handporn.net
História Jardim Tempestuoso - Capítulo 04 - Violetas 4 - História escrita por MaevaWarm - Spirit Fanfics e Histórias
  1. Spirit Fanfics >
  2. Jardim Tempestuoso >
  3. Capítulo 04 - Violetas 4

História Jardim Tempestuoso - Capítulo 04 - Violetas 4


Escrita por: MaevaWarm

Notas do Autor


Joshua Sanders - Charlie Hunnam
Melanie Graham - Bianca Lawson
Charles Lewis (Charlie) - Hugh Jackman

Capítulo 4 - Capítulo 04 - Violetas 4


Sem muito o que fazer por estar de folga e não ter qualquer outro passatempo, além do trabalho, verifico a dispensa para anotar o que estava faltando e ir às compras. Após passar por cada cômodo da casa e acrescentar alguns itens de decoração na lista, deixo o pequeno escritório por último, sorrindo ao recordar das reclamações de Fred sobre minha casa de bonecas, já que os maiores cômodos eram a cozinha e meu quarto. Ele e Lola costumavam reclamar por eu ter transformado a maior suíte da planta original em dois quartos menores com um banheiro social entre eles.

Caminho direto até a estante que ficava ao lado da janela, passando os dedos pela lombada dos livros que estavam na primeira prateleira até chegar ao que possuía letras gregas gravadas em relevo. Desço o dedo pelas letras, parando ao sentir a segunda tau, da palavra Tártaros, sob minha digital. Pressiono a letra, baixando meus olhos para acompanhar uma parte do piso se mover e mostrar uma escada que dava acesso ao subsolo. Movo meu dedo, descendo agora para a omicron e a pressiono da mesma forma que fiz com a letra anterior. Logo as luzes nas laterais da escada se acendem e começo minha descida à parte subterrânea de minha casa.

Cada vez que minha irmã ou Lewis sugeriam que fizesse uma reforma para expandir a casa, adicionando o andar superior, eu recusava com a desculpa de não gostar muito de escadas, mas a verdade é que possuía um bunker logo abaixo da minha residência oficial, com a diferença de conter o tamanho total do terreno como perímetro. Meu segredo havia custado a venda de um pequeno negócio que havia iniciado quando tinha dezesseis anos, um empréstimo e vários serviços extras ao longo desses três anos em que estive na agência. Ainda levaria cerca de dois anos para concluí-lo, uma vez que não teria mais tanto tempo disponível para missões extras, mas já era possível armazenar algumas coisas ali. 

Anotado o que faltava em meu arsenal, retorno pela escada para o escritório bem a tempo de ouvir meu celular tocando. Me atrapalho um pouco para conseguir fechar a entrada e ir até meu quarto, praguejando ao não conseguir chegar antes do som cessar. Suspiro aliviada ao ver que era da joalheria e não demoro em retornar, acrescentando o estabelecimento em meu itinerário para pegar os anéis personalizados que havia encomendado, já que cada instrutor escolhia o modelo do acessório que identificaria os integrantes de todos os esquadrões pelos quais fosse responsável no futuro.

Diferente do que esperava, finalizo todas as compras em duas horas e logo estou novamente em casa, onde me distraio ao guardar tudo em seus lugares. Reviro os olhos ao ver uma mensagem de Lewis em meu telefone que consistia em uma ordem para almoçar no horário correto.

Havia considerado buscar alguma ajuda psicológica e até agendei uma consulta com uma nutricionista no mês anterior, pois o cuidado de Fred já me incomodava há certo tempo. Porém acabei não indo, uma vez que era preferível ter seus constantes avisos a falar sobre a morte de meus companheiros com algum estranho.

Enquanto pensava sobre ajuda profissional, uma nova mensagem chegou. Embora o conteúdo fosse semelhante, dessa vez o destinatário era Edgar.

