"Não espere o amanhã para pedir perdão, para dizer eu te amo, estou com saudades. De repente, poderá ser tarde demais e nunca mais terá esta oportunidade. Ame as pessoas enquanto existe a vida e não depois que elas partirem."
Spencer estava dormindo tranquilamente. Um sono sem sonhos e tranquilo, em que ele apenas podia descansar , como não fazia ha meses.
Mas algo interrompeu seu sono, alguém estava tocando a campainha sem parar. Spencer levantou lentamente, estava apenas de calça de moletom e ainda estava cansado do voo cansativo de volta, mas parece que a pessoa que estava apertando a campainha ainda não tinha desistido.
Quando abriu a porta, encontrou um homem com um pacote nas mãos. Reid olhou confuso para ele, que apenas checou os papéis para ver se realmente estava no lugar certo.
-Spencer Reid? -O homem perguntou e Spence apenas assentiu- Entrega para você, preciso que assine aqui.
O homem entregou para Reid o papel para assinar, Spencer leu rapidamente o que estava escrito e logo assinou, depois recebendo o pacote das mãos do entregador, que logo deu as costas e foi embora.
Spencer fechou a porta e olhou para o pacote. Era de Paris, Reid franziu o cenho, ele não conhecia ninguém que estava em Paris e ali não continha o nome de quem havia enviado. Ele achou que não deveria abrir, mas a sua curiosidade foi mais forte e ele logo abriu o pacote e sentiu seu corpo inteiro gelar assim que viu o nome que estava na capa do livro.
"É tudo sobre nós*
Por Anne Jareau"
Na capa tinha um crachá do FBI e um livro que era de Anne, no crachá não tinha o nome dele, mas era quase idêntico ao dele.
Era o novo livro de Anne, por que ele estava recebendo aquele livro direto de Paris? Por que ela não estava com as siglas na capa? Por que tinha um crachá do FBI na capa do livro?
Spencer sentou-se rapidamente no sofá e começou a ler o livro, assim que passou pela capa, as mãos tremeram ao ler a dedicatória.
"Esse livro é para o meu único e verdadeiro amor, que esteve ao meu lado nos meus piores e melhores momentos, nunca desistindo de mim, nem quando eu queria desistir. Essa é a nossa história, meu anjo.
Espero que goste."
Spencer sentiu o ar faltar de seus pulmões.
Anne tinha feito um livro sobre eles? Dedicado o livro para ele? Mas ele nem mesmo sabia onde ela estava, ele ainda achava que ela estava brava com ele.
Reid não conseguia pensar muito bem, parecia que todos os pensamentos estavam se chocando e pela primeira vez, Spencer havia ficado confuso.
Ignorou tudo aquilo que estava pensando e começou a ler a livro, devorando as páginas e as palavras escritas por Anne, sentindo tudo que ela sentiu em cada um dos momentos em que passaram juntos.
"Não sei ao certo o que senti quando ele disse que queria que eu ficasse, mas pela primeira vez na vida, minha vontade não foi de sair correndo das situações e me esconder na minha biblioteca. Muito pelo contrario, eu queria ficar ali com ele, por quanto tempo ele quisesse que eu ficasse."
Reid lembrou do dia que conheceu Anne, quando haviam resolvido o caso e ela se distanciou de todos, pois achou que tinha culpa pelas mortes que haviam ocorrido. Ele fora o único que notara a ausência dela e quando a achou, ela estava chorando. Ele se lembrava de abraça-la enquanto ela chorava e quando ela tentou ir embora, ele pediu para ela ficar, mal a conhecia, mas queria desesperadamente conhecer.
E agora que conhecia, não conseguia amar outra pessoa que não fosse ela.
