Ouvia os anjos cantarem a tocar seus sinos, o sol brilhava forte no céu e o cheirinho de lavanda o deixava inebriado arrancando-lhe pequenos sorrisos
— Park Jimin, tire essa criança de dentro de mim — a ruiva gritou sobressaltando o rapaz ao volante — AAAH
Ou talvez fosse seu cérebro pregando-lhe peças diante da situação de desespero? Vamos recapitular; Jimin estava na sede do jornal acertando os últimos documentos para sair de licença e poder dar total atenção a sua menininha, quando recebeu uma ligação aos gritos de um Yoongi desesperado com Ana que a poucos minutos tinha começado a ter contrações e a bolsa estourada. Imagine o desespero de um Park saindo correndo tropeçando em tudo e todos para chegar em casa o mais rápido possível e levá-la para o hospital. O que podia dizer? Jimin nunca foi bom em agir sob pressão.
— Ana, calma, estamos quase lá — pediu em desespero a olhando pelo retrovisor por poucos segundos — Yoongi, ajude ela com a respiração.
— Ajudar? Eu que preciso de ajuda, aah — gemeu com o aperto forte em sua mão — Ana, eu vou precisar desses dedos.
— AAAH — a ruiva gemeu apertando a mão sobre a sua mais uma vez — eu preciso repensar minha vida — fechou os olhos com força ao sentir mais uma contração.
Jimin apertou o volante entre seus dedos até os nós ficarem brancos. Afundou o pé no acelerador e de forma imprudente atravessou diversos sinais vermelhos, era sua menininha ali e ela não podia esperar.
Sentia os batimentos de seu coração se tornarem mais rápidos a cada grito dado por Ana. O suor já escorria por sua coluna apesar da noite extremamente fria e sentia que desmaiaria a qualquer segundo. Esperou tanto pelo momento em que teria sua pequena em seus braços e agora estava à beira de um colapso e os gritos de Ana não o ajudavam a se acalmar. Processaria quem escreveu o livro para grávidas que o acompanhou nos últimos nove meses, afinal, a droga do exercício de respiração não ajudava em nada.
No entanto, mesmo diante das circunstâncias, não conseguia deixar de sorrir a cada careta de Ana e reclamação de Yoongi por ter sua mão amassada. Sua filha estaria em seus braços antes de a noite acabar. Desde o dia em que adentrou aquela agência se tornou a pessoa mais feliz do mundo e nada o faria se arrepender de sua escolha.
Em paralelo com o desespero de Jimin, estava Jeon Jungkook hiperventilando sentado em sua cama enquanto calçava os próprios sapatos. O relógio beirava às nove da noite e Jungkook foi tirado de sua cama pelos gritos de Rachel no quarto de hóspedes. Sentia o suor escorrer por sua testa a cada gemido da mulher o aguardando em pé em sua frente. Se levantou depressa pegando a bolsa pronta da bebê no canto ao lado da cama e segurou a mão da melhor amiga saindo com ela.
— A culpa sua é toda sua, seu maldito — xingou o amigo em meio a um gemido.
— Calma, Rach, vai dar tudo certo — tentou consolar a amiga enquanto ela grunhiu de dor.
— Está dizendo isso para mim ou para você? AAAAAH — se curvou assustando Jungkook que parou de supetão para dar-lhe apoio.
— Vamos, Rachel, temos que entrar no carro.
— AAAAAAH, Jungkook, eu .. AAAH — ela apertou a mão na sua — eu não consigo, eu vou parir aqui no meio do corredor, você vai fazer o parto.
Jeon esbugalhou os olhos procurando resquícios de que não passava de uma brincadeira: — Não, não, Rachel, temos que ir para um hospital.
— Pega ela no colo, eu levo a bolsa — a voz de Hoseok soou chamando a atenção do moreno. Era quase como a voz de um anjo que veio para o salvar — E talvez fosse.
— Hoseok?
— Rachel me ligou — disse se aproximando e pegando a bolsa largada no chão — Vamos que eu tô louco para conhecer minha sobrinha.
Com a deixa de seu melhor amigo, pegou Rachel no colo e adentrou o elevador. Seu coração apertava a cada gemido de dor da mulher em seus braços, imaginava o quão doloroso aquilo estava sendo para ela e nunca, nem se vivesse para sempre conseguiria agradecer o suficiente pelo que ela estava fazendo por si. Saíram do elevador após alguns minutos e Hoseok abriu a porta do carro para que entrassem, Jungkook ficou atrás com Rachel enquanto seu amigo de cabelos laranja dirigia.
— AAAAAAAAAAAh, Jeon, eu juro que quando ela nascer, eu vou te matar — fechou os olhos com força apertando a mão do amigo — que vontade de chutar seu saco para você sofrer comigo.
