Tentava inutilmente ajeitar todos os livros e folhas de Lauren, mas não demorei nada para derrubar tudo com a buzina do carro de Normani, as folhas e cadernos espalhados arrancaram boas gargalhadas dela, o que me deixou ainda mais nervosa e irritada com toda aquela situação.
- Você tem um jogo importante depois de amanhã e nem segurar seu material direito você consegue? – Desce do carro e começa a me ajudar a juntar as coisas.
- Nem me lembre desse jogo. – Sussurro respirando fundo.
Todos os dias Lauren e eu estávamos treinando para que eu conseguisse fazer alguma coisa no campo, mas é claro que eu não era nem um por cento do que Lauren conseguia ser durante todos os jogos. Eu havia feito ela entender toda a matéria de matemática e eu não conseguia ter a capacidade de agarrar uma bola direito por algumas vezes seguida, mesmo que ela não demonstrasse eu sabia o quanto Lauren ficava frustrada.
O pior de tudo era que além do jogo importante depois de amanhã também era o dia em que trocaríamos ou não de corpos.
- Ei, você vai se sair bem, como sempre. – Tenta me encorajar e eu sorrio forçadamente.
- É. – Entramos no carro e eu prontamente colo o cinto – Camila tem me ajudado com os estudos, então não estou conseguindo ter muito tempo para treinar. – Normani ri, ligando o carro.
- Estudando, é claro. – Ri divertida – Me engana que eu gosto, vocês ficam se pegando.
- É CLARO QUE NÃO. – Não consigo deixar de elevar “minha” voz.
- Me engana que eu gosto, vocês ficam o tempo todo juntas e você nem implica mais com ela, apenas fica dando sorrisos tímidos para Camila. – Sinto minhas bochechas ficarem extremamente vermelhas – Até ficou vermelha e ainda quer dizer que eu estou mentindo.
- Nós não temos nada, somos apenas amigas.
- Então de colegas de estudos se tornaram amigas?
- E tem como não se tornar? Passamos quase todas as tardes juntas e nos intervalos discutimos sobre escritores e...
- Nossa. – Normani me encara por alguns instantes – Esse é o seu ideal de encontros? Ler e depois discutir sobre? – Ri dando um tapinha no “meu” braço.
- Você não entende... – Mordo o lábio inferior para prender o sorriso – Não é o meu ideal, mas é o dela... ela ama ler e ama discutir sobre isso, ela nota coisas que você jamais iria conseguir notar mesmo se lesse trinta mil vezes e ela tem uma paixão por livros que você jura que são antiquados e horríveis, mas que na verdade são excelentes. – Suspiro e então balanço a cabeça quando noto que Normani me encarava toda vez que tinha oportunidade – Ela é diferente do que eu pensei que fosse, só isso.
Nos últimos dias eu havia me encontrado com Lauren em todos eles, mas era bem mais do que estudos e treinos para o grande jogo. Agora nós riamos horrores e até mesmo tínhamos piadas internas, desabafávamos e até mesmo compartilhávamos novos segredos, ela se impunha para me defender todas as vezes que alguém tentava fazer uma brincadeira de mal gosto e eu dava o melhor de mim para que o nome ‘Lauren Jauregui’ fosse um destaque no quesito notas.
Lauren não era tão ruim assim, na verdade, ela passava bem longe de ser uma pessoa ruim. A garota tem o mesmo gosto para música que eu, amamos as mesmas séries e até mesmo filmes. Diferente do que eu imaginava Lauren odeia sair de casa, sua família vive sugerindo reuniões entre eles e os pais de Normani e Dinah, que aparentemente vivem na casa dos Jauregui’s aos finais de semana. Lauren não é nada com o que aparenta ser, ela é melhor, muito melhor.
Quando chegamos na escola não pude evitar de sorrir largo ao ver “Lauren” encostada no carro de Ally, ela lia o livro que nossa professora havia indicado enquanto Ally tagarelava alguma coisa com sua amiga Natalie. Assim que escutaram nossos passos todas elas nos encararam e o que mais me chamou atenção foi o sorriso tímido que “Lauren” lançou em minha direção após fechar o livro.
Cumprimentamos todas e as três logo se reuniram, aparentemente discutindo algo sobre a aula de matemática, me limitei a ficar perto de “Lauren”. Hoje ela havia pegado uma das minhas blusas favoritas e poucas vezes usada, verde com detalhes brancos e optado por usar uma calça jeans de lavagem clara mais um converse.