"Então ele deitou ao meu lado, sem eu nem precisar pedir duas vezes. Tentei ignorar as sensações que estava sentindo, mas era inevitável. Não contei a ninguém, mas acordei no meio da noite e vê-lo dormir foi uma das coisas mais bonitas que eu já tinha visto. Os cabelos bagunçados caiam pelo rosto, enquanto ele respirava calmamente, como se nada no mundo pudesse atrapalhar seu sono. Eu queria uma câmera para fotografar aquele momento e nunca mais esquece-lo. Tinha algo em mim que implorava para que aquela não fosse a primeira e última vez que deitássemos juntos."
Spencer não esperava que aquilo algum dia acontecesse. Não esperava que Anne escrevesse um livro contando pelo seu ponto de vista tudo que eles tinham passado, mas ele estava amando ler aquelas palavras. Estava amando saber como ela se sentiu em todas as vezes que ficaram juntos, em cada momento que tiveram.
Ele se lembrava de deitar ao seu lado naquela pequena cama de hospital, lembrava de ter dormido muito bem, de um jeito que ele não fazia há muito tempo. Lembrava dos sorrisos maliciosos de JJ e Morgan quando ele acordou.
"Não esperava vê-lo aquele dia na faculdade. Esperava qualquer pessoa, mas ele não. Porém admito, adoro que tenha sido ele a me buscar aquele dia. Enquanto ele me levava ao carro com o braço envolta da minha cintura, senti que ninguém poderia me machucar, pelo menos, não mais. Não enquanto ele estivesse ao meu lado."
Ele lembrava da raiva que sentira de Mackenzie naquele dia. Se pudesse colocar alguém para vigiar Anne para ter certeza de que ninguém faria nada para ela, ele teria feito.
Spencer estava agora, sentado no chão, as juntas dos dedos já estavam brancas por causa da força que ele fazia, enquanto segurava o livro. Tinha medo de aquilo acabar sendo sua imaginação ou um sonho, nunca quisera tanto que algo em sua vida fosse real.
"Quando perguntei a ele por que machucavam seres tão indefesos quanto pássaros, na verdade, estava perguntando por que me machucavam, por que gostavam de serem cruéis comigo. Quando perguntei se ele já tinha amado e ele disse que sim, uma pequena voz na minha cabeça ficou feliz por ouvir isso, porque talvez ele poderia me amar também. Sempre evitei contato com as pessoas, sempre mantendo distancia para que nunca me tocassem, não por frescura, mas por medo do que elas poderiam fazer quando se aproximassem de mim. Quando ele colocou sua mão em minha nuca, parecia que ela tinha sido feito para estar ali, apenas parecia muito certo. Mas posso dizer que quando seus lábios tocaram os meus, foi um dos melhores momentos da minha vida. Lembro dele até hoje."
Spencer também lembrava. Lembrava de sentir o vazio desaparecer toda vez que estavam juntos, lembrava de querer protege-la todos os dias e cuidar para que nada pudesse magoa-la.
Reid não estava entendendo porque ela tinha mandado aquele livro pra ele, mas se aquilo significava que ela estava começando a perdoa-lo, ele estava feliz por ela ter mandado aquilo para ele.
"Depois daquele beijo, eu admito, tive medo de o perder. Não achava que alguém como ele fosse capaz de amar alguém como eu, apenas parecia loucura, o fato de que ele poderia se interessar por alguém que era como eu era. Mas graças a ele, não sou mais. Quando aquele caminhão me atingiu, o último pensamento que tive antes de desmaiar, era que pelo menos eu iria morrer depois de ter tocado naqueles lábios e percebi que eu não me importaria de morrer depois de ter passado aquele tempo com ele. Quando percebi que estava no hospital e não conseguia abrir meus olhos, fiquei apenas ouvindo os médicos, mas senti meu coração acelerar quando disseram que tinha uma mulher parecida comigo e um homem com cabelos bagunçados preocupados comigo. Ouvi um barulho na porta e passos lentos se aproximarem de mim e mesmo antes dele dizer algo, eu sabia que era ele quem estava naquele quarto. Mas quando ele começou a falar, algo dentro de mim ficou tão feliz e emocionada, nunca pensei que alguém pudesse me dizer tudo aquilo, mas é óbvio que alguém como ele poderia. Não sei como, mas uma lágrima caiu pelo meu rosto. Quando ele disse que estava apaixonado por mim, quis desesperadamente levantar daquela cama e lhe beijar até nossos lábios ficarem dormentes e logo depois beija-lo de novo. Seus lábios quentes tocaram minha testa e ele deixou o quarto e eu nunca quis tanto estar acordada, para dizer a ele que eu sentia o mesmo, que eu sentia o mesmo desde o primeiro segundo em que o tinha visto."
