Emilia on:
No banheiro do meu trailer, lavo as mãos e, então, através do espelho da pia – que me permite a visão até a altura dos quadris – eu não meço esforços para esconder o meu ventre inchado o máximo possível com o meu poncho.
Nathalie – Caiu no vaso? – ela questiona e eu solto uma risada abafada.
Emilia – Não! – respondo, saindo do banheiro.
Nathalie – Quem diria que é possível? Você está indo mais vezes no banheiro do que da última vez que te vi. – ela comenta, desviando os olhos do celular.
Emilia – E será por quê? – retruco, acariciando a minha barriga para lhe evidenciar o volume, e ela sorri – Mais nenhuma foto? – pergunto, me sentando ao seu lado.
Nathalie – Não. A responsável por você quase fazer xixi no sofá foi a última. – ela informa e se vira para mim – Sabe, eu já vi algumas fotos tiradas pelo Kit e, claro, você só tem elogios acerca do quanto ele é bom nisso. Mas, tenho que admitir que eu amei as que ele tirou hoje.
Emilia – Ele vai amar saber disso. – comento, com um sorriso.
Nathalie – Obrigada por topar todas as poses, até as mais ridículas. – ela agradece e eu dou um empurrãozinho carinhoso nela.
Emilia – Até parece que você precisa falar isso para mim! Eu que sou sortuda por ter duas madrinhas que já adoram a minha filha ao ponto de se expor à essas poses ridículas. – retruco e ela ri.
Nathalie – Fico aliviada por nós duas não sermos as únicas a pedirem várias fotos. De manhã, você comentou que o Kit tira um bilhão delas. – ela relembra e eu sorrio.
Emilia – Eu até que gosto. Enchemos dois álbuns só para esse mês. – comento – E não me incomoda mesmo... Eu já me acostumei com uma câmera apontada para mim a cada passo.
Nathalie – Isso não é nem um pouco surpreendente. Ele já fazia isso antes da barriga crescer! – ela aponta e eu sorrio, alegremente – E convenhamos, tem como culpá-lo? – ela pergunta e acaricia a minha barriga – Olha como a minha afilhada está crescendo! – ela exclama, feliz.
Emilia – Ai, Nathalie... Você era a minha principal testemunha do quanto o Kit vai mimar a nossa filha... Que os céus me ajudem, pois vejo que você irá mimá-la tanto quanto ele! – provoco, com um tom dramático.
Nathalie – Para! – ela ordena – Eu não chego naquele nível e você só fala isso para me chatear! – ela retruca, com humor, e eu rio – E só para deixar claro, ninguém nunca vai chegar naquele nível! Acho que só o Kit conseguiu chegar até ele.
Emilia – Aham. – comento, fingindo um olhar desconfiado para ela – Isso quer dizer que você não está nem um pouco animada?
Nathalie – Animada é uma coisa e, outra, é o Modo Kit de ser. – ela defende e as minhas gargalhadas ficam mais altas.
Emilia – Justo! – respondo.
Nathalie – Óbvio que é justo! – ela ri comigo – Mas, você não pode me culpar por estar tão feliz! Antes de vocês irem para Londres, a sua barriga estava pequena. E agora... Olha essa barriga! Ela está aí! Parece tão louco o quanto está perto dela vir... Em menos de cinco meses, serei madrinha! – ela faz um desenho de um rosto feliz em minha barriga com os dedos.
Emilia – Sabe, quando chegamos em Londres, a minha mãe falou a mesma coisa sobre a barriga. E ainda adicionou que só iria piscar e a neta dela já estaria em seus braços. – sorrio e, então, faço uma careta – Nossa, até que não seria tão ruim... Podemos considerar que falta pouco tempo, mas continua sendo mais de quatro meses... Essa barriga tem muito para crescer!
Nathalie – Você não gosta? – ela pergunta, chocada.
Emilia – Antes de tudo, eu amo ver a minha bebê crescendo! E, há vezes, que eu estou tão acostumada que nem parece que houve alguma mudança. Só que ninguém te avisa que a barriga pesa já quando ela começa a ficar maior, que a dor nas costas é insuportável, que tem o inchaço e há um desconforto irritante dos órgãos sendo pressionados para abrir espa... – ela me interrompe.
Nathalie – Tá, já entendi! – ela avisa e eu sorrio – Por favor, eu só consigo escutar o mais leve disso tudo! Que tal começarmos pelo inchaço? Acho que ele não tem perigo de me fazer vomitar!
Emilia – Nunca vi tanto drama... Mas, vou respeitar os seus limites. – debocho de brincadeira, enquanto me viro para a Nath, e ela me mostra o dedo do meio – Tudo bem. Como podes ver, eu estou inchada. – resumo, gesticulando para o meu corpo e rosto – O Kit diz que não, mas sabemos que ele mente sobre isso para manter a cabeça no lugar! – informo e ela ri – E a Rose reparou no inchaço, também. – menciono e a risada para quase que no mesmo instante.
Nathalie – O quê? – ela me olha, boquiaberta.
Emilia – Bem, eu falei que era só a menstruação e, desde então, as nossas ligações têm sido por voz. – conto.
Nathalie – Você acha que ela desconfia que pode ser mais do que uma menstruação? – ela questiona e eu levanto as mãos num sinal para demonstrar que não sei – Bom, se quer saber minha opinião, eu manteria as ligações por voz até contar à ela. – ela aconselha e eu concordo – E como tem sido para marcar a data que vão revelar a gravidez para ela?
Emilia – Ah, continua como te falei da última vez... – solto um suspiro – Não encontramos uma data que fique bom para todos. Como você sabe, o Kit quer estar lá para a conversa, pois acredita que isso deve ser feito por nós dois. Eu concordo e quero ele lá, também. Mas, bem... É complicado falar sobre o assunto quando eles ainda não se falaram, sabe?
Nathalie – Por quê? – ela questiona.
Emilia – Bem, eu falei apenas poucas vezes sobre nós três nos encontrarmos para a Rose. Não quero sufocar ela. Mas, digamos que, quando eu mencionei “nós três”, ela pareceu desconfortável, para dizer o mínimo. O Kit fica apenas indiferente e diz que o que acertamos está bom, pois eu conheço o horário dele. Mas, ela não acha nenhuma data por agora e seria bom que o encontro seja no próximo mês, por conta dos rumores. – respiro fundo e apoio a minha cabeça no encosto do sofá – Lembra que você me perguntou se eu estava dando uma de intermediária e respondi que não?
Nathalie – Lembro. – olho para ela.
Emilia – Acho que ter que determinar uma data para nós nos encontrarmos me colocou nessa posição... E é uma merda! – reclamo e, então, passo a mão pela minha barriga – Eles não se falam e eu me sinto mal por forçar um reencontro entre nós. Bem, não estou forçando, mas parece que estou. Pelo menos, o Kit tem conhecimento que é importante que a Rose saiba por nós e pessoalmente.
Nathalie – Eu entendo, de verdade. Os dois querem que seja pessoalmente, pois precisam garantir que a Rose tenha toda a verdade e que ela saiba que os dois não a traíram... – ela articula e eu a observo – No entanto, Em, mesmo que pessoalmente, há cinquenta por cento de chances dela não acreditar, assim como tinha as de hoje... E foi por conta disso que você ficou tão sentida na reunião, não é? Não vou dizer que não é por ter a Meghan desconfiando de você, uma parte com toda a certeza é isso. Mas, me parece que existe uma outra que tem medo de que o igual aconteça com a Rose. Que mesmo olhando nos seus olhos, ela não acredite.
Emilia – Não estou afim desse assunto agora, Nath... – respondo, inquieta.
Nathalie – Tudo bem, podemos trocar o tema da conversa, mas quando quiser falar sobre isso. – ela sugere e eu, agradecida, assinto e, logo, começo a tentar afastar a questão da minha cabeça – Então, você acha que eles não se resolvem até o próximo mês? – ela pergunta.
Emilia – Eu não sei. – admito – A Rose ainda tenta uma ligação em alguns espaços de tempo. O Kit ignora todas. – levanto as sobrancelhas e solto um suspiro cansado – Eu não me meto nessa questão. Eles são adultos e devem se resolver sozinhos. Bem, se irão se resolver... Há uma grande possibilidade dele não querer fazer as pazes com ela. Bem, é a vida dele. Se isso é a escolha que o deixa mais feliz, eu vou respeitar e é o que eu faço. Quero o melhor para o Kit e espero do fundo do meu coração que a Rose fique bem com a escolha dele.
Nathalie – Bem, não tem muito o que fazer em relação a isso. – ela responde e eu concordo.
Emilia – E, mesmo se tivesse, não cabe a mim. Eles que são responsáveis pelo que será feito. – agrego e a Nathalie sorri para mim.
Nathalie – Vejo um grande avanço da Emilia que queria achar um modo de apressar a resolução do problema e da que compreende que o melhor é deixar nas mãos deles. Estou orgulhosa! – ela elogia e eu sorrio.
Emilia – Tenho que reconhecer a minha melhor amiga por ter me ajudado a chegar nesse pensamento. – retruco e, enquanto ela sorri, percebo que tenho mais uma coisa a ser grata – Obrigada por ter sido a minha melhor amiga na reunião, Nath. – digo e ela apoia a cabeça no encosto do sofá.
Nathalie – Não precisa agradecer, Em. – ela bufa – Não acredito que a Meg falou aquilo sobre você. – ela expressa, desapontada – Ela é nossa amiga!
Emilia – É da Rose, também. – adiciono e ela assente, de uma forma que não me parece convencida – Mas, você continua irritada.
Nathalie – Não consigo imaginar como ela consegue acreditar que você faria algo do tipo. Ela te conhece! Em nenhum momento ela pensou que isso era incoerente? Que ela foi incoerente? – ela desabafa e cruza os braços.
Emilia – Não foi tão incoerente assim... Antes do beijo, você conhecia a Rose tanto quanto eu e, provavelmente, não acreditava que ela poderia fazer o que a situação nos indicava. No entanto, se eu bem me lembro, você estava prestes a caçar ela por Nova York quando descobriu! – menciono e ela sorri brevemente.
Nathalie – É diferente, Em. – ela se arruma no sofá e me olha – Eu amo a Rose, ok? Estou muito feliz por vocês terem voltado a serem amigas. No entanto, por mais que tenha sido uma ação automática e sem sentimento nenhum da Rose, aquele beijo aconteceu. Houve um beijo que serviu de motivo para você se sentir traída por muito tempo! Hannah e eu tínhamos motivos para querermos caçar a Rose, mas a Meg não tem nenhum para falar aquelas coisas para você.
Emilia – Ela está pensando com as informações que estão na mesa, assim como eu pensei há alguns meses. – argumento.
