O lado ruim de ser uma boa estudante é que você acaba por pressionar a si mesma para tirar boas notas, era exatamente o que acontecia comigo todos os dias, principalmente em semana que eu deveria entregar trabalhos e fazer milhares de provas, ficava até tarde estudando para garantir que tudo ficasse perfeito. Isso prejudicava meu sono e sempre era uma droga para levantar da cama.
- Camila... – Afundo meu rosto no travesseiro – Você vai se atrasar, querida. – Sigo o som da voz e vejo minha mãe parada ao lado da minha cama com um sorriso gentil brincando em seus lábios.
- Eu só queria ficar o dia todo na minha cama... – Resmungo e ela ri, beijando minha cabeça.
- Sei que sim, mas hoje você tem uma apresentação na primeira aula e então a excursão, vá tomar um banho. – Da uma balançada em meu corpo e eu solto um gemido de insatisfação com isso.
Por saber que eu já me pressionava demais, meus pais não faziam questão de cobrar notas e ficar me acompanhando na escola, eles simplesmente sabiam que eu dava tudo de mim para conseguir um bom histórico e por esse motivo só optavam por me apoiar além de me instigar a continuar estudando, o que me deixava feliz.
Entro no banheiro e me livro do meu pijama, jogando de qualquer jeito no chão e prontamente entrando no banheiro que eu dividia com Sofia. Depois do meu banho, sequei meus cabelos e corri para o meu quarto para vestir uma roupa confortável, optando por uma calça jeans com detalhes rasgados, uma blusa de algodão verde que tinha mangas compridas e uma estampa legal, coloquei uma touca e optei por calçar meu converse branco.
Assim que entrei na cozinha meu pai estendeu minha mochila, dando um beijo em minha testa enquanto minha mãe me entregava um prato com torradas e colocava um copo com suco na mesa.
Ocupei o meu lugar e não demorei nada para escutar a voz de Sofia ecoando pela casa, hoje ela iria mudar de escola e ficaria em tempo integral para que eu não tivesse a responsabilidade de ficar com ela todos os dias, afinal minha mãe havia conseguido uma promoção e acabaria por trabalhar todos os dias.
- Vamos querida, tenho que te deixar na escola e ainda levar Sofia. – A nova escola dela era perto do trabalho do meu pai, então todos os dias ele me daria carona agora.
- Camila isso é feio. – Sorrio sem jeito e minha mãe não consegue evitar de rir ao ver o pedaço de pão inteiro dentro da minha boca – Ande logo. – Abre a bolsa e tira um pouco de dinheiro de lá – Aqui está um pouco de dinheiro para o seu passeio, não gaste com besteiras.
- Sim, senhora. – Me levanto e pego a mochila – Nos vemos mais tarde.
- Bom passeio e boa sorte na prova.
- Obrigada, mama. – Jogo um beijo e seguro a mão de Sofia – Está pronta para a nova escola?
- Tanto faz. – Revira os olhos e eu a encaro, vendo a mesma sair na frente.
Tinha uma certa pena da minha irmã, ela entrou na escola muito cedo e suas raízes influenciavam demais o que os amiguinhos tinham a dizer sobre ela. Era surpreendente descobrir o que garotinhos e garotinhas de seis anos são capazes de dizer. Meus pais optaram por mudar minha irmã de escola depois da promoção por conta dela sempre estar excluída e por conta das piadinhas maldosas por conta do sotaque latino, que nem tão carregado é.
O caminho até a minha escola foi rápido, o que fez o meu coração apertar, queria acompanhar Sofia até a nova escola e garantir que ninguém jamais iria fazer nada com ela.
- Ei. – Ela me encara – Tudo vai dar certo, tenho certeza que essa escola vai ser melhor que a antiga. – Pisco para ela e Sofia sorri fraquinho – Quero ouvir tudo mais tarde, se divirta.
- Tchau, Mila. – Acena e meu pai faz o mesmo.
Entro na escola com uma bolsa pendurada em um dos ombros e não consigo deixar de olhar para o lado ao ouvir o som do motor de um carro conhecido. Lauren estacionou e então desceu de seu Maverick com a pintura preta intacta, ela se curvou e pegou a mochila, a jogando no ombro e ajeitando o cabelo logo em seguida; a insuportável vestia uma calça jeans de lavagem clara, um top cropped na cor cinza e uma jaqueta jeans, os coturnos pretos brilhavam e os anéis em suas mãos também chamavam bastante atenção.