Spencer sentia as lágrimas caindo. Nunca tinha ouvido Anne falar de qualquer momento que tiveram juntos, mas agora ler tudo aquilo, como se ela tivesse escrito para ele fazia seu coração acelerar a cada palavra lida.
Reid já tinha lido e relido todos os livros de Anne e já conhecia o modo como ela escrevia, mas aquele livro era totalmente diferente dos outros. Aquele tinha seu coração todo, em cada página e ela havia decidido ser honesta em cada parte, ele sabia disso. Ele sentia isso.
"Nunca gostei muito de presentes caros, longe disso. Sempre gostei de presentes que tivessem algum significado, alguma coisa para que cada vez eu olhasse para o objeto, eu lembrasse da pessoa. Ele, como sempre, pensou em tudo e me deu um presente perfeito de aniversário, um colar com um pingente de um livro acompanhado de um pássaro, dentro do livro, tinha espaço para colocar uma foto e uma linda frase, que se eu fosse corajosa o bastante, eu a tatuaria em mim. You're my history. A frase gravada dentro do pingente. Ele me disse que queria estar comigo todos os momentos, mas que mesmo que não pudesse, queria de alguma maneira estar. Eu o sentia comigo apenas em tocar no colar, acho que foi por esse motivo que nunca o tirei. Até hoje, ele permanece no meu pescoço, eu não seria louca de tira-lo, afinal, ter aquele colar comigo, era como ter ele ao meu lado, de alguma maneira. No mesmo dia, na verdade, dentro da caixinha do colar, tinha um bilhete. Ele me pediu em namoro e eu sabia. Sabia que não fazia muito tempo que nos conhecíamos, sabia que eu estava morrendo de medo, mas acima de tudo, eu já sabia que o amava e que queria estar com ele. Então eu apenas me joguei nos seus braços e o beijei, tentando transmitir naquele ato o quanto eu já o amava e o quanto eu o queria comigo. Quando lhe agradeci por ter me dado um motivo para viver, não sei se ele acreditou ou se achou que era apenas as emoções do momento, porque não eram. Eu o queria agradecer novamente, pois por um bom tempo, até hoje para ser sincera, ele é o motivo para que eu levante da cama e encare o mundo. Obrigada, meu anjo, por ter me dado um motivo para viver."
Reid quase conseguia ouvir a voz de Anne o agradecendo. Ele lembrava daqueles momentos, lembrava de pensar que nunca havia sido mais feliz, lembrava de querer que aquilo durasse para sempre. Lembrava de temer que não durasse.
"Uma das milhares de coisas que sempre amei nele, era que ele se interessava por qualquer coisa que eu estivesse envolvida e isso incluía meus livros. Um dia, enquanto estávamos deitados no sofá da casa da minha irmã, depois que ele havia voltado de uma viagem e ele me perguntou sobre meu último livro, pediu para que eu contasse mais sobre isso para ele, mas não contei. Sempre odiei falar para alguém sobre meus livros, não por mesquinharia ou algo do gênero, mas porque eu sempre ficava com vergonha e tinha medo da pessoa não gostar do história. Então não lhe contei nada sobre aquele livro. Ele me pediu para que um dia eu lhe contasse tudo, então agora eu irei contar. Esse livro é inspirado na nossa história. No amor que eu vivi com o único homem que amei e que vou amar na minha vida, acho que depois de tudo que passamos, ele merecia ler todos os meus pontos de vista sobre a nossa história. Mas também, esse livro é um pedido de desculpas. Desculpas por tudo que eu disse e fiz. Espero que me perdoe um dia, meu anjo."