- Você está me deixando com uma cara de mais descolada com essas roupas. – Lauren ri divertida e nega com a cabeça.
- São suas roupas, eu só escolho e as visto. – Da de ombros – Eu realmente gostei dessa, estou pensando em roubar para mim... – Puxa um pouco a blusa.
- Só nos seus sonhos! – Me encosto no carro.
Lauren conseguia exalar confiança até mesmo no meu corpo, que sempre exalava o oposto disso.
- Eu gosto dos seus moletons. – Comento como não quer nada – Podemos fazer algumas trocas, se você quiser. – Arqueia as sobrancelhas.
- Posso pensar, Cabello. – Sussurra o sobrenome e eu rio.
Agora estávamos acostumadas com as trocas de nome, era comum eu chama-la de Camila e ela me chamar de Lauren, mas ainda sim continuávamos usando nossos nomes de verdade entre nós para simplesmente não perdemos o costume e muito menos esquecermos de quem realmente éramos.
- O que tanto cochicham? – Dinah se aproxima, ajeitando a mochila no ombro.
- Sobre roupas. – Respondo rapidamente, não queria outra pessoa se referindo a Lauren e eu como um casal mais uma vez, e mesmo conhecendo Dinah a pouco tempo, eu sabia que ela era assim.
- Meu assunto favorito. – Dinah sorri – Podemos fazer compras, o que me dizem?
- Meus pais e eu fizemos compras esse final de semana. – Lauren comenta e eu a encaro.
- É mesmo? – Não consigo evitar de perguntar – Você escolheu roupas? – Dinah me olhava confusa e Lauren me fuzilava com o olhar, como se eu fosse idiota.
- É isso que se faz quando se compra roupas, não?! – Dinah ri, abraçando Lauren pelos ombros.
- Cada dia que passa eu gosto mais e mais de você, Cabello. – Da um tapinha no ombro de “Lauren” – A cada piada e tirada com Lauren você sobe um nível a mais no meu conceito!
Confesso que as vezes nós nos provocávamos como antes, mas não era aquela coisa absurda e chata de antes, eram provocações saudáveis e até mesmo divertidas, sem um clima pesado e muito menos maldoso. Eu sabia que Lauren havia parado com as brincadeiras, ela via como o resto da escola me tratava e provavelmente não queria se igualar a eles, o que me deixava aliviada. As brincadeiras maldosas com "Lauren" pararam desde que o boato foi solto, Beatrice havia faltado dois dias e quando estava em um lugar com muitas pessoas evitava chamar atenção, o que era excelente.
O sinal tocou e todas nós acabamos entrando todas juntas, Dinah e “Lauren” se afastarem me deixando sozinha com Normani e Ally, ambas tagarelaram sobre qualquer coisa e eu apenas acenei sem muita vontade, me limitando a entrar na sala onde a “minha” primeira aula do dia iria acontecer.
Comecei a copiar a lição e não pude deixar de encarar o meu professor de história com descrença. Ele realmente implicava com a minha pessoa, Camila Cabello. Enquanto estava no corpo de Lauren notei que o Sr. Kidman é simplesmente apaixonado por tudo que Lauren Jauregui faz, “eu” sempre sou a primeira a ser escolhida quando levanto a mão para tirar dúvidas ou responder suas perguntas, e o careca até brinca “comigo”, diferente do que acontece quando estou em meu próprio corpo.
Talvez ele fosse que nem os idiotas do colégio e implicasse comigo por conta das minhas raízes, não seria uma surpresa tão grande assim.
As aulas correram normalmente e não pude deixar de sorrir ao passar no refeitório e ver “Lauren” sentada com Ally e Normani, e meu sorriso só se alargou quando notei que Dinah se aproximava para sentar na mesma mesa onde elas estavam. Ocupei o lugar entre DJ e “Lauren”, que me lançaram sorrisos gentis e até mesmo se afastaram para que eu pudesse ocupar melhor o assento.
- O que vocês acham de sair conosco depois do jogo de Lauren? – Normani questiona e eu prontamente levanto a cabeça – Quer dizer, não tem problema, não é Laur?
- Claro que não. – Respondo prontamente e ela sorri, encarando “Lauren”.
- Então Camila, o que você me diz? – “Lauren” assente – E você, Ally?
- Vai ter comida?
- E mini-golf. – Mani declara animada e eu torço a boca, não era boa com aquelas coisas.
- Acho melhor apenas vermos alguns filmes, tenho certeza que Lauren vai estar cansada depois do jogo. – “Lauren” comenta, e só então eu me toco, isso provavelmente era verdade.
