Sentada em uma das cadeiras em frente ao balcão, derramada sob a madeira de muitos anos de serviço no pequeno bar, está Lee Ji Eun, uma policial de 26 anos, com uma garrafa de soju* em uma mão, enquanto usa a ponta do indicador da outra para contar quantas garrafas já tinha bebido.
—cinco... seis... sete? Ei Jin, eu já bebi sete garrafas? - antes de o bartender ter tempo de prestar atenção a ela, continua - eu já vou tá bom? te pago amanhã, você sabe que eu venho.
Mas antes de sair, ela desvia sua atenção a uma jovem, com que o bartender discutia: parecia que a menina não tinha idade suficiente para comprar bebidas.
Jin finalmente cede a pedir para Ji Eun, mesmo bêbada, que pudesse dizer se a carteira da menina era falsa ou não. E, pelo menos para a policial, era descaradamente falsa: a menina, que deveria ter uns dezessete anos parecia, mesmo que com os olhares de contestação contra sua idade, ter fortes argumentos, mas ainda dava para ver sinais de ansiedade com o mexer inquietante na correntinha da bolsa lateral. De vez em quando, olhava meio apreensiva para o grupo de amigos, todos homens, a esperando com impaciência numa mesa de canto à esquerda.
E não precisa nem olhar duas vezes para se dizer claramente que a carteira de identidade da moça não é verdadeira, então Ji Eun apenas entrega os fatos:
—É falsa.
A menina então, que estava a uns três metros de distância, vem se aproximando cautelosamente:
—E como essa ahjumma* pode comprovar?
A policial não quer se estressar, mas só de desviar um pouco o olhar dá pra ver os olhares indiscretos vindos da mesa que a aguarda, e isso ela não tolera.
—Lee Jin Sol, não é? -Ela fala, depois de olhar na carteira de identidade da moça — Tem certeza que você quer fazer isso? Quero dizer, é bem óbvio o que vai acontecer se você comprar as bebidas pro seus "amiguinhos" e levá-las à mesa.
—Isso não tem nada a ver com você, sua velha.
—Pois é, parece não tem nada a ver, mas essa velha aqui já tem idade e experiência suficiente pra comprar bebidas pra tentar esquecer todos os casos de estupro, assédio e feminicidio que tem que pegar todos os dias. Então Jin Sol, tem a ver comigo e com minha consciência também. Você realmente quer isso pra sua vida? Quer dizer, não tem problema se você realmente quer, mas fique sabendo que quando essas coisas acontecerem com você, eu pegarei exclusivamente o seu caso, ok?
A menina, desvia o olhar direto de Ji Eun e quer negar, e seguir seu curso, mas algo a impede, e pode ser a sensação de que a policial, talvez, se importe com sua condição, e que talvez, ainda dê tempo de ela fugir. Mas ainda não tem certeza, afinal, qualquer um pode especular qualquer coisa utilizando um 'talvez'. Porque ela não sabe o que fazer depois, quando for pro colégio e sofrer novamente o tratamento de uma formiga sendo pisoteada por uma manada de elefantes. Porque ela pensou que se saísse com quem é 'superior' na pirâmide escolar, ela não sofreria tanto, embora após por os pés no bar, venha se arrependendo da escolha.
—Eu... não quero saber!
Era pra ser uma frase impactante, para que a policial pudesse perceber que seria inútil uma intervenção, mas a jovem vacilou, e quase falou num tom inaudível. E essa era a deixa para Ji Eun agir.
—Se você não se importa, menina, eu posso ter uma conversa com seus amigos?
Jin Sol não conseguiu dizer não, o que ela mesma estranhou, mas seus instintos diziam para consentir com a policial. Ela balançou a cabeça afirmativamente.
A policial levantou, ajeitou os cabelos- ou pelo menos tentou - e foi de encontro a mesa de onde vinha muita inquietação, que foi aumentando quando os garotos viram Jin Sol, atrás de uma mulher aparentemente bêbada se aproximar.