Ela ainda o amava.
Anne ainda amava Spencer.
A sua escritora ainda o amava.
Spencer sentiu o ar sumir de seus pulmões, sentiu vontade de ir atrás dela, mas não sabia onde ela estava e ainda queria terminar de ler o livro. Se fosse outro livro, ele já estaria quase no final, como de costume, mas aquele livro ele estava lendo lentamente, queria aproveitar todas as sensações, lembranças e se deliciar com as palavras.
Ela pedia desculpas para ele. Reid não entendia por que ela estava pedindo desculpas, mas de alguma maneira se sentia bem. Era como se Anne quisesse voltar para ele e aquilo era tudo que ele desejava.
"Nunca me passou pela cabeça que um dia alguém iria querer se casar comigo. Mas ele queria. Ele sempre me aceitou do jeito que eu era. Ele me amou enquanto eu ainda estava quebrada e me ajudou a me concertar. Nunca desistiu de mim, nunca. Nem quando eu queria desistir e me salvou quando eu já achava que ninguém conseguiria fazer isso, ele fez. E se algum dia me perguntassem, eu me casaria com ele, sem pensar, sem vestido de noiva, sem grandes cerimônias, apenas eu e ele, porque não tem nada mais que eu queira, além dele."
Ele lembrava de quando disse que queria se casar com ela, se lembrava do fato de querer aquilo não o assustar, mas sim, seu medo de perder ela. Ele sempre teve medo de que pudesse a perder a qualquer instante e achou que havia perdido, mas ele estava começando a achar que não havia de fato.
"Sempre fui uma romântica incorrigível. Sempre quis viver algumas das cenas que eu via ou lia, mas era realista o suficiente para saber que nenhuma daquelas cenas iriam acontecer comigo. Mas aconteceram graças a ele. Graças a ele que conseguiu transformar uma simples ida ao supermercado em algo que sempre irei me lembrar, mas o que eu posso dizer? Foi exatamente isso que ele fez com a minha vida. Ele transformou meus dias monótonos em algo especial, me deu esperança e me fez me sentir viva, coisa essa que imaginei que nunca mais ira sentir, mas senti, quando estava ao seu lado."
Spencer sentiu as bochechas corarem ao lembrar do episódio do supermercado e de repente, nunca seu corpo sentiu tanta a falta do dela junto ao seu. Precisava dela, precisava dos seus beijos, da sua companhia, do seu sorriso.
Precisava dela por inteiro.
"No nosso primeiro feriado juntos, viajamos para conhecer a mãe dele. Ela era uma das mulheres mais adoráveis que eu ja havia conhecido. Quando ele foi ao banheiro e ficamos somente eu e ela, ela me pediu para prometer uma coisa.
Ela pediu para eu prometer que iria cuidar dele, nunca deixa-lo, protege-lo e ama-lo. Eu prometi que faria todas essas coisas e com toda a culpa que sinto agora, admito que não fiz. Admito que não fiz porque eu o deixei, me preocupei demais com a minha mágoa, mas não pensei na dele. Na verdade, não o deixei nem conversar comigo direito, mal o deixei se explicar e simplesmente fui embora. Acho que devo desculpas a ele por isso também e espero que um dia, a gente possa sentar e conversar e eu prometo que lhe deixarei falar."
Spencer ja não sabia mais o que pensar enquanto lia as palavras.
Aquilo significava que ela queia ve-lo? Que ainda tinham uma chance?
Ela se lembrava da promessa. Promessa essa que ele so descobriu há alguns dias. Mas o importante era que ela lembrava que havia prometido aquilo.
