Tudo começou em uma gélida manhã de véspera de natal.
Manhã de natal - 2006
Virei na minha cama, olhando para o despertador, passava das oito da manhã e, eu já escutava a movimentação na casa. Seria um dia agitado.
No natal os negócios aumentavam. Quando a madrugada invadia, o dobro de pessoas passavam pelo enorme espaço que chamávamos de ‘casa da diversão’.
Os vizinhos não desconfiavam, porque o salão ficava no subsolo da nossa residência. Por verem sempre três adolescentes na casa, achavam que vivíamos em festa.
Levantei da cama e me direcionei ao banheiro para a minha higiene matinal. Coloquei uma roupa leve, já que passaria parte do dia ajudando minha mãe a preparar a ceia. Nesta data do ano até parecíamos uma família normal. Ainda fazíamos mais, meu pai que insistia em dizer “somos boas pessoas, apenas ganhamos dinheiro de forma diferente” oferecia uma ceia para as 50 meninas que trabalhavam para nós.
“Precisamos alimentá-las, ninguém faz um trabalho bem feito estando com fome” ele cuspia da forma mais natural possível.
Eu nunca concordei com esse tipo de coisa, achava vergonhoso minha família trabalhar com aquilo. Não poderíamos abrir uma lanchonete como uma família normal? Um negócio de vendas qualquer?
Não! Tinha que ser na covardia.
Cada dia que se passava eu anseava o dia que me formaria. Eu iria virar uma escritora de sucesso e sair dessa casa.
Eu fazia faculdade de Inglês em uma faculdade de Miami mesmo. Não tinha a mesma sorte que os outros alunos, que podiam dormir no campus, entrar para fraternidades, participar das festas badaladas no meio da semana e todas as coisas’ que os jovens fazem. Tudo isso porque eu precisava ajudar nos negócios da família.
Eu trabalhava no escritório do prostíbulo junto com Taylor, minha irmã.
Quando a casa abria eu ficava na recepção, enquanto minha mãe servia bebidas para os clientes.
Cris ajudava meu pai a “vigiar” o trabalho das garotas.
Era um negócio bem organizado. Começava da “contratação” das garotas.
Michael, meu pai, juntamente com Cris, viajava por cerca de 2 semanas, e traziam 5 meninas novas. A força, claro. Eles usavam um tipo de droga, que nunca nos contaram, nas garotas e quando elas chegavam na casa estavam bem exaustas já. Isso não amolecia o coração, eles só queriam saber do dinheiro que aquela garota iria arrecadar.
As garotas ficavam trancadas em uma enorme sala, colchões espalhados pelo chão. Era assim que elas dormiam, foda-se quanto tempo ficariam ali.
A noite, exatamente as 19:00, quando a porta do prostíbulo se abria, homens e até mesmo algumas mulheres, entravam, sentavam no bar e esperavam que uma das meninas viesse até eles. Cada pessoa tinha direito a 30 minutos com qualquer prostituta. Se optasse por um ménage o tempo se estendia para 1h, mas o valor era muito maior.
O cliente podia escolher se só queria sexo oral ou pacote completo..incluindo sexo anal.
O cliente poderia comer quantas putas quisesse, desde que ela tivesse vaga disponível.
Haviam regras, segundo o meu pai ele precisava preservar as meninas.
Segue abaixo uma cópia das regras:
REGRAS
Leia atentamente para que possa desfrutar melhor do prazer -
*O tempo máximo para permanência nos quartos é de 30 minutos ( 1 hora no caso de ménage)
*É terminantemente proibido bater ou usar qualquer tipo de tortura com a prostituta. Caso sejam encontrados hematomas na garota após sua saída do quarto, será expulso com um hematoma PIOR em seu corpo.
*Não serão permitidos dispositivos eletrônicos tal como: Celular, notebook, tablet, câmeras fotográficas ou qualquer dispositivo que permita filmagens e fotos.
*Não serão permitidas bebidas alcoólicas dentro dos quartos.
*Ao término do tempo, o cliente deverá se retirar do quarto imediatamente, estando vestido ou não.
*Não é permitido flertes com a garota durante o ato sexual. Quer namorar vá para um site de relacionamentos. Aqui é pra foder.
O descumprimento de qualquer regra acima, acarretará severas consequências -
Após ler atentamente todas as regras, o cliente escolhia, pagava e entrava em um quarto disponível.
Dentro de cada quarto havia um botão de emergência, poderia ser apertado pela garota a qualquer momento se ela se sentisse lesada.
Caso o cliente insistisse em ficar no quarto por além do tempo permitido, os seguranças brutamontes o arrancavam de dentro do quarto. Não importando se ele estava em cima da garota trepando feito um cão, prestes a gozar, colocando sua roupa ou abrindo a porta. Ele era arrancado a força.
Depois disso um dos seguranças conferia se a garota estava em estado perfeito, sem hematomas e uma moça entrava para limpar e deixar pronto para o próximo cliente. Enquanto ela limpava, a garota tinha que voltar para o salão e conversar com outra pessoa, estando ela disponível ou não.