Maldita mulher maravilhosa. E o fato dela ser linda me deixava ainda mais irritada. Como uma pessoa linda como ela poderia ser tão chata?
- Gosta do que vê, Cabello? – Lauren fecha a porta do carro e eu fecho a cara.
- Prefiro arrancar meus olhos do que ter que ficar te olhando, Jauregui. – Lauren ri e pisca.
- Vou fingir que acredito. – Caminha em minha direção e eu cruzo os braços – Quando quiser me encarar e ainda ter moral para se fazer de desinteressada, tira uma foto sem eu notar, assim pode observar o quanto quiser e não vai precisar admitir em voz alta que você me acha gostosa. – Arregalo meus olhos.
- Se eu quisesse encara alguém como você é só eu passar na secretária e pedir uma folha A4 para Shirley. – Lauren semicerra os olhos e eu solto uma risada debochada – Reta e branca, tem certeza que eu não prefiro olhar outras coisas?! – Apenas me viro e começo a andar.
- Tenho certeza que sim. Mesmo que de acordo com você eu seja reta e branca, tenho certeza que eu pelada é uma das coisas que você tem vontade de encarar. – Viro o meu rosto, chocada com suas palavras e sinto minhas bochechas ficarem extremamente vermelhas quando escuto algumas pessoas a nossa volta começarem a rir.
Irritada e completamente sem palavras começo a caminhar com passos firmes em direção a escola, escutando a risada idiota de Lauren logo atrás de mim
Minhas brigas com Lauren ficaram insuportáveis desde o dia que discutimos na sala de matemática, as piadinhas pesadas continuaram e então passaram a ser falado baixarias, como se eu fosse uma das pessoas que ela está acostumada a se envolver. Mas tudo isso só comprovou o que eu tanto sabia de Lauren: ela é uma cafajeste sem coração.
Ainda com as bochechas extremamente vermelhas e me sentindo super envergonhada ocupei uma mesa na sala de história e me separei todas as coisas que seriam necessárias para que eu fizesse a prova. Instantes antes do meu professor entrar Dinah entrou com o livro em mãos e a bolsa caindo do ombro, seus olhos corriam pelas páginas e uma expressão aflita dominava o seu rosto, mostrando quão nervosa estava para aquele teste.
- Mas que porra... – Solta a mochila de qualquer jeito e se senta atrás de mim.
- Não estudou? – Questiono interessada e ela me encara, ficando com as bochechas vermelhas.
- E-Eu... – Seus olhos analisavam o meu rosto – Não tive tempo, tive que ficar de babá para a minha tia, você conseguiu estudar?
- Claro. – Sorrio analisando a apostila que ela lia – Está na página errada, essa daqui foram as que ele passou. – Ela bufa e eu sorrio – Posso te dar um resumo, o que me diz?
- Eu iria amar. – Prontamente fecha a apostila e toda a sua atenção fica centrada em mim.
Expliquei o máximo que consegui para Dinah em um total de oito minutos, ela não fez nenhuma pergunta e seus olhos castanhos ficaram pregados em mim durante todo esse tempo, o que me deixou confiante em continuar falando sobre a matéria. Assim que meu professor entrou ela bufou e então agradeceu, me lançando um sorriso animado, todos ficaram em silencio e nós focamos na prova.
O que me deixou aliviada durante a prova é que notei que ele fez bastante perguntas daquilo que eu havia explicado para Dinah, ou seja, ela poderia facilmente realizar uma boa parte da prova e garantir uma nota não tão ruim assim.
Assim que o sinal tocou fechei o meu livro e o coloquei dentro da minha mochila, levantei e acenei para meu professor logo depois de entregar minha prova, peguei meu celular para olhar se Ally já havia chegado no lugar que havíamos combinado de nos encontrar para que sentássemos no mesmo lugar dentro do ônibus.
- Olha para frente, Cabello. – Dão um esbarrão e meu celular cai no chão, não consigo evitar de bufar.
Quando subo meu olhar vejo a mesma menina loira que estava no time de Lauren, ela sorria sarcástica em minha direção e parecia satisfeita por ter me feito abaixar.