Nathalie – Não entendo como consegue defender o que a Meg fez com você... Em, você viu o seu namorado e a ex-noiva dele se beijando com os próprios olhos. Eu pensaria o mesmo no seu lugar! Mas, a Meghan não tem nenhuma prova que te defina como a falsa traidora que ela disse que você era! – ela cruza os braços, com raiva.
Emilia – Eu entendo, Nathalie! Mas, ela está decidida a acreditar que eu fiz tal coisa e não tenho nada para convencê-la do contrário, além da minha palavra! – explico.
Nathalie – E as palavras do Peter, da Lena, do David, do Dan e a minha não valem nada? – ela questiona.
Emilia – Pelo jeito, elas não foram suficientes para a Meg. – respondo.
Nathalie – Foram para a Rach e a Di. – ela comenta.
Emilia – Mas, será assim a partir de agora, não é? Algumas pessoas vão acreditar e terá outras que não. – respiro fundo, tentando não deixar as lágrimas caírem – Só que eu sei a verdade! Eu sei que não sou nada do que a Meg me chamou ou o que qualquer um vai me chamar! Não foi o que você me disse? – pergunto e ela confirma – Apenas aceito que Meg e eu não concordamos. Não vou gastar tempo ficando com raiva dela. No entanto, claro que dói. Na verdade, dói muito ter uma amiga pensando isso de mim, mas eu sei a verdade e devo aceitar que essa verdade não é o bastante para alguns. E eu sinto muito por parecer covarde a você... Sabe, por não ter lutado contra isso como fizesse por mim. Mas...
Nathalie – Não... – ela me interrompe – Você não me parece covarde. – ela garante – Acho que isso é uma verdadeira prova do quão forte você é! Tem que ser muito forte para aguentar todos os insultos direcionados a você, principalmente sabendo de tudo o que passasse! Só fico irritada por ter sido de alguém tão próximo... Ou, talvez, seja porque eu sei que não será a última vez. Isso tudo me deixa irritada e triste, mas tento me confortar ao relembrar que a minha melhor amiga tem essa força dentro dela! – ela aperta a minha mão.
Emilia – Bem, ser forte é tudo que posso ser agora, não é? Antes de toda essa situação, eu tinha uma visão mais romântica sobre "ter essa força dentro de mim"... Isso foi até eu perceber que ser forte não torna as coisas mais fáceis ou menos assustadoras... – revelo, cansada.
Nathalie – Em? – ela me chama e eu vejo o seu olhar desanimado.
Emilia – Sei que foi um elogio, desculpa reagir assim. Eu concordo. E é reconfortante saber que sou forte para passar por isso. – tento sorrir para a minha amiga, mas sei que não consigo parecer convincente ao ver a expressão em seu rosto – Sério, não se preocupe comigo! Só estou cansada do dia e tenho muitos pensamentos me deixando mais exausta. Só não está sendo o melhor dia.
Nathalie – Tudo bem... Mas, você pode se sentir assim... Tipo, é óbvio que é exaustivo ser forte. Não precisa ser forte todas as horas do dia. – ela comenta – Por um instante, pode se sentir derrubada e, então, levantar. Só quis dizer que você é forte para levantar.
Emilia – Nath, eu entendo. Mas, acredite que essa não sou eu me sentindo derrubada. Todos precisarão fazer muito mais para me ver no chão! – acaricio a minha barriga – Se eu cair, não vou ter tempo para me reerguer. Em menos de cinco meses, a minha filha vai estar aqui. E há tantas coisas para pensar e lidar... Não posso cair na primeira adversidade. Então, sem quedas... Pelo máximo de tempo que aguentar e eu sei que é muito, sem quedas. Preciso me focar em deixar que nada machuque ela e a minha família! – afirmo – Enquanto eu estiver pensando na minha filha, nada poderá me derrubar! Podem me humilhar, podem me fazer chorar ou me magoarem... Mas, nada irá me derrubar!
Nathalie – Mas, como você disse antes, ser forte não quer dizer que é fácil ou menos assustador... – ela comenta e eu sinto as lágrimas se acumularem em meus olhos – É exaustivo pensar em proteger tudo e todos... Eu sei que você...
Emilia – Então, devo desistir? Eu não posso desistir tão fácil, Nath... Claro que é muito mais fácil desistir e cair do que se manter de pé e lutar. É desgastante ter que aguentar tudo isso. – digo, com sinceridade – Mas, sabe o que é mais difícil? Encarar as consequências de ter desistido. E eu não vou fazer isso.
Nathalie – Ah, o que você está me dizendo é que está errado se sentir para baixo, às vezes? – ela questiona.
Emilia – Não, não tem nada de errado em se sentir para baixo ou no fundo do poço. – respondo – Mas, temos que concordar que se sentir para baixo é tranquilo, se comparado ao estar no fundo do poço. E pela forma que você falou, acredita que eu esteja neste último. Sim, estou abalada e magoada, mas eu ainda não cheguei aí. Hoje, foi só o começo... As piores reações, os piores xingamentos e o que eu nem quero imaginar ainda está por vir. – comento – Nath, eu entendo que você está tentando me mostrar que posso sentir tudo isso, que, por mais forte que eu seja, posso me permitir cair. Que tudo ficará bem... – seguro uma de suas mãos – Mas, preciso que você entenda que, por mais abalada que eu esteja, se me permitir cair agora, tenho medo de não ter forças para o futuro. Então, acredite que eu não estou me sentindo derrubada ou no fundo do poço ainda. Estou até que me mantendo bem... E, sabe, eu conseguiria aguentar muito mais por ela. – faço carinho na minha barriga – Por ela, eu aguentaria o mundo nas costas. Eu vou fazer o possível e o impossível pela segurança da minha filha! Mesmo que seja exaustivo, farei isso. Essa bebezinha só tem a mim e ao Kit... Nós dois contra milhares ou milhões que vão nos atacar. Ele e eu precisamos ser fortes por ela... Até que possamos ensiná-la a ser forte por si mesma, ela precisará de nós dois de pé!
Nathalie – Mas, vocês não precisam fazer isso sozinhos. – ela fala, tocando a minha barriga – Ambos têm a nós, o time de vocês, para manter essa força! – ela reforça e eu sorrio, agradecida, tocando em sua mão – Você não precisa ser forte sozinha! E se permitir estar para baixo ou no fundo do poço não é fraqueza, mas necessário para respirar em alguns momentos. Isso é mostrar para sua filha que esses sentimentos são válidos, também... – ela assegura – E, quando você precisar de um tempo para respirar ou Kit precisar do mesmo, nós estaremos ao lado de vocês, sendo fortes e segurando as barras até que se sintam melhores. Vocês não estão sozinhos!
Emilia – Eu já percebi isso. – sorrio, emocionada – Realmente, eu não sei o que faria sem você ou sem os outros... E eu não sei o que Kit e eu fizemos para termos amigos como vocês! – sussurro, deixando que as minhas lágrimas caiam.
Nathalie – Mas, nós sabemos. – ela me garante – Você não é só a minha melhor amiga, você é a minha irmã! Lembra?
Emilia – Você é a minha irmã! – retruco, sorrindo.
*****
Kit on:
O espaço está cheio de atores do elenco e figurantes. É uma daquelas cenas complicadas – que tem várias partes a compondo – e, quando escuto o diretor pedir para refazer algumas delas, sei que vou ficar aqui por mais tempo que gostaria. E, assim que ele determina que começará pela parte que tem o Nikolaj e a Gwen, diz ao restante que teremos uns dez minutos para descanso – o que mal me dá tempo para ver como a Emilia está. Então, desisto de ir até o trailer dela e me sento na minha cadeira – onde pego o meu celular de um dos bolsos escondidos do figurino. Um segundo depois, vejo o Peter se sentando ao meu lado, mas, pelo tempo de digitar a mensagem, me foco no celular.
“Kit: Como você está, amor?”
Peter – Ela é uma mulher forte. – ele comenta e eu viro o meu rosto para olhá-lo.
Kit – Ela é. – confirmo.
Peter – E você é um homem preocupado. – ele acrescenta.
Kit – Eu sou. – concordo, também – Não é porque ela é forte que não está abalada e assustada.
“Emilia: Estou bem.
Emilia: Nath e eu estamos nos divertindo as suas custas!”
Ao ler a mensagem, sorrio. Pelo menos, ela está tentando se distrair da situação e não se aprofundar ainda mais nela, procurando mais coisas para a deixar assustada. Bem, ao menos, por agora.
Peter – Ela está bem? – ele pergunta e eu assinto, distraído – Qual é o problema?
Kit – Conheço a Em... – sussurro.
Peter – O que isso significa? – ele me observa.
Kit – Que ela está focando em outras coisas agora, mas, quando ficar sozinha, vai se permitir focar naquilo que a assusta. – revelo, sentindo a preocupação – A proporção do problema aumenta quando não dividimos com alguém.
Peter – Mas, desde quando vocês não dividem tudo um com o outro? – ele argumenta.
Kit – Nós dividimos. Mas, só se pode dividir um pensamento depois de tê-lo, não é? – troco um olhar com o meu amigo – Sabe, Emilia diz que eu sou superprotetor, mas ela também é. Nós dois somos, pois queremos proteger a nossa... – insinuo e Peter assente em entendimento – Ela e eu, depois de sua volta de Nova York, começamos a deixar o medo mais de lado. Sem deixar de sermos cuidadosos, é claro! É que decidimos que não queríamos focar nesse sentimento ruim quando tinha tantos bons. Além disso, iríamos nos preocupar e lidar com o problema quando ele estivesse presente, não apenas sendo uma hipótese. Mas, desde que os documentos da reunião chegaram, tinha alguns pequenos momentos do dia que ela só conseguia pensar em todas as situações possíveis e eu nem posso achar isso incoerente, pois fazia o mesmo. Nós dois somos parecidos nesse quesito, mas processamos os nossos medos de formas diferentes. O bom é que esses momentos eram curtos e, depois que conversávamos, não persistiam por mais tempo. Mas, hoje, ela ficou com muito medo e, não vou mentir, eu também! – desabafo, em um tom baixo, mesmo sabendo que ninguém estava próximo o bastante para escutar – Mas, eu vi o olhar dela depois da reunião... Ela está assustada com o que virá a seguir e está magoada com o que ocorreu naquela sala. E eu deveria ter estado lá! Por ela! E pela nossa... você sabe.
Peter – Sei, sim. E você já sabe o que ocorreu! – ele pontua – Sabe que, você estar lá ou não, não mudaria o que aconteceu.
Kit – Sim, não mudaria. Mas, eu a deixei sozinha para escutar aquilo! – rebato – Eu não deveria ter a deixado passar por isso sozinha.