"Ter alguém que se importa com você, é raro. Eu tive várias pessoas que se importavam comigo, queria ter dado a elas todo o valor que mereciam. Ele foi um dos que mais acreditou em mim e me incentivou. No meu primeiro dia de trabalho, eu estava muito nervosa, mas ele me deu segurança e prometeu estar ali caso eu precisasse, me culpo não ter feito o mesmo por ele.
Quem me convenceu a ir na minha formatura, foi ele e eu só aceitei ir, porque ele prometeu que estaria lá caso algo acontecesse.
Durante a formatura, minha professora favorita, fez um discurso sobre amor. Nesse discurso ela falou que o amor nos muda e nos transforma, que quando encontramos um amor forte e verdadeiro, não podemos deixa-lo escapar jamais. Então, eu queria pedir a você, caro leitor, que não faça como eu.
Eu encontrei esse amor, forte e verdadeiro, mas eu o deixei escapar e agora, eu os imploro, não cometam o mesmo erro que eu.
O amor é egoísta, sempre disseram isso, mas eu discordo. O amor não é egoísta, as pessoas é que são.
Eu fui egoísta, me preocupei somente com a minha dor e não com a dele, e nem com quem as minhas decisões pudessem afetar.
Mas tenho certeza de que o amo, e se hoje, depois de quase um ano sem notícias suas, eu descobrisse que ele seguiu em frente, eu ficaria feliz por ele. Me destruiria por dentro, mas me importo mais com a felicidade dele do que com a minha. Aposto que ela o daria o amor que ele merece.
Por isso, repito, o amor não é egoísta, nós é que somos."
Spencer sentiu uma onda de raiva passar pelo corpo.
Como ela poderia estar dizendo que ficaria feliz ao ve-lo com outra? Como ela poderia achar, que menos de um ano depois, ele ja poderia ter arrumado outra?
Como ele conseguiria fazer isso, quando tudo que ele mais queria era ter ela junto a ele novamente?
"A vida é feita de momentos. Daqueles momentos que você irá lembrar para sempre, nosso primeiro Natal juntos, foi um desses momentos.
Depois de muitos anos, aquele foi o primeiro Natal que eu comemorei. Estar com ele naquele dia, na verdade, com todos eles, na nossa família, foi um dos melhores momentos da minha vida.
Lembro das risadas, brincadeiras, lembro da gratidão que senti. Aquele dia estava sendo tão perfeito que cheguei a achar que era um sonho, mas cada vez que ele me abraçava ou beijava meus cabelos, daquele jeito que sempre me fazia sentir protegida, notei que aquilo não era um sonho, mas sim a realidade, a melhor realidade que eu poderia viver.
De todos os presentes que comprei, o dele foi o que me deixou mais nervosa. Simplesmente não sabia o que dar para ele, nada parecia ser bom o suficiente. Um dia quando fui ao shopping com a minha melhor amiga comprar os presentes, andei pelo lugar inteiro e no final das contas, comprei o presente de todos, menos o dele. Mas alguns dias depois, quando voltava pra casa, encontrei um caderno de couro bordô e eu não sabia o por que, mas parecia o presente certo para ele.
Todos trocamos os presentes, menos eu e ele, quando chegou a nossa hora, eu lhe chamei para trocarmos no meu quarto. Quando chegamos lá, eu peguei meu presente e lhe entreguei, não entendo até hoje, mas ele gostou. Ele me deu uma foto nossa para colocar dentro do meu colar, eu coloquei. Agora, toda noite antes de ir dormir, eu vejo nossa foto, eu vejo nosso amor tão claro naquela foto e sinto raiva de mim mesma por algum momento pensar que o que sentíamos não era amor, porque naquela foto estava mais do que óbvio, nos seus atos, nos meus atos estava mais do que óbvio, mas eu fui cega demais para ver isso.
Quando eu olhei aquela foto, eu apenas pulei no colo dele e lhe enchi a face de beijos, totalmente sem palavras e implorando para que aquele momento durasse para sempre. Odeio por não ter durado.