Um deles, Lee Dong Hyuck, gritou:
—Jin Sol, cadê as bebidas, sua inútil?!
A menina e a policial mordiam os labios, uma de incerteza e a outra de pura raiva.
—Não acredito. É você mesmo, Dong Hyunck? - A policial diz, após se aproximar.
Após a deixa, o rapaz muda completamente a expressão: de durão e cabeça-quente passa a adorável e carinhoso.
—Noona*...? Há quanto tempo! a senhora tem passado bem? sente-se com a gente, eu pago!
Ele se afasta mais no banco encostado na parede, deixando um espaço vago.
Os outros desviam o olhar da policial e toda a animação é desfeita, como um apagar de vela.
—Ah meninos, vocês querem se encrencar de novo? Por mim, tudo bem, não vejo problema, se for pra cuidar de vocês, trabalhar horas extras. Sabe, da última vez foi trabalho comunitário, não foi? Então como não é mais nem a primeira ou segunda vez... Será que vocês vão pra cadeia de verdade? Puxa... com dezenove anos Dong Hyunck? Que pena...
—I-Ir pra prisão?! O que...? Não! nós não estávamos fazendo nada, noona, nada mesmo! A Jin Sol que veio se intrometer com a gente! E ela ainda é menor, não era nem pra estar aqui! Ela que tá fazendo coisa errada, não a gente!
—Então se ela for embora nada vai acontecer com ela, certo? Porque, se qualquer coisinha, mesmo que mínima, acontecer com ela, mesmo que ela não me conte eu vou saber, e vocês, mesmo que não sejam os culpados, vão pagar. Tá dado o aviso.
—S-sim, noona, nem precisa se preocupar.
A mulher estava satisfeita e ia embora, mas no momento que um dos rapazes xingou baixo, mudou de ideia: ia dar uma pequena amostra do que faria se não estivesse com os efeitos da bebida. Ela deu um chute no banco em que um dos meninos estava e ele caiu no chão. Os outros congelaram
—ISSO É ABUSO DE AUTORIDADE! É AGRESSÃO! - gritou o menino, caído no chão, já se levantando.
—Agressão? Eu apenas chutei o banco pra assustar uma formiga.
Nessa hora, o bar todo, já estava assistindo a situação, menos os que tinham costume de ir no local, que já sabiam quem era que causava tanta agitação. E antes que a discussão verbal se tornasse algo maior, Jin veio intervir:
—Saim daqui AGORA! Não permito brigas no meu bar, se isso continuar chamarei a polícia! - ele olhava agora desapontado para Ji Eun.
Os garotos se acalmaram, e Ji Eun deu um olhar raivoso como um último aviso para Dong Hyunck, antes de voltar para seu amado lugar no balcão. E Jin Sol veio atrás.
—Policial...
—Ji Eun
—Policial Ji Eun, muito obrigada. Agora eu vou, e, me desculpe por tudo... - ela desvia o olhar.
A mulher sorri, com um sorriso aconchegante, que faz a menina corar só de ver. E então Jin Sol vai embora, ainda envergonhada com toda a situação. E finalmente, Ji Eun decide ir para sua casa, "já está bom por hoje", ela pensa.
Então a mulher desce do banco e pega sua bolsa antes esparramada no balcão e vira, até que Jin olha para ela e faz um sinal de 'sim' com a cabeça.
Ela dá a meia volta e tenta lembrar com que roupas está vestida, antes de passar pelo vidro traslúcido da porta: o mesmo uniforme de policial de sempre, e lembra que após sair do serviço, foi direto ao bar tentar esquecer o incidente de homicídio que teve que cuidar de tarde. E por falar em tarde, é verdade, já é de noite e ela ainda não chegou em casa, e ela tinha prometido de fazer jantar para seu irmão hoje!
A policial abre a porta, rapidamente e coincidentemente se dá de cara com nada mais, nada menos que o próprio. A vergonha de estar em um estado horrendo como ela está é maior que os efeitos da bebida e ela recobra a consciência num piscar de olhos.
—Ji Eun...?
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