Peter – Ela não estava! – ele coloca a mão no meu braço – Ela tinha a nós lá e isso foi palavras dela.
Kit – Eu deveria ter estado do seu lado... Ela foi humilhada e, se a Em teve que escutar tudo aquilo, o mínimo que eu deveria fazer era ter estado lá para escutar junto. – comento.
Peter – Não, nenhum dos dois fez algo de errado para escutarem aquilo. E você esteve lá quando ela precisou! Olha, não podemos ficar do lado da pessoa que amamos a cada momento ruim, pois, às vezes, eles aparecem sem que esperássemos. O que podemos fazer é demonstrar que estamos ao seu lado, sem precisar estar fisicamente. – ele argumenta e me olha – Kit, ela sabia que você estava ao lado dela, a apoiando, sem precisar que estivesse fisicamente lá. E você fez a coisa certa em ficar aqui, ao menos, para a reunião. E, bem, se ela ficar assustada... Você a conhece melhor do que ninguém e estará lá por ela, do mesmo jeito que a Emilia estará por você. – ele sorri – Além do mais, você mesmo disse que há tantos sentimentos bons para focarem, para que focar nos ruins? – ele solta um suspiro – Ok, há momentos em que sentimentos ruins precisam ser sentidos, mas não permitam que eles definam esse acontecimento tão especial na vida de vocês. E eu sei que os dois sempre terão o apoio um do outro, mesmo que não estejam fisicamente juntos. Vocês ficarão bem. – ele termina e eu lhe lanço um sorriso agradecido, o que o Peter retribui e dá tapinhas no meu braço.
*****
Emilia on:
A Nathalie e eu nos encontramos sentadas no chão – em frente ao gaveteiro – e uma das gavetas está aberta no meu estoque escondido de chocolates. Sinceramente, não sei como chegamos até esse assunto ou como fomos parar até aqui, mas... É, acabou sendo uma bela pausa para a conversa mais séria que estávamos nos encaminhando outra vez.
Nathalie – Oh, Deus! – ela exclama e me encara – Você não mentiu quando disse que tinha diversos chocolates escondido aqui...
Emilia – Aqui está a sua prova! – sorrio, pegando um.
Nathalie – Como? – ela me questiona.
Emilia – Digamos que eu fui até o bar do hotel e comprei alguns poucos chocolates em dinheiro, os colocando em uma bolsa... E estão aqui desde então. – sorrio, travessa – Se não contar para o Kit, eu te dou dois!
Nathalie – Quatro! – ela exige, com a mão estendida.
Emilia – Tá! – digo, contrariada, pegando quatro e, em seguida, colocando em sua mão.
Nathalie – Desde quando estão aí? – ela pergunta, enquanto eu abro o que está em minhas mãos.
Emilia – Provavelmente, uma semana antes de irmos para Londres. – ela me olha, boquiaberta – Foi algo necessário! Pelo jeito, a bebê ama um chocolate! No entanto, o Kit sempre chama a minha atenção para que eu não coma doces em quantidades absurdas. – ela faz uma cara que me demonstra que o seu apoio vai para o Kit – Não são quantidades absurdas! – me defendo, com irritação – Eu tenho uma alimentação boa e me cuido muito! Então, em alguns momentos, posso me dar ao luxo de comer doces sem ter que ouvir o sermão do Kit de “você está grávida e não deve substituir uma refeição por doces"!
Nathalie – Aí, você montou um estoque escondido de chocolate em seu trailer! – ela dá uma mordida em seu chocolate.
Emilia – Foi necessário para eu manter a minha sanidade e não matar o pai da minha filha! – respondo, com a boca cheia.
Nathalie – Justo, mas não exagera nos chocolates! – ela avisa.
Emilia – Me devolve! – falo, violentamente.
Nathalie – Eu só estou falando! – ela se defende, afastando os seus chocolates de perto de mim.
Emilia – Você acha que eu sou irresponsável? Sei que estou grávida e, de novo, estou me cuidando! Como eu já falei, posso me dar ao luxo de correr dos sermões do meu namorado! – reviro os olhos – E saiba que o máximo que eu como são dois por dia! Sendo que raramente chego no meu máximo! – informo, mastigando com raiva.
Nathalie – Ah, não é muito. Agora, nada faz sentido! Por que você tem um estoque escondido do Kit? – ela pergunta – Você já me comentou que, quando se trata de desejos da gravidez, o Kit é o primeiro a te mimar.
Emilia – E é! – respondo – Mas, ele acha que eu me encho de doces e, depois, não como a comida. – dou um suspiro de derrota – Tá, pode já ter acontecido... E, por conta disso, ele faz um sermão sempre que coloco algo com açúcar na boca, antes de uma refeição. Só que ele sabe como ser chato com isso! Bem, dá de ver que ele confia em mim com tudo, menos açúcar. – confesso e ela solta uma risada – É sério! O cara acha que eu não tenho autocontrole quando se trata de doces. E tudo bem... Já dei motivos suficientes para ele acreditar nisso. No entanto, eu quero comer o meu chocolate em paz! – digo, em tom exagerado.
Nathalie – Tudo bem, amiga. – ela exagera no tom calmo de sua voz para me "tranquilizar" só para debochar de mim e eu reviro os olhos – Se o Kit descobre desse estoque escondido, é capaz de ter um ataque cardíaco!
Emilia – Oh, com certeza! – solto uma risada – Mas, mesmo com essa coisa irritante do sermão, não retiro nada de que lhe disse sobre o Kit estar sendo o namorado, companheiro de gravidez e pai perfeito! – sorrio.
Nathalie – Sinceramente, não duvido que ele esteja sendo tudo isso. Dá de perceber só pelas ações dele. Sabe, toda vez que o Kit faz alguma coisa para te ajudar, ele lança um olhar para você e para a sua barriga que poderia fazer qualquer um acreditar que foi direto para o paraíso. – ela adiciona e o meu sorriso fica maior.
Emilia – Ele está todo meloso, não é? – digo e ela confirma, com um riso – Cá entre nós, eu disse ao Kit que o olhar dele é o que deixaria muito óbvio a minha gravidez para o restante! – informo e ela, mais uma vez, assente, mas sendo movimentos mais frenéticos – Obrigada por concordar comigo! – falo, rindo mais alto – Não é a primeira vez que digo que acho muito fofo ver o Kit completamente apaixonado! Acho que nunca vou mudar de opinião. – acrescento, acariciando o meu ventre inchado.
Nathalie – E sabe o que mais é fofo? Ver que você está adorando isso! – ela retruca, animada – Depois de ter visto tudo o que passaram, gosto de vê-los felizes. E a vida de casada está indo a mil maravilhas pelo que você me enviou em mensagens.
Emilia – Não somos casados! – corrijo.
Nathalie – Ah, para! – ela revira os olhos – Vocês estão morando juntos, você está grávida dele e, o mais irritantemente fofo, é que vocês esperam um ao outro no trabalho para voltarem ao hotel, o qual dividem uma suíte! Não é o que estamos fazendo aqui? Não estamos esperando o maridão de Emilia Clarke-futura-Harington?
Emilia – Na verdade, eu estava visando ter a sua adorável companhia! – respondo, o que a faz rir.
Nathalie – Oh, que amiga legal que eu tenho, mas saiba que estou aqui por algo totalmente egoísta, que é paparicar a minha afilhada. – ela justifica, acariciando a minha barriga.
Emilia – Igualzinha ao Kit! – murmuro, com um volume que ela tenha como escutar.
Nathalie – Para! – ela exclama, rindo – Mas, é... – ela faz uma expressão exagerada de contemplação – Tenho que admitir que não acho mais as ações dele tão excessivas... Acho que comecei a compreender, na verdade. Mas, te apoio no chocolate! Já vai preparando um estoque maior, pois vou fazer todos os dias a chantagem de contar para o Kit! – ela brinca.
Emilia – Ok, Kit 4.0. – retruco.
Nathalie – O quê? – ela questiona.
Emilia – Existe uma listinha... O próprio Kit, a minha mãe e a mãe dele. – explico – Não... Você é o Kit 5.0, se eu for ver bem. – ela arqueia uma sobrancelha, com um sorriso – O pai do Kit está assim, também. Deborah diz que faz parte do DNA dos Harington. Mas, bem-vinda ao clube!
Nathalie – Olha, tem um clube? Recebo uma carteirinha? – ela pergunta.
Emilia – Você pode retirar ela com o Kit. – digo e ela ri.
Nathalie - Você deve estar detestando ser mimada desse jeito, não é? – ela questiona, com risadas altas.
Emilia – Tenho que admitir que estou ficando mal-acostumada. – respondo, dando uma pequena mordida no chocolate – Principalmente, nos mimos que o Kit me dá na cama. – balanço as sobrancelhas.
Nathalie – Olha se não são os meus amigos viciados em sexo?! – ela exclama, rindo.
Emilia – Não somos, não! – respondo, com humor – Fazemos sexo num nível... normal.
Nathalie – Por favor, Emilia... Não há um botão de para em nenhum dos dois! – ela fala, com um ar risonho – Inclusive, nunca vou me cansar de expressar o quanto me surpreende lembrar que os dois ficaram sem sexo por mais de dois meses!
Emilia – Não vou mentir, eu também. – confesso – E, se tem um botão, não acho que eu esteja tão afim de procurar. E o Kit não demonstrou interesse, também, em encontrá-lo. – sorrio para mim mesma – E quer saber, você diz que sou uma tarada, mas não foi a senhorita que me deu um body transparente para apimentar a minha vida sexual? – pergunto e a encaro.
Nathalie – Na verdade, a ideia foi da Hannah e, naquela época, a sua vida sexual era praticamente inexistente. – ela argumenta.
Emilia – Exato! Já te falei que Harington e eu estamos apenas tentando compensar os dois meses e os últimos nove anos. – debato, fingindo inocência.
Nathalie – E eu já te falei que isso é uma coisa que ninguém duvida! Principalmente, quando a Senhorita Clarke comprou uma bota só para usar com o body... – ela sorri, com superioridade.
Emilia – Acredite, não foi só com o body que eu usei! – devolvo no mesmo tom e Nathalie ri.
Nathalie – De novo, isso não me surpreende! – ela diz e eu me junto a ela nas risadas – Sabe... – ela começa, enquanto nos acalmamos – Você me mostrar essa gaveta cheia de chocolates rendeu um belo desvio do assunto que estávamos tratando antes... Quase não me lembro... – ela finge, preguiçosamente, e o meu sorriso some – Você realmente não quer falar da Rose... – ela constata, dando uma mordida final em seu chocolate – Mas, foi uma tática inteligente para mudar de assunto. – ela elogia e eu reviro os olhos – Você deve odiar ter pessoas que te conhecem tão bem, não é? – ela sorri.
