Capítulo – Atração Furtiva.
Sasuke observava pela janela estupidamente grande daquela cafeteria o tempo fechado, e as grossas gotas de chuva, enquanto escutava o barulho do silêncio que Sakura deixou, esperando o inesperado, pacientemente e levemente confuso.
Quão louca ela podia ter ficado com o falecimento de Naruto? Ele não sabia, mas ele - de uma forma estranha -, não conseguia para de pensar no quão gata e atrativa ela estava, trajando a camisa preta, molhada de chuva, com acréscimo de uma bebida quente derramada e sem falar daquele cabelo rosa de mulher selvagem e a puta atitude de lhe dar um tapa no rosto.
Talvez aí estivesse a mulher que Naruto se apaixonou.
Sentado na grama, em pleno campus movimentado, Sasuke viu seu melhor amigo loiro correr aos pulos em sua direção. O moreno o encarava atento, ele queria entender, do que se tratava aquela ação exagerada, mesmo que não fosse tão interessado assim na vida dos outros, Naruto era sua pessoa favorita no mundo.
O loiro parou ofegante a sua frente e respirou fundo antes de dizer:
— Porra, cara! – soltou o ar rapidamente de maneira impetuosa. — Eu vou casar! – contou.
Sasuke até teve vontade de rir, porque, PUTA QUE PARIU, Naruto nem namorava. Ele gostava de sair por aí, pegando qualquer uma, sem ao menos se preocupar com nada e agora vinha com essa historinha de casamento. A quem ele queria enganar?
Fora o moreno quem o ouvira reclamar todos os dias, durante dois anos, por causa de seu relacionamento sério durante o ensino médio. E agora Naruto dizia que se casaria?
— Não fode! – retrucou o moreno. — Você chegou tão animado que achei que era sério. – sorriu de canto, desacreditando de toda aquela situação. — Eu achei que você tinha ganhado na mega, mano. – afirmou ainda sorrindo.
— E eu ganhei, cara! – suspirou com o ar apaixonado. — Eu encontrei a mulher da minha vida!
Sasuke sorriu se lembrando de como Naruto parecia enlouquecido e ele centrado naquele tempo, o moreno nem se lembrava do tipo de pessoa que ambos já haviam sido. Era nostálgico e reconfortante, mas ele não conseguia imaginar se essa Sakura, que ele conheceu hoje, era o motivo de toda aquela animação do melhor amigo.
Naruto sempre falava o quanto a esposa era perfeita, mas, ainda assim, depois da vida de casado ele sentia que algo faltava, ele queria mais e descobriu seu ponto de excitação numa vida de aventuras.
Se Sasuke entendia? Não, jamais! Segurança para ele era algo inegociável… por isso o não para todo e qualquer risco, incluindo relacionamentos. Uma noite era suficiente. Já que ele tinha exatamente o que desejava e não precisava correr o risco de ter o seu coração partido.
Ele não era corajoso nem pra essa coisa de amor, ainda menos ao ponto de escalar uma montanha no meio de uma tempestade de neve. Se bem que, era claro pra ele que o amor podia fazer bem mais do que matar, podia destruir.
Assim que saiu de seus pensamentos, completamente embaralhados, ele foi procurar a maluca, nem tão maluca assim, para levá-la para casa de Ino, ou, somente tirá-la da chuva.
Ele observou ao redor e deixou uma nota de 50 dólares sobre a mesa, ainda que não tivesse consumido nem metade do valor, afinal, ele acabou completando a quantia que devia com o acúmulo de transtorno que causaram naquela cafeteria.
Pensou até em escrever para garçonete - um bilhete - se desculpando por não tê-la feito gozar, mas, percebeu que seria apelativo, além do mais ia ficar claro que seu ego estava ferido e ele não se importou em se sair bem naquele dia.
