crédito era todo de Damon. Senti meu coração apertar ao lembrar dela... Ela era maravilhosa comigo. Memórias boas e reconfortantes vinham à minha mente quando eu lembrava de seu rosto. Entretanto, não tinha a melhor das relações com meu pai, seu próprio filho, os dois mal trocavam palavras entre si e brigavam sempre que tentavam se comunicar e ser civilizados por mim. Depois que, bom, minha suposta verdadeira mãe me contou a história, posso imaginar o motivo. Meu pai era apaixonado por Jenna e na realidade desejava se casar com ela, não com Miranda, devido seu status na sociedade e o nome de sua família. Eu gostaria de saber mais dessa história, de preferência pela boca de minha avó, ou de papai. Entretanto, ambos estavam mortos, infelizmente. Com isso, tudo que me restava era Miranda e Jenna. A dúvida era: em qual eu deveria confiar? Na mãe que me abandonou ou na mãe que nunca me contou a verdade ou me protegeu do cara abusivo dentro da nossa casa?
Em breve eu teria que resolver isso. Muito em breve. Novamente, eu tinha sonhado com Logan. Novamente ele matava Damon, diante dos meus olhos. O sangue dele, do garoto pelo qual eu era perdidamente apaixonada, estaria em minhas mãos logo logo, se eu não fosse embora para Portland e lidasse com os fantasmas que deixei para trás. O sentimento de angústia e a sensação de estar em perigo estavam mais fortes do que nunca, afinal, ele prometeu que me encontraria. No fundo, eu tinha consciência de que, independente do que eu decidisse fazer em relação ao monstro, precisava fazer sozinha. Essas merdas eram minhas e não era justo envolver Damon nisso tudo, apesar de saber que seria extremamente difícil convencê-lo disso. Além do mais, com Logan, as coisas não eram tão simples, já que eu conhecia seu trabalho no tráfico. Ele não tinha um pingo de empatia ou misericórdia e não ficava satisfeito com simplesmente o ato de matar seu alvo, porque, antes ou depois, ele também ia atrás da família, dos parentes e amados do indivíduo. Eu não poderia fazer isso com a família de Damon, especialmente após eles terem cuidado tão bem de mim, e terem me acolhido, como se eu fosse uma Salvatore.
Agora falando em Salvatore, estiquei meu braço pela cama para procurar pelo meu. Ele não estava, mas seu cheiro sim. Por todo lugar, inclusive em mim. Sorri, pensando nos detalhes da noite passada, tentando esquecer e colocar de lado os problemas com os quais eu teria que lidar depois que voltasse de viagem. Tudo havia sido maravilhoso. O jantar, nossa dança, a volta para o quarto, os beijos, os toques, o sexo... A maneira como ele me ajudou no momento de pânico que tive ao lembrar das coisas terríveis que aconteceram comigo havia sido simplesmente inexplicável. Com simples palavras e doces carinhos, ele conseguiu me trazer de volta pra Terra, de volta para a realidade, me olhar nos olhos e me dar segurança, aquela segurança que tenho com ele desde o começo, mesmo quando eu ainda não o conhecia mais a fundo. Por alguma razão, desde o início eu via algo diferente nele, por isso o deixei entrar, me conhecer e me amar. Bem... Foi a melhor escolha que já fiz.
Ainda recordando do que experimentamos um com o outro, toquei meu pescoço, lembrando de tudo que ele fez naquele local anteriormente. Fechei meus olhos e suspirei. Deus... Havia sido mágico. Nossa conexão, em especial. A forma como Damon fez amor comigo, me fazendo enxergar estrelas, literalmente. Eu não conseguia parar de imaginar as mãos dele no meu corpo novamente. Ele fez com que tudo parecesse tão real, tão natural, tão.... Certo. A palavra era essa. Simplesmente parecia certo, eu e ele, como se as duas principais peças que faltavam de um quebra-cabeças finalmente se encontrassem e se encaixassem. Ele tinha dito que me amava e, nossa, como eu queria ter respondido de volta. Por que não fiz? Tudo bem que o mesmo adormeceu logo em seguida como um anjinho, mas ele merecia ouvir isso de volta mais do que qualquer coisa, de modo que fosse possível perceber que seu sentimento era mais do que recíproco. Eu amava ele muito mais, muito mais do seria humanamente possível e comprovado pela ciência.
Forcei à mim mesma levantar da cama e parar de sonhar, pois as imagens de Damon em cima de mim, falando meu nome repetidamente, já estavam me fazendo perder o fôlego. Se ele me visse aqui, provavelmente iria sorrir de forma maliciosa e fazer alguma piadinha de mau gosto. Aliás, onde ele estava? Vesti sua camisa, a qual estava logo ali, perto da cômoda ao lado, calcei meus chinelos e fui à sua procura. Ouvi barulhos na sala, sons de uma respiração ofegante e uma música baixa ligada no celular sobre a mesa. Quando me aproximei, fui totalmente pega de surpresa pela visão do paraíso. Damon estava malhando, sem camisa, apenas com uma bermuda de moletom. Ele estava no chão, fazendo flexões, com o cabelo todo bagunçado e o suor escorrendo pelos músculos de suas costas totalmente musculosas. Quer dizer, eu sabia que ele fazia exercícios regularmente, mas nunca tinha visto com meus próprios olhos. Isso era muito excitante. Me escorei na porta, cruzando as pernas e virando um pouco a cabeça, considerando que eu precisava de uma visão muito melhor que essa para apreciar adequadamente aquela cena, a mais sexy do mundo. Ele pronunciava gemidos, sempre que baixava no chão o corpo, e eu acompanhava o movimento de seus bíceps, contraindo e voltando, contraindo e voltando... Aquela mesma sensação de formigamento entre minhas pernas novamente surgiu e mordi os lábios, observando ele levantar e ficar de pé, recuperando seu fôlego. Ao limpar seu rosto com a toalha, ele logo me viu. Um sorriso enorme surgiu no seu rosto. Oh meu Deus, ele era o homem mais lindo que existia, não podia ser...