Emilia – Não odeio. – respondo e termino o meu chocolate – Mas, eu disse que não queria falar do assunto e, raramente, você insiste tanto depois disso. – arqueio as sobrancelhas, em desafio.
Nathalie – É isso que dá sermos melhores amigas por tanto tempo... Uma conhece os truques da outra. – ela comenta, com um sorriso.
Emilia – Vou chutar na alternativa que você está preocupada comigo e com o que eu penso. Por conta disso, quer que eu fale para me dizer que estou sendo idiota por me preocupar com isso. – deduzo.
Nathalie – Talvez... Mas, falar pode ajudar. – ela aconselha.
Emilia – Pelo jeito, já estou derrubada no chão, não é? – digo e me deito nele.
Nathalie – Toma! – ela fala, me entregando um chocolate e se deitando ao meu lado – Doce é algo que nunca falha! – ela garante e eu sorrio.
Emilia – Não estou no fundo do poço, Nath. – respondo.
Nathalie – Como você disse, estais, literalmente, derrubada no chão! – ela argumenta, me fazendo rir baixinho.
Emilia – Você não vai me deixar em paz até que eu fale o que estou pensando, não é? – pergunto, virando o rosto para olhá-la – A verdade é que eu não estou pensando em nada. – revelo e a Nath me olha, confusa – Toda vez que eu penso na Rose e na possibilidade dela agir como a Meg, me forço a parar. Não me permito desenvolver esse pensamento, pois não estou preparada para as possibilidades que vão vir. – suspiro e olho para o teto do trailer – Não quero falar do meu medo da reação da Rose, pois não quero pensar nos motivos dele e das consequências que ela descobrir trarão. Não quero falar, não quero pensar e só quero imaginar qualquer outra coisa, agora. – volto a encarar a minha amiga, que está me olhando – Quando eu digo que não quero tocar no assunto Rose e sua reação, eu realmente não quero sentir isso agora ou pensar no quanto isso pode me assustar.
Nathalie – Você acha que vai ser derrubada por esse pensamento, não é? – ela questiona.
Emilia – Eu não sei, Nath... Não parei para pensar nisso. Eu só sei que foi um dia muito cheio de emoções e não preciso de mais nenhuma hoje. Eu não quero pensar no... – sinto a minha garganta fechando e os meus olhos começando a ficarem úmidos – Eu não quero falar da Rose, por favor...
Nathalie – Não vamos falar da Rose. – ela determina – O que a ajuda quando você está triste ou assustada? No que você pensa? – ela pergunta e eu sorrio, mesmo sentindo algumas lágrimas caírem dos meus olhos.
Emilia – Na minha família, todos que pertencem à ela... E na que estou construindo, o Kit e a nossa filha. – sorrio mais, passando a mão pela minha barriga – Sabe, todos dizem que trazer uma vida ao mundo o transforma em algo mágico, mas eu acredito que o deixa mais assustador. – comento – Mas, há magia... A magia é ela. Eu fico me perguntando como criei algo tão perfeito...
Nathalie – Um sexo incrivelmente gostoso com o seu melhor amigo? – ela sugere e nós rimos.
Emilia – Um sexo incrivelmente gostoso com o meu melhor amigo! – concordo e suspiro, com um sorriso – Melhor amigo... Sabe, é por conta dela que eu não me culpo por ter levado tanto tempo para admitir para mim que ele sempre foi mais do que isso... Admitir que o Kit é o amor da minha vida, que é a minha alma gêmea. – olho para o teto – E o Kit e a nossa filha são o meu lembrete diário do que vale a pena lutar. Hoje, pelo jeito, foi uma batalha grande... Bem, ele e eu vamos enfrentar muitas batalhas como a de hoje, mas temos um ao outro. Temos um ao outro e a nossa filha, que vai sempre ter nós dois. – sorrio e fecho os olhos – Então, penso neles. Pois, mesmo nos momentos difíceis, ela traz alegria para nós dois. A nossa família nos traz alegria. E isso me faz ter certeza de que Kit e eu criamos algo mágico e perfeito e... – abro os olhos e miro a minha amiga – Tudo que engloba a minha família é algo que vale a pena ser forte, mesmo que seja difícil ou assustador. – digo e a Nath sorri, modestamente – Nós duas sabemos que fiquei mal com que aconteceu naquela sala de reunião... Bem, o sentimento não foi embora por completo. E eu posso chorar e sentir tantas outras coisas, mas não vou deixar isso me derrubar e tirar a minha alegria por ter essa família, Nath. Pois, eu sei que tenho muito pelo que ser feliz e a minha família é algo que me faz mais do que feliz. – sinto as lágrimas caírem, de novo – Então, saiba que você é a minha melhor amiga e, quando eu não tiver mais forças para lutar e estiver derrubada no chão, eu te direi. Mas, antes disso, não ache que eu estou lá. Pois eu ainda tenho forças para não ceder.
Nathalie – E você tem algo pelo qual vale lutar! – ela acrescenta.
Emilia – Eu tenho algo pelo qual vale lutar! – repito, em confirmação.
Nathalie – Te acho a pessoa mais corajosa do mundo. Sei que a minha afilhada é sortuda por ter você como mãe. – ela diz e eu sinto mais lágrimas caírem – Mesmo que seja difícil e assustador... Você é forte e corajosa. – ela sorri para si – Bem, é o que dizem, né? Ser corajoso não significa não ter medo. Ser corajoso significa estar com medo, muito medo, mas mesmo assim fazer o que é certo.
Emilia – Você citou Coraline para mim? – arqueio uma sobrancelha.
Nathalie – Citei. Eu citei, sim. – ela responde, me fazendo rir.
Então, abrimos os nossos chocolates e os mordemos, sorrindo uma para a outra. Após a minha segunda mordida, escutamos a porta ser aberta e surpresa estampa as feições de todas as três. Em seguida, o silêncio se instaura no recinto e Nathalie me olha em choque.
Meghan – Precisava trazer o figurino de amanhã. Martina me pediu para fazer isso, pois está em reunião agora. – ela mostra uma capa protetora cobrindo o figurino e, em sua outra mão, uma sacola para trazer os acessórios e os calçados – Não sabia que encontraria vocês.
Emilia – Tudo bem. – respondo, tentando diminuir a expressão de surpresa em meu rosto e começando a me levantar – Não tem problema! – acrescento e a Meghan assente.
A Nath se levanta mais rápido e me dá a mão, para que eu conseguisse mais equilíbrio. Assim que estou de pé, fecho a gaveta de chocolates e a Nath junta as embalagens do chão e as coloca no lixo.
Em seguida que nos sentamos, faço sinal para a Meg entrar, o que ela rapidamente faz. A Nathalie a encara até que ela, me aparentando estar desconfortável, começa a tomar os cuidados necessários com o figurino. Então, a minha amiga desbloqueia o celular e eu continuo a comer o meu chocolate, para me distrair da tensão que toma conta do ar.
Nathalie – Droga, eu deveria estar nessa reunião! – ela sussurra para mim, me mostrando a mensagem, de quinze minutos atrás, dos nossos produtores.
Emilia – Deve ser por conta da Tina assumir os ajustes dos seus figurinos. – suponho.
Nathalie – Talvez. – ela considera e, então, olha para a Meg organizando as peças – Se eu for, você ficará bem, Em?
Emilia – Sim. – garanto – Corre, me parece que você tem que estar lá! E obrigada por tudo. – sorrio e ela retribui, até olhar para a Meg.
A Nath me olha e eu mantenho o sorriso, o que a faz se dar por vencida. Ela, tensa, se levanta e dá alguns passos e, quando chega até a porta, encara a Meghan.
Nathalie – Tem certeza? – ela gesticula para mim e eu assinto, incentivando-a a ir.
A Meg a olha, rapidamente, e volta a focar em um detalhe específico da capa costurada ao vestido.
Nathalie – Eu já volto, Emilia. – ela diz e sai, ignorando a Meg.
Meghan – Detesto isso. – ela sussurra, imediatamente, para si, mas eu escuto.
Emilia – Dê um tempo para ela. – falo, me ajeitando no sofá, e ela me olha.
Meghan – Eu... Desculpa, não quis reclamar com você. – ela se esclarece e eu assinto.
Emilia – Eu não tenho direito de falar pela Nathalie, mas acho que ela só está um pouco irritada e vai se acalmar. – garanto, mordendo o chocolate.
Meghan – E você, também, está só um pouco irritada? Seu rosto me indica que você chorou mais do que só na reunião. – ela comenta e eu fico sem resposta – Eu realmente não queria te ofender. – ela alega – Eu entendo o porquê da Nathalie estar brava e não a culpo. Não culpo nenhum de vocês quatro... Eu sei que exagerei... Tipo, não mudo de opinião, mas sei que perdi o controle.
Emilia – Eu não estou irritada. – suspiro – Só um pouco... abalada. – ela assente, olhando para as mãos – Que tal concordar que discordamos? – pergunto e ela sorri.
Meghan – Eu acho que gosto dessa ideia. – ela responde.
A Meg olha para a minha barriga, que, pelos movimentos de uma das minhas mãos, pode ser percebida com mais detalhes.
Meghan – Acho que você não vai precisar dela. – ela aponta para a barriga postiça, a qual ela dispôs perto do vestido.
Emilia – Não, eu acho que não. – concordo.
Meghan – Pelo jeito, é a Martina que vai fazer os ajustes. – ela sorri – A Tina é maravilhosa. Não quero puxar o saco da minha amiga, mas ela realmente sabe o que está fazendo. Bem, você sabe disso, ela criou a maioria dos seus figurinos. – ela menciona e eu assinto – Sinceramente, com todos esses detalhes, fico confusa por terem escolhido a mim e não à ela para a reunião. Sem dizer que vocês se dão tão bem quanto nós.
Emilia – Ela era uma das cotadas. Eu só achei... Você era a minha favorita de trabalhar. – explico e ela assente, de modo que eu percebo a sua culpa – Mas, está tudo bem. Adoro a Tina e ela não fica nem um pouco atrás de você.
Meghan – Sei que a Tina irá ajustar os seus figurinos bem melhor do que eu faria. Ela vai vir daqui a pouco para fazer isso? Pois, se ela vai, não me poupou uma viagem! – ela brinca e eu sinto o clima mais leve.
Emilia – Na verdade, darão um tempo para ela conversar com um advogado. Toda a burocracia que você passou. E até lá, eu vou usar um dos casacos de inverno, se ficar mal ajustado. – informo.