- E além do mais tio Mike sempre gosta de fazer noite do hambúrguer depois dos jogos, ainda mais se elas ganham. – Dinah comenta enquanto comia sua gelatina – Não é mais fácil nós irmos na casa da Lauren e fazermos uma maratona de filmes mesmo? Ai assim eu posso finalmente fazer minha competição com Taylor de quem come mais hambúrgueres.
- Tudo bem então, suas chatas. – Normani revira os olhos – Mas todas vocês estão me devendo uma partida de mini-golf.
- Nós podemos fazer isso na semana que vem, Mani. – Ally sugere e então a negra sorri largo.
Nossa conversa continuou e de repente se calou quando “Lauren” soltou um grito assustado, senti algumas partes da "minha" roupa ficarem molhadas e virei o “meu” rosto a vendo completamente ensopada e Beatrice rindo dela depois de seguir como se nada houvesse acontecido. Notei que ela mantinha os olhos fechados para que a bebida gelada não entrasse em “seus” olhos.
- RAINHA DOS BAIXINHOS, PEGA. – O refeitório inteiro fica em silencio quando a loira tinha sua blusa do time completamente manchada pelo molho de tomate da pizza de Dinah.
- HANSEN EU VOU ACABAR COM VOCÊ! – Ela corre na direção de Dinah e DJ apenas pega a garrafinha com suco de Normani e começa a espirrar antes de Bea se aproximar, sujando ainda mais sua roupa.
- GUERRA DE COMIDA. – Um garoto grita com uma voz engraçada e todos berram, se preparando para o que iria acontecer em seguida.
Não pude deixar de soltar um grito quando senti um pudim de chocolate acertar o meu moletom favorito. “Lauren” se levantou com um largo sorriso e não demorou nada para pegar sua salada de frutas e lançar em Cece que caminhava em nossa direção. Todos do refeitório riam e continuavam a lançar comida como se não houvesse amanhã, algumas pessoas haviam até mesmo subido nas mesas para conseguirem uma mira melhor, isso incluía Normani, que parecia irritada por terem sujado seu cabelo.
Foi como se eu realmente me vingasse pela primeira vez em toda a minha vida, enquanto Beatrice tentava acertar Dinah eu peguei o milho que Ally ainda não tinha começado a comer e treinei meu arremesso para o jogo de sábado, lançando o mesmo em suas costas e então me virando para fingir que não havia sido eu.
- BELO ARREMEÇO. – “Lauren” solta uma gargalhada gostosa e pega o seu copo de suco – Tente com algo líquido agora, apenas vire na cabeça dela. – Me incentiva e eu nego com a cabeça – Vá, ela fez isso com você... – Aponta para “si mesma” – Na verdade foi comigo, mas você entendeu.
Olho o copo com suco e respiro fundo, o tirando de sua mão e caminhando apressadamente para ajudar Dinah, que parecia possessa. Uni toda a minha coragem e virei o copo com suco de uva nos cabelos loiros e lisos de Beatrice Miller, minha maior inimiga. Quando se virou para gritar com quem havia feito aquilo, Dinah simplesmente pegou um novo pudim e espalhou pelas costas de Miller, que parecia ainda mais possessa e simplesmente saiu correndo.
Todos continuaram lançando comida um nos outros, até mesmo “Lauren” lançou algumas coisas em mim enquanto eu ria e lançava de volta. Era um enorme desperdício de alimento, o que fez a minha consciência pesar, mas o sentimento passou quando notei de longe o quão irritada Beatrice estava ao lado de suas fieis escudeiras, Cece e Diamond.
Olhei para Dinah, Normani, Ally e “Lauren”, sorrindo ao notar que eu também tinha novas escudeiras.
- PAREM AGORA MESMO. – A gritaria para no mesmo momento – Isso é ridículo e eu estou horrorizado com o enorme desperdício de comida, mas principalmente com o comportamento repugnante de vocês. – Automaticamente solto o pão que eu tinha em mãos.
- Nós estamos ferradas. – Sussurro apavorada.
- Se conseguem sujar, também conseguem limpar. – Não consigo evitar de fazer uma careta com a fala do diretor – Todos vocês vão ficar aqui pelas próximas aulas até que esse refeitório esteja impecável, então sairão em fila pela porta que sai para o estacionamento. – Ninguém mais dizia uma única palavra – Os nomes de todos os alunos serão anotados e os pais de vocês receberão uma notificação, e nem tentem sair sem serem vistos. Podem começar.