— Quer se juntar à mim? — A voz rouca invadiu meus ouvidos. Sorri de volta, delineando meus lábios com as pontas dos dedos. De repente, eu estava com a boca seca e minha respiração completamente fora de controle.
— Bem... — O observei bem, de cima abaixo, vendo ele levantar as sobrancelhas, com uma expressão um pouco surpresa, mas também divertida. — A proposta é tentadora, mas não levo jeito pra isso não.
— Então, prefere ficar aí babando? — Ele se escorou no sofá, cruzando os braços, me encarando com os olhos azuis desafiadores.
— Babando? Eu não estou babando. — Menti. É claro que eu estava. Quem em sã consciência veria isso e não babaria?
— Há quanto tempo está aí? — Sua voz era pura diversão.
— Você fala como se eu fosse obcecada, te observando pelos cantos, escondida. — Brinquei, enquanto mexia no meu cabelo, sabendo que isso poderia desconcertá-lo. — É crime querer olhar para o meu namorado agora?
Ele estreitou os olhos e um sorriso torto apareceu nos seus lábios. Lentamente, ele começou a se aproximar de mim. Meu coração, como sempre, passou a bater mais forte. Aquelas borboletas no estômago mais uma vez deram as caras. Será que ele sempre teria esse efeito sobre mim? Como se fosse a primeira vez que estivéssemos nos aproximando?
— Namorado? Essa é nova. — Ele parou a centímetros de mim, olhando para baixo, verificando que eu estava com a sua roupa e com as pernas descobertas. — Você nunca tinha me chamado assim antes.
— Eu posso? — Tentei fazer a minha voz mais sensual.
— Se pode? Elena Gilbert, você pode me chamar do que quiser... Desde que chame. — Sorri boba, percebendo que ele fitava a minha boca, ao mesmo tempo em que pronunciava as palavras. — Quer dizer que gosta de me observar enquanto eu malho?
— A partir deste momento, vai ser meu maior passatempo e a melhor visão do mundo.
— Hmmm... Interessante. — Ele sustentou nosso intenso contato visual por um tempo, antes de perguntar, agora mais sério: — Então, como está se sentindo? — Franzi o cenho, não entendendo exatamente ao que ele se referia. — Quer dizer, depois de ontem à noite.
— O que você quer saber? O quanto eu gostei de zero a dez? — Resolvi provocar um pouco. Ele sempre fazia comigo, agora era minha vez.
— Se quiser me avaliar, fique à vontade. — Ele se aproximou, abraçando minha cintura. Damon sorriu diabólico, expressão que não durou muito tempo, não depois da minha resposta.
— Eu daria um seis.
— O quê? — Ele me soltou de imediato. Seu olhar era de alguém incrédulo. Isso ia ser hilário. Segurei o riso com a sua cara de indignação. — Seis? Deus, Elena, você só pode estar brincando comigo! Foi a melhor noite da minha vida, a mais incrível de todas, e você me dá um seis? Bem, isso certamente acabou com o meu dia. — Ele jogou os braços para cima e eu não aguentei mais, logo comecei a rir. Meu Deus, quanto drama!
— Aí está. Todo irritadinho. — Apontei para sua face, rindo da situação. Ele estava vermelho, totalmente nervoso. — Eu só queria ver você enrugando o nariz e puxando os cabelos assim. Você sempre faz isso quando está com raiva.
Damon me olhou com uma carranca enorme.
— Não acredito em você.
— Eu não queria aumentar o seu ego, porque realmente não é necessário, mas eu tenho que dizer... — Dei uma pausa, vendo a ansiedade no seu olhar. Ele estava preocupado que talvez eu não tivesse achado bom? — Você realmente acha que eu não gostei? Foi o primeiro sexo que eu fiz e não poderia ter sido melhor. — Acabei com a nossa distância, tocando em seu peito nu, sentindo ele abraçar meu quadril e puxar meu corpo junto ao seu em resposta.
— Sério? — Ele suspirou, baixinho. Pude ver certo alívio em sua expressão facial. Damon Salvatore inseguro com sexo, se eu contasse... Ninguém acreditaria. Não quem conhecera ele antes, pelo menos.
Fiquei na pontinha dos pés, apenas para falar no ouvido dele:
— Damon, você literalmente me tirou do chão. — Senti seus músculos tremerem e seus pelos do braço arrepiarem. Eu me sentia extremamente poderosa ao saber que possuía esse efeito sobre ele. — Acho que não preciso explicar com detalhes o quanto eu curti... Você escutou.
— Com certeza. — Ele mordeu os lábios, parecendo ir longe com as lembranças. — Oh Deus, como eu quero ouvir de novo aqueles sons. — Ele aumentou o aperto de suas mãos em mim e a fricção de nossos copos. — Mas, falando sério, você realmente está bem com o que rolou entre nós? — Ele parecia genuinamente preocupado.