Meghan – O quê? Eu vi todos os figurinos de amanhã e, inclusive, estou levando alguns aos trailers. O que eu quero dizer é que tenho propriedade para enfatizar que ninguém vai usar esses casacos de inverno. Ficaria incoerente você usar um. Seria mais do que ridículo permitir que você o use! – ela exclama.
Emilia – Conheço bem a Martina e faço muitas coisas pela série, mas não vou arriscar a segurança da minha filha. – digo, calmamente – Não vou deixar ninguém ver a minha barriga sem ter assinado o que precisa ser assinado! Não faço isso nem pela Daenerys.
Meghan – Compreendo. – ela me encara – Quando a Tina vai assumir a função?
Emilia – Em dois dias, eu acredito. – respondo.
Meghan – Ótimo, se levanta! – ela ordena.
Emilia – O quê? – digo, continuando sentada.
Meghan – Eu vou fazer os ajustes até a Tina começar a fazer. Então, se levanta e coloca o figurino! – ela gesticula para a roupa.
*****
Estou de pé, enquanto a Meghan coloca alfinetes no vestido. A minha barriga está um pouco menor do que a postiça e, por conta disso, a maioria dos ajustes serão nessa região.
Olho para Meghan, que está concentrada no figurino.
Emilia – Você não precisava fazer isso. – me pronuncio.
Meghan – Eu sei, mas me causaria dor ver um figurino incoerente com a cena, principalmente o da rainha. – ela pisca para mim, com diversão, e, então, o seu olhar fica sério – Olha, eu assinei aqueles documentos, o que me faz ser a única que pode quebrar o galho até a Martina ocupar a função. Eu não posso mencionar a sua gravidez para ninguém, então é perfeito! – ela explica.
Emilia – Você não quer fazer parte disso. – relembro.
Meghan – Não, por conta disso ficarei somente até a Tina assumir. – ela informa – Emilia, eu posso não acreditar muito na origem da sua gestação, mas sei que você faria qualquer coisa para poupar a sua filha. Então, compreendo o fato de você não arriscar. São apenas dois dias até a Martina assinar tudo. Eu posso fazer isso por dois dias. – ela observa a roupa – E eu acho que vou precisar mexer na bainha do vestido...
Emilia – Dois dias é apenas se considerarmos que a Tina vai concordar... – retruco, enquanto ela se ajoelha.
Meghan – Ela vai, acredita em mim. – ela garante e eu não respondo – Lembra das insinuações que o elenco fazia sobre você e o Kit, após o término do noivado? Ela achava que eles exageravam, mas não discordava que vocês davam um ótimo casal. E ela adora você... Tem muitas chances dela aceitar.
Emilia – Eu espero. – respondo e passo a mão pela minha barriga.
Meghan – Estresse não faz bem para o bebê. – ela comenta e eu sorrio, tentando ser amigável.
Emilia – Vivem me dizendo isso. No entanto, não posso não me preocupar com tudo isso, não é? – respiro fundo e fecho os olhos.
Meghan – Para escutar tanto que não deve se estressar, deve ser por ter mais coisas nesse "tudo isso". Você está preocupada em se tornar um escândalo nos sites de fofocas, certo? – ela questiona e eu abro os olhos.
Emilia – Nós duas sabemos que vai ser um escândalo nos sites de fofocas. – digo e ela volta a trabalhar na bainha do vestido.
Meghan – Você se arrepende? – ela pergunta, num sussurro.
Emilia – Não. – suspiro – Não tenho nada para me arrepender. Sei que você pensa que tenho, mas eu sei a verdade e não existe algo para me desculpar. – respondo e, então, me lembro de uma coisa que ela falou na reunião – Você tinha razão, sabe? Sobre a questão do repentino. Não foi repentino. – revelo e a mão dela congela no ar, segurando um alfinete – Antes de me furar com ele, deixe-me explicar! – brinco e ela me olha – Quando afirmo que não foi repentino, não quero dizer que Kit e eu tivemos um caso de longa data. Longe disso, na verdade! – esclareço e solto uma risada – Me refiro ao fato de termos nos apaixonado desde o segundo em que nos conhecemos. Você deve imaginar que isso não faz sentido algum, mas talvez te ajude a visualizar saber que tínhamos dois amigos idiotas que se meteram. – reviro os olhos ao pensar no quanto o Alfie e o Richard lucraram em cima de mim e do Kit – Bem, resumidamente, aquela noite resultou em somente uma amizade entre nós dois. E sermos amigos foi o que definiu as nossas escolhas sobre... Bem, nós. – solto outro suspiro, só que mais longo, e ela me olha, sem entender – Na medida em que ficávamos mais apaixonados, mais apegados um ao outro nos tornávamos e sentimos medo de estragar a nossa amizade. Sendo assim, nunca chegamos a compartilhar os nossos sentimentos. Por fim, seguimos em frente e começamos a acreditar que tínhamos superado aquilo. – explico – Acreditamos que éramos só amigos... Por anos. – enfatizo – E, durante o relacionamento dele com a Rose, nunca me permiti sentir algo romântico pelo Kit. Foi só quando o noivado acabou que nos demos de frente com esses sentimentos reprimidos. E, ao permitir sentir aqueles sentimentos, tudo veio de uma vez só. – complemento e olho, sem fraqueza, para ela – Eu não me sinto culpada pelo que Kit e eu temos e o que criamos juntos. – observo a minha barriga e sorrio – Na verdade, eu me sinto abençoada.
Meghan – Emilia... Eu quero acreditar em você, de verdade! – ela confidencia – Mas, se eu acreditar, e, mais para frente, descobrir que você mentiu? Eu não saberia lidar com isso. Eu tenho um sério problema quando o assunto é traição. Não posso trabalhar com você e ter isso me assombrando. E o seu relato pode ser verídico, mas é tudo tão... difícil de acreditar. Parece até uma história de filme... Dois amigos que reprimiram seus sentimentos até terem, depois de anos, uma segunda chance... E sem falar que esse amor resultou num bebê! Parece muito fantasioso!
Emilia – Eu sei que é difícil de acreditar. Essa parte está incluída no "tudo isso". – lhe mostro um sorriso amarelo e me xingo mentalmente ao sentir os meus olhos ficando úmidos.
Meghan – Eu sinto muito por te fazer chorar... É só que... – a interrompo.
Emilia – Isso daqui não é choro. – aponto para o meu rosto – E, se eu chorar, são hormônios. – asseguro, com um sorriso forçado, e um soluço escapa da minha garganta – Não se preocupe! Ontem, eu chorei quando descobri que o Kit usou o meu shampoo caro.
Meghan – Se o meu namorado usasse o meu shampoo caro, eu choraria sem estar grávida. – ela retruca, me fazendo rir de verdade.
Emilia – Acho que talvez não tenha sido hormônios, então. – sorrio, mas a olho com compreensão – Eu ainda entendo... E eu não quero que você trabalhe comigo e se sinta desconfortável. Inclusive, você não precisa quebrar o galho até a Martina assumir. – indico e dou alguns passos para mais longe dela.
Meghan – Eu me propus a fazer isso. – ela se manifesta.
Emilia – Eu vi que se sentia culpada quando te chamei de minha favorita e, também, quando entrou e viu o meu rosto inchado. Não quero que faça isso por achar que me ofendeu e precisa se redimir. Sim, você falou coisas duras, mas já esclareceu o seu ponto. – me sento no sofá, me sentindo derrotada ao relembrar o que estou prestes a dizer – Dessa e de todas as futuras experiências de contar sobre a gravidez e o relacionamento entre Kit e eu, a sua, provavelmente, será lembrada como a mais gentil.
Meghan – Me diz uma coisa, se não quer que eu faça os ajustes por redenção, por que me permitiu fazer? – ela pergunta, se sentando ao meu lado.
Emilia – Você estava com uma cara de que, se eu não colocasse o vestido, iria me espancar. – respondo e nós rimos baixinho – E porque... Isso me lembra quando éramos amigas.
Meghan – Ainda somos amigas. – ela coloca a mão no meu ombro – Concordamos que discordamos.
Emilia – É... Mas, na sala de reuniões, vi a sua decepção. E confiança é tudo. – digo e ela se encosta no sofá.
Meghan – Eu só não podia acreditar que você traiu a Rose. – ela esclarece.
Emilia – Eu sei. – suspiro e me apoio no encosto do sofá – Só espero que um dia você volte a confiar em mim e acredite que eu nunca faria isso com a Rose.
Meghan – Também espero. – ela retribui e nós sorrimos levemente uma para a outra – Não me propus a quebrar o galho por redenção.
Emilia – Não? – questiono.
Meghan – Não. Foi porque... Você sempre foi gentil comigo e uma boa amiga... E você precisa de alguém que possa ser confiável até ter outra pessoa confiável para ver o seu corpo e não sair espalhando a informação. – ela explicita.
Emilia – Fui sua amiga sem esperar nada em troca. – eu exponho.
Meghan – Eu sei, por isso fazer os ajustes dos seus figurinos por dois dias não é tão difícil. – ela evidencia – Você é boa com todos aqui e nunca espera nada em troca. Você andava meio distraída nos últimos meses, entendi o motivo agora. Deve estar acontecendo muitas coisas na sua vida, mas nem por conta disso você foi ruim com ninguém aqui. E acho que nem preciso mencionar que compreendesse muito bem quando eu disse não e tive o meu momento choque. Você é uma pessoa boa, Emilia, e aceita os baques com força e, de certo modo, tenho que admitir, de cabeça erguida. Mas, isso me demonstra que você o faz para proteger a sua filha de todos esses baques. – ela diz e as minhas lágrimas caem silenciosamente – Você nunca exigiu nada de mim, mas, por todos esses anos de nenhuma exigência e apenas amizade, eu não me importo de te ajudar por esses dois dias a proteger a sua filha. Isso, eu não me importo de fazer. De amiga para amiga. Só que fazer por mais tempo... Isso seria difícil, pois pode significar que eu estaria ajudando efetivamente a acobertar uma traição para outra amiga. – ela olha para a minha barriga e, então, volta a me olhar – Mas, a sua gravidez e o seu relacionamento com o Kit... Eu não vou contar para a Rose e nem para ninguém. Vou me abster totalmente! Até porque, isso não é acobertar. Bom, eu também posso responsabilizar o contrato se um dia a culpa bater. – ela sorri de lado e respira fundo – E a sua filha, independentemente do que você escutar, não é responsável pelo que o Kit e você podem ou não ter feito ou pelo que os outros podem acreditar. Nem pelo que eu posso acreditar. – assinto para ela e a abraço – Agora, podemos terminar de ver o que precisa de ajustes? – ela pergunta, simpática.
Emilia – Sim. – respondo, enxugando as minhas lágrimas.
