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História Jardim Tempestuoso - Capítulo 11 - Narcisos 4 - História escrita por MaevaWarm - Spirit Fanfics e Histórias
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História Jardim Tempestuoso - Capítulo 11 - Narcisos 4


Escrita por: MaevaWarm

Notas do Autor


Primeiramente, perdão a demora. Muitas coisas aconteceram ao longo desse ano, entre elas crises e a descoberta do TEA, e precisei reler a fanfic como espectadora para finalizar um capítulo que estava pela metade há 14 meses. Posteriormente pretendo revisar os capítulos e colocar os personagens que faltarem nas notas iniciais. No mais, aproveitem a leitura!

Capítulo não revisado. Perdão por qualquer erro.

Capítulo 11 - Capítulo 11 - Narcisos 4


— Papa, ainda havia uma pauta importante a ser debatida na reunião! — Reclamo ao subir as escadas que davam acesso ao seu escritório. — Abuelito não pode querer arrastar esse assunto ainda mais.

Minhas mãos vão aos meus cabelos, bagunçando o coque que, até então, mantinha-se perfeitamente alinhado.

Perder o apoio garantido de tio Steve fazia-me ter de pensar em melhores argumentos e, por enquanto, recorreria à insistência.

— Você não precisa se envolver nisso, Lola. Seu pai, eu e Tyler estaremos lidando com a questão de Roger. Agora cale-se e aceite o que foi decidido. — Minha atenção se volta para minha mãe, ainda irritada desde nossa última discussão. — Sua escolha de marido já nos deu dor de cabeça o suficiente.

— ¡Por Dios! — Sem querer, acabo exaltando meu tom de voz e perdendo o controle que lutava sempre para manter. — Por que é tão difícil entender que Hector era a melhor opção para Nathan?

O grito de Violet interrompe minha discussão com a mama, puxando para ela o motivo de minha raiva. Tentando calá-la, pego o vaso de margaridas na mesinha de centro e jogo em direção à Violet.

Suas acusações tem o efeito de água gelada caindo sobre meu corpo, dissipando toda irritação ao perceber o quanto aquela situação machucou minha irmã e nos afastou.

Assim que ela sai, após descobrir que seu noivo agora é seu antigo parceiro, um silêncio incômodo preencheu o escritório.

— Por que ele, papa? Minha decisão foi tão ruim assim?

Questiono sem forças, caminhando até o sofá em que Lewis estava sentado e sentei-me ao seu lado.

— Sim, mi ciclone. — Meu pai suspira e vai até a poltrona que ficava atrás de sua mesa, sentando no estofado macio e dando espaço para que minha mãe sente em seu colo. — Mi ventania é um pouco desatenta e inexperiente em certos assuntos, mas é cristalino para os demais o quanto ela é apaixonada por Fred. Da mesma forma que ele é por sua irmã. — Encaro o homem ao meu lado, duvidando muito que ele fosse a melhor escolha para Violet. — Qualquer outro homem que escolhêssemos para ela a faria infeliz por todos os dias de sua vida, já que o coração dela possui um dono.

Mama iria dizer algo, porém foi interrompida por Jasmine, que abriu a porta do escritório de supetão e correu até a mesa de trabalho.

— Papa, mama. É a Violet. Ela saiu disparada no Ligeirinho. Foi na direção da floresta.

Meus pais, Lewis e eu levantamos rapidamente e caminhamos em passos apressados para os fundos da fazenda. Meu saltos faziam um barulho irritante e não eram os calçados ideais para o terreno irregular ali.

Meu braço esquerdo foi abruptamente puxado, fazendo com que eu desse dois passos para trás e me desequilibrasse, não indo ao chão graças às mãos grandes e calejadas que seguraram-me.

— Escute bem o que vou dizer, Storm, pois só vou falar uma vez. — A voz de Lewis era baixa e mortal em meu ouvido. — Se minha ratinha ganhar um mísero arranhão pela sua brincadeirinha de dona do mundo, garanto à você que amanhã mesmo seu filho vai estar nos braços do pai dele.