Meus pensamentos agora seguiam para a postura indiferente do Weller sobre a garrafa de tequila que mantinha em minha sala e suas motivações ocultas. Não era o tipo de coisa permitida na agência, mas eu tinha certeza que, de certa forma, era seu jeito de tentar cuidar de mim. Afinal, nenhum de nós três sabia exatamente como demonstrar afeto.

Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos e a melancolia incômoda que sempre os acompanhava, decidida a sair de casa e comer em qualquer lugar. Faço uma breve careta assim que fecho a porta de entrada, por perceber que não tinha pedido o carro de Fred emprestado para usar durante minha folga, já que ele não me deixava chegar perto da moto dele. Suspiro ao encarar a rua, escolhendo caminhar até o restaurante que localizava-se no final desta por não querer pedir comida pelo telefone.

Poderia recorrer a ajuda de meu pai para comprar algum veículo, entretanto a lembrança do ultimato de minha mãe logo surge em minha mente junto com o orgulho em meu coração. Era preferível a opção do exercício não planejado à ouvir minha mãe falando sobre o péssimo pagamento de um policial e o quanto um marido com posses seria a melhor opção.

Minha atenção é desviada de minha situação por sentir que estava sendo seguida enquanto andava. Tento escutar os sons ao meu redor, procurando algo anormal para justificar a sensação de alerta. Sem encontrar nada incomum, relaxo ao adentrar o estabelecimento e seguir até uma mesa próxima à janela. 

Arrependo-me de baixar a guarda assim que a figura alta e loira surge diante de mim e senta na cadeira, oposta ao meu assento na mesa, no mesmo segundo em que o garçom se afasta para providenciar meu pedido.

— Doce Violet. — A voz arrastada e rouca devido ao cigarro quebra o silêncio e meus olhos analisam as feições do homem. — Foi difícil encontrar você assim: sozinha. — Desvio meu olhar da covinha quase imperceptível no canto de seu sorriso para encarar os dedos calejados que quase encostam em meu queixo. — Não seja tímida. Você se tornou muito preciosa desde nosso último encontro. — Afasto a cabeça para trás, evitando seu toque. Percebo um traço de irritação tomar seu rosto, mas logo a serenidade retorna e sua mão desce para pegar o cardápio próximo ao meu antebraço. — Narcisa é igual a você, mas não tem seu calor.

— Sem enrolação, Sanders. — Corto sua conversa fiada e cruzo os braços, observando quando ele afasta o fio loiro que cai em sua testa para retorná-lo ao penteado cuidadosamente escovado para trás. — O que minha irmã tem com suas loucuras? E o que diabos quer de mim? Sei que você não está podendo passar muito tempo visível e só não te prendo agora por ter certeza de que sou minoria. — Aperto levemente meus dedos, sabendo que logo passaria mal por ele pegar um cigarro do bolso de sua jaqueta de couro. — Não suporto sua presença, você não suporta a minha e um quer a cabeça do outro, de preferência bem longe do corpo, então seja rápido e nos poupe de um tiroteio desnecessário.