— Mais do que bem. — Garanti à ele. — Eu nunca achei que perderia o medo, mas com você as coisas se tornam menos complicadas. Eu me sinto segura nos seus braços. Me sinto acolhida e recebida. Me sinto em casa. — Vi amor no oceano dos seus olhos na minha frente. Ele me olhava com um amor tão grande e tão sincero que fazia meu peito aquecer e quase não suportar tamanho sentimento. — Damon, você fez da minha primeira vez inesquecível. Você não faz ideia do quanto eu... — Fale, Elena. Diga o mesmo que ele te disse ontem. — Do quanto eu te... — Não tenha medo. — Te... — Ele me olhava, sôfrego, mesmo com a tentativa de não demonstrar suas emoções, esperando que eu retribuísse as palavras. Porém, devido à completa covardia da minha parte, elas não saíram. — Te admiro por cuidar de mim. Por se preocupar comigo. Por saber respeitar meu tempo e ser tão cuidadoso. — Não era bem o que ele queria ouvir, notei pela decepção explícita no seu rosto, mas ele procurou se contentar com o que eu poderia lhe dar naquele momento. — Eu tenho muita sorte.
— Não. Eu tenho muita sorte. — Ele delicadamente segurou uma mecha do meu cabelo, tirando-a do meu rosto, e acariciando minha bochecha. Fechei meus olhos com a ternura do toque e acabei deixando escapar um suspiro. — Acredite.
— Me desculpe se eu não fui a melhor companheira com experiência... — Comecei, mas ele não deixou que eu terminasse. Seu dedo indicador já estava sobre a minha boca, me silenciando.
— Shhhh, não. Não diga isso. Cacete, você não sabe como me deixou louco... — Ele molhou os lábios com a língua, subindo a mão que estava no meu quadril para as minhas costas, até que ela chegasse na minha nuca e ele pudesse me segurar por ali de maneira firme. — Na verdade, você está me deixando louco agora.
— E por que? — Desci minhas mãos pelos seus braços, acariciando sua pele suada, trilhando um caminho pela sua barriga, sentindo ele estremecer na ponta dos meus dedos como consequência.
— Bem, porque você está me olhando com esses olhos cheios de desejo, praticamente implorando pra que eu te leve pra cama novamente... — Ele empurrou o corpo contra o meu, me encostando na parede, pressionando sua ereção contra a minha coxa. Um gemido saiu pela minha garganta e ele sorriu. — Ou faça aqui mesmo.
— E porque não faz?
Não tive muito tempo para pensar depois de questionar isso. Em seguida, ele me pressionou ainda mais contra a parede, me beijando fortemente. Um beijo que incendiaria cidades, certamente, de tão quente que era. Seus lábios pareciam flutuar sobre os meus enquanto ele arfava na minha boca e minhas mãos se direcionavam para o seu cabelo, puxando os fios negros em um ato de paixão. Seus joelhos separam minhas pernas, de maneira que sua ereção tocasse o meu ponto mais dolorido. Sua língua atrevida dominava os meus lábios, certificando-se de explorar toda a área. Em um impulso, ele me ergueu do chão, fazendo com que minhas pernas circulassem sua cintura. Uma de suas mãos se posicionou sobre a minha bunda, com a intenção de me puxar para mais perto, como se isso fosse possível. Damon levou seus lábios para o meu pescoço, me dando tempo para respirar, enquanto suas mãos acariciavam meu corpo e erguiam a única peça de roupa que eu vestia, além da calcinha.
— Você sente? — Ele perguntou, com a voz trêmula de desejo. — Você sente o quanto eu te desejo? — Ele dizia, de forma quente e provocante, enquanto ia distribuindo beijos pelo meu pescoço. Assenti, gemendo seu nome, exigindo que ele me tocasse mais profundo. — Deus... Como vou ficar um minuto longe de você? Eu já não conseguia antes, agora então... Será impossível manter minhas mãos longe. — Ele subiu por baixo da camiseta, encontrando meu seio e cobrindo ele como uma concha. Ah, como eu queria transar com ele novamente. Ele trazia um lado diferente meu à tona, totalmente insaciável, do qual eu não sabia da existência.
— Não tire elas de mim, então. — Falei no seu ouvido, em meio a respiração ofegante, e ouvi o gemido brusco que ele emitiu em seguida. Sua boca estava na minha orelha, sua respiração acelerada me causava arrepios pela espinha e contrações musculares em minha intimidade. Como é possível ter tanto desejo por alguém como eu tinha por ele?
Era impressionante como eu me sentia bem com ele. Como eu estava livre de todos meus medos... Não havia mais o que temer. Não com Damon. Sua mão acariciava meu seio, circulando meu mamilo com o polegar, de forma que eu produzisse um gemido um pouco alto demais. Os hóspedes ao lado deviam estar apavorados. Ele estava gostando disso. Para esquentar mais as coisas e retribuir o prazer, desci a mão pelo cós de sua bermuda, sentindo meu corpo reagir com a ideia de tocá-lo novamente, como fizemos em uma das noites anteriores. Porém, cedo demais, o rapaz sobressaltou.
— Espere. — Ele pediu, de repente, ofegante, parando com os toques. Olhei pra ele confusa. — Espere. — Repetiu, mais para si mesmo, como se tivesse dado conta de algo.
— Nãoooo... — Gemi, manhosa, necessitada dele.
— Não podemos. Nosso voo parte hoje no fim da tarde e quero aproveitar meu último dia aqui com você. — Ele acariciou meu rosto, sorrindo fraco. Uma parte dele parecia querer parar, já outra dizia totalmente ao contrário. Como o seu volume, por exemplo.
— E porque não podemos aproveitar assim?