- Isso valeu muito a pena, eu declarei a guerra. – Um menino com lindos olhos azuis ri divertido.
- Acho que por sua culpa todos nós pegaremos detenção... – “Lauren” murmura.
- Oh valeu muito a pena. – Ajeita seus suspensórios – Prazer, Louis Tomlinson.
- Nós sabemos. – Mani ri – Você é o garoto engraçado da minha aula de Geografia.
- Já gostei de você. – Sorri charmosamente – Pessoas que me acham engraçadas sobem no meu quesito sempre. – Se abaixa e começa a juntar a comida do chão – Você acha que esse molho branco vai sair da minha camisa branca?
- Eu posso te ajudar com isso depois, minha mãe entende bastante sobre manchas. – Ally comenta gentilmente.
- Isso seria ótimo, obrigado. – Puxa uma bandeja e começa a colocar a comida ali – Acho que vamos precisar de alguns esfregões...
Entre reclamações e choramingos todos começaram a limpar o enorme refeitório, Dinah era só risadas com o tal de Louis, enquanto Normani e Ally bufavam irritadas juntando tudo e “Lauren” apenas levava tudo o que todas nós conseguíamos colocar junto. Demorou bastante e alguns estudantes até mesmo pegaram esfregões para facilitar tudo, o que realmente ajudou na hora da limpeza final.
Quando estávamos terminando tudo lembrei que não havia comido nada, por isso “meu” estomago começou a roncar diversas vezes, atraindo o olhar das meninas e arrancando risadas das mesmas. Fomos todos dispensados, o que de certa forma foi excelente para “Lauren” e eu, já que poderíamos treinar mais um pouco para o jogo e ficaríamos mais um dia sem receber a nota da prova de matemática.
Estávamos caminhando para fora da escola depois de darmos nossos nomes então fomos paradas por uma garota do time de Softball, Jennel Garcia informou que a treinadora estava juntando as meninas do time para um treino de emergência já que Carly havia se machucado e não poderia jogar no sábado.
Todas as meninas me acompanharam até a quadra, ocupando os bancos da arquibancada apenas para assistir uma parte, ou no caso de “Lauren” assistir ao treino inteiro. Irritada por ver que metade de seu time já estava imundo de comida, a treinadora fez todas treinarem com a roupa que estavam, o que me fez quase chorar, eu amava a roupa que havia colocado no corpo de Lauren aquele dia.
O treino –pela primeira vez- foi divertido, havia uma boa quantidade de alunos na arquibancada e todos eles gritavam animadamente, instigando todas as jogadoras do time a darem seu melhor –mesmo que metade delas não conseguissem correr direito graças as calças jeans-.
- SIM, PORRA! – Escuto o grito de “Lauren” quando eu rebato a bola de primeira.
Me virei e deparei com “ela” agarrada na grade, exibia um largo sorriso e tinha um polegar no alto mostrando que aprovava minha jogada.
- Muito melhor que semana passada, Jauregui. – A treinadora da tapinhas em “minhas” costas e eu sorrio sem graça.
- Andei treinando.
- Ótimo, seria horrível se perdêssemos por sua culpa. – Arregalo os olhos.
- É, seria uma pena. – Sussurro apertando o taco entre “meus” dedos.
- Agora pode dar mais três voltas, você pode apostar com Frey. – Grita o sobrenome de uma das melhores amigas de Beatrice e eu sinto “meu” coração acelerar.
- COLOQUE ESSAS PERNAS PARA TRABALHAR, LAUREN. – Escuto o grito de Dinah e sorrio.
Eu estava perdendo na maldita corrida ao redor do campo durante as duas primeiras voltas, foi então que aproveitei que Cece havia dado tudo de si nas duas primeiras e acabei dando tudo de mim na última, correndo o mais rápido que eu conseguia para chegar na sua frente, o que deu certo e arrancou gritos de “Lauren” lá da arquibancada.
Era estranho e ao mesmo tempo divertido ter alguém torcendo e gritando por mim, mesmo que não fosse por mim na verdade, era bom ter a sensação de não estar sozinha e ter alguém torcendo para o meu sucesso.
A minha vida escolar inteira foi solitária, quando não estava com Ally estava na companhia de um livro qualquer ou até mesmo acabava por ficar em alguma sala e conversar com algum professor que não se incomodava em passar o intervalo discutindo comigo sobre qualquer assunto. Mas agora era diferente, eu tinha mais pessoas, Lauren havia conseguido me incluir na vida de mais duas pessoas que mesmo sem me conhecerem arriscaram a própria pele para me defender.