*****
Há poucos minutos, a Meg me deixou com a promessa do figurino estar aqui quando eu chegasse amanhã. Estando sozinha novamente, ajeito a minha roupa, enquanto me olho no espelho. A barriga completamente camuflada pelo meu poncho.
O som de notificação do meu celular, me faz afastar os olhos do meu reflexo e ir até o sofá, onde me sento e pego o aparelho.
"Nathalie: Eles conseguem fazer uma reunião rápida demorar um século!"
A sua mensagem me faz sorrir e, antes que eu consiga responder, ela me envia outra:
"Nathalie: Você acredita que chegou bolo para o elenco e a equipe técnica, pois é o intervalo da cena? E eu e o Peter estamos aqui, com o David e o Dan! Nós duas deveríamos ter ido embora com a Lena!”
Dou uma risada e respondo:
“Emilia: Chorando pelo bolo ou por estar presa?”
“Nathalie: Os dois! Se eu não conseguir pegar um pedaço de bolo, tiro as vísceras deles para fora!”
"Emilia: Quando se trata de comida, os atores de Game of Thrones são extremamente violentos e intensos!"
"Nathalie: E você, obviamente, não faz parte desse grupo, não é?"
"Emilia: Posso até fazer, mas sou mais civilizada do que você!"
"Nathalie: Diz a pessoa que tem um estoque de chocolates escondido no trailer!”
Solto uma risada alta e, antes que eu pudesse responder, ela me envia outra.
“Nathalie: Droga, me chamaram a atenção... Até daqui a pouco.”
“Emilia: Até daqui a pouco.”
Me ajeito no sofá e apoio a cabeça no encosto. Sem nada para fazer, apenas esperar para ir embora, começo a divagar sobre a minha conversa com a Meg. Sobre o presente e o futuro. Sobre o que eu disse da reação de Meghan ser mais gentil dos que as próximas serão. Sobre a possibilidade de uma amiga, que voltou agora, ter que sair da minha vida outra vez...
Eu tentei o máximo possível não pensar na Rose, mas, depois de tudo que passei hoje, a questão não pode ser mais ignorada. Pois a Rose irá descobrir... Em algum momento, ela irá descobrir... E pode não acreditar em nada que o Kit e eu contarmos à ela. Como a Meg falou, isso parece enredo de filme!
O mais duro é que ela e eu fizemos tanto para chegarmos até aqui... E ela terá que ir embora. Quero fingir que não, nos manter unidas. Que o fato da Meghan ter dito que iria se abster não seja por conta da Rose e eu entrarmos em times opostos quando ela descobrir. E não entraríamos em times opostos por um homem, mas por eu ter mentindo todo esse tempo. Não, ela nunca vai perdoar a mim e ao Kit pelas mentiras.
Emilia – Sei que faço isso por você, que é o certo... Mas, isso não diminui a dor. – confidencio à minha filha, fazendo círculos com os dedos sobre a barriga.
As memórias do último mês e todas as risadas compartilhadas entre nós duas me leva à necessidade de chorar e eu não me repreendo. Eu vou perdê-la... Posso ter certeza sobre isso. Ela olhará nos meus olhos e não reconhecerá a verdade dentro deles. Como posso culpá-la se escondi tudo isso dela?
Sei que as lágrimas caem por mais tempo que eu possa sequer imaginar – sendo assim, nem me preocupo em fazê-lo e me permito ficar trancada dentro desse casulo. Um casulo que só é rompido quando a porta é aberta e eu visualizo o Kit.
Kit – Trouxe bo... O que aconteceu? – ele pergunta, fechando a porta.
Eu não respondo e ele larga os bolos sobre a mesa de maquiagem. Rapidamente, o Kit se senta do meu lado e passa uma mão em minha bochecha, tentando secar as lágrimas.
Emilia – Meg esteve aqui. – revelo.
Kit – Você e ela se desentenderam outra vez? – ele questiona e eu nego.
Emilia – Na verdade, ela foi muito amável... Mesmo que não consiga acreditar em mim. – um soluço escapa dos meus lábios – Ela, ainda por cima, vai cuidar dos meus figurinos até a Tina assumir.
Kit – Isso é legal da parte dela. – ele comenta e eu assinto – Se não foi um desentendimento, o que está te fazendo chorar? – ele me olha, com carinho.
Emilia – Que a Meg não acredita em mim e ela nos conhece há anos... O que me faz pensar que, obviamente, a Rose não vai acreditar em nós. – exteriorizo e ele não parece surpreso – Você pensou o mesmo, não é?
Kit – Mais ou menos... Mas, sabia que uma hora ou outra um de nós poderia chegar a essa ideia ou em alguma outra parecida. – ele admite – Porque nós estamos com medo. E quando nós dois sentimos medo, começamos a pensar em mil e uma possibilidades.
Emilia – Mas, isso não significa que são irracionais. – emito.
Kit – Não, não são... Pelo contrário, são muito racionais e possíveis de acontecer. E, como eu disse, nós estamos com medo. Eu tenho medo, também. Talvez, nem tanto da Rose, mas você sabe aqueles que me paralisam, não sabe? – ele pergunta e eu assinto – O que me ajuda é saber que vamos enfrentá-los juntos.
Emilia – Nós vamos. – confirmo, enquanto ele tenta enxugar as minhas lágrimas carinhosamente.
Kit – E sei que não é o que você está sentindo... Mas, acredito que a Rose vai acreditar em nós. – ele assegura.
Emilia – Acertasse, não é o que estou sentindo. – sinto mais lágrimas caírem – E eu te amo e não estou brava contigo, muito menos quero descarregar algo em cima de você. Mas, eu detesto quando você afirma algo sem saber se é o que vai acontecer... Você não tem como garantir que ela acreditará! – solto um soluço.
Kit – Eu sei que você odeia isso... No entanto, você tem que admitir que está fazendo o mesmo. Pois você não tem como garantir o contrário! – ele rebate, tranquilamente – Ou seja, isso significa que você está afirmando algo sem saber se é o que vai acontecer.
Emilia – Mentimos para ela! É mais provável que a Rose nem queira mais olhar para nós! – observo as minhas mãos.
Kit – Não vou ser idiota em dizer que não é provável, é provável. No entanto, não é garantia. – ele argumenta, passando carinhosamente o nariz em minha bochecha.
Emilia – É tudo culpa minha... – constato, relembrando da última vez que nós três estivemos juntos.
Kit – Acho que você não está falando nada com nada! – ele diz, cauteloso – Foi um longo dia e você está cansada.
Emilia – Não, é minha culpa estarmos assim! Você queria dizer, no dia em que aconteceu o beijo! Eu não quis, pois tive medo... Tive medo dela achar que foi uma traição e, agora, se passaram meses e tem a nossa filha para pensar. A situação se complica a cada dia em que mentimos! – explico e o olho – Mas, eu não vou forçar você a entender o meu ponto de vista. Você não entenderia de qualquer jeito! Já que sou eu que estou mentindo, não é? Para você, não é mentir. Como poderia mentir para a Rose se nem fala com ela?! E está tudo bem não querer falar com ela, mas não finge que entende como eu me sinto em mentir para a minha amiga! Essas últimas semanas foram repletas de mentiras da minha parte! Eu falo todos os dias como se não dividisse um teto, uma cama, um relacionamento, uma filha com você! Você não sabe como eu me sinto em fazer isso com ela todos os dias... – desabafo e ele continua as suas carícias em meu braço – Isso teria sido diferente se eu não o tivesse impedido de contar.
Kit – Olha, eu realmente não sei como você se sente em ter que mentir para a Rose. – ele admite e eu o olho – Mas, estamos juntos. Isso significa que ambos estamos mentindo e, se ela ficar brava, vai ser com os dois.
Emilia – Eu só não quero que ela fique brava. – choramingo.
Kit – Eu sei. – ele afaga o meu cabelo.
Emilia – Eu estou fingindo para mim mesma que vai ficar tudo bem. Ou estava. – me aproximo mais do seu corpo, precisando mais do calor acolhedor dele – Que, assim que contarmos, ficaria tudo bem. Mas, estou com medo da reação dela... E eu não senti isso por um tempo, sabe... Eu estava tão focada em garantir que era seguro dela saber da gravidez e isso me deu tanto foco que acabei afastando o medo, mesmo que só por um curto espaço de tempo. E, agora, eu sei que é seguro. E, Kit, devemos isso à Rose, pois, querendo ou não, ela vai ser envolvida em todas as mentiras dos tabloides. Ela merece a verdade de nós. – sorrio, com tristeza – Saber que era seguro, a necessidade de ser sincera com a Rose, ter conhecimento de que devíamos isso à ela e que os rumores não estão mais tão longe da nossa realidade, me fizeram perceber que o precisamos contar de uma vez. Mas, não pense que eu não sabia que seria assustador. Eu sabia... Eu sei. No entanto, me permitia momentos para idealizar um desfecho feliz. – mais lágrimas escorrem pelo meu rosto e o Kit tenta secá-las – Quando eu vi a reação da Meg, eu soube que dificilmente teria um desfecho feliz. Desde aquele momento, eu me privei de pensar nessa possibilidade, mas eu não consegui mais fugir dela. Nesse último mês, eu me apeguei outra vez à Rose e eu não quero ter que perdê-la de novo. E eu sei que vou perder a Rose de novo! – choro e o Kit me aconchega mais em seus braços.
Kit – Pensa que temos a maioria ao nosso favor! Rach e Di acreditam em nós. – ele tenta me confortar.
Emilia – Teremos a maioria ao nosso favor por pouco tempo. – respondo.
Kit – Sim, mas a Rose te conhece melhor do que a Meg e melhor do que o restante do mundo. Assim como ela me conhece, também... Ou seja, talvez, você possa idealizar por mais um tempinho, hum? – ele pergunta e eu levanto o meu rosto para olhá-lo.
Emilia – Não temos uma data para contar à ela e, dificilmente, teremos uma tão cedo. Ela anda ocupada. – comento – E se houver rumores até lá?
Kit – Pedimos licença do trabalho para que possamos ir até Nova York para contar. – ele garante e eu o observo.
Emilia – Posso te fazer uma pergunta? – ele assente – Eu detesto ter que ser a intermediária entre vocês sobre nós nos encontrarmos... Mas, eu sei como você se sente em relação à ela... Você ficaria bem em falar com ela pessoalmente?
Kit – Com sinceridade? – ele afasta uma mecha do meu cabelo – Você tem razão de que devemos isso à Rose e, de novo, sobre eu não entender como se sente em relação a mentir... Tens razão sobre tudo isso. Ela e eu... É difícil pensar em uma resolução feliz. Mas, sei que a Rose merece a verdade e não me oponho de dar isso à ela. E, também, há a nossa filha. Devemos segurança à ela. Ou seja, devemos fazer por essa menininha, também. Por isso, mentir por mais um tempo e falar pessoalmente com a Rose são formas de fazer o certo para todos. – ele explica e eu assinto, fazendo carinho em sua barba – Eu sei que não quer mentir, mas...