— Quem disse que quero sua cabeça? — Arqueio a sobrancelha ao ouvir suas palavras, bufando quando o cigarro é aceso. — Perdoe-me por ter deixado uma má impressão. — Viro o rosto para não receber a fumaça que ele sopra em direção à minha face. — Sua irmã não me interessa no momento, foi apenas um engano pela aparência. — Ainda que tivesse notado que a fumaça me incomodava, Joshua não moveu sua cabeça um milímetro sequer para evitar que eu fosse atingida. — Ela não tem sua impaciência, o que tira a diversão. — Assim que encerra a explicação, que não me satisfaz e nem tranquiliza, Joshua apaga o cigarro. Sua postura relaxada me irrita. — Não prestei atenção em você de primeira, já que sua fama como ratinho de estimação é mais conhecida do que pensa.  Então você me causou um prejuízo considerável e um tempo atrás das grades. — Sanders se aproxima da mesa mais uma vez e segura meu queixo com firmeza, puxando meu maxilar para me fazer olhar em seus olhos novamente. O tom de azul que me encara faz com que minha mente vacile por um momento fugaz. — Não quero sua cabeça. Quero você. Com um talento tão grande ao meu lado, meus objetivos estariam mais perto de serem atingidos. Posso esquecer a dor de cabeça que me deu e te promover de ratinho de estimação para gatinha mimada ou posso fazer com que a morte do seus amigos seja só as boas-vindas ao inferno. — Ergo uma das mãos e seguro seu pulso, afastando seu toque de minha pele e me livrando de seu aperto. — Não gosto de repetir minhas palavras, mas quero você. — Mais uma vez sua mão vai até o bolso de sua jaqueta e, ao contrário de minutos atrás, ele retira uma carta joker de baralho de dentro e me entrega. — Sou um homem paciente. Quando decidir me escolher, basta ir até o porto e entregar essa carta a um dos despachantes.

Antes que eu negasse sua proposta ridícula, ele levanta e sai do restaurante, deixando a carta, que parecia pesar uma tonelada, em minhas mãos. Perco a pouca fome que tinha, porém continuo sentada sem saber o que deveria fazer.

Esboço um sorriso ao garçom quando ele me traz o bife com batatas que pedi, conversando um pouco sobre a saúde da avó dele para passar o tempo, aproveitando que poucas pessoas estavam frequentando o lugar naquele horário.

Desde a noite anterior havia o sentimento de irritação me dominando, especialmente após perceber que vinha fugindo de todas as situações que se apresentavam. Em quase dois meses minha vida parecia ter mudado por completo e eu não conseguia acompanhar o ritmo. A sensação que sempre ficava era que tudo estava acelerado, os demais estavam confortáveis e adaptados à velocidade dos acontecimentos e eu, embora corresse muito, ainda seguia atrasada. 

A carta de baralho sobre a mesa apenas evidencia a mistura de sentimentos, trazendo à tona uma mágoa irracional junto ao ódio por tudo e todos. A pressão em meu peito, que parecia ser minha nova companhia nas últimas semanas, surge repentinamente e, sem muitas alternativas, deixo algumas notas sobre a mesa antes de enfiar a carta de qualquer jeito no bolso de minha calça e sair dali sem qualquer destino em mente.

Meus passos me levam até a praça onde ocorriam os festivais das datas comemorativas, que ficava a uma distância considerável do meu bairro, e os brinquedos fixos chamam minha atenção. Não havia meios de eu libertar minhas emoções ao ir na gangorra como na infância, já que eram necessárias duas pessoas e Lola não estava disponível no momento, então apenas segui até os balanços, onde sentei em um e movimentei meus pés levemente para balançar de forma suave.

Meu olhar distraído se fixa em uma garotinha que descia no escorregador e tinha a presença do pai ao lado do brinquedo. De alguma forma, meus pensamentos se tornam inseguros ao perceber que eu era nova demais pra liderar uma equipe. Talvez Hollie, Dean e eu não estivéssemos prontos ainda. Talvez nossas experiências ainda não fossem o suficiente para eliminar nossa própria impaciência, quanto mais a de pirralhos três ou quatro anos mais novos do que nós. Nós tínhamos exatamente esse tempo de trabalho na agência, diferente de Fred, Ian, Damon e Melanie. Eles tinham mais de uma década de experiências em equipe, dupla e solo.

Um sorriso amargo surge espontaneamente em meus lábios ao fazer uma comparação entre a garotinha com o pai e minha relação com Fred. Fazia sentido o fato de somente metade dos pirralhos precisar ser aprovada. Eu estava descendo em uma nova aventura, assim como aquela garotinha fazia no escorregador, enquanto Fred observava e estendia as mãos ao menor sinal de que eu me machucaria, como o homem fazia com a filha.