— Não pode garantir isso, Lewis. Ninguém sabe quem é o pai de Nathan.

Rebato sua ameaça, ainda que não me sentisse segura quanto aquela afirmação. Como resposta, uma risada rouca arrepia todos os pelos de meu corpo.

— Eu não contaria com isso. — A respiração quente e acelerada em minha orelha, junto com a convicção em sua voz me deixa mais nervosa do que já estava. — Você sabe o motivo para eu odiar Violet quando a conheci? — Sem entender onde ele pretendia chegar com aquelas perguntas e preocupada com o estado de minha irmã, balanço a cabeça em negativa. — Ela era igualzinha a uma certa morena vadia que conheci anos antes, em um certo bar no subúrbio de Seaville. Talvez você não vá lembrar, se estivesse no seu lugar também faria questão de não fazer, mas conheço cada curva desse pedaço de carne que você chama de corpo.

— O que está insinuando, Lewis? Vá direto ao ponto. Vida pode estar em perigo!

Sussurro com urgência, remexendo-me para soltar meus braços de suas mãos que começam a marcar minha pele.

— Quase onze anos atrás, uma adolescentezinha bancava a prostituta em um bar no subúrbio de Seaville. Sua família ficaria chocada ao saber que você concebeu seu tão precioso herdeiro depois de dançar nua em mesas imundas, além de abrir as pernas para qualquer um, depois de fumar um ou dois baseados.

— Você não tem como provar nada disso!

Afasto meu rosto do dele, buscando controlar e não deixar transparecer o medo que sentia. Estapeio sua mão quando solta meu braço para pegar uma mecha de meu cabelo, solta do apertado coque quando baguncei meus fios castanhos.

— Tive nojo de Violet quando a conheci, já que não sabia seu nome. Mas bastou ver as duas juntas para entender que não eram a mesma pessoa. Não foi difícil conseguir os fios de cabelo do garoto. O suficiente para fazer alguns testes.

— Que direito você acha que tem para se meter na minha vida e na do meu filho?

Minha voz ficou levemente mais alterada, uma vez que a raiva sobressaltou o medo de perder meu filho.

— O direito de sanar minha dúvida sobre a paternidade do garoto. — Seus dedos ásperos seguraram meu queixo com firmeza, puxando-me para perto de seu rosto novamente. — Afinal, tirando sua boca imunda, deu pra aproveitar bastante o resto.

Meus olhos se arregalam com a revelação e custo um pouco para conseguir verbalizar a pergunta que me aterroriza.

— Você é o pai de Nathan?

— Você acha que eu seria bastardo o suficiente para deixar um filho meu ser criado por uma puta de quinta? Não. Eu não sou o pai dele. Porém conheço quem é e mantemos contato até hoje. O exame de DNA está bem seguro comigo e pode ser enviado a qualquer momento, junto com o garoto. Então é bom você colocar todas as rezas que aprendeu em prática. — Soltando meu queixo e deixando dois tapinhas um pouco dolorosos em minha bochecha, Lewis me solta. — É claro que se minha ratinha não quiser mais olhar na minha cara, depois da merda que você fez, mato toda sua preciosa família.

Demoro um pouco para sair do estado de torpor que aquelas ameaças me colocaram. Penso em minha irmã e no quanto ela deveria estar se sentindo traída e abandonada. Ela era minha prioridade agora. A paternidade de Nathan já me causou problemas mais do que suficientes.

Retiro os sapatos de salto e sigo descalça até os fundos, observando Lewis comandando os novos agentes. Minha atenção é atraída por alguns Storm que se aproximam.

— Lola, o que devemos fazer? — Lótus questiona ao tomar a frente do pequeno grupo. — A floresta, em si, não apresenta nenhum perigo para qualquer um de nós, mas o estado em que Violet passou por aqui é preocupante.