Emilia – Por celular, ela pode desligar e não nos dar a oportunidade de dizer tudo. Não podemos correr esse risco. – completo e ele confirma.
Kit – Exato. E, só para que você não se esqueça, estou assustado, também. – ele suspira e eu apoio a minha cabeça em seu peito – E, sim, estou com raiva do quão covarde Rose foi, mas nunca me permitiria ser tão baixo e fazê-la sofrer com a sensação de ser traída, principalmente quando isso ela não foi. Então, enfrentarei esse medo pela Rose. – levanto a minha cabeça, para olhá-lo, e meneio a cabeça em concordância. – Mas, precisamos fazer isso direito. Por ela. – ele toca a minha barriga.
Emilia – Por ela. – pego a sua mão e a prendo firme, assim como tento me prender à uma pequena esperança de que tudo pode ser resolvido.
*****
Depois de um banho, o estresse do dia parece ter sido lavado do meu corpo. Desde então, as coisas parecem calmas. E Kit e eu aproveitamos essa calmaria para estudar a cena de amanhã.
Emilia – Eu me pergunto quem é o mais chato entre os dois... – digo, após uma de minhas falas, e o Kit levanta o olhar do outro lado do sofá, já que ambos estamos com as colunas encostadas nos braços do móvel e com as pernas para cima do mesmo.
Kit – Jon e Daenerys? – ele questiona.
Emilia – Oh, por favor... Jon e você! – corrijo, com um sorriso travesso, e ele solta uma risada – Ele está quase sendo tão insuportável com a Daenerys como você é comigo.
Kit – Eles estão em uma guerra e ele está pedindo, ênfase no “pedindo”, que a esposa grávida vá para Pedra do Dragão. E esse é o lugar mais seguro no momento, já que os mortos estão chegando em Winterfell. Logo, não acho que o Jon esteja exagerando. E, se você acha que temos algumas pequenas coisas em comum, não pode se esquecer de que nós dois temos companheiras teimosas! – ele sorri para mim, que lhe mostro o dedo do meio.
Emilia – Se Daenerys e eu somos teimosas, o Jon e você são idiotas! – sorrio, cinicamente.
Kit – Idiotas por acharmos que vocês nos escutariam? Concordo. – ele responde e eu reviro os olhos – E idiotas? Amor, nós dois sabemos que você sabe insultar melhor do que isso! – ele provoca.
Emilia – Vá a merda, Harington! – retruco e ele ri – Que tal parar com essa conversa e voltarmos para a cena?
Kit – Como você quiser, amor! – ele debocha e eu, por debaixo da coberta, faço cócegas na sola do seu pé, que é o local que o Kit é mais sensível à elas – Você é má! – ele solta uma risada, dobrando os joelhos, para afastar as minhas mãos.
Emilia – Se você acha, amor... – lhe mando um beijinho e ele passa um dedo pelo meu pé, numa provocação – Você nem ousa fazer isso! – ameaço e ele coloca as mãos na altura da cabeça.
Kit – Jamais! – ele brinca e pega o seu iPad – Bem, o roteiro diz que o Jon pega as mãos da Daenerys e as coloca em seu rosto. – ele começa e eu o acompanho no meu próprio iPad – E ele se ajoelha.
Emilia – A Daenerys o olha, preocupada, e seus olhos ficam abalados ao ver a dor e o medo presente nos do marido. – suspiro e olho para o Kit – Sobre essa parte, acho que tenho um comentário a fazer. – anuncio e ele levanta os olhos para mim – Acho que foi uma escolha interessante de terem feito o Jon se ajoelhar na frente de todos, para implorar a Daenerys que vá. E que ele não está ordenando, mas implorando. Eu gostei disso. – comento e ele faz carinho na minha perna, por cima da coberta.
Kit – Eu gostei, também. – ele replica – Ia te dizer que acho que está bem coerente com os dois personagens. Ele pede e ela diz não, pois isso é uma escolha dela. Por desespero, ele implora. E gosto de como o Jon não se importa em parecer fraco aos aliados, pois a vida do filho e da esposa vem antes da coroa e dos ideias misóginos dos lordes. Entre Daenerys e Jon existe igualdade. Ele e ela são iguais, independentemente do que o mundo pense sobre os papéis que eles devem assumir. – eu sorrio, satisfeita – O quê?
Emilia – Você será um ótimo pai para os nossos filhos. É só isso... – respondo e vejo um brilho nos seus olhos.
Kit – Bem, acho que a vulnerabilidade dessa cena só não é maior do que a de quando ele usa a tática “Sou o seu Rei e ordeno que fique!”. – ele argumenta.
Emilia – Verdade! – concordo – Acontece antes de irem para Porto Real. Ah, como eu amo essa cena! Íamos filmá-la, eu acho, uma semana depois de Dubrovnik. Mas, contamos ao Dan e ao David sobre a bebê e eles mudaram o calendário... Bem, não vejo a hora de filmar! – exclamo, animada, ao relembrar o diálogo entre os dois personagens – Amo que a Daenerys não baixa a cabeça! E, por mais que o Jon esteja ordenando que ela fique em Pedra do Dragão por conta de que haverá uma possível luta com os exércitos de Cercei e, em seguida, com os caminhantes brancos, a Daenerys não permite que ele use essa jogada de ser Rei. Eu simplesmente amo que a Dany tenha feito isso, pois ela sabe que é só o desespero do Jon tentando uma última chance de mantê-la segura, mas a Daenerys é uma guerreira e uma Rainha, igual a ele. "Ah, você é meu Rei? Eu sou sua Rainha! Você é o meu marido? Eu sou sua esposa! Eu sou igual em título e obrigações e não vou ter a minha autoridade diminuída por não ter um pau entre as pernas!" Amo demais! – termino, com entusiasmo.
Kit – Concordo que essa cena é incrível! É quase como se esfregasse na cara de quem assiste o que foi demonstrado durante a temporada, que o Jon e a Daenerys são iguais e, só porque ele é um homem, não tem poder sobre ela. E essa cena só é uma consequência da de amanhã, não é? O Jon sabe que a Daenerys não vai parar de lutar e, ao menos, ele precisa tentar uma última coisa. E a vulnerabilidade em ambos os personagens é tão incrivelmente forte... E é por meio dela que eles demonstram que entendem o sofrimento do outro! – ele conta.
Emilia – Sim! A dor que o Jon sente por saber que ela estará no campo de batalha com ele outra vez e que não há como fazê-la mudar de ideia. E, então, perceber que a impotência que sente é a mesma que a Daenerys sente por ele. – acrescento.
Kit – Os dois se amam, os dois estão desesperados e, se um deles vai lutar, o outro tem direito de fazer o mesmo. E, querendo ou não, os dois são responsáveis pelo exército e têm o dever de liderá-los. – ele argumenta e eu concordo.
Emilia – Mas, você quase desmaia quando eu carrego uma sacola. – menciono e ele solta uma risada.
Kit – Acho que temos uma resposta para quem é o mais chato entre nós dois! – ele retruca, me fazendo rir.
O Kit começa a ler o roteiro e eu acredito que seja para encontrar a parte em que paramos. O observo e não me impeço de sorrir. Estudar as cenas com ele é uma das coisas que mais amo fazer, pois é muito fácil. Nos entendemos e conseguimos alinhar as nossas opiniões tão rapidamente.
É raro de se encontrar colegas aptos para fazerem isso, não por não terem capacidade, mas por não terem interesse ou não quererem companhia para a análise de personagens. Não fazer isso não te faz um ator pior, mas, desde que o Kit e eu tivemos a chance de atuarmos juntos, decidimos analisar as cenas um do lado do outro e, por consequência, nos ajudou de diversas formas. Claro que não o fizemos quando as coisas estavam tensas entre nós, mas fico aliviada por isso não ter afetado, ao menos, a nossa atuação. Sempre nos preocupamos que a nossa vida não afetasse o trabalho. Acho que é por conta disso que estamos estudando a cena, mesmo depois de um dia como esse. Não queremos que isso afete o Jon e a Daenerys ou a série, mas devo admitir que isso, também, nos ajuda a nos concentrarmos em algo que temos controle. Até porque, obviamente, ler as falas é obrigação, mas estudar e descascar o roteiro é o que faz sermos melhores em compreender os nossos personagens e seus sentimentos e ações. E, na pior das hipóteses, isso nós temos o controle.
Então, agora, quando vejo ele repassando alto uma fala duas vezes, para saber qual é o melhor tom de encená-la, fico feliz de tê-lo como meu parceiro nessa outra área da minha vida. E sorrio ao constatar que o Kit, que já era o meu melhor amigo, se tornou a minha alma gêmea no trabalho antes que eu percebesse que era na vida pessoal, também.
Kit – O que você está pensando, Clarke? – ele pergunta, me tirando do meu raciocínio.
Emilia – Nada. – respondo imediatamente.
Kit – Tem certeza? Essa rapidez parece suspeita... – ele mostra um sorriso sensual.
Emilia – Isso não é justo, Harington... – informo, indicando os seus lábios – Você está me distraindo. – justifico, voltando a olhar para o iPad – E isso diminui a eficiência no trabalho.
Kit – Ah, e de que forma eu a distraio? – a sua voz é provocadora o bastante para que eu volte a observá-lo – Você já me parecia distraída... Então, só recebo a culpa se você me disser que eu estava nos seus pensamentos anteriores. Eu estava? – ele pergunta e eu faço um sinal de “talvez” – Eram que tipos de pensamentos?
Emilia – Sinceramente? Sobre o trabalho. – digo e ele ri.
Kit – Um balde de água fria! – ele sorri, divertido.
Emilia – Se faz bem para o seu ego masculino, quando você sorriu, os meus pensamentos mudaram completamente de tom. – informo.
Kit – Ah, isso faz maravilhas para o meu ego masculino! – ele exclama, dramaticamente, e eu rio.
Emilia – Seu bobo! – sorrio, passando, carinhosamente, uma mão pela sua perna.
O Kit sorri alegremente e eu me sinto corar ao ver o brilho nos seus olhos. E, então, o seu sorriso vai se tornando algo mais doce e meigo.
Emilia – Sua vez de me dizer o que está pensando. – imponho.
Kit – Que você é a mulher mais encantadora que eu já conheci. – ele responde, mantendo o sorriso – E que eu sou o homem mais sortudo do mundo por namorar com você.