Sasuke estava devastado com a ideia de que a pessoa que o julgava sem filtro, a quem ele também julgava sem pudor algum, o seu melhor amigo, aquele dono dos piores conselhos que insistia em fazer tudo errado e era fresco pra caralho, quando o assunto era comida, nunca mais voltaria, o moreno nunca mais o veria e isso era fato consumado, porque Naruto foi idiota o bastante pra arriscar a própria segurança por um pouco de adrenalina.
Ele agiu como sempre, tentou uma fuga da realidade, que se não era Naruto, só poderia ser uma boa foda, mas, acabou que nem uma foda boa, acabou sendo e ele se sentiu ainda pior por ter transado no enterro do melhor amigo, pior ainda, por ter sido flagrado. Ele até sentia, em seu íntimo, que tinha uma dívida com Sakura devido aquela situação, ele precisava se desculpar pelo que fez.
Ele só não sabia como se contar a alguém que seu marido faliu há um tempão e está vivendo às suas custas, porque você é incapaz de dizer não a pessoa que lhe ajudou a sair do fundo do poço durante a infância.
Entrou em seu carro e logo estava percorrendo os olhos, com atenção, pelas ruas da cidade. O moreno não gostava muito da agonia da cidade, afinal, o mundo parecia desabar e, na rua principal, tudo o que se via na calçada era um monte de guarda-chuva preto.
— Porra, Sasuke! – suspirou para si mesmo. — Acha logo essa maluca! – praguejou revirando os olhos, de maneira a eximir sua impaciência. — Não devia ser tão difícil achar alguém que pintou o cabelo de rosa…
Depois de quinze minutos, dando voltas no quarteirão, em busca da rosada, Sasuke decidiu ligar para Ino, afinal, Sakura não o atenderia mesmo e ele estava bloqueado no whatsapp. Ele encarou o celular e procurou o número da loira em seus contatos, ela mais parecia irmã de Sakura, iniciou a chamada, esperando que ela atendesse.
— O que é? – Ino atendeu, já lhe indagando raivosa. — Já posso perguntar pra você que merda você disse pra minha amiga? Porque ela está na merda do quarto, desde que chegou e não me disse absolutamente nada sobre o que vocês conversaram. – disparou com um tom raivoso.
O moreno ficou pensando no que fazer a respeito disso, ele nem sabia o que falar à Ino, não sabia nem o que tudo aquilo significava. Sakura estava triste? Decepcionada? Com raiva?
— Eu… – ele ponderou incerto sobre o que dizer e, segundos depois, a loira encerrou a ligação.
Ele até quis xingar, brigar, dizer o quanto ela era infantil. Ele disse algo demais? Ele só falou a porra da verdade! E agora os surtos de Sakura estavam nas suas costas? Ele só queria fazer o que Naruto gostaria, é pedir demais, uma conversa normal? Ele ia passar as coisas pro nome dela e sumir, era só isso, mas eles não conseguia conversar durante cinco sem soltar faíscas de ódio.
— Porra, Naruto! – praguejou. — Você devia ter pedido pra Konan resolver tudo! Pra quê me meter nessa merda?
(...)
A cama estava ainda mais quente hoje, constatou a Haruno. Ela queria estar em sua casa, deitada na própria cama, relaxando ao lado do marido, em um dos dias que ele só desistiu de ir fazer algo louco. Mas ela agora nem tinha casa nenhuma, não sabia porque Naruto faliu, quando faliu ou o porquê faliu. E o pior, seu marido estava morto.
— Você gosta dessa rua?
Ela lembrou de observar os olhos azuis empolgados do esposo, sem entender a lógica daquela pergunta tosca e anuiu uma sobrancelha em resposta.
— Responde, amor! – insistiu ele.
Sakura riu com aquela carinha de cachorro pidão. Ele sabia como conseguir absolutamente tudo dela, até em seus momentos de raiva e impaciência.