Aquele dia foi perfeito. O dia, a noite, pena que a madrugada não."
Spencer sentia aquele amor. Sentia seu corpo inteiro tremer ao pensar nela, ao pensar no amor deles, mas logo sentiu um arrepio na espinha, sabia sobre o que Anne estava falando no final do paragrafo.
"Quando você confia em alguém de olhos fechados, não imagina que tipos de ações essa pessoa pode fazer, eu não sabia o que uma pessoa que passou ao meu lado a vida inteira poderia fazer por ciúmes. De madrugada, meu celular avisou que havia chegado uma nova mensagem, quando olhei, era da minha melhor amiga. Na verdade, não sei se ela era mesmo minha melhor amiga, porque acho que melhores amigas não fazem o que ela fez comigo.
Ela me sequestrou na madrugada de Natal, eu não sabia o por que dela ter feito aquilo, afinal, eramos melhores amigas.
Mas para ela, o fato de sermos melhores amigas, significava que eu tinha que viver para ela, que eu não poderia ter amigas, nem família e muito menos um namorado ao meu lado.
Por um tempo, eu a entendi por ter feito isso.
As pessoas mentem, omitem e escondem, isso é normal do ser humano e não devemos julgar quem faz, pelo menos, quando esse alguém ter algum motivo. Ele mentiu para mim, por meses e foi com essa "amiga" que eu descobri a verdade.
Depois de ser apagada na frente da casa da minha irmã, ela me levou para um galpão. Quando acordei, estava toda dolorida e cheia de machucados, ela estava na minha frente, com uma cadeira e uma pasta cheias de folhas. Eu ainda não entendia por que ela estava fazendo aquilo, eu pensava que ela me amava.
Ao abrir a tal pasta, ela começou a contar coisas que eu não sabia. Ela me contou da ex dele, de como ele a amou e vice-versa. Me contou sobre como ele a perdeu, logo depois disse que eu era apenas a substituta dela.
Eu não deveria ter acreditado nela, mas eu acreditei e acho que de certa forma, paguei por isso.
Neguei nos primeiros minutos, neguei tudo que ela estava dizendo, disse que ela estava louca e para ela, aquilo fora a gota d'água.
Ela começou a contar a história deles e o modo como ela falava, as palavras que ela dizia, aquilo me fez acreditar que para ele, eu realmente era a substituta. Primeiro eu neguei. Neguei com toda a minha força e ela ficou furiosa por eu ter negado, então eu ela começou a me espancar. Depois do terceiro soco, eu desmaiei e não sei até hoje o que aconteceu depois.
Quando acordei em um hospital, vi milhares de flashes do que havia acontecido. A voz dela parecia fazer milhares de ecos na minha cabeça. De repente, imagens dos dois juntos dominavam minha mente, a possibilidade de que se ela estivesse viva, ele poderia nunca ter olhado para mim.
Sou insegura, sempre fui. Agora estou um pouco mais confiante, mas naquele momento, deitada na cama de hospital, com as palavras dela tão frescas na minha cabeça, eu realmente achei que eu era uma substituta para ele.
E aquele fora o meu maior erro.
Depois dos médicos conferirem se eu estava bem, eles disseram que tinha alguém bastante preocupado comigo e perguntou se a pessoa poderia entrar, eu afirmei, mas não esperava que aquela pessoa que estava ali preocupada fosse ele.
Quando ele entrou, tudo que ela havia me dito fez ecos na minha cabeça, imagens dos dois juntos não paravam de vir na minha cabeça, eu estava começando a entrar em pânico, estava com medo de amar alguém e depois de todo esse tempo, essa pessoa não ter me amado de volta.
Agora mais calma, enquanto escrevo isso, percebo o quão idiota eu fui ao pensar todas aquelas coisas. Ele nunca foi o tipo de cara que finge algo e ele não fingiria me amar por todos aqueles meses. Fui injusta com ele.