Emilia – Kit... Alguém está querendo ganhar ainda mais pontos comigo? – pergunto, sorrindo.
Kit – Alguém está sendo distraído por você. – ele corrige e começa a engatinhar até que esteja entre as minhas pernas e os seus lábios perto da minha boca. – Mas, eu não me importo nem um pouco por ter essa distração. Bem, na verdade, eu gosto de ter ela.
Emilia – Sério? – questiono, acariciando a sua barba – Não acha que isso atrapalha o nosso trabalho? Não gostamos que nada interfi... – ele me beija e, quando se afasta, percebo que me esqueci do que dizia.
Kit – Bom, Clarke... Não acho que interfira... – ele sorri, me instigando – Sempre que eu me distraio por você, qualquer trabalho se torna eficiente. – ele abaixa o olhar para os meus seios – Mas, admito que mais em alguns do que outros.
Emilia – Ah, nesse daí, você é mais do que eficiente. – garanto e ele levanta o olhar para encontrar o meu – Achou os meus olhos, seu tarado?! – sorrio.
Kit – Por favor, Em... Tarado? Por você, eu já estou no nível de um ninfomaníaco! – ele retruca, fazendo nós dois rirmos.
O Kit coloca a sua mão em minha nuca e os nossos sorrisos se tocam, iniciando um beijo lento. Ele, delicadamente, começa a nos deitar e toma o cuidado para não deixar o peso sobre mim.
Quando ele passa a língua pelo meu pescoço – me fazendo soltar um gemido baixo – e, então, começa a mordiscar a minha pele sensível, sinto a necessidade de mais. Posso ter dito em voz alta, pois o sinto colocando as mãos na barra da minha calça.
O Kit se ajoelha entre as minhas pernas e termina de retirar a peça do meu corpo, junto com a calcinha. Ele levanta o seu rosto e me lança um sorriso. Consigo ver os seus olhos adotarem aquele tom mais escuro pelo desejo. Sinto a minha respiração ficar mais pesada e, com toda a certeza, ele percebe – o que aumenta ainda mais a ambição em sua fisionomia.
Eu mordo o meu lábio e o Kit passa o dedo por ele, se aproximando para iniciar outro beijo. Enquanto nossas línguas se mesclam, o Kit aposta em carícias no meu corpo – o que me deixa em total êxtase. Deixo que as minhas mãos vaguem pela musculatura de suas costas e, quando sinto necessidade de mais, prendo as mãos na barra da camisa. Por sua vez, ele volta a ficar de joelhos entre as minhas pernas e começa a levantar a blusa. Me apoio nos cotovelos e aprecio a cena. Acho que nunca vou me cansar de vê-la...
Passo a língua pelos meus lábios, sentindo o seu gosto neles, e não me repreendo de passar uma das mãos pelo seu abdômen. Em seguida, me sento e deixo que a minha língua explore o local. E, obviamente, deixo que a minha mão explore outro lugar particular.
Kit – Você é gananciosa, Clarke. – ele comenta, ofegante, e eu sorrio contra a sua pele, enquanto abro o zíper de sua calça.
Emilia – Foi você que começou esse joguinho... – me afasto, para lhe lançar um sorriso inocente – Eu estava muito concentrada no roteiro.
Kit – Com certeza... – ele sussurra e a sua boca se aproxima da minha.
Emilia – Sim, eu estava... – reforço, enquanto passo as minhas mãos pelos músculos dos seus braços – Você... – uma batida na porta interrompe a minha frase.
Joe – Kit? – ele chama e o Kit me pede silêncio, o que eu respondo com um sinal afirmativo.
O Kit sorri, se inclinando até o centro das minhas pernas. Quando ele passa a língua pela minha intimidade, coloco a minha mão na boca, para abafar um gemido.
Alfie – Amor, vai atender ou vai querer nos escutar através da porta? – ele pergunta alto e eu solto uma risadinha baixa – Sabemos que está aí! – ele grita, insistente, e eu seguro uma próxima risada, que logo se torna um gemido completamente abafado pela minha mão por conta do Kit continuar a mover a sua língua – Atende! É urgente! – o Kit levanta a cabeça, praguejando.
Emilia – Acho que é para você. – comento, dando risinhos, e, então, o Kit passa a estimular o meu clitóris com os dedos – Porra! – sussurro, me contorcendo.
Kit – Nada é urgente, agora. – ele murmura para mim, que sorrio e o olho.
Mordo o meu lábio e agarro o seu ombro, enquanto os meus quadris entram em sincronia com a sua mão. Os seus olhos estão me observando daquele modo apreciativo e a sua boca estampa um sorriso.
Kit – Você é linda! – ele sussurra, me fazendo sorrir.
Kristofer – Sabe, seria bom que você atendesse... Um de nós pode estar morrendo e você nos ignorando. – ele argumenta.
Kit – Ah, daqui a pouco, um deles vai morrer! – ele diz, entre os dentes, me fazendo rir baixinho.
Alfie – Ou é preguiçoso ou está fazendo algo indevido... – ele grita.
Emilia – Ele não sabe o quanto está certo... – sussurro.
Kit – O que eu fiz para o Alfie gostar tanto de me impedir de transar com você? – ele pergunta, num sussurro irritadiço – E me parece que essa praga contagiou o resto do elenco!
Emilia – E me parece que eles não vão embora até você atender... – comento, ofegante, e ele faz uma careta – Lembra de Sevilha, quando as meninas não desistiram?
Kit – Eu vou ter que atender, né?! – ele pergunta, com a respiração pesada, e eu assinto lentamente – Isso vai ter continuação, prometo! – ele me garante e eu sorrio – Já estou indo!
Joe – Ih, que voz rouca é essa, Kit? – ele questiona, maliciosamente – É algo indevido, Alfie.
Alfie – Percebi. – ele ri – Se está batendo uma, nós esperamos... – ele brinca e se escuta algumas risadas diferentes.
Kit – Preciso de paciência para aturar eles! – ele murmura para si.
Kristofer – É, sem pressa! Dizem que não é bom parar no meio! – ele provoca, enquanto o Kit se levanta.
Kit – Fica quieto! – ele xinga e eu o puxo, o que faz o Kit me olhar – O que foi, amor?
Emilia – Pensa direito, você está agitado. – aconselho, num tom de voz baixo – Precisamos nos arrumar, começando por esconder a sua ereção. – aponto para o volume entre as suas pernas – E pega a minha calcinha e a minha calça?
Kit – Certo! – ele diz, puxando o zíper da própria calça para cima – Barriga. – ele me relembra, enquanto alcança as minhas roupas.
Então, em questão de segundos, eu arrumo as peças no meu corpo e pego o cobertor – que caiu no chão em algum momento. Ao me tapar, coloco o iPad no meu colo e, o Kit – que pega o roupão, para esconder a ereção – me alcança uma almofada, para pôr sobre a barriga. Ele se certifica uma última vez que está tudo no lugar e abre a porta.
Kit – O que todos vocês estão fazendo aqui? – ele pergunta e eu olho, por cima das costas do sofá, para alguns dos meus colegas.
Joe – Hum, desculpa... Percebemos que estava muito ocupado. – ele comenta, sugestivamente, e nossos colegas demonstram sorrisos divertidos.
Emilia – Ele estava escutando música. – respondo pelo Kit – Eu escutei vocês por terem me acordado e o fiz tirar os fones.
Alfie – Oh, desculpa. – ele me pede e eu assinto, enquanto o Kit esconde um sorriso.
Kit – A Em me falou que era urgente. – ele prossegue.
Alfie – Sim, é urgente! Nós viemos aqui para uma noite dos rapazes... – o Kit olha para cada um dos nossos amigos, com descrença – Calma! É para comemorar!
Kit – O quê? – ele questiona.
Jacob – Comemorar que eu pedi a Lola em casamento! – ele anuncia.
Kit – Você fez o quê?! Caramba! Meus parabéns, Jacob! – ele felicita.
Emilia – Eu que o diga! Estava demorando! – sorrio, alegremente, convidando o Jacob para entrar no quarto.
Jacob – Eu sei, mas finalmente tive juízo e pedi! – ele comemora e todos riem.
Emilia – Felizmente, o juízo chega em algum momento para todos! Lola e você serão muito felizes! – digo e ele sorri largamente.
Jacob – Obrigado, Em! – ele agradece e se inclina, para me abraçar – Eu sou um cara de sorte, não sou?
Emilia – Você é o mais sortudo de todos os caras! – respondo e ele volta a ter uma posição normal.
Joe – Como feito com você, Kit, temos que levar o nosso rapaz comprometido para uma bebida! – ele informa – Topa?
Kit – Óbvio! – ele sorri.
Kristofer – Só para os rapazes, Emilia! – ele pisca para mim – Desculpa!
Emilia – Tudo bem! – falo e sorrio para o Jacob, que parece distraído – É a sua noite, se divirta! – ele, alegre, dá um aceno e começa a ir para a porta – Além disso, um tempo sem o Kit é muito bem-vindo. – o meu namorado se vira para mim e cruza os braços, com uma falsa carranca, que me faz rir.
Joe – Somos os seus favoritos por te presentear com umas horinhas de folga, não somos? – ele brinca e eu assinto, sorrindo.
Alfie – Vai liberar o Kit da aposta? – ele me pergunta.
Emilia – Ele não me liberou para a noite das garotas, então não vou liberá-lo para a dos garotos... Pobre bule de chá! – faço beicinho para o meu namorado e altas gargalhadas fluem.
Alfie – Temos que avisar mais alguns amigos, então, se você vai nos encontrar lá, pode levar um tempo. – ele avisa ao Kit, que assente – Principalmente, se levarem o tempo que você levou para atender. – ele completa e o Kit mostra o dedo do meio – Até daqui a pouco, amigo! – ele sorri para o Kit, que retribui.
Eles se despedem de mim e, antes do Kit fechar a porta, o Jacob olha entre nós dois e sorri.
Jacob – Felizmente, o juízo chega para todos! – ele emite e sai atrás de nossos amigos.
O Kit tranca o quarto e começa a andar até mim.
Kit – Jacob vai casar! – ele exclama.
Emilia – Isso é incrível! – respondo, animada – Escuta, se você quiser beber, eu te libero do nosso acordo de “o que eu não puder ingerir, você não ingere". Só não exagera, pois trabalhamos amanhã! – informo e ele se ajeita em cima de mim.
Kit – Que bondade, Clarke! – ele fala, passando a boca no meu pescoço.
Emilia – Eu sou boa... – suspiro – E você não tem que se arrumar?
Kit – Você escutou que vai levar um tempo e eu te prometi que iríamos continuar. – ele diz, mordiscando a minha pele sensível, e eu sorrio.
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