Os pés de Felipe estavam cravados no jardim da casa mais vigiada do Brasil. A realidade bateu no momento em que ganhou um abraço de Flay que mais pareceu uma despedida – e talvez a intenção foi de se despedir mesmo, era o que Prior pensava. Seu coração batia tão rápido que fazia seus próprios pensamentos se confundirem dentro de sua cabeça.
Nem conseguiu refletir muito quando Daniel se aproximou e o desejou boa sorte.
- Não preciso de sorte. Preciso de um milagre. – foi o que o arquiteto conseguiu responder com o desespero já batendo na porta.
- Não pensa assim.
- Difícil, né, Daniel? Todos os meus amigos saíram.
- Você não é seus amigos.
E foi com aquela frase que a esperança de Felipe não atingiu o fundo do poço. O arquiteto sorriu e assentiu com a cabeça, o que fez o sulista entender que aquele era o fim do papo. Entretanto, o mesmo não se afastou. Fez o oposto disso: se sentou ao lado de Prior em silêncio.
- Deixa eu mudar essa nossa história hoje. – o emparedado começa a cantarolar junto com a música que tocava no momento. Era de sua playlist. Se arrependeu de escolher a canção quando observou Daniel o olhando.
- Que música é essa? – o sulista questiona.
- Amor de fim de noite.
- É legal. Eu gostei.
- É. – Felipe se limita a responder. – Basta você dormir comigo hoje. Me dá sua mão e me beija essa noite. – ele acompanha a canção novamente, dessa vez canta olhando para seus próprios pés para não ter que observar o rosto do loiro sentado ao seu lado.
Inclusive, a proximidade entre os dois o incomodava. Sentia sua pele comichar com seu joelho tocando a mão do ator. As horas costumavam passar rápido para o emparedado, mas, naquele momento de silêncio com Daniel, os segundos se transformaram em minutos. Não era um silêncio confortável entre pessoas que se amam, nem era tampouco um silêncio incomodo entre pessoas sem assunto. Era uma quietude desnecessária entre duas figuras que tinham muito o que falar, mas não conseguiam pôr em palavras. E o motivo era o pior que havia de ser: medo. O ator por medo de assumir o que realmente sente e o arquiteto por medo da rejeição. Outros fatores entravam em campo também, mas os reais adversários eram a covardia e o receio de estar em um jogo e perder por ser quem é. Não dá para negar que Felipe vive o jogo como vive a vida, mas com uma grande diferença: na presença de câmeras. E o mesmo não podia esquecer quem o assistia em casa. Já Daniel recebeu o script pronto e, como ator, ele não poderia fugir do personagem tão fácil assim. A facilidade de negar o que sentiam era natural e cômoda. E, de continuar na zona de conforto, eles não tinham medo.
A hora que chamaram os participantes para se reunir na sala, eventualmente, chegou, o que fez com que os dois tomassem caminhos diferentes. Prior se senta ao lado de Bianca e Flay enquanto Daniel se aproxima de Marcela. Não demorou muito para que o discurso de Tiago fizesse presença na sala. Felipe acabou só prestando atenção na última frase:
- Pela lógica, quem sai hoje é a Bianca.
A única coisa que passou pela cabeça do arquiteto foi: o Leifert confundiu o resultado. Mas não. Não houve errata. Bianca realmente foi eliminada. Ela realmente saiu da casa. E Prior realmente havia ficado. Era real. Era tudo real. Mas ainda parecia ilusório. O abraço com Babu. A comemoração. Era como sonho.
Felipe estava cansado. Uma exaustão que, diferentes das outras que havia sido presenteado na casa, não era por um motivo triste. Ficar era a resposta que precisava. E, agora, ele só precisava dormir e acordar dentro do BBB pra ter certeza de que não era um sonho. E foi isso que ele tentou fazer. Entrou no quarto e se deitou depois de ganhar mais um abraço de Babu. Fechou os olhos mas seu sono foi atrapalhado:
- Parabéns, Prior. – o sotaque era extremamente reconhecível. Não precisou de esforço para identificar quem era. Olhou para frente apenas para admirar o ator lhe parabenizando por alguma coisa.
- Obrigado, cara.
- Vai dormir agora? – pergunta o mais novo.
- Vou. To cansado.
Daniel concorda com a cabeça e apaga as luzes. Segue até a sua cama que ficava ao lado da de Prior e se deita. Não ousa olhar para o arquiteto e tornar o momento constrangedor – afinal, nem havia momento. Eles só iriam dormir como faziam todos os dias.
- Vai dormir também? – Prior quem questiona dessa vez.
Sua pergunta foi respondida com um som nasal.
- Boa noite, então.
- Boa noite, Prior.
A verdade é que o sulista estava longe de querer dormir. Mas gostava de deitar ali ao lado de Felipe e ouvir a respiração do mais velho quando o mesmo pegava no sono. Era uma das poucas sensações reconfortantes que tinha dentro da casa. Ele vira para o lado oposto da cama do arquiteto. Mas não demora a virar para a outra direção quando escuta o alento de Felipe indicar que o próprio já estava dormindo. Observa que o paulistano dormiu com um dos braços para fora da cama. Sem pensar, Daniel segura sua mão. E sem pensar, Prior aperta a mão de Daniel. O sulista se surpreende com o ato; nem era para Felipe perceber o que havia acontecido. Prior compartilhava da mesma surpresa, nunca imaginou acordar daquela maneira dentro da casa.
- Só falta me beijar para mudar essa nossa história hoje. – o arquiteto sussurra, arriscando o momento que tinham ali. Mas Felipe não poderia deixar passar. Ambos estavam fugindo do roteiro. Não custava nada prolongar essa ocasião.
O alivio percorre o corpo do mais velho quando Daniel apenas dá risada. Pelo menos, ele não havia soltado sua mão. Pedir por uma resposta em palavras já seria demais até para Prior que sempre queria mais do que podia ter. Se satisfez em ficar ali, em sua cama, segurando a mão de Daniel até o mais novo adormecer. E, ao contrário de todas as outras noites, quem ficou velando o sono do outro foi Felipe.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.