— Deus, mulher. — Suspirou e me largou no chão, passando a mão pelos cabelos. — Estou tentando pensar direito aqui. Tudo que eu mais queria era passar o dia aqui, tocando, beijando seu corpo, fazendo amor com você... — Ele dizia, olhando para os meus lábios, parecendo sonhar nas nuvens com isso. — Porém... — Ele balançou a cabeça, talvez na tentativa de espantar seus pensamentos. — E eu digo isso com a maior dificuldade do mundo, não vamos fazer isso. Temos todo o tempo do mundo depois disso. Fiz planos para nós nesse último dia e, além do mais, você acabou comigo noite passada. Ainda não recuperei todas minhas forças.
— Sério? Estou surpresa. Isso significa que Damon Salvatore não aguenta a pressão? Sabe... Precisa de um tempo. — Provoquei, na esperança que ele me colocasse contra parede novamente para desmentir isso.
— Não me provoque, eu estaria pronto agora mesmo, neste segundo, se precisasse provar ao contrário... Entretanto, como sou extremamente seguro, não vou fazer isso. — Fiz uma careta e um beicinho, mas ele riu e apertou as maçãs da minha face. — Sei que você já me conhece bem o suficiente para saber que isso me faria desistir da ideia de sair do quarto. Você só esqueceu que também conheço você... Bem demais. Não caio nessa. — Coloquei a língua pra ele. — Agora vamos. Temos uma passeio de barco marcado.
— Preciso tomar um banho.
— Eu também. — Ele respirou fundo, frustrado. — Vá primeiro. E pense em mim, viu?
Mostrei o dedo do meio pra ele, mesmo de costas, enquanto ia em direção ao banheiro e ouvi sua risada de longe.
Eu amava ele. Sinceramente e intensamente, com todo a força do meu ser.
[...]
Fui obrigada a admitir, no fim das contas, que ele estava certo. Nós realmente nos divertimos e curtimos nosso último dia em Santa Mônica. Juntos, passeamos de barco, visitamos o restaurante mais famoso da cidade, assistimos à um show na praça principal de uma banca de rock incrível e, por fim, aproveitamos mais um pouco do que aquela incrível praia tinha para nos oferecer. De malas feitas, partimos no fim da tarde. Foi difícil dizer adeus para aquele lugar... Um dos momentos mais importantes da minha vida tinha acontecido ali. Eu jamais iria me esquecer de lá. Do verdadeiro paraíso. Eu poderia dizer, oficialmente, que estava vivendo o romance dos sonhos de qualquer garota da minha idade. Esse viagem tinha sido muito especial. Na verdade, tudo se tornava especial ao lado de Damon. Podia parecer clichê dizer isso, mas era a verdade.
Quando chegamos em Phoenix, não aguentamos e nos dirigimos ao primeiro bar que encontramos, afinal, nossos estômagos estavam nos matando. Acabamos adormecendo no voo e não nos alimentamos. Ainda segurando a bagagem, entramos no ambiente e pedimos dois salgados e dois sucos. Minhas pernas estavam fracas por causa do cansaço da volta para casa, mas os braços de Damon me mantinham de pé. Ele me segurava de todos os jeitos que eu poderia ser segurada e esse era um dos maiores motivos para amá-lo.
— Você está exausta. — Ele esticou sua mão entre nós, acariciando as costas da minha. — Mas continua linda, como é possível? Você é algum tipo de feiticeira incrivelmente bonita e sedutora? — Ri fraco, sentindo meus olhos pesarem e minha barriga roncar.
— Talvez. — Entrei na brincadeira, olhando apaixonada para ele. Eu não conseguia nem ao menos disfarçar mais.
O garçom trouxe nosso pedido, colocando sobre a nossa mesa, e no mesmo momento nós devoramos a comida. Estávamos famintos. Depois de longos minutos em silêncio, quando já terminávamos o lanche, percebi algo. Eu ainda precisava dizer à ele o quanto eu tinha amado a nossa viagem. Agradecer por finalmente ter me mostrado o que era amor de verdade e que eu não estava quebrada.
— Ei. — Segurei sua mão com força. — Obrigado por tudo. Tudo mesmo. A viagem foi simplesmente maravilhosa... Você não poderia ter me feito mais feliz que isso.
Ele me olhou surpreso, sorrindo como uma criança que acabou de receber a notícia de que o Papai Noel está vindo.
— Você realmente gostou? — Os olhinhos dele brilhavam de alegria.
— Eu não tenho palavras, Damon. Você me mostrou um mundo totalmente novo do qual eu estava habituada a viver. Eu costumava pensar... Que ninguém fosse gostar de mim, muito menos me amar. Parece que eu estava enganada. — Ele sorriu, levantando minha mão e depositando um singelo e meigo beijo sobre ela. — Obrigada por me fazer sentir tão amada.
— Você sabe como eu me sinto em relação à você. É por isso que faço tudo que estiver ao meu alcance pra te fazer feliz.
"Você sabe como eu me sinto em relação à você." Ele me amava. Ok. Era isso que ele queria dizer novamente. Lá estava... Aquele olhar cheio de expectativas sobre mim. Era minha chance de responder algo. Era agora ou nunca. Qual é, Elena! Me repreendi mentalmente. Não seja boba. Era como se a minha habilidade de falar simplesmente fosse embora. Por que era tão difícil dizer?
Depois de tudo que ele fez e ainda faz por você, o mínimo que você deve à ele é uma resposta à altura. E você sabe que sente o mesmo.
— Damon, eu...
— Olha só o que eu encontrei! — Fui interrompida por uma voz enjoada, que eu conhecia muito bem qual era. Olhei para porta e lá estava ela. Rebekah. Ela vinha na nossa direção com o mesmo ar de deboche e nojo de sempre. — Se não é o casalzinho que voltou de Lua de Mel!
Eu e Damon suspiramos juntos com desânimo.
— O que você quer, Rebekah? — Ele perguntou, com pouquíssima paciência na voz.