- Camila? Ei, Cabello. – Me viro e vejo Dinah correndo em minha direção – Você anda rápido para quem não tem pernas tão compridas assim. – Não consigo evitar de rir e ela sorri bem-humorada, estendendo a mão – Está tudo bem?
- Sim, só esbarraram sem querer em mim... – Olho para baixo e ajeito melhor minha mochila, me levantando do chão.
- Eu só queria te agradecer mais uma vez por me explicar a matéria, você realmente me salvou ali. – Sorrio largo por ver que ela havia conseguido realizar a prova.
- Não tem pelo o que agradecer, Dinah. – Falo sincera, começando a caminhar ao seu lado.
- Já pensou em ser tutora na escola? – Automaticamente penso em Lauren e a encaro com as sobrancelhas arqueadas – Bom, eu sei que você é tutora da Lauren, mas ela não conta porque ela é um saco. – Não consigo evitar de rir e ela sorri – Mas a escola paga para as pessoas que ficam até mais tarde e tudo mais, eu costumava fazer isso, mas agora minha tia me paga para ficar com os meus primos e...
- Obrigada pela dica. – Sorrio sem graça, Lauren provavelmente havia dito algo sobre o quanto eu não era rica igual ela – Ally me mandou uma mensagem... – Mostro meu celular – Nos vemos por aí.
- Obrigada, mais uma vez. – Grita quando eu já estou me afastando e eu opto para nem olhar para trás.
Eu já era perseguida por conta das minhas raízes, não queria que Lauren espalhasse que meus pais não eram ricos como grande parte dos pais dos outros alunos, seria um outro motivo para ser zoada, porque aparentemente se você não tem dinheiro não é tão boa assim.
Assim que sai para a escola pude ver Ally conversando com Normani, mas assim que elas me viram caminhando na direção dela prontamente abriram largos sorrisos e pararam de falar sobre o que falavam. Contei para Ally que eu havia ido bem na prova e acabamos começando a conversar sobre a matéria, tendo até uns comentários sendo traçados por Normani, mas logo a melhor amiga de Lauren nos deixou para se juntar a ela e a Dinah.
Esperamos os professores responsáveis pela excursão citar todos os nomes e então fomos separados em dois ônibus para que pudéssemos ir até o museu. Essa excursão iria acontecer durante toda a semana para que todos os alunos de determinadas séries pudessem visitar e consequentemente uma redação pudesse ser feita em cima dele.
Durante todo o caminho até o museu escutei Ally falar sobre como a arrecadações de fundos do final de semana havia sido incrível, mas durante o caminho acabei me distraindo com Lauren, ela ria com Dinah enquanto Normani estava sentada de joelhos na poltrona ao lado da professora conversando com as duas, foi a primeira vez que vi uma Lauren completamente diferente do que eu estava acostumada.
Descemos todos do ônibus e recebemos credenciais para transitar sem maiores problemas pelo museu, fomos separadas em grupos de sete pessoas, para o meu azar havia caído no grupo de Lauren e da menina do seu time, o lado bom era que Normani, Dinah e Ally mais um menino legal da minha turma de biologia também estavam ali.
Devíamos discutir entre os grupos sobre as obras espalhadas pelo museu, mas tinha certeza que a grande maioria iria apenas ficar conversando sem se importar de verdade com o que viam. Mas o meu grupo não, Lauren parecia realmente interessada em tudo o que olhávamos, Ally discutia sobre as estátuas com Normani, Dinah e Beatrice.
- Essa é a estátua mais estranha que eu já vi. – Harry sorri para mim.
- Provavelmente é o enorme nariz. – Sussurro e ele solta uma risada gostosa.
- Deve ser realmente. – Coloca as mãos nos bolsos de sua calça – E o olhar assustador também!
- Vejo que vocês gostaram de uma das peças mais discutidas de toda a exposição! – O guia se aproxima e faz um sinal para que os outros grupos também se aproximem – Essa pedra tem uma história que muitos dizem ser verdadeira: a lenda diz que o rosto no centro da pedra é um espirito aprisionado, Jaguar foi aprisionado na pedra por moradores de uma tribo, já que diziam que ele trocava as almas de corpos para que elas pudessem aprender a viver em harmonia! – Algumas pessoas riem e outras começam a cochichar – A lenda conta que se as almas não conseguirem viver em harmonia por quinze dias ficam para sempre aprisionadas no corpo uma da outra. – Harry arqueia as sobrancelhas.