— E temos uma tempestade se aproximando. — Encaro Protea, que segurava as mãos de Jasmine e Susan. — Os cavalos vão ficar agitados.

— Já sabem o que fazer. Peguem seus cavalos e sigam na direção em que Violet seguiu. Usem a formação para cercá-la.

Silencio minhas ordens quando vejo Lis II, Oliver e Tony se aproximando de onde nós estávamos. Arqueio a sobrancelha ao tentar entender o motivo que os fez preferir ficar entre estranhos.

— Mana, nós vamos seguir com os agentes.

Tony declara, mas não olha em meus olhos. Direciono meu olhar para Oliver, buscando alguma explicação, porém ele apenas mexeu os ombros. Lis II é a única que parece contente com algo.

— Algum motivo em especial para não seguir minhas ordens?

— Tirando o fato de que conhecemos a Violet melhor do que você? Não, não. Nenhum.

Contenho-me para não discutir mais uma vez, seja lá com quem fosse, e balanço a cabeça em concordância. Dois grupos de busca seriam melhores do que um e, com a proximidade da tempestade, o cavalo de Violet poderia ficar animado para correr por entre as árvores, como sempre fazemos.

— E qual foi a conclusão que chegaram?

— Vamos seguir por um quilômetro floresta adentro, só que pelo lado direito.

— Ela entrou pelo esquerdo, Lis II. Não faz sentido ir pelo direito. — Sem querer perder mais tempo com eles, caminho em direção aos estábulos para pegar Caronte. — Seguir por dois quilômetros à esquerda é mais viável do que um pela direita.

— Concordo. Se fosse qualquer outra pessoa. Violet quer ficar sozinha, então ela ficaria distante o suficiente para não ser ouvida e seguiria na direção contrária em que foi vista.

— E sua lógica é baseada em quê, exatamente? — Ajusto a sela em meu cavalo tão escuro quanto a noite, não dando atenção ao que ela fala. Respiro fundo ao ouvir o estalar de sua língua no céu da boca. — Isso não faz sentido, Lis II. Conheço minha irmã e sei que ela prefere correr por aquele lado da floresta, já que a cachoeira fica há dois quilômetros e meio.

— E eu passei as últimas semanas sendo treinada exaustivamente por ela. Violet não é mais aquela garota chata que parecia sua versão mais livre.

Encerrando a conversa, saio galopando do estábulo e lidero as buscas pela rota que tracei. O silêncio mantido entre as árvores era quebrado por uma ou outra coruja, entretanto, nossos ouvidos eram treinados o suficiente para identificarmos o pisar dos cascos por entre as folhas.

Seguro a rédea com um pouco mais de firmeza, fazendo Caronte recuar para que eu analisasse o amassado de alguns galhos finos de raízes. Nenhum deles aparentava ter sido quebrado por algum de nossos cavalos, o que me faz assoviar duas vezes seguidas, um sinal para reagruparmos e dar continuidade nas buscas juntos.

Antes que chegássemos até a cachoeira, onde tinha quase certeza de que encontraria Violet, o som estridente de um alarme soou. Olho para os Storm próximos a mim em uma tentativa de definir se aquilo significava perigo ou encerramento de nossas brincadeiras.

— Vamos voltar.

Sussurro e torno a cavalgar, dessa vez indo com mais velocidade, para chegar logo na fazenda.

O som de risos me surpreende, assim como encontrar meus pais, avô e tios sentados nas mesas que foram colocadas para o jantar. Os novatos da agência haviam juntado algumas mesas, formando uma maior, e eram a fonte dos risos que ouvi.

Depois de deixar Caronte nos estábulos, me aproximo da mesa em que as tríades estavam sentados, sem saber exatamente o que questionar.

— ¡Mi ciclone! — Papa me cumprimenta e entrega uma taça com vinho. — Os garotos são realmente bons. Encontraram e trouxeram sua irmã em menos tempo do que esperávamos.

— Isso foi um teste? — Pergunto levemente irritada, sorvendo um gole do vinho para distrair-me.