Essa rotina acontecia todos os dias, durante as 10 horas e meia que ficávamos abertos. Quando o último cliente saía, eu fechava o caixa, tomava um banho relaxante e apressava Taylor para irmos estudar. Ela estudava próximo a minha faculdade, então eu a deixava na escola e ia para a minha.
Eu amava minha irmã e a defendia sempre. De tudo e de todos.
Saí do meu quarto e bati na porta de Taylor, abrindo em seguida para verificar se ela estava acordada.
- Tay, precisamos descer. - Taylor estava sentada na sua cama, mexendo no notebook e se assustou quando me viu. Fechou a tela do computador e me encarou com um sorriso nervoso.
- Já vou descer. - Levantou da cama e veio na minha direção, nos tirando de dentro do quarto.
- O que está acontecendo? - Perguntei enquanto ela olhava para mim.
- Nada, Laur - Abriu um sorriso - Vamos? - Passou na minha frente em direção a escada.
A cara dela a entregava, ela não precisava me dizer nada, só de olhar para ela eu sabia que estava acontecendo algo. Só não iria insistir no assunto naquele momento. Espero que não seja nada sério, pensei enquanto cortava os legumes para minha mãe, completamente alheia ao assunto que estava sendo falado na cozinha.
O dia passou rápido e quando o relógio marcou 23pm estávamos com a mesa pronto, tudo arrumado. O clima natalino pairava no ambiente.
Papai e Cris já haviam preparado a ceia para as meninas e elas, segundo eles, já estavam comendo felizes.
Bem, de uma coisa eu tinha certeza. Felizes elas não estavam.
Nos sentamos na mesa e saboreamos a ceia que tão cuidadosamente passamos o dia preparando.
Enquanto comíamos os assuntos na mesa eram variados. As gargalhadas eram altas. Meu pai contava piadas e o clima era gostoso. Não me entendam mal, eu amava minha família. Mas era complicado...eu achava o nosso ganha pão uma tremenda idiotice e desrespeito ao próximo.
Pós a ceia começamos a entrega dos presentes. Era um ritual da casa, papai sentava ao lado da árvore e distribuía. Geralmente ganhávamos o que queríamos.
Esse ano os embrulhos estavam menores o que me fazia queimar os nerônios para adivinhar o que era.
Cris abriu o dele e ficou sem reação quando pegou na mão uma chave preta, ela estava em um chaveiro que era uma miniatura de uma moto.
- Esse ano você fez por merecer, garoto. - Cris deu um grito e se jogou em cima do meu pai.
- Obrigado, meu velho.
- Ela está lá fora. Amanhã você poderá estreiar ela. - Cris sentou no sofá e ficou admirando o seu chaveiro enquanto Taylor abria o presente dela.
Taylor abria devagar, parecia com medo do que ia encontrar.
Foi quando ela começou a saltar de alegria, eu a olhei sem entender. Ela abraçou forte o meu pai.
- Posso usar a outra passagem com quem eu quiser? - Há um certo tempo atrás, Taylor havia pedido de presente uma viagem para o Caribe, a possibilidade de isso acontecer era muito pequena, mas parecia que meu pai estava bonzinho esse ano.
- Claro que sim. Seria ótimo se a Laur fosse com você, mas se não quiser levar ela tudo bem. - Taylor sorriu e não comentou a dica do nosso pai. Apenas o abraçou mais uma vez e sentou no sofá novamente. Eu segurava o meu pequeno embrulho, não fazia ideia do que tinha ali dentro. - Sua vez, Laur. - Meu pai encorajou. Não haviam muitas coisas que eu queria, na verdade. E o que eu realmente queria, jamais iria conseguir. Comecei a abrir o embrulho e dentro da caixinha vermelha tinha uma casinha daquelas de brinquedo, bem pequena. Ergui uma sobrancelha. - Não era o que você queria? Sair de casa? - Eu abri um sorriso de lado.
- Vocês estão me dando um apartamento? - Perguntei surpresa.
- Sim, compramos um apartamento em Nova York para você. Ele ainda está na planta e só fica pronto no dentro de 1 ano e meio, mas já é seu. - Eu não estava acreditando naquilo - Lá você vai poder seguir sua carreira de escritora. Já trabalhou demais nos negócios da família. - Meu pai nunca foi um homem carinhoso, pelo contrário. Fora que seu temperamento era forte e explosivo. Só que naquela noite ele parecia tão doce. Diferente da forma que eu estava acostumada. Levantei ainda surpresa e abracei ele com carinho. Minha mãe observava tudo atentamente.
- E para você começar suas anotações eu decidi te dar isso. - Me estendeu um outro embrulho, um pouco maior. Comecei a abrir devagar. Eu havia ganhado um livro com as páginas em branco. Seu formato lembrava uma agenda. Era bronze com o fecho dourado, junto uma caneta preta de ponta fina, com meu nome gravado nela.Eu abri um sorriso enorme e assim como fiz com meu pai, abracei minha mãe apertado. Eu estava tão feliz. Aquela tinha sido uma das melhores noites, em anos, da minha vida. Mas o que eu mal sabia, é que ela estava apenas começando.
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