Só agora conseguia ver que minha equipe, da Hollie e do Dean não estavam contadas como aprovadas. Eles já esperavam nosso fracasso e deixaram Fred, Ian e Damon como nossas babás. Talvez por isso a equipe de Melanie tenha certo destaque. Ela não precisava se preocupar com mais de uma equipe.

Mais uma vez meus olhos ardem por causa das lágrimas que queriam surgir. Jeff, meu nerd preferido, seria o mais indicado para liderar uma equipe agora. Possivelmente Melanie receberia a função de ser a babá dele. Balanço a cabeça quando a suposição é invadida pelas lembranças de quando ele me entregou uma adaga antes de descarregar sua arma, derrubar quatro imbecis e tomar um tiro na barriga. Mesmo que eu tenha conseguido usar sua própria adaga para atingir a pessoa que atirou nele, a bala havia acertado seu fígado e não houve tempo para o socorro.

"— Um tiro na barriga. Um belo dia pra esquecer o colete e morrer como um idiota. Pelo menos vou levar alguns comigo e minha última visão vai ser uma deusa como você. Se não tivesse sangue na minha boca, até pediria um beijinho de despedida, mas prefiro usar meu último desejo para pedir que você acabe com esses imbecis por nós. Amo todos vocês, V. Estou feliz por morrer pela minha família rastejante."

Suas últimas palavras ecoam e tudo se torna vermelho. Fico quieta, esperando que meus batimentos acalmem e minha respiração tranquilize. A carta em meu bolso pesa ainda mais e o sentimento de traição parece esticar suas garras para apertar meu coração. Eu não poderia atender ao responsável por me tirar as pessoas que aprendi a amar.

Começava a suspeitar que Fred me monitorava à distância, já que o toque de meu celular me tirou da confusão de sentimentos e pensamentos. Não atendo a chamada, usando o toque da antiga canção de ninar espanhola para me acalmar por completo. De alguma forma, Fred conseguiu descobrir que havia mudado da Espanha para Eastmond quando tinha oito anos e usava coisas que me traziam memórias da infância para melhorar meu humor, esse último que havia se tornado quase uma montanha russa de tantas mudanças bruscas que sofria.

"— O que está fazendo, ratinha?" — A voz irritada e um tanto ansiosa surge assim que a segunda chamada é atendida.

— Vendo uma garotinha descendo no escorregador enquanto me balanço na praça. — Respondo de forma geral, mas meu tom de voz não sai tão neutro quanto esperava, então logo mudo de assunto para que ele não faça perguntas que não quero responder. — Foi trabalhar de carro? Esqueci de pedir emprestado durante meus preciosos dias de folga e não estou com vontade de gastar dinheiro com táxi para visitar o Nath.

"— As chaves estão no aparador da sua sala. Não viu?" — Reviro os olhos por perceber que andei a pé sem necessidade, mas não faço qualquer comentário. "— Por falar na sua folga, Edgar liberou a gente por essa semana inteira. Estou incluso dessa vez!" — Sua risada baixa consegue me fazer sorrir e espero por maiores explicações. "— Ele vai fazer algumas alterações nas equipes na hora de mandar pra campo e eles vão com alguns agentes que voltaram de férias por esses dias. Nada muito preocupante."

— Já vai começar testando a adaptabilidade deles? — Reflito um pouco sobre a situação da agência e percebo que é a melhor solução. — Duas semanas de folga? Qual a pegadinha? Férias adiantadas ou desconto no salário? — Não consigo evitar desconfiar de tanta generosidade.

"— Ratinha, quando eu chegar conversamos melhor sobre isso, mas você é esperta o suficiente pra perceber que ele quer o máximo de nós descansados. Até mesmo os pirralhos." — Suspiro ao entender o que ele quer dizer, afinal nosso retorno dessas folgas coincide com o período do próximo ataque.