- Mas contaram porque ele iria gostar que as tribos vivessem em harmonia? Afinal isso poderia gerar revolta das pessoas da própria tribo dele. – Me viro ao notar que Dinah realmente estava interessada no assunto, recebendo uma cotovelada de Lauren, que provavelmente achava aquela história ridícula.
- Ele se apaixonou por uma mulher da tribo inimiga e queria que ambas vivessem em harmonia para que ele pudesse viver seu grande amor. – O guia sorri gentil.
- Cuidado com ela Mila, você não vai querer trocar de corpo com Jauregui. – Ally zomba e eu não consigo evitar de revirar os olhos.
- Essa aqui é uma obra também tem uma lenda bem legal... - Guia faz um sinal para que as pessoas comecem a segui-lo para analisar a próxima coisa.
Fiquei parada no mesmo lugar, fazendo questão de analisar a enorme pedra com o rosto ali “aprisionado”, era uma expressão séria e levemente sombria. Dou alguns passos para frente e começo a ler a placa, apenas para saber um pouco mais sobre a história daquilo, que me pareceu fascinante, mesmo que fosse impossível de realmente se realizar.
Era apenas uma lenda idiota para atrair pessoas até o museu.
- Cuidado para não derrubar a estátua, estabanada. – Lauren fala ao pé do meu ouvido e eu me viro rapidamente, a vendo com um sorriso sarcástico.
- Imbecil. – Rosno irritada.
- Desastrada. – Devolve.
- Idiota. – Me viro e ela prontamente segura o meu braço, me obrigando a ficar cara a cara com ela.
- O que te fazer crer que eu sou idiota? A merda da minha nota em matemática ou o fato de eu não usar calças extremamente apertadas como o Styles?
- Não cansa de ser uma babaca não? – Questiono irritada.
- No dia em que eu for você, eu te respondo. – Seus olhos estavam cinzas e sua expressão irritada.
- Me odeia tanto que quer ser eu, né Jauregui?
- Para quem é toda tímida você é bem segura de si, não é Cabelo?! – Arqueia as sobrancelhas, soltando o meu braço.
- E para quem não se importa com o que eu quero ou deixo de querer você repara bastante em mim, não é Jauregui?! – Ela analisa o meu rosto e trinca o maxilar, enquanto apertava o meu braço.
Senti uma sensação estranha, como se alguém tivesse acabado de passar atrás de mim, prontamente me virei e dei de cara com o nada. Encaro Lauren e podia notar que ela também olhava ao seu redor com uma expressão estranha, apenas me afasto dela e a encaro sem a mínima vontade de lhe dizer mais alguma palavra.
Lauren Jauregui me tira do sério só por respirar.
- Sra. Cabello e Sra. Jauregui o que ainda estão fazendo aqui? – Nossa professora aparece com uma expressão irritada – O grupo está para lá, não queremos que vocês se percam, andem.
Contra a minha vontade caminhei ao lado de Lauren, ficamos lado a lado até o final do percurso do museu, o que gerou diversos olhares raivosos e provocações de ambos os lados, mostrando o quão descontente estávamos no mesmo cômodo. É claro que tanto minha amiga quanto as amigas de Lauren notaram nossos desconfortos em estarmos juntas, mas apenas traçavam comentários e tentavam abordar temas leves para as conversas.
A volta para a escola foi tranquila, é claro que tive que contar tudo para Ally sobre a minha discussão e minha amiga até riu falando que até parecia que Lauren tinha ciúmes de mim, o que me fez revirar os olhos para ela. Lauren não gostava de mim, da mesma maneira que eu não a suportava.
Minha melhor amiga me deu uma carona até em casa, me aconselhando a parar de implicar com Lauren porque isso poderia se tornar algo maior e prejudicar ambas as partes, algo que fui de acordo, não iria mais responder Lauren e simplesmente iria ignora-la de todas as formas, porque eu estava exausta de brigar.
Entro em casa e vejo a mesma vazia, apenas subo as escadas e entro direto no banheiro, iria tomar um banho e então dormir até o dia seguinte para ver se toda essa exaustão sumia do meu corpo.
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