— Claro! Tyler e eu pensamos em levar vocês duas ao limite e ver como todos se sairiam. — O sorriso de papa era contagiante, evidenciando ainda mais sua animação, mas nem isso fora suficiente para me alegrar. — Você lidera as empresas maravilhosamente, mi amor. Falta apenas conhecer melhor sua própria família. Coisa que os agentes fizeram muito bem e usaram isso a favor deles. 

— Onde está Violet?

— Está no quarto dela, conversando com o noivo. — Mama responde, tão animada quanto papa. — É melhor ir para o seu, cariño. Nuestro regalo acordou há pouco e Hector chegou agora. Sua família a espera.

A simples menção de Lewis e Nathan na mesma sentença faz com que meu corpo trema um pouco. Ignorando qualquer sentimento ruim, retorno para a fazenda após fazer um generoso prato com muitas das variedades de comida que estavam servidas. Pego os sapatos que havia deixado no corredor e subo as escadas, parando na primeira porta à direita no andar dos quartos.

— Por que eu tive que vir pra cá? — Ouvi a voz de meu filho, ainda um pouco sonolenta. — Vocês não me querem mais?

Aperto a maçaneta, pronta para entrar e tirar qualquer dúvida do coração do pequeno, mas a risada masculina me paralisa.

— Não é nada disso, campeão. — Houve uma pausa entre as falas de Hector, o que deduzi ser por ele estar se ajeitando na cama. — Nós queríamos fazer uma surpresa pra você. A gente só esqueceu que isso afetaria outras pessoas.

— Então ainda vou morar com a mamãe?

Impulsionada pelo aperto que suas palavras causam em meu peito, abro a porta e sorrio para os dois homens deitados na cama, tendo o garotinho entre eles.

— Até quando eu estiver tão velhinha que precise ser carregada em seu colo, cariño.

Deposito o prato em cima da escrivaninha, seguindo para a cama, onde Hector me dá espaço para ficar entre ele e Nathan. Seguro a mão infantil, uma vez que ele estava aninhado no abraço de Narciso, e não demoro a sentir a mão de Hector em minha cintura.

— Sobre aquela outra surpresa, tudo certo? — Aceno positivamente para Narciso e ele chama a atenção do garotinho. — Além da sua mãe ter se casado com meu irmão e ele ser seu pai agora, ela pediu para ser minha madrinha na reunião com os anciões.

— Somos uma família, então?

Os olhos brilhantes de meu filho, em expectativa por uma concordância, fazem com que todo o estresse até ali tenha valido a pena.

— Sempre fomos, cariño. Só oficializamos isso.

— Então o papai vai ser seu cariño agora, certo?

— Não. Esse lugar é só seu.

Beijo os fios de tonalidade clara, sorrindo perante o bico que se forma em seus lábios finos.

— Mas abuelita também chama abuelito de cariño! Ela disse que quando eu crescesse e encontrasse minha flor, era pra chamar ela assim.

— Sua abuelita anda falando coisas demais. — Resmungo e me aconchego mais na cama, entrelaçando meus dedos aos de Nathan e sendo abraçada por completo por Hector. — Cariño, mesmo que Hector e Narciso ocupem um espaço muito grande em meu coração, ele é somente seu e, só por isso, é o único que chamarei assim.

— Isso quer dizer que não vou ter irmãos? Eu gostaria de ter um irmão e uma irmã.

Sua pergunta me pega desprevenida, afinal não havia conversado sobre esse detalhe com Hector. Viro a cabeça para a esquerda, encontrando o sorriso na face masculina, encorajando-me a confirmar. Volto a encarar os olhos sonolentos, sorrindo ao aproximar meus lábios de sua testa para deixar um beijo carinhoso.

— Um dia, mi amor. Um dia.

Em poucos minutos o garotinho está em um sono tranquilo e sinto o cansaço tomar todo meu corpo. Apesar de minha cama ser enorme, seria desconfortável ter os quatro dividindo o espaço.