Era bom a sensação de não estar mais sozinha, de deixar de ser “ninguém” e finalmente passar a ser alguém que outras pessoas notam de uma maneira positiva.
Depois do treino as meninas me deram uma carona até em casa, onde apenas fiz um sinal para “Lauren” que iriamos nos encontrar mais tarde, e ela prontamente assentiu com a cabeça. Foi questão de segundos até a Sra. Jauregui se aproximar e me encarar horrorizada ao notar “meu” estado: corpo completamente cheio de terra, suada e com restos de comida por todos os lados.
- Lauren Michelle o que aconteceu com você? – Passo a mão no cabelo de Lauren, sentindo o mesmo grudento e fedido.
- Houve uma guerra de comida no refeitório por conta de uma idiota. – Clara arqueia as sobrancelhas e eu coço o pescoço – Então a treinadora ficou irritada e treinou todo mundo com essa roupa mesmo. – Abro os braços e ela me encara incrédula.
- Eu não acredito que ela fez isso. – Dou de ombros – Vá tomar um banho agora mesmo.
- Sim, senhora. – Bato continência e ela ri, pegando a mochila – Você tem que assinar um bilhete, todos os alunos que estavam no refeitório levaram um para casa.
- Pode deixar. – Tosse – Meu Deus, você está fedendo, Lauren. – Assinto, fazendo uma careta.
- Eu estava pior, nos limpamos antes de entrar no carro de Normani. – Começo a subir as escadas e automaticamente me lembro de Lauren – Camila me ajudou a retirar algumas coisas do cabelo. – Clara sorri de canto.
- Então está bom, agora tome um banho, querida. – Assinto – Acho que você nunca esteve tão fedida como agora. – Rio e subo o resto das escadas, entrando no quarto de Lauren e então me trancando no banheiro.
Rapidamente retirei a roupa e entrei debaixo do chuveiro doida para tirar tudo aquilo do meu corpo, mas acredito que iria precisar tomar uns três banhos para o cheiro de comida de todos os lugares do corpo de Lauren. O banho foi longo, tive até mesmo que pentear duas vezes o cabelo debaixo da água para garantir que nada estava mais nas mechas grossas e negras do cabelo de Lauren, da mesma maneira que tive que esfregar toda a sua pele com a esponja e um sabonete líquido extremamente cheiroso que ela tinha em seu banheiro para tentar retirar o cheiro forte de comida da pele.
Não consegui deixar de analisar o corpo nu de Lauren no espelho depois de sair do banho. Algumas partes estavam extremamente vermelhas por conta de tanto que eu havia esfregado com a esponja e o sabonete. Eu gostava do corpo de Lauren, não era um corpo malhado e muito menos extremamente magro –como o meu era-; ela tinha curvas nos lugares certos; suas pernas eram malhadas e sua barriga não era chapada, mas era sexy. Tudo em Lauren conseguia ser atrativo, e isso era assustador.
Talvez fosse meu emocional confuso, ou então o fato de eu conhece-la bem como ninguém, poderia ser o simples ato dela ser extremamente cuidadosa comigo agora ou eu finalmente notar que seu interior é tão maravilhoso quanto o exterior. Talvez, mas só talvez, eu estivesse me sentindo cada vez mais atraída por Lauren, de uma maneira intensa.
Encontrei os irmãos de Lauren ocupando os assentos para que todos almoçássemos juntos, prontamente peguei um lugar e Clara prontamente se aproximou para deixar um beijo no topo da “minha” cabeça, sorrindo e sussurrando que agora eu estava apresentável além de cheirosa o suficiente para receber um beijo, o que me arrancou uma risada.
Durante todo o almoço a atenção foi direcionada a minha pessoa, que contou o que havia acontecido, evitando citar “Camila Cabello foi o motivo de Dinah Jane Hansen e Louis Tomlinson iniciarem uma guerra de comida”, Clara já estava de marcação cerrada em relação ao dia em que chegamos e “Lauren” estava completamente machucada depois da surra de Beatrice, não queria que ela achasse que era perseguição e muito menos que procurasse meus pais para dizer algo.
- Laur, Camila está aqui. – Clara empurra a porta e eu prontamente me sento na cama vendo “Lauren” entrar no quarto – Fique à vontade, desçam mais tarde para comer algo caso sintam fome, estarei dando aulas na escola então nada de bagunçar. – Me encara e eu assinto.
- Obrigada, Clara. – “Lauren” sorri gentil e se vira para mim.