Jungkook permitiu-se rir de como a amiga era desbocada mesmo em uma situação delicada: — Pare de dizer que me ama de forma tão delicada, eu fico sem graça desse jeito — implicou arrancando um sorriso da amiga antes de ela voltar a gritar.
Jimin parou em frente ao hospital quase batendo em outro carro que chegou junto consigo, iria xingar o maldito até que seus ouvidos estourassem mais os gritos mais alto de Ana o deixaram em alerta e o fizeram esquecer o plano de matar o cara do outro carro. Desceu primeiro e deu a volta no mesmo abrindo a porta e pegando Ana nos braços enquanto Yoongi pegava a bolsa pronta para o bebê.
No outro carro, Jungkook passava pela mesma situação e com isso deixamos claro que o desespero do moreno era igual ou até maior que o de Jimin, embora seus planos para com o outro que quase bateu em seu carro, fossem os mesmos; Matá-lo. Pegou Rachel nos braços enquanto Hoseok se ocupava de pegar a bolsa e fechar as portas abertas do carro.
Encarou assustado o desconhecido que quase tinha batido em seu carro porque este se encontrava na mesma situação que si, uma mulher grávida gritando em seu colo, parecia que as duas lutavam para ver quem gritava mais alto. Hoseok e Yoongi se olharam encarando a mão um do outro que carregavam as bolsas e sorriram, achando engraçado a cena, no entanto, como desde o início daquela noite foram interrompidos pelas mulheres gritando, fazendo os quatro se apressarem e irem hospital adentro.
Ambos se assustaram com o caos ainda maior dentro do hospital. Enfermeiros corriam de um lado para o outro, a recepcionista atendia diversas pessoas ao mesmo tempo e havia diversas macas espalhadas pelo sala de entrada. Haviam pessoas sentadas com a cabeça sangrando e algumas gemendo sendo atendidas ali mesmo.
— Jimin — Ana apertou os ombros do loiro.
— Jungkook — Rachel fechou os olhos com força. Os dois rapazes se entreolharam e apesar da raiva pelo acontecido do lado de fora, ambos entraram em consenso e começaram a gritar por ajuda.
— Precisamos de ajuda — Jungkook gritou para alguns enfermeiros.
— Elas vão dar à luz agora, precisamos de um médico — Jimin o ajudou.
Depressa um dos enfermeiros se aproximou de ambos não comentando a ironia de ambos estarem aparentemente desesperados com as mulheres grávidas em seus braços: — Nos desculpem o caos, houve um acidente envolvendo três ônibus — os rapazes arregalaram os olhos — não me pergunte como. A questão é que estamos lotados por sermos o hospital mais próximo, elas terão que dividir um quarto.
— APENAS TIRE ESSA CRIANÇA DE MIM — Rachel gritou assustando o médico.
— Chad, Cristian, tragam macas até aqui — gritou os dois enfermeiros do outro lado — levem-nas para uma sala esterilizada, chegarei em seguida.
Os enfermeiros assentiram enquanto empurravam as macas com Jimin e Jungkook ao lado das duas garotas. Hoseok e Yoongi foram barrados porque apenas os pais podiam ficar na sala de parto, ainda mais considerando que o espaço era pequeno por não terem mais salas disponíveis.
— Respira, Ana — Jimin pediu acariciando os fios suados da ruiva.
— AAH, Jimin, ela está me partindo ao meio.
— Logo logo vai acabar, apenas respire comigo, sim?
— UUUUUUH, eu vou morrer — dramatizou apoiando as duas mãos no acolchoado e a apertando.
Do outro lado da cortina que as dividia, não ocorria uma cena muito diferente. Jungkook tentava manter-se calmo para assim acalmar Rachel, o que era difícil já que sua melhor amiga estava ocupada demais o xingando para se acalmar. O moreno segurou a mão pequena acariciando enquanto Rachel gemia com o aumento da dor e gritava junto a moça que chegou junto a eles. As duas por vezes gritavam juntas quase deixando ambos os rapazes surdos.
— Meu Deus, me lembre mais uma vez que eu não quero ter filhos, Jeon — a morena pediu respirando fundo.
— Você não quer, Rach, você quer ser titia e vai ser a melhor do mundo — Jungkook sorriu ao arrancar um pequeno sorriso da amiga.
— Jimin, como meu amigo, me diga para sair dessa vida — os amigos ouviram a ruiva dizer do outro lado da cortina.
— Que vida, Ana?
— De dar à luz — por um segundo, Rachel se identificou com a mulher do outro lado porque céus, aquilo doía como o inferno. Tinha plena certeza de que nunca mais sentiria uma dor tão forte em toda a sua vida.
