Era possível ouvir os choros e os soluços exageradamente altos da criança. Sanji nunca tinha pensado na possibilidade de que brincar de correr pelo grande bosque de tangerinas de sua amiguinha, Nami, fosse lhe causar uma grande ferida em seu joelho. Mas, pelo visto, isso era bem possível.
O garotinho resmungava, se encolhendo, enquanto pequenas gotinhas de sangue escorriam juntas de suas lágrimas. Ele sempre foi muito frágil, principalmente pelo fato de quase nunca poder sair de casa para brincar com seus amigos. Seu pai era muito rígido e protetor, afirmava que ele poderia ficar doente e se machucar muito fácil, e agora ele sabia que era verdade.
Sanji odiava isso. Afinal, queria ser tão forte e corajoso quanto seus irmãozinhos, que não tinham medo nenhum de se machucar e até mesmo escalavam árvores em seu quintal. Era incrível! Ele desejava tanto poder fazer isso… Porém, estava sempre em seu quarto, praticamente trancado, observando todos pela janela. Talvez até preferisse isso, pois sabia que levaria uma grande bronca se descesse de lá e fosse brincar com os irmãos.
Do outro lado do bosque, Zoro — um menino um pouquinho mais novo do que Sanji e vizinho de Nami — tentava ir atrás de um esquilinho que havia acabado de lhe roubar uma noz. Ele tinha curativos colados por todo o rosto e cicatrizes nas pernas também. Era um menino claramente encrenqueiro, mas por incrível que pareça, nunca dava trabalho para ninguém além de seus professores. Também era amigo de Nami, mas era diferenciado, já que ao invés de fazer brincadeiras junto com ela, ele a zoava e a chamava de “bruxa” sempre que a via. Claro, era apenas uma revanche depois de todos os socos que já havia levado da garota.
O choro lhe chamou atenção, fazendo com que esquecesse da existência do pequeno esquilo. Zoro se levantou, soltando a pedrinha que segurava em mãos, e logo as bateu para que tirasse toda a sujeira presente ali, mesmo que não fosse algo muito eficiente. Bateu os pés na terra, começando a andar em direção ao barulho tão alto.
Em sua cabeça, ele pensou que fosse encontrar a própria Nami ali, choramingando sem parar por ter batido a perna em algo, ou ter tropeçado e caído, assim poderia zoá-la pelo resto da vida. Entretanto, não foi o que aconteceu. Encontrou um garotinho loiro, que tinha o rosto bem corado, enquanto mordia os lábios para tentar não chorar tão alto nesse momento. O que ele estava fazendo ali? — Zoro questionou. De toda a forma, talvez devesse ajudar o garotinho, não é?
Assim que se aproximou, Sanji se assustou, arrastando o próprio corpo para que fosse um pouco mais para trás, ficando mais longe de Zoro. Levou os olhos até os do garoto, que tinha as íris lindamente azuis… Podia afirmar que nunca tinha visto um olho tão lindo quanto aquele. Não que tivesse visto tantos olhos por aí também, afinal nem prestava atenção.
— Pare de chorar! — resmungou alto, vendo que o garotinho tremeu ao ouvir sua voz, mesmo sendo fina e irritante. Zoro se sentiu na obrigação de encarar o machucado, descobrindo o motivo de tanto escândalo. Ele estava sentindo dor. Então era por isso… – Se machucou? — A voz soou mais calma.
O loiro assentiu trêmulo com um balanço de cabeça, fungando e soluçando a cada movimento que fazia. Teve a coragem de tentar falar algo, mas sua voz não saiu, apenas um soluço bem alto, que lhe deixou envergonhado por ter arrancado uma grande risada do verdinho à sua frente.
— Hahaha! Que soluço de menininha! – Cruzava os braços enquanto ria. Zoro se sentou no chão, bem perto do garoto, cruzando também as pernas em uma “perninha de índio”. Viu uma pequena carranca fofa surgir no rosto do companheiro, sorrindo com isso.
— Não… Não foi de menininha! Eu sou bem homem! — Sanji disse encolhido.
— Ah, sim. Então deveria saber que homens de verdade não choram! — Zoro não concordava nada com essa frase, mas também não perderia a oportunidade de ganhar aquela discussãozinha contra o loirinho medroso, e sorriu quando notou que havia deixado Sanji sem argumentos, já que agora o mesmo tentava enxugar as lágrimas e fingir que não estava chorando.
— Qual o seu nome? — O sorrisinho irônico desapareceu de seu rosto, sendo substituído por algo mais simples e simpático. Isso relaxou o corpo de Sanji.
— Sanji… — murmurou bem baixinho para o outro.
— Só Sanji? — A dúvida martelou em sua cabeça. Ele não tinha sobrenome?
— Uhum. — O pequenino assentiu em mais um balanço de cabeça, sendo seguido por sua voz. — E o seu?
— Roronoa Zoro! — dizia se orgulhando de seu nome, ele achava “Zoro” um nome incrível. — O que aconteceu com você? — Voltou para o assunto inicial, tendo seu semblante preocupado agora.
— Eu estava brincando pelo bosque, e… Tropecei em um galho de árvore e ralei o joelho… — Acabara de lembrar da dor que estava sentindo antes, e a sensação voltou novamente, fazendo pequenas lágrimas caírem de seus olhos, atingindo um pouco o machucado, causando uma grande ardência.
A dor era inigualável! Nunca havia se machucado assim e iria receber uma grande bronca de seu pai quando voltasse para casa… Estava se arrependendo amargamente de ter inventado essa brincadeira boba, olha como isso tinha acabado; com ele mesmo machucadinho e chorando na frente de um menino que mal conhecia.
— Minha mãe diz que dar beijinhos nos machucados os fazem sarar. Ela faz isso com os meus! – O esverdeado afirmou, apontando para os próprios machucadinhos no rosto. Perona, sua mãe, sempre lhe dava beijinhos dizendo que isso os curaria, e, incrivelmente, funcionava. Zoro chamava isso de “beijinhos mágicos”, e agora ele se perguntava se tinha a mesma habilidade de sua mãe. — Posso dar um beijinho no seu?
A pergunta deixou Sanji bem surpreso, mas não o fez negar. Com a anuência do loirinho, Zoro se aproximou, apoiando as mãos na perna exageradamente longa do garoto, enquanto se abaixava para beijar o machucado. Assim que encostou os lábios frios na pele ralada, sentiu Sanji tremendo, então se afastou o mais rápido possível. Sorriu quando observou a expressão surpresa do garotinho, era engraçado.
— Uau!! Parou de doer! — Sanji afirmou animado. A dor havia finalmente passado… Zoro tinha beijos mágicos mesmo!
Para retribuir, agarrou o rosto cheio de curativos do amigo, o puxando para bem perto e dando um beijo em um dos machucados. Tinha a intenção de também curar Zoro daqueles machucados e não ter que se preocupar em retribuir o favor mais tarde.
— Espero que faça sarar também! — Se afastou contente, agradecendo enquanto se levantava e corria para dentro da casa de sua amiga, querendo contar da experiência que acabara de ter. Sanji deixou Zoro envergonhado pela primeira vez. Um rubor vermelho aparecia sobre suas bochechas e um sorrisinho bobo era presente em seus lábios.
Pelo visto havia feito um novo amigo.
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