— Parece um bairro legal… Não sei, não dá pra dizer com certeza, a gente nem sabe quem mora por aqui. – observou ao redor pela janela do veículo. — Sei lá, vai que tem algum serial killer morando nessa rua. – deu de ombros.
— Você se preocupa demais, amor. – ele sorriu e estacionou o carro.
— Naruto, a gente vai se atrasar, — Pontuou, assim que observou o carro parando ao lado de uma casa bonita. — você tem que ir pro trabalho hoje e eu preciso ir às entrevistas de emprego. – continuou. — Eu não vou casar com você e ser uma esposa desempregada.
— Eu não quero que você arranje outro emprego de garçonete, ou coisa do tipo… – comentou ele. — Mas, a sua vontade, é a minha vontade. – afirmou assim que viu uma cara raivosa se formar no rosto da mulher.
— Não importa o emprego Naruto, eu só quero trabalhar. – disse séria.
— E morar aqui… você iria querer? – ele inquiriu com um sorriso arteiro no rosto e a loira arregalou os olhos, espantada.
— Meu Deus! – ela esbravejou. — Como assim? – gritou. — Você comprou essa casa? – o tom de voz dela foi diminuindo, à medida que ia se acalmando. — Você comprou essa casa pra nós dois?
Em questão de segundos os olhos da mulher começaram a marejar e logo viraram grossas lágrimas emocionadas. Aquela era a oportunidade de uma garota que saiu de um orfanato construir um lar, uma família. Ela nem conseguia acreditar de tão feliz.
toc… toc… toc…
Ela ouviu alguém bater na porta, sendo tirada de sua primeira boa lembrança… Ela nem lembrava de quando sonhava em trabalhar, de quando sua vida não estava completamente destinada ao casamento. E se deu conta de que o luto podia ser tão cruel, ao ponto de não lhe deixar sofrer pelas coisas boas, porque tudo o que seu coração partido não quer: é sofrer ou chorar ainda mais, lembrar do que não vai voltar.
E ela amava Naruto, ela amava tudo, até as partes ruins, as lembranças difíceis, as partes chatas e parecia que ele havia morrido no dia anterior… Só que hoje, hoje ela tinha perdido mais um pedaço dele e não sabia se dava pra superar isso.
Ela ignorou o toque a porta do seu quarto, porque lhe faltava ânimo, só pensava em dormir, porque dormir é a melhor terapia existente na Terra. Até porque você não pensa em nada enquanto dorme, não sofre, não sente dor e até o que é real, não faz mais sentido.
Ela pegou em sua cômoda a cartela de remédio e tomou três comprimidos, só pensando em relaxar… dormiu.
— Acorda! – Sakura ouvia chamarem-na, enquanto era sacudida. Revirou os olhos sem conseguir ficar na pessoa a sua frente — A sua amiga estava preocupada… – notificou a jovem, deitando-se, ao lado da Haruno, em sua cama de casal.
— Que horas são? – a rosada inquiriu coçando os olhos. — Como você entrou aqui? – perguntou se dando conta de que a porta estava trancada, afinal, ela precisava muito de um pouco de paz e descanso.
— Já é tarde… – respondeu, parecendo ponderar se deveria responder a outra pergunta.
A garota suspirou, dando-se por vencida, aqueles olhos verdes sabiam ser intimidadores.
— Não há portas fechadas para mim. – deu de ombros, esticando para o alto seu grampo de cabelo e Sakura deu uma leve risada.
— Você é mesmo uma peste. – afirmou a rosada.
— Sei que sou sua peste favorita. – rebateu remexendo o corpo no colchão, como se tentasse se encaixar ali. — Agora me conta. – puxou a Haruno para se virar em sua direção, que assim como uma boneca, fez. — Você fez algum progresso no plano?
A Haruno encarou a garota por um tempo e seus olhos encheram-se de lágrimas, a menor ficou confusa, enquanto ainda a encarava, ela nem sabia que Sasuke era tão importante assim para Sakura… “Não era um plano maligno, afinal?” ela devaneiou.