— Como assim o que eu quero? Quero saber como foi a viagem! Quer dizer, fiquei surpresa quando ouvi falar dessa notícia... — Ela se debruçou sobre a mesa, praticamente esfregando os peitos que saltavam da blusa apertada na cara de Damon. — Achei que essa era uma coisa só nossa, coelhinho, fiquei decepcionada.
Quase vomitei com o apelido pelo qual ela o chamou. Sinceramente, eu estava invisível ali? Como ela tinha essa tremenda cara de pau? Tirei as mãos das de Damon, irritada com a situação, e ele percebeu, me olhando como se me pedisse calma. Ele iria ver a calma que eu teria se ela não parasse de se jogar para cima do meu namorado. Eu poderia até estar com sono e cansada, mas se fosse para colocar Rebekah novamente no lugar dela, eu recuperava minha energia rapidinho.
— O que você está fazendo? — Ele perguntou, entredentes, com um olhar de desprezo.
— Só estou revivendo alguns momentos do passado, querido. — Ele passou o dedo lentamente sobre o braço dele.
Imediatamente eu reagi, por reflexo, e empurrei sua mão pra longe.
— Está louca? Quer mais uma vez apanhar de mim? — Ameacei, indo para cima dela, mas Damon se meteu entre nós duas. — Qual é o seu problema, de verdade?
— Meu problema é que o lugar de Damon não é com você, sua sem sal.
Não... Ela não teve a coragem!
— Olha aqui, sua...
— Elena. — Damon me segurou, olhando no fundo dos meus olhos — Amor, não vale a pena. — Ele me acalmou, me fazendo repensar. É verdade, não valia a pena. Eu só ia me estressar e gastar saliva com ela. Ele estava comigo agora. Ele me amava. Não havia sentido eu entrar em uma briga por meras provocações. Respirei fundo, apertando meu punho, e concordei com a cabeça. — E você, Rebekah, pare de nos perturbar e dê o fora. — Damon disse, curto e grosso. Ela levantou as mãos para o ar, dando alguns passos para trás com um sorriso cínico no rosto. — Vou pagar nossa conta e vamos, ok? Espere aqui.
No momento em que ele virou as costas, comecei a me preparar para sair daquele lugar, longe daquela garota, antes que eu fosse parar na delegacia pela segunda vez.
— Então, como foi a viagem, Elena? — Ela perguntou, mas eu ignorei. Tentei controlar minha respiração e focar na figura de Damon na fila do caixa. — Transaram, não é? — Ela questionou, ainda tentando me tirar do sério. Eu já sentia o sangue fervilhar nas minhas veias. — Qual é, soube que vocês foram para um lugar super romântico... Aposto que foi tudo incrível. Damon até disse que amava você, não disse? — Continuei em silêncio, batendo o pé, torcendo para que Damon viesse logo e me impedisse de pular no pescoço dela. — Clássico. É isso que ele faz.
Sem calcular, essa última fala acabou chamando a minha atenção e mirei o rosto da loira oxigenada com ódio.
— O quê?
Ela riu.
— Você sabe... Garotos bonitões como ele são todos iguais e usam sempre as mesmas táticas para levar as meninas pra cama. Era isso que ele fazia com todas as namoradas, antes de você. — Mesmo sabendo que ela era puro veneno e que todas as palavras que saiam da sua boca podiam ser mentira, por algum motivo bobo, senti uma aflição tomar conta de mim. — Não me leve a mal, quer dizer, não estou falando isso pra te machucar ou nada disso, é mais um conselho mesmo. Pense bem. Ele disse que me amava também, no primeiro dia em que transamos e, bom, esse amor não durou tanto tempo como ele prometia, certo? Agora ele já está amando outra... O que me faz pensar... Será que esse não é o negócio dele? Para quantas mais ele pode ter dito isso?
Não consegui dizer nada. Fiquei paralisada.
— Não sei. Algo me diz que vocês não irão ficar juntos por muito tempo... Tome cuidado.
Foi a última coisa que ela disse antes de ir embora, com todo aquele ar de superioridade, me deixando para trás igual uma idiota, parada e sem reação.
— Amém! Ela já foi. — Damon voltou, aliviado. — Vamos? — Ele perguntou, mas não ganhou nenhuma resposta. Deus, por que eu pensava demais nas coisas? Por que eu me importava com o que diziam? — O que foi, Elena? — Ele tentou tocar na minha mão, mas desviei.
— Nada, eu... só... — Era melhor falar ou não? Não, você que é cheia de paranoias, Elena. — Nada. — Dei de ombros, como se não fosse nada importante.
— Nada não é. Conheço esse olhar. O que está te preocupando? — Ele insistiu e eu gemi, frustrada. Eu teria que explicar e esclarecer o que ela tinha me dito ou então ficaria remoendo suas palavras até acreditar nelas. — O que Rebekah te disse?
É claro que ele já tinha percebido qual era o problema.
— Algo sobre você levar as suas antigas conquistas para viajar também... E dizer que a ama. — Admiti, baixinho. Ele suspirou.
— Bom, a parte sobre levar minhas antigas conquistas para viajar é mentira... Quer dizer, eu e Rebekah viajamos uma época, mas só porque nós tínhamos um relacionamento escondido de Enzo e queríamos ficar um tempo sozinhos longe dele. — Ele esclareceu e o ciúmes me corroeu por dentro no mesmo instante. Só de pensar que ele viajou com ela, levou ela para lugares românticos, dormiu com ela... O mesmo que tinha feito comigo. Mesmo sabendo que tinha sido no passado, isso me incomodava.