Não o deixei falar. Eu me sentia magoada por ele não ter me falado dela, quando eu havia sido sincera com ele sobre tudo. Eu havia contado tudo, todos os meus demônios estavam expostos para ele, ele sabia tudo sobre mim e o fato dele não ter contado pra mim, somente piorou tudo.
Eu não conseguia parar de pensar o que teria acontecido se ela não tivesse sido assassinada, não consiguia parar de pensar que ele ainda estaria com ela e eu iria assistir tudo de um canto, sem nunca te-lo realmente conhecido e aquilo estava me matando.
Ele tentou se explicar, realmente tentou, mas eu não deixei e me culpo por isso até hoje. Todos merecem poder se explicar e eu não deixei que ele fizesse isso.
Novamente, sinto muito, meu anjo."
Reid lembrava daqueles acontecimentos. Lembrava de sentir que iria perde-la para sempre, lembrava do pânico de ter que viver sem ela. Lembrava da culpa por não te-la contado tudo quando teve a chance. Lembrava de achar que merecia tudo aquilo, que merecia o ódio dela -que ele estava descobrindo que não existia-, que merecia ficar sozinho.
Ele não sabia quem havia mandado aquele livro para ele, mas naquele instante ele estava se sentindo extremamente grato aquela pessoa.
"Não devemos tomar decisões magoados, sempre fazemos coisas que podemos nos arrepender depois. Não me arrependo completamente do que fiz, mas existem coisas que eu gostaria de não ter feito.
Enquanto ele ainda estava no quarto, eu me agitei demais e acabei sendo sedada. Quando acordei, quem estava lá era a minha professora favorita, aquela do discurso da minha formatura. Não sei como ela foi parar lá no hospital, mas eu gostei de vê-la, então ela me fez uma proposta de trabalho e para quem estava magoada e insegura como eu estava, aquilo pareceu certo naquele momento. Eu desabafei com ela e ela disse que tudo ficaria bem e eu queria acreditar que aquilo era verdade, queria acreditar que tudo iria ficar bem.
Minha melhor amiga, minha verdadeira melhor amiga, apareceu lá depois que eu liguei para ela. Minha professora fez a proposta para nós duas e naquele momento, ela era única em que eu confiava para desabafar sobre aquilo.
Ela me apoiou e prometeu que não importasse o que acontecesse, ela me apoiaria.
Então eu discuti com a minha irmã, coloquei culpa nela em algo que não era culpa dela e acabei dizendo coisas que não deveria. Então, acabei dizendo o que não deveria e tomei decisões de cabeça cheia.
Acabei aceitando a proposta da minha professora, que era em outro país e simplesmente fui, logo após ganhar alta.
Não me arrependo totalmente de ter ido, mas me arrependo das coisas que deixei para trás e dos assuntos inacabados."
Spencer sabia que ela havia ido embora, mas não imaginava que havia sido para outro país. Qual país? Qual estado? Qual cidade?
Ele estava com vontade de sair pela porta do apartamento e ir atrás dela, mas não poderia, pelo menos, não até terminar de ler aquele livro.
"Como você, caro leitor, deve estar imaginando, eu fui embora. Depois da discussão com a minha irmã, não falei com mais com eles, muito menos com ele. Não me despedi de ninguém, apenas deixei para minha irmã um bilhete com meu novo número de celular, meu endereço e um "amo vocês" para todos que moravam naquela casa.
Me arrependo de não ter me despedido de ninguém. Mas eu não iria conseguir voltar, não naquela hora, não enquanto eu estava com medo de voltar ao desastre que eu era antes de conhece-los.
Meu corpo até hoje vibra de saudades deles, sinto saudades todos os momentos que compartilhamos e de todas as coisas maravilhosas que somente eles me ensinaram.
Então por favor, leitor, não tome decisões de cabeça quente e não fuja dos seus problemas como eu fiz, os encare de frente e espere pelo o que possa acontecer.