— Eu vou indo. — Narciso quebra o silêncio e meus olhos vão até os castanhos dele. — Acompanhei Hector para verificar o pequeno, bem na hora que o alarme soou e ele acordou.

Solto a mão de Nathan para segurar a de Narciso e trazê-la aos lábios, beijando o dorso em agradecimento.

— Gracias. — Sussurro ao perceber que o homem às minhas costas também dormia. — Durma bem, querido. Boa noite.

— Boa noite. Madrinha.

Um sorriso genuíno toma meus lábios, bem como um calor agradável preenche meu peito ao ouvir o novo jeito que o rapaz me chama.

Com a ajuda de meu afilhado, ajeito meu filho em meus braços, bufando com os braços possessivos de Hector que apertam minha cintura. Demoro um pouco para cair no sono, com as palavras de Lewis rodando minha mente cada vez que estava quase me entregando ao mundo de Morfeu.

Sinto a agitação ao meu redor cada vez maior e meu sono é interrompido pelas tentativas de meu filho de sair de meus braços. De alguma forma, o menino havia conseguido mover-se na cama ao ponto de ficar entre Hector e eu.

— O que aconteceu, cariño?

Minha voz sai mais sonolenta do que esperava e tento levantar para que o mais novo tenha espaço para conseguir sair da cama, ao ouvir sua curta explicação sobre querer ir ao banheiro. Talvez pela agitação dele, assim que a porta anexa é fechada, a voz de Hector se faz presente.

— Quer alguma coisa pra comer? Tenho quase certeza que não comeu nada durante o jantar e posso aproveitar para pegar algo na cozinha. Acho que Narciso levou a bandeja que você trouxe.

Ainda que o ouvisse bem, meus olhos estavam fixos nos movimentos de meu… marido, enquanto ele lançava suas impressões e retirava a camisa e a calça do uniforme que vestia. Antes que eu pudesse responder, Nathan retorna do banheiro e deita mais uma vez ao meu lado, reparando no pai apenas quando percebe que não tinha minha atenção.

— Você e a mamãe não estão de pijama. É por que eu estou aqui?

Acabo rindo baixo, junto ao Storm mais velho, e logo beijo o topo da cabeça de meu filho, o envolvendo com meus braços em um abraço mais apertado.

— Não, cariño. As coisas só foram diferentes do que planejamos e esquecemos de trocar de roupa. Seu pai estava agora mesmo dizendo que percebeu que eu não comi. Enquanto ele vai na cozinha pegar biscoitos e leite para nós, eu vou trocar de roupa no banheiro, sim?

Apesar de não precisar, gostava de explicar a maioria de meus passos para o loirinho, pois assim ele já entendia desde cedo que todas as decisões do líder de nossa família deviam ter alguma intenção. O olhar espantado dos dois me causa certo desconforto e demoro um pouco para perceber que havia me referido a Hector como o pai de Nathan pela primeira vez em voz alta. Constrangida, levanto-me e pego uma camisola mais simples, seguindo para o banheiro sem demora.

A madrugada foi para explicar ao pequeno as mudanças que ocorreriam em nossas vidas a partir daquele casamento, mesmo que poucas coisas estivessem, de fato, definidas. Depois que Nathan adormeceu novamente, contei os acontecimentos do Solo para meu primo, sentindo meu peito apertar com a possibilidade de Lewis entrar em contato com o genitor de meu filho.

— Se era um teste, isso significa que Lewis blefou. Ele só queria te levar ao limite, Cissy. E parece que conseguiu.

A voz baixa de Hector soa melancólica e um pouco triste, me fazendo perceber que não havia apenas solidariedade e empatia em suas ações. Toda a situação com Violet me fez refletir e perceber que, assim como o parceiro de trabalho de minha irmã, Hector sempre esteve ao meu lado e um dos principais motivos para sua irmã caçula me odiar era o fato de eu fazer ele de idiota, como ela mesma fazia questão de dizer. Minha destra segue até o rosto masculino, acariciando suavemente a pele um pouco mais seca com o polegar.