— E a parte da declaração? — Questionei e logo vi o olhar de arrependimento no seu rosto. — Você disse que a amava?
— Disse, mas nós já falamos sobre isso, Elena. Rebekah faz parte do meu passado. Eu era jovem, tinha acabado de fazer sexo pela primeira vez...
— Eu fiz sexo pela primeira vez e não sai falando eu te amo! — Argumentei.
— É... Eu sei. — Ele resmungou, chutando o ar e mirando o chão. Senti uma pontada de mágoa em sua voz. — Olha... Eu nem ao menos sabia o que era amar alguém, ok? Eu disse aquilo da boca pra fora, em um momento de prazer.
Olhei, furiosa, para ele. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo! Damon me encarou por um instante, tentando decifrar o que eu estava pensando. É claro. O eu te amo tinha sido um impulso, dito apenas no calor de um momento de muito desejo, não foi pra valer. Eu devia imaginar.
— Não foi o mesmo com você, Elena, se é isso que você está pensando. — As lágrimas estavam prestes a vir, eu estava sentindo. Eu realmente tinha acreditado que ele tinha sido honesto, mas sinceramente, qualquer um falaria essas palavras depois do sexo, certo? Sem querer ouvir mais nada, peguei minha mala, prestes a me retirar. — Você não pode estar sendo séria. Realmente acha que eu não falei com sinceridade? Que eu não te amo? Achei que já estava bem claro pra você como eu me sinto. — Ele parecia altamente ofendido.
Eu estava confusa. Rebekah tinha esse poder sobre as pessoas, de colocar sempre uma pulga atrás da orelha de alguém com seus comentários desnecessários.
— Damon, eu não quero brigar...
— Não há motivo pra brigar! Isso é besteira, Elena! — Ele bateu as mãos do lado do corpo, completamente irritado. Isso não é novidade. Eu também estava cheia de fúria.
— Vamos pra casa, tudo bem? Amanhã conversamos. Estou de cabeça quente agora. — Comecei a caminhar para longe dele.
— Elena... — Ele tentou insistir, mas não deixei com que terminasse ou prolongasse a discussão.
— Estamos cansados, exaustos, e precisamos descansar. Eu estou pedindo, por favor.
Ele me olhou, por um longo instante, provavelmente pensando no que fazer. Logo após disso, aparentemente muito bravo, ele balançou a cabeça, pegou o resto de nossas malas e saiu para rua, caminhando rápido, chamando o primeiro táxi que apareceu. Fechei meus olhos e senti meu peito apertar.
Merda, nossa felicidade durava pouco.
[...]
O caminho até a pensão foi silencioso e estranhamente constrangedor. Pensei que teria que convencer Damon a me deixar ir para a minha casa e não para sua, mas a princípio ele estava muito irritado, tão irritado que mal me olhou durante todo o percurso, quem dirá me pedir para acompanhá-lo. Eu não conseguia parar de pensar nas palavras de Rebekah, elas faziam eco dentro da minha cabeça. É claro que eu não podia me deixar levar por elas, mas... Era inevitável. Ela tinha sido a primeira dele. A garota dos seus sonhos, seu primeiro amor. A qual ele tanto foi apaixonado. Não havia como suas palavras não causarem impacto sobre mim e eu odiava isso. Não queria bancar a namorada surtada ciumenta, mas minha mente parecia trabalhar contra mim, criando suposições que nem ao menos existiam. Damon percebeu minha inquietação em algum momento, eu senti isso.
Agradeci aos céus quando finalmente chegamos no destino, pois já estava ficando horrível o clima entre nós. Assim que o carro parou, ele não se mexeu ou fez o mínimo sinal para sair, então olhei pra ele. Deus, eu simplesmente odiava brigar com ele. Minha vontade era de pedir desculpas por ser uma neurótica insegura e me jogar nos seus braços. Mas, me recompus, indo contra minha verdadeira vontade, pois tinha que lidar agora com a minha escolha de levar a sério as idiotices de Rebekah.
— Acho que a gente se vê ama...
— Eu realmente não acredito nisso! Você vai ter fé nas palavras de Rebekah ao invés das minhas? — Questionou, indignado. Joguei meu rosto sobre as mãos, totalmente esgotada. — Achei que confiasse em mim! Sério? Rebekah? Você esqueceu quem ela é? Minha ex doida, que usa as pessoas, que faz de tudo para causar a infelicidade dos outros e para destruir o relacionamento alheio? Eu não acredito que depois de tudo que nós passamos...
Sai do carro. Eu não estava no meu melhor momento para brigar com ele. Não queria falar, de maneira alguma, qualquer besteira para piorar as coisas. O taxista abriu o porta malas e comecei a tirar minhas coisas. Damon saiu do carro, batendo a porta.
— Vai me deixar falando sozinho agora? — Ele perguntou, praticamente jogando suas coisas contra o asfalto da rua. O motorista nos olhava, como se fôssemos dois malucos. — Inacreditável.
— Eu só não quero brigar, Damon.
— Eu entendi isso! Não vamos brigar, então! Vamos simplesmente esclarecer as coisas!
— Eu iria, mas estou... — Fui interrompida pela surpresa. Congelei, onde eu estava, no momento em que virei em direção ao pátio da pensão do outro lado da rua.
Eram elas. Jenna e Jessie. Deus, Jessie. Minha pequena. Ela estava tão grande! Parecia que eu não a via há anos. Meus olhos transbordaram de lágrimas de felicidade e eu mal sentia minhas pernas. Meu coração bateu forte de saudade da minha família, que agora, estava bem ali, tão pertinho de mim. Seria um sonho? Poderia ser alguma alucinação minha? Mamãe não me avisou que vinha!