Se você chegou até aqui, esperava um final feliz, infelizmente ainda não posso dar a você, mas prometo que se conseguir chegar, pelo menos, perto disso, você será o primeiro a saber.
O amor pode nos salvar, nos salvar até de nós mesmos. Por favor, ame como se não houvesse amanhã e não deixei que inseguranças e medos atrapalhem essas coisas.
Por favor, não comentam os meus erros."
O que aquilo significava?
Spencer não conseguia pensar direito. O que aquilo queria dizer? O que aquele final queria dizer?
Ela estava dizendo que queria voltar com ele? Que ainda o amava?
Ele passou a página, parando nos agradecimentos.
Começou a ler, enquanto sentia o coração acelerar a cada palavra lida.
"Eu queria agradecer a minha família. Minha irmã, meu cunhado, meu sobrinho. A família que ganhei e que espero, não ter perdido por alguns erros meus. A minha verdadeira melhor amiga, a sua mãe que desde que a conheci, me trata como uma filha, a minha professora favorita, que me ensinou mais do que as matérias da faculdade.
E por último, mas não menos importante, queria agradecer ao meu anjo, por ter me amado pelo o que sou, pelo o que eu era e por nunca ter desistido de mim. Por ter me trazido a vida.
O nome desse livro, é tudo sobre nós, quando na verdade, é tudo sobre ele.
É tudo sobre o amor que eu sinto por ele, tudo sobre nossos momentos, tudo sobre nossa história.
Eu te amo, meu anjo.
Te amo mais do que jamais amei alguém na minha vida, te amo com cada célula do meu corpo, com todo o amor que tenho.
Esse livro é para você, é meu pedido de desculpas por tudo.
Te amo."
As lágrimas não caíram. Ele não tinha mais lágrimas para cair, apenas sentia o coração acelerar, o ar fugir de seus pulmões.
Anne escrevia romances, escrevia lindas histórias que ele amava, mas nunca pensou que ela escreveria uma sobre ele, sobre o que eles sentiam um pelo outro. Uma história sobre o que haviam vivido.
Mas ela havia. Pegou a orelha do final do livro e sorriu orgulhoso ao ver uma foto de Anne ali.
Ele percebeu, a foto era recente. Seus cabelos estavam mais curtos do que a última vez que ele havia a visto e também estavam mais escuros, ela olhava diretamente para a câmera e tinha um leve sorriso nos lábios.
Notou o colar que ele havia dado para ela no pescoço, sentiu o peito estufar de orgulho da sua escritora.
Ele sabia que um dia ela teria coragem de se revelar e estava feliz por ela ter finalmente feito.
Embaixo da foto, estava seu nome e uma pequena biografia.
"Anne Jareau
Escritora conhecida como AJ. Formada em três faculdades. Conhecida pela sua trilogia de sucesso "Prometa Não Me Amar" e pelo livro "Acasos". Atualmente, vive em Paris, sendo editora chefe de uma das maiores editoras do mundo."
Ela estava em Paris. Por isso o pacote veio de Paris, ela mesmo que mandou para ele.
Spencer sorria. Ela ainda o amava e talvez, quisesse voltar com ele e aquilo era motivo o suficiente para ele sorrir verdadeiramente depois de tanto tempo sem faze-lo.
Ficou olhando para sua foto e mexendo na orelha, quando um pequeno papel, um post-it azul caiu no chão.
Ele franziu o cenho, pegou o papel e logo reconheceu a caligrafia que estava com caneta preta.
"I'm so sorry! :)"
Ele havia prometido a sua mãe e a ele mesmo que se ele tivesse qualquer sinal dela e de que ela o queria, ele iria atrás dela e para ele, aquilo era o maior sinal que ele poderia ganhar.
Colocou o post-it de volta dentro do livro, o fechou. Levantou-se rapidamente e seguiu para o quarto atrás de uma camisa, seus all stars e a chave do seu carro.
Ele iria atrás dela.
Ele iria atrás dela e dessa vez eles iriam se acertar.
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