— Você me ama, certo?

Os olhos verdes se desviam dos meus e o Storm segura minha mão para beijar a palma antes de deitar de barriga para cima e encarar o teto do quarto. Chego a pensar que havia ultrapassado algum limite devido ao silêncio prolongado do moreno, desistindo de continuar no assunto, contudo, a voz de Hector quebra o silêncio e suas palavras me desnorteiam por completo.

— À você, Cissy, apenas como irmão. Agora sobre Iolanda, sou louco por ela e torço para que, em algum momento, ela resolva aparecer novamente.

— O quê?

Minha voz sobe duas oitavas ao questionar o que meu primo queria dizer com aquilo, fazendo com que Nathan mexa-se, mas logo o menino retoma o sono tranquilo. Diferente de mim, que estava inquieta demais com os diversos significados que aquelas palavras poderiam ter. Mesmo que não o amasse além da fraternidade, não estava nem um pouco disposta a ser traída em um futuro próximo ou distante. A tensão era palpável no quarto e, depois do que pareceu ser uma eternidade, Hector se pronunciou mais uma vez, arrancando quase todo o ar de meus pulmões com sua confissão seguinte, ainda mais absurda do que a anterior.

— Lembra-se de quando ficou doente, no início do último ano da escola, e sentia que seu rendimento estava caindo, mesmo tendo notas excelentes? — Aceno lentamente em afirmação, recordando vagamente que foi o período em que as lacunas de minha memória começaram, bem como a fadiga e as constantes dores de cabeça. — Prometi que nunca falaria sobre isso, mas você está se perdendo novamente. Naquela época, foi a primeira vez que Iolanda surgiu. Não sei se lembra desse dia, provavelmente não, mas cheguei a te levar em um clínico que recomendou um acompanhamento psicológico, inicialmente, por parecer ser apenas estresse devido à pressão que ser a líder estava começando a te afetar. Descobrimos que a escolha da Violet em seguir a profissão dos nossos pais e até a fama deles te afetou antes mesmo de decidir que profissão seguir. Até que você foi piorando e te levei ao psiquiatra, onde Iolanda se apresentou oficialmente. Ela e April. Se não estivesse presente quando o médico diagnosticou o TDI, não acreditaria que você tivesse qualquer transtorno.

Levanto da cama com as palavras de Hector, pois, de alguma forma, a cena de um bar, como descrito pelo Lewis, surge diante de meus olhos e me enojo ao reconhecer que ele falou a verdade. Não era um blefe, entretanto, o homem com feições carrancudas no balcão apenas observava o show de horrores, de acordo com a memória. Tento normalizar a respiração ao constatar que ele poderia sim saber quem era o genitor de Nathan e a sensação de traição toma meu peito ao entender que Hector sabia a verdade por todo esse tempo.

— Você sabe quem é o genitor de Nathan! Por quê se calou até agora? Por quê resolveu casar-se comigo? Você me enganou!

Mesmo que minhas palavras soassem baixas, para não acordar meu filho, Hector poderia ouvir toda a dor contida em cada uma delas e seus movimentos foram rápidos demais ao levantar e me abraçar.