— Elena, você está bem? — Damon perguntou, preocupado, com o tom de voz baixo agora, tocando meu braço.
— São elas. — Eu disse e, finalmente, minhas pernas ganharam forças novamente, quase involuntariamente me fazendo atravessar correndo a faixa de pedestre, sem nem ao menos olhar para os lados. — VOCÊS ESTÃO AQUI! EU NÃO ACREDITO! — Eu gritava, entrando pelo portão e largando todas minhas coisas pelo chão.
— Filha! — Jenna me recebeu, também chorando de emoção.
— Mana! — Gritou a minha pequeninha, a qual de imediato peguei no colo e abracei com toda a força que eu tinha.
— Meu amor. Ah, eu não acredito que você está aqui, sua pimpolha. Oh meu Deus, senti tanta saudade. — Apertei ela contra meu peito, beijando sua cabeça sem parar, enquanto ela ria. Como eu senti falta dessa risada sapeca! Minha mãe nos olhava, tentando segurar as lágrimas que não paravam de escorrer. — Vem aqui, mãe! — Ela correu até nós assim que abri os braços e a convidei para o abraço em grupo. Deus, eu não sabia que precisava tanto abraçá-las como agora. — Co-como? Como vocês vieram? Vocês nem avisaram! Quanto tempo? Quando? Está tudo bem? Vocês estão bem? — Comecei a tocá-las por toda parte, procurando por algum ferimento. Mamãe estava cheia deles, pelo rosto, no colo e nos braços, mas eu já imaginava quem era o responsável por eles.
— Calma, filha, nós iremos explicar, mas estamos bem, sim, na medida do possível. — Ela sorriu sem humor, para me tranquilizar por hora, mas eu sabia que tinha algo por atrás dessa visita inesperada.
— Mana, toma! Pra você! Eu que fiz! — Ela me entregou um desenho, colorido, onde havia nuvens, flores, e até unicórnios pelo céu. Na folha, estávamos eu, ela e mamãe, de mãos dadas. Logo notei os nomes escritos com letras de forma.
— Você aprendeu a escrever nossos nomes? — Perguntei e ela concordou rapidamente. — Como você cresceu, meu Deus! Apenas ficou mais bonita e inteligente, pelo jeito.
— Eu quero ser igual você. — Respondeu, com o sorriso mais inocente e sincero do mundo. Meu coração derreteu e mais lágrimas caíram. Novamente abracei ela forte, apertando seu pequeno corpo contra mim, com o intuito de nunca mais soltar. Aquela menininha era tudo que eu tinha de mais valioso nessa vida.
Nosso momento único e emocionante em família parecia que iria durar para sempre, até que ouço um pigarreio. Damon! Eu tinha me esquecido complemente dele por um segundo. O mesmo tinha um sorriso enorme no rosto, provavelmente feliz por me ver feliz. Sorri de volta, limpando minhas lágrimas. Levantei com Jessie no colo, pronta para apresentá-los.
— Damon, essas são Jessie e Jenna. — Ele sorriu para as duas, mas percebi que estava completamente apaixonado pela pequena pelo olhar bobo. — Jessie, mãe, esse é o Damon.
— Muito prazer, senhora. — Ele estendeu a mão para ela, totalmente gentil, a qual continuou parada no ar. Jenna, desconfiada, não parecia que iria cumprimentá-lo tão cedo, pois não levantou a mão da mesma forma, apenas ficou observando cuidadosamente o rapaz. Pisei, discretamente, no seu pé, como sinal para que fosse educada também.
— Oh, desculpe. Prazer. — Ela apertou a mão dele, ainda com incerteza no olhar. — Perdão, você é o que exatamente da minha filha? — Deus, ela poderia ser um pouco menos direta?
— Eu... Hã, eu, sou namorado dela, senhora. — Damon disse, nervoso, limpando a garganta. Imagino, conhecendo Damon, que ele estaria nervoso ao conhecer a única família que eu tinha, e com certeza gostaria de passar uma boa impressão. Mal ele sabe o quão difícil é agradar essa mulher...
— Namorado? — Ela perguntou, olhando pra mim com um olhar severo. É claro. Agora ela iria querer dar o discurso de mãe super-protetora. Revirei os olhos com o pensamento. Apesar de ainda considerá-la minha mãe, e amá-la acima de tudo, Jenna tinha mentido pra mim a vida inteira. Isso eu não podia esquecer.
— Acho que nós iremos colocar o papo em dia mais tarde, mãe.
— Você é muito bonito. — Jessie comentou, olhando para Damon, depois pra mim.— Ele tem os olhos azuis igual o príncipe da Ariel.
Claro. Clássico de Jessie, eu devia imaginar que ela iria falar algo do tipo, pois amava a Pequena Sereia. Olhei para Damon, sorrindo como uma idiota, levantando as sobrancelhas de forma sugestiva. Ele retribuiu o olhar, com as bochechas rosadas, todo encabulado.
— Bem, muito obrigada, senhorita, posso lhe dizer o mesmo. Você parece muito com a Ariel. É até mais bonita que ela. — Damon pegou na mãozinha dela, como nos filmes, e a beijou, se curvando, como se fosse mesmo da realeza. Eu ri baixinho. Aposto que ele disse isso apenas para conquistá-la, afinal, ele era ótimo nisso, e é claro que ela com certeza adorou, porque soltou aquela risadinha fofa, mostrando que dois de seus dentes haviam caído recentemente. Me senti mal, de repente, por ter perdido isso.
— A conversa está muito boa, mas agora a senhorita Ariel vai entrar lá dentro e arrumar esse cabelo bagunçado, sim? Uma princesa não anda desarrumada desse jeito. — Jenna disse, provavelmente querendo conversar comigo a sós, o mais breve possível.