— Bem, se nossos parentes passarem, Georgina e Lis podem ficar na minha casa e Tony e Oliver ficam na sua. Vou ficar mais tranquila com eles perto de nós.

"— Posso pedir isso ao Edgar, mas ele quer que os pirralhos fiquem na base pelos próximos seis meses." — Reviro os olhos, reconhecendo a necessidade da medida tomada por Edgar, mas sem deixar de querer os meus pirralhos próximos a mim. Levanto do balanço e inicio a caminhada até minha casa. "— Se ele autorizar, é melhor deixar as meninas na minha casa. Elas já te odeiam sem motivo, não vamos piorar a situação dando os motivos."

— Vá se ferrar! — Minha voz sobe dois tons ao respondê-lo e logo volta ao normal. — Teu namoradinho vai realmente abrir mão da sua companhia por duas semanas? — Contenho a risada ao provocá-lo, lembrando que deveria cuidar do meu jardim ao ver algumas rosas um pouco murchas na janela de uma casa qualquer.

"— Ha. Ha. Ha. Sua carreira de comediante é tão impressionante quanto suas habilidades culinárias." — As emoções negativas vão sendo esquecidas à medida em que ele rebate minhas provocações com sua ironia. "— Só tenho que completar as aulas e estou tão liberado quanto os pirralhos. Talvez na metade da semana você vai ter minha companhia em tempo integral para satisfazer todas as suas vontades." — Reviro os olhos mais uma vez.

— Fazendo todas as minhas vontades ou me monitorando como se eu fosse uma espécie bizarra? — Sem lhe dar tempo de responder, suspiro e admito que havia algo errado. — Freddie, talvez eu esteja precisando de ajuda…

"— Que tipo de ajuda, ratinha? Está com medo de quê? Em que praça está? Se estiver em perigo, pega a merda de um táxi e te dou o dinheiro depois." — Suspiro novamente ao ser metralhada por perguntas, sabendo que era apenas pela rara forma carinhosa que o chamei.

— Primeiro, acalme-se! — Interrompo suas palavras e aguardo que ele silencie e sua respiração não fique tão ofegante. — Só estava pensando e acho que devemos parar de fingir que está tudo bem, quando não está. Quase fiquei sem ar na praça, apenas porque ver uma criança brincando com o pai me trouxe lembranças. — Aceno para o primeiro vizinho que reconheço ao chegar em meu bairro. — Não quero morrer sufocada por não saber lidar com memórias e nem quero pensar que sou asmática, depois de tantos anos debochando da Lola por ela ser e eu não.

"— Vou chamar o Charlie pra jantar e vocês conversam. Ele não pode me atender, mas deve poder fazer algo por você."

— Seu irmão é médico? Por que diabos eu não sabia disso? Poderia ter ajudado nas muitas vezes que você precisou tomar pontos e aqueles imbecis demoraram a te atender! — Minha irritação volta de forma intensa, mais do que a situação permitia, sendo reforçada quando lembro que só soube da existência de Charles e Georgina quatro meses atrás. — O que mais eu não sei, Lewis?

"— Ele é psicólogo, ratinha. Não adiantaria nada saber a profissão dele antes." — Fico em silêncio, sem vontade de continuar a conversa e o suspiro do outro lado da linha é audível. "— Charlie pode indicar algum amigo dele pra cuidar de você, se ele não puder fazer muita coisa. Sobre o que você não sabe, não sei dizer… Talvez que faço terapia?"

Acabo tossindo ao ouvir a última parte, tentando associar a imagem do homem rústico e irônico com a sala de um psicólogo. Trato de afastar o pensamento quando sinto uma pontada na cabeça, ficando aliviada ao ver minha casa próxima.