— Apenas continue respirando, o médico já está vindo.
— Ela não consegue respirar, seu tapado — Rachel gritou da sua cama tendo a boca tapada por Jungkook.
— Rachel, fique quieta.
— Morreremos juntas — Ana gritou de volta ao sentir mais uma contração. Jimin a encarou e revirou os olhos.
Rachel esticou o braço e abriu a cortina próxima de suas mãos, podendo finalmente ver o rosto da mulher que “morreria” junto consigo. Sorriu para ela o que para os rapazes pareceu mais uma careta de dor que foi retribuída com outra careta, ou seria sorriso?
Como exatamente terminaram naquela situação? Bom, voltemos um pouco.
10 meses antes
Tudo bem, ok, basta respirar, certo? Como é mesmo que leu no livro para grávidas que se deu de presente? Ah, sim! Inspira, expira, inspira, expira. Tudo bem, estava hiperventilando, péssima ideia exercícios de respiração no atual momento. Talvez a posição de flor de lótus fosse melhor pedida, mas qual é? Ele não poderia parar no meio do corredor e começar a fazer ioga vestido de terno e gravata, ainda mais com olhos atentos a si a cada segundo. Aliás, por que diabos um corredor tão longo, afinal? Estavam andando a quase dez minutos.
— Tudo bem, sr. Park? — a secretária cujo saltos ecoavam logo a sua frente o olhou por alguns segundos.
— Sim, eu estou ótimo — forçou o melhor sorriso sem dar-lhe realmente atenção, o que o ocasionou em seu corpo quase indo de encontro ao dela pela parada brusca que ele nem ao menos notou — desculpe — pediu sem graça.
— Ela irá atendê-lo agora — ditou abrindo a porta e dando espaço para que entrasse.
A porta bateu atrás de si assim que adentrou a sala nada modesta. Era possível ver pela janela toda a cidade de Atlanta e nem estavam no último andar. A janela pegava toda a extensão da parede atrás da mesa de madeira escura. No lado esquerdo uma estante com pastas e gavetas e do lado direito algumas poltronas que pareciam extremamente convidativas para seus pés cansados pela caminhada; péssimo dia para o seu carro decidir dar pane. Parou os olhos sobre a mulher que falava ao telefone e o encarou por poucos segundos fazendo um sinal mudo com o dedo para que ele se sentasse, então o fez.
Esperou pacientemente até que ela finalizasse a ligação e pusesse o telefone no gancho para então finalmente encará-lo.
— É um prazer, sr. Park — ela sorriu cordialmente ao que foi retribuída no mesmo instante — meu nome é Elizabeth Jones e serei sua interceptora neste caso — ela riu ao finalizar a frase, o que só deixava Jimin ainda mais nervoso. O que era tão engraçado?
— É um prazer conhecê-la pessoalmente, senhorita Jones — não era a intenção, mas sua voz soou tremida pelo nervosismo.
— Pois bem, senhor Park, então comecemos — ela puxou de uma gaveta da mesa alguns papéis e os virou para Jimin — antes de tudo, você precisará preencher um formulário, é onde te conheceremos melhor. Te darei alguns minutos e então te explicarei o resto.
Nome completo? Altura? Status social? Em que trabalha? Disponibilidade de horários? Por que quer ser pai?
Céus, era um formulário de quatro páginas, Jimin quase se sentiu invadido por tantas perguntas. O que faltava? Perguntar-lhe qual a cor da cueca que usava? Não acreditava precisar de tanto quando já tinham acertado praticamente tudo por telefone. Ainda que com estresse transbordando, preencheu parte por parte se demorando mais na sexta pergunta “Por que quer ser pai?”, ela poderia dar-lhe horas e Jimin não poderia por em palavras o sentimento que sentia sempre que imaginava um mini Park correndo pela casa. Sempre quis ser pai, tinha esse desejo desde que era criança quando trocava os carrinhos pelas bonecas e as brincadeiras de pega pega pela de casinha.
— Terminei — anunciou para a mulher que olhava algo no notebook aberto sobre a mesa.
— Ótimo — ela recolheu os papéis, sorridente — essa é a primeira etapa. A segunda etapa é enviarmos uma foto sua junto a alguns dados para a barriga de aluguel para que ela te conheça e aprove.
— Espera, me aprovar? Eu estou pagando e ainda assim preciso ser aprovado?
— ah, sr. Park, essa mulher vai realizar seu sonho e carregar seu filho por nove meses, então sim, ela precisará sentir-se segura com você. Embora em outras agências esta não seja uma exigência, nesta aqui, é necessário.
— E se ela não me aprovar?