— Nunca, Cissy! Nunca mais repita essas besteiras! Quando descobri, você já estava grávida e Iolanda disse que o melhor era que ninguém tivesse conhecimento sobre ela e April, mas não pude esconder de seus pais e do meu. Eles são os líderes e exigiram uma resposta sobre a paternidade do neto. Eu não tinha como responder, porque nem mesmo suas outras personalidades sabem. Tenho um relacionamento com Iolanda desde aquela época e presumi que Aspen era meu filho, porém April negou, diante de seus pais, e confessou que era ninfomaníaca e não perguntava nomes quando saía. Perdão por te contar dessa forma, mas se você colapsar novamente, não há garantias de que seja Iolanda a assumir. Se for April, o casamento pode contê-la um pouco devido aos seus próprios limites. Como você é a “original”, esses limites são as barreiras que as outras não podem ultrapassar. Porém, se você colapsar, as chances de uma personalidade nova e desconhecida assumir são muito altas. — Meu primo fecha os olhos e encosta nossas testas, fazendo com que sinta um pouco o que ele tanto guardava dentro de si. — Perdão por nunca ter dito nada, apenas espero que entenda que era o pedido da minha flor. Mesmo que signifique nunca mais tê-la diretamente comigo, vou fazer de tudo para que você fique bem e não sofra mais. Vou cuidar do nosso Aspen, love.

De alguma forma, sinto que as últimas palavras não eram exatamente para mim e tenho a certeza quando o sentimento aquecedor substitui a ira e me envolve em uma sensação reconfortante. Como se fosse uma canção de ninar, minha própria voz ecoa em minha mente, aveludada como sequer sabia que seria capaz de produzir, parecendo ter sido acionada pela forma carinhosa.

‘Pela tradição, sei que a escolha do nome será sua, mas se for menino, gostaria que se chamasse Aspen.’

‘Aspen? De onde tirou esse nome, love?’

‘De uns livros que li. Um dos personagens se chama Aspen. Ele tem cabelos escuros e olhos verdes, como você. Ele também é o namorado secreto da protagonista e termina no exército, chegando a ser general. Você vai se alistar ano que vem e espero que se torne general um dia. A vida imitando a arte.’

‘E uma forma de ter você sempre comigo. Não importa como, vou dar um jeito para que o nome do nosso filho seja Aspen. O nosso Aspen. E se for menina? Alguma referência oculta?’

‘Daphne. Amada pelo deus Apolo, que foi transformada em planta e, como não puderam ficar juntos, o deus a tornou seu símbolo para levá-la sempre consigo.’

‘Espero que ela seja igual a você, então.’

O diálogo me faz ofegar e os braços fortes em volta de meu corpo se fecham ainda mais. A sensação de estar vivendo uma vida que não era minha apenas aumenta, coisa que não acontecia desde que peguei Nathan em meu colo pela primeira vez, e sinto como se estivesse impedindo uma família de ser feliz. O pensamento faz meu estômago embrulhar e, talvez pela queda de minha temperatura corporal, as íris esverdeadas se revelam mais uma vez e encaram as minhas castanhas que tanto amor que mal consigo manter nossos olhares fixos.

— Está tudo bem, Cissy. Não precisa se sentir pressionada com o que falei. Aprendi que o fato de namorar Iolanda não tem qualquer relevância em meu relacionamento com você ou até mesmo com April. Agora venha descansar. Narciso deve vir pegar Nathan daqui a pouco e poderemos ficar ausentes das atividades para que você possa processar tudo.Não vou sair do seu lado.

Apenas aceno com a cabeça e acompanho o maior até a cama, onde a criança ressona tranquilamente e logo agarra-se ao meu corpo, assim que sente meu calor mais uma vez. Beijo a cabeça infantil, minha mente ligada demais para pensar em dormir e o medo de não ser eu a acordar se instalando aos poucos como uma erva daninha. 


Notas Finais


O transtorno mencionados no capítulo não possui qualquer comprometimento com a realidade e foi retratado apenas para fins de entretenimento, não devendo, de forma alguma, ser lidado de forma leviana, superficial e/ou preconceituosa. A escolha do mesmo se deu apenas para melhor composição da personagem e seu enredo, sendo realizadas pesquisas prévias para tal, bem como leitura de depoimentos de portadores de tal transtorno. Esses últimos merecem o máximo de respeito, empatia e solidariedade para com seus sentimentos e limitações. De todo o coração, sintam-se abraçados através dos personagens e estejam a vontade para o envio de mensagens privadas para compartilhar suas experiências.

Comentários são sempre bem-vindos! Até o próximo!


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