— Informação pesada demais para o meu cérebro limitado. Vai trabalhar e não tenta ferrar minha mente. Antes que pergunte, estou entrando na minha sala de estar neste exato momento e vou me jogar no sofá para fazer muitos nadas. — Retiro a carta do bolso de minha calça, caminhando até o pequeno escritório para jogá-la de qualquer jeito na gaveta da mesa de trabalho. Sigo de volta para a sala, esparramando-me no sofá, ainda com o celular encostado em minha orelha. — Avise seu irmão para não esperar muita coisa de mim. Não vou me preparar para recebê-lo, muito menos colocar algum alarme para acordar antes de vocês chegarem. Você tem uma chave daqui e o convidado é seu, portanto faça as honras. Até mais tarde.

Sorrio ao escutar o resmungo incompreensível que ele solta, encerrando a chamada para logo em seguida deixar o aparelho sobre a mesa de centro. Fecho os olhos, concentrando-me em controlar minha respiração para relaxar meu corpo e adormecer sem pensar em qualquer outro problema.

Dessa vez sou levada ao mundo dos sonhos. Reconheço a casa que Fred havia me levado para caçar, mas o clima estava frio. Portas e janelas estavam abertas e nevava do lado de fora, o que resultava em muita neve no chão. Por algum motivo não consigo chegar até a porta da frente e nem nas duas janelas da sala. A lareira não acende de forma alguma, provavelmente porque a lenha estava um pouco úmida pela fina camada de gelo que a cobria. Por não haver meios de aquecer a casa, direciono meus passos até o quarto que havia ocupado quando estive lá, entrando embaixo das cobertas com pressa. A temperatura no quarto diminui e o ranger da porta chama minha atenção. Ao olhar na direção do som, franzo o cenho devido à imagem de Fred e Joshua lado a lado. As diferenças e semelhanças entre ambos eram arrepiantes.

Talvez a confusão de pensamentos estivesse afetando minha percepção, porém alguns traços faciais deles se misturam. Os olhos, até mesmo a cor e olheiras, eram idênticos; os narizes também possuíam o mesmo formato, embora a ponta do que pertencia a Joshua fosse levemente mais fina; a testa, o formato do rosto e o cavanhaque eram extremamente iguais; os cabelos pareciam ter o mesmo cumprimento, mudando apenas a cor e o penteado (Fred tinha fios mais escuros e os penteava de qualquer jeito); ainda que o corpo de ambos aparentasse ser muito parecido, Joshua era mais alto cerca de oito centímetros. Se fosse a primeira vez que os via, poderia até mesmo dizer que eram irmãos. 

Abro a boca para expulsar Joshua, mas paraliso quando ambos estendem as mãos ao mesmo tempo. Fred mostra um vasinho com violetas danificadas e algumas estavam com poucas pétalas. As mãos de Joshua arrancam um grito meu, já que elas seguravam uma mão ensanguentada. Mão essa que não souber dizer se era a minha ou a de Lola, já que tinha apenas a pulseira de nossa família, que estava firmemente agarrada, entre os dedos de unhas sujas.

Acordo assustada, levando um bom tempo para entender que ainda estava na sala de minha casa, porém havia uma coberta sobre meu corpo e os passos apressados vindos da cozinha indicavam que Fred já havia chegado.

— O que aconteceu, ratinha?

Ao lado de Fred estava um homem mais alto do que ele, de cabelos escuros e bem cortados, barba aparada e olhos castanhos. Algumas marcas de expressões eram perceptíveis a cada mudança em seu rosto. Provavelmente o homem de aparência tão rústica quanto Fred, porém um pouco mais elegante, era Charles Lewis. Meu olhar desce um pouco e não consigo evitar o sorriso debochado, ao perceber que a diferença entre os dois ficava ainda maior quando se comparava suas vestes. Enquanto Fred usava uma camiseta cinza simples, o homem ao seu lado vestia uma camisa preta de botões com as mangas dobradas até os cotovelos.