— Eu nem sei se ainda vou continuar com esse plano… mas no momento, meio que não me importa muito. – disparou e não conseguiu segurar as lágrimas que pareciam se multiplicar. — Você já sentiu que perdeu um pedaço da sua mãe, mesmo ela já estando morta?
A garota observou a Haruno, tentando entender como uma pergunta como a que ela fez, gerou tal indagação. Ela suspirou, estava preocupada, sabia que o luto pode ser destruidor e a mulher à sua frente, já não ia bem há um tempo. Ela até decidiu, conscientemente, fazer uma pausa em seu pé de guerra com Ino, pela rosada, afinal ela já tinha que lidar com problemas demais.
— Não sei se eu entendi… – ela comentou sem saber ao certo.
— O Naruto ficou quebrado enquanto estava vivo e agora, eu descobri que nem o carro e nem a casa, onde construímos nossa história, vai ficar como lembrança. – explicou, observando o torcer dos lábios da garota a sua frente. — Eu não sei explicar, sabe? – fungou dentre as lágrimas. — É que parece que ele tá morrendo aos poucos e, em questão de segundos, tudo vai se apagar.
Tayuya percebeu que o luto é bem mais difícil para os adultos, ela não sabia o que dizer.
— Olha... – ela passou a mão no rosto molhado, tentando enxugar as lágrimas de sua mais nova amiga. — quando a minha mãe morreu, eu perdi tudo… perdi meu lar, meus amigos, minha cidade, e cada coisinha que me lembrava dela. Eu fiquei no fundo do poço, a minha vida tinha acabado por completo, eu fazia absolutamente tudo pela minha mãe, inclusive, vir a casa do meu pai que sempre estava trabalhando e, por mais incrível que pareça, eu me comportava. – ela sorriu de canto, limpando uma lágrima que descia no canto do olho.
— A minha mãe era a pessoa mais maravilhosa que eu já conheci, a segunda é você, porque apesar dessa nuvem cinzenta que tem aí, bem em cima da sua cabeça, eu consigo sentir a sua luz. – contou. — E sério, eu não conseguia ter um terço disso quando estava no seu lugar e poxa, todo mundo dizia: Você é nova, tem uma vida toda pela frente. E tudo o que eu queria era que a minha vida acabasse.
— Poxa, pequena! – fungou novamente a mais velha. — Eu sinto muito! – ela a puxou para um abraço, forte, demorado, apertado, reconfortante e elas não queriam se soltar, mas a menina precisava concluir.
— Não importa se a casa é sua… ou o carro. – disse certa de suas palavras. — Ninguém pode roubar o que você viveu com o Naruto! Eu sei que você tá sofrendo e o que é pior, tá sofrendo a prestação, porque a todo momento acontece uma merda e você tem mais uma coisa pra se torturar. Mas, acredite em mim, a melhor coisa é se livrar das partes ruins do Naruto em vida, o que acaba envolvendo a família Addams e, sugestivamente, a casa, o carro e o que mais dele valer uma grana.
— Quantos anos você tem mesmo? – perguntou, logo em seguida dando um leve empurrão no antebraço da garota. — Vamo sair, a Ino deve tá a ponto de me matar.
— A Ino é insuportável… – bufou, levemente impaciente.
— Eu concordo, mas a gente aprende a gostar. – ela riu dando de ombros, logo em seguida acompanhando a menina para fora do quarto.
Inventário de gente morta é um inferno, Tayuya lembrava-se bem da incrível aparição de parentes que ela nem se recordava da existência, logo após o falecimento da sua mãe. Sem falar da demora que foi para a justiça resolver logo toda situação.
Não fazia sentido algum para Tayuya torcer pelo plano maligno, mas ela queria que Sakura ficasse em qualquer coisa que não fosse o luto. E por isso, talvez, só talvez, ela insistisse para Sakura continuar rumo a essa atração furtiva.
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