— Eu sim. Uma princesa faz o que ela quiser. — Ela disse, colocando as duas mãos na cintura. Damon se aproximou de nós e murmurou no meu ouvido, me fazendo tremer:
— Gostei dela. Tem personalidade forte, como você, e o seu temperamento.
Sorri, sentindo minhas maçãs do rosto queimarem. Por que eu estava brava com ele, novamente? Eu já tinha me esquecido.
— Então, apenas vá, princesa independente. Preciso falar com sua irmã.
Ainda contra vontade, Jessie foi para dentro. Elas já deviam estar instaladas no meu quarto. Ficamos só nós três, então, em uma atmosfera pesada. Mamãe não olhava para Damon com a melhor das caras e ele logo entendeu o recado.
— Bom, eu só vim trazer as suas malas, Elena. Vou deixar vocês conversarem e matarem a saudade. Já está tarde. — Ele sorriu, amável, se despedindo de nós, e me olhou com certa intensidade, como se quisesse dizer mil coisas, mas desistiu. — A gente se fala amanhã. — Sem saber o que fazer ou se tinha permissão para me beijar, depois do nosso desentendimento e na frente de minha mãe, Damon apenas acariciou minha mão e piscou pra mim. — Até mais, Jenna. Foi um prazer conhecê-la.
Ela não deu ao menos um sorriso. Ok, agora ela estava sendo muito desagradável! Assim que ele virou de costas e foi embora, quis explicações.
— Isso foi rude. — Cruzei meus braços, esperando uma boa justificativa para tratar mal alguém que não conhece direito.
— Você não me disse que estava namorando. — Sua voz mostrava decepção.
— Bem, eu não queria exatamente ficar falando horas com você no telefone sobre o quanto eu estava apaixonada, correndo o risco maior ainda de Logan flagrar a cena. — Ela não parecia acreditar nessa desculpa. E estava certa, porque a realidade é que eu nunca quis contar sobre Damon, pelo simples fato de não ter esse tipo de abertura com ela, como se fosse a minha confidente. Talvez por que ela tinha omitido esse tempo todo de onde eu vinha? Talvez porque eu tinha descoberto que ela, na verdade, não era minha mãe? Que Alaric não era meu pai? Acho que eu tinha boas razões. — Além do mais, eu sou maior de idade, agora tenho uma vida aqui, por que isso te incomoda?
— Não sabia que tinha vindo pra cá com esse objetivo. — Provocou, com um tom de voz hostil. Ergui as sobrancelhas, surpresa com a sua colocação. Ela estava me acusando de quê? — Enfim, isso não é o mais importante agora. Você precisa saber o porquê de Jessie e eu termos vindo aqui... — Ela começou a explicar, olhando para todo o canto atrás de mim, como se estivesse esperando alguém. — Logan, ele... Estava fora de si. Desde que você foi embora, ele andava mais agressivo, irritado... Fora de controle. Quando ele me pegou no telefone com você aquele dia, acabei com uma costela quebrada no hospital por não querer contar onde você estava. — Meu corpo estremeceu e eu pude sentir a dor dela pelos seus olhos. Por que tínhamos que passar por isso? Por que caímos na mão desse homem? — Ele não iria desistir a partir dali, iria me pressionar até que eu falasse, transformando da minha vida um inferno pior do que já era antes, então resolvi usar o dinheiro de emergência. Esse dinheiro eu guardava há algum tempo, escondido dele, em uma tábua falsa no forro do banheiro, pois eu sabia que esse momento iria chegar. O momento em que não teríamos mais escapatória. No dia em que Jessie simplesmente derrubou um copo no chão, sem querer, ele explodiu, bateu nela... Na minha frente. A machucou, de verdade. — E você não fez nada, conclui, silenciosamente. Assim como foi comigo. — Não consegui mais aguentar. Faz duas semanas que ele saiu para uma viagem de negócios e retornou ontem. Eu já tinha tudo planejado. Logo pela manhã, cedinho, coloquei um tipo de líquido no seu café, para fazê-lo dormir. Consegui pela internet.
— Então, você o dopou e fugiu? — Por essa eu não esperava. Não sabia que ela seria capaz de, um dia, tomar uma atitude dessas. As coisas realmente devem ter ficado perigosas. Só gostaria que ela tivesse feito isso há muito tempo atrás, por mim também.
Jenna concordou.
— Agora estou com medo, Elena. Precisamos agir logo. Você o conhece, sabe que ele irá mover montanhas para nos encontrar e ir até o inferno se for necessário. — Assenti, engolindo seco. É claro que eu sabia. É claro que eu sabia que ele nunca iria desistir de nos encontrar e continuar nos mantendo suas prisioneiras. Ela tinha razão, algo precisava ser feito e ele precisava ir para trás das grades. — Nós precisamos planejar antes que...
Esperei que ela finalizasse o que tinha mente, mas, em um súbito, de um segundo para o outro, seu rosto ficou pálido, mais branco que papel, e ela parou de falar. Segui meu olhar na direção em que ela fitava, amedrontada. Do outro lado da calçada, estava um homem, de roupa preta, com um capuz que tapava parte de seu rosto, porém aquela barba era familiar... Meu corpo entrou em estado de choque quando percebi quem podia ser. Segurei forte o braço de mamãe, ao sentir minhas pernas amolecerem e meu coração quase saltar pela garganta. Não pode ser ele, eu repetia essa frase para mim mesma, freneticamente. Não pode ser.
Será que era tarde demais? Logan já havia nos encontrado?
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