— Parece que você tem uma grande admiração pelo meu irmãozinho, mas está meio constrangedor te ver babando nele. A voz mais grave que a de Fred e com um leve sotaque me surpreende, tirando-me do transe que a imagem dos dois agora e a de meu pesadelo me colocou. Afasto a coberta de meu corpo, dobrando-a antes de deixar sobre o sofá assim que me levanto.

— Não estou babando no seu irmão! Apenas tive um pesadelo e estava tentando entender porquê vocês estariam na minha casa. — Levo as mãos até meu cabelo, segurando os longos fios negros para prender meus cachos em um coque frouxo enquanto caminho até a cozinha. — A propósito, quem é você mesmo?

— Charles Lewis, irmão mais velho do seu… O que meu irmãozinho é seu mesmo?  — Encho um copo com água e o levo aos lábios enquanto ele se apresenta. Aperto a mão que me é estendida, dando risada antes de respondê-lo.

— Dependendo do horário, seu irmão pode ser considerado minha babá, cozinheiro particular, dupla, salvador, vizinho, amigo… Não é algo definido. — Ainda rindo, solto sua mão e apoio o quadril na ilha contida ali. — Violet Storm, mas isso você já deve saber. Minha mente ainda está lenta, então vou adiantar minha parte e você vai processando durante o jantar. — Bebo mais um gole de água, baixando a cabeça para encarar o copo em minhas mãos e evitar, principalmente, o olhar de Fred. — Já deve saber sobre o que aconteceu com nosso esquadrão, então vamos pular essa parte e focar no fato de que não sinto fome desde esse dia, onde seu irmãozinho banca a babá e fica me obrigando a comer. — Para não me sentir tão nervosa com o assunto, ergo a cabeça para tentar irritar o Lewis mais novo e tirar meu foco de minhas emoções. — Embora eu suspeite que ele faça isso para continuar admirando minhas curvas.

Sinto um breve ardor em minha coxa esquerda, rindo ainda mais com o fato de Fred ter acertado o local com um pano de prato.

— Não consigo dormir sozinha em casa também. É quando ele bate ponto na função amigo e dorme em um dos quartos de hóspedes aqui ou eu durmo no quarto que ele separou pra mim na casa dele. Habilidades culinárias nunca tive, então esquece… — Aceno com a mão em descaso, voltando a encarar o copo ao entrar na parte mais complicada. — Além dos pesadelos, agora tenho falta de ar, dores no peito e pontadas na cabeça. Meu humor está oscilando além do normal e está cada vez mais fácil me deixar irritada. Não quero começar a ter receios sem motivos, já que isso pode ser perigoso na minha profissão.

O silêncio se instala no cômodo e uma barra de chocolate é colocada em minha mão livre. Levanto a cabeça para encontrar os olhos azuis de Fred me encarando com certa censura.

— Quando pergunto como você está e o que está fazendo, esse tipo de sentimento é pra ser dito. Não precisa sofrer sozinha, ratinha.

— Infelizmente não vou poder te ajudar diretamente, Violet. — Charles se pronuncia ao notar que eu não falaria mais nada. — Como é algo que envolve meu irmão, não conseguiria ser imparcial. Mas tenho uma amiga que pode ajudar você. Vou te enviar o número dela depois, claro que vou precisar do seu pra isso.

Sorrio em agradecimento, me afastando de ambos para pegar meu celular e receber o contato da amiga de Charles. Reviro os olhos ao ler o sobrenome, me questionando se era realmente uma boa ideia conversar com uma parente de Ian. Deixo o pensamento de lado, desfrutando do jantar e dos conselhos do Lewis mais velho para conseguir lidar com minhas emoções. Não falo sobre o pesadelo que tive, me surpreendendo ao descobrir que os irmãos não se davam muito bem e Charles não aprovava a escolha da filha em seguir os passos do tio.

No final da noite, havia conseguido uma consulta com uma psicóloga para a semana seguinte e me tornado a babá de uma garota com quase a minha idade e que me detestava, em partes pela adoração que tinha pelo tio.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...