— Há outras, não se preocupe — tentou tranquilizá-lo, o que claro, falhou — o terceiro passo é te colocarmos em um encontro com a barriga de aluguel para que se conheçam pessoalmente. O quarto é receber agentes em sua casa para que confirmem que é um ambiente apto a receber uma criança e por último e mais importante, recolhemos o material para a fertilização e então começamos o tratamento com a escolhida.
Jimin saiu daquela sala meio atordoado com um milhão de informações ao mesmo tempo, talvez devesse ter aceito a companhia de Yoongi quando este se ofereceu para ir consigo. Mas bom, apesar de tudo, era oficial, iria ser papai. O sorriso quase rasgava seu rosto enquanto saia daquele prédio, corria o risco de estar parecendo um psicopata tamanho era o sorriso congelado nos belos lábios. Queria pular, correr, gritar, SERIA PAPAI! Imaginou ser impossível quando se descobriu gay lá pelos quinze anos porque apesar de achar um lindo ato de amor, não queria adotar, queria um filho com seus traços, quem sabe com seu sorriso e nariz. Para sua sorte, a idade trouxe-lhe maturidade para entender certas coisas, e bom, dinheiro, muito dinheiro.
x
O relógio já marcava quase oito da noite quando voltou da editora para casa. Seu cansaço era tanto que suas pernas quase esqueceram como se mexer. Adentrou o prédio cumprimentando o porteiro e pegou o elevador apertando o botão da cobertura. A passos lentos caminhou pelo corredor até parar em frente a sua porta e por a senha e digital na chave eletrônica cravada a porta. Quando a tela ficou verde, a porta se abriu dando-lhe passagem. Estranhou a escuridão já que seu melhor amigo havia dito que estaria o esperando para uma noite de bebedeira.
Tirou o sapato com os pés os chutando para longe e bateu palmas acendendo a luz, no mesmo instante duas silhuetas apareceram em seu campo de visão fazendo seu coração beirar o ataque cardíaco. Levou a mão ao peito assustado e os encarou feio.
— Que porra — xingou estressado enquanto ambos reviravam os olhos.
— Surpresa, Jungkook — Rachel, a morena alta ergueu diante de seus olhos sapatinhos de crochê no tom rosa.
— Surpresa, papai — Hoseok parou ao lado da amiga mostrando a Jungkook um gorrinho. Jungkook encarou os dois amigos sorridentes e então os presentes delicados nas mãos de ambos. Travou no lugar levando alguns segundos para raciocinar, sua vista escureceu ao entender o que aquilo significava. Precisou recostar-se na porta agora fechada para manter-se de pé.
— Isso quer dizer.. — sua voz sumiu na garganta. Sentia os olhos marejados mesmo tendo prometido a si mesmo que não ia chorar.
— Isso quer dizer, sr. Jeon Jungkook, que eu aceito seu pedido de ser sua barriga de aluguel — a morena disse se aproximando e pulando nos braços fortes do amigo. Jeon a segurou com força sentindo as lágrimas molharem seu rosto, Hoseok se juntou ao abraço apertando ambos.
— Meu Deus, Rach, você tem certeza? — perguntou ao se afastarem. Era uma mudança e tanto.
— Tenho sim, Jungkook — ela sorriu entrelaçando o braço ao de Hoseok — eu te amo e fico feliz de poder realizar um sonho seu.
— E para comemorar, muita cachaça — Hoseok gritou animado.
Enquanto os amigos pegavam as cervejas, Jungkook caminhou até a suíte ainda inerte na própria mente. Caramba, ia ser papai. Desde que entendeu o significado da palavra família, Jungkook quis ser pai. Queria poder ser para um pequeno Jeon o que seu pai já foi para si um dia, no entanto, houve um pequeno imprevisto em seu planos; descobriu-se gay. Jeon se descobriu gay com quatorze anos e só ao ficar mais velho entendeu que isso dificultava o desejo de ser pai, não é como se fosse transar com uma mulher, afinal. Havia também o fato de ser um homem solteiro e o estado não facilitar a adoção para famílias “não estáveis”, o que desde sempre Jungkook achou uma besteira considerando que tinha tanto dinheiro que nem poderia gastar. Podia sim dar uma boa vida a uma criança.
Felizmente, com o decorrer de sua idade e com o sonho de ser pai em seu peito, Jungkook foi descobrindo outros meios, dentre eles a fertilização in vitro e as barrigas de aluguel. Cogitou a ideia, mas a verdade é que queria que seu filho fosse gerado por alguém de sua total e plena confiança, eis onde Rachel entra, sua amiga desde a adolescência — lésbica, diga-se de passagem. Abriu a ela a questão em sua mente, só nunca imaginou que ela aceitaria. Agora só tinha motivos para comemorar, JEON JUNGKOOK VAI SER PAPAI!
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