Não pude evitar de sentir vontade de rir quando antes de sair do quarto Clara me encarou e simplesmente mexeu a boca dizendo “Eu a amo” enquanto apontava para “Lauren” e deixava o quarto logo em seguida.
Clara é uma pessoa extremamente carinhosa e ama saber tudo o que se passa na vida dos filhos sem ser invasiva, também em pouco tempo consegui notar que ela faz o possível e impossível para ver aqueles que ama saírem sem se machucar em qualquer situação, o que é admirável.
- Sua mãe é um amor. – Murmuro me deitando novamente na cama.
- Eu sei. – “Lauren” ri divertida – Sinto saudades dela me interrogando todos os dias depois da aula, não sei se você está conseguindo lidar com isso...
- Eu estou, não é tão difícil assim. – “Lauren” puxa um caderno da bolsa e me encara – Precisa de ajuda em alguma lição? – Questiono interessada e ela nega.
- Comecei a escrever a peça. – Abro um largo sorriso – E eu não estou gostando muito, queria pedir sua opinião...
- Eu não sei escrever muito bem. – Me encara por longos instantes, mesmo sem os olhos verdes, suas encaradas continuavam sendo extremamente intensas.
- Mas você me disse que gosta de atuar, então pode me ajudar a escrever a personagem perfeita. – Comenta sincera – Como seria a personagem ideal para você?
- Alguém completamente diferente de mim! – Franze o cenho – Afinal qual seria a graça de representar alguém que eu já sou? – Sorri, anotando alguma coisa no caderno – O que você está anotando? – Questiono interessada.
- Uma escritora nunca revela seus segredos. – Rio, me aproximando dela.
- Isso é ditado para mágicos. – Tento agarrar o caderno e ela me empurra delicadamente, me fazendo bufar – Me deixe ver, Lauren. – Estica o braço e eu apoio a mão em “seu” ombro para conseguir pegar o caderno enquanto ela me puxava para baixo – Eu quero ler o que você escreveu, anda logo.
- Não, você vai ler depois.
- Eu quero ler agora. – Sinto uma de “suas” mãos começaram a fazer cosquinhas em “minha” cintura e eu prontamente me encolho, não conseguindo prender a risada.
Escutei o barulho do caderno caindo no chão e logo senti dedos se apossarem de diversos lugares do “meu” corpo, me fazendo rir alto e tentar inutilmente parar com as cócegas que tiravam o ar dos “meus” pulmões. Quanto reparei “Lauren” já estava com uma perna em cada lado do meu corpo e ela sorria, genuinamente. Aquele era o sorriso de Lauren, não meu, mesmo que estivesse estampado em meu rosto.
Nossos olhares se encontraram e eu senti meu coração acelerar da mesma maneira estúpida que estava acelerando nos últimos dias, Lauren tinha a maldita mania de passar segurança para mim até mesmo sem tentar. Acredito nunca ter me sentido tão segura como naquele momento, em “seus” braços.
- Opa, desculpa. – Prontamente me afasto de “Lauren” quando escuto a voz de Taylor – E-Eu estava... Laur eu vou na casa da... – A irmã mais nova de Lauren olhava para todos os lados.
- Tudo bem. – Falamos ao mesmo tempo, “Lauren” me encara confusa e arregalo os olhos, estava apavorada.
“Lauren” e eu não estávamos na melhor pose, afinal não é como se estivéssemos esperando alguém entrar no quarto. Taylor entrou bem no momento em que “Lauren” estava sobre mim, nossos corpos colados e o interior de “suas” coxas contra o “meu” quadril, fora a encarada intensa que estávamos dando.
- Nos vemos mais tarde, bons estudos. – Ri e bate à porta logo em seguida.
- Espero que ela tenha escutado as risadas, ou vai achar que nós estávamos...
- Oh... – Sinto “minhas” bochechas ficarem vermelhas – Ela já viu você...
- Sim. – Ri, negando com a cabeça – Não em casa, obviamente.
- Como assim?
- Nunca trouxe ninguém para a minha casa. – Comenta sinceramente.
- Por que? – Não consigo evitar de questionar.
- Porque nunca achei alguém que valesse a pena. – Pega o caderno – Agora vamos continuar, você precisa me ajudar a pensar nas personalidades de todos os personagens.
- Para isso eu preciso saber a história. – “Lauren” ri, assentindo.
Calmamente começamos a discutir sobre a peça, sentindo um enorme frio no estômago ao ouvir a história que Lauren queria contar.
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