— Você pode começar quando quiser. — disse o garoto alto, agora na companhia de mais quatro pessoas. Os dois mais afastados ficavam de sentinelas, de costas para a pequena porta. Seguravam firmemente suas lanças, que facilmente passavam dos dois metros de altura. Encapados com um manto vinho sobre uma armadura cor chumbo, nela um rosto sagrado moldado em metal cobria toda região peitoral. Chumbado a armadura um estranho broche na altura do ombro esquerdo, um círculo com duas mãos se tocando de forma paralela, como um movimento de reza. O gigantesco saiote cobria quase toda região inferior do soldado, contendo apenas uma pequena abertura na parte dianteira na altura dos gordos joelhos. Homens enormes, acoplados em pujantes armaduras, olhavam inexpressivos para o garoto confuso ali sentado.
Kubo assentiu com seu típico olhar para o baixo.
— Depois que eu contar minha história. O que vai acontecer comigo?
— As providencias da sua guarda já estão sendo tomadas. — suspirou sisudamente um homem de estatura mediana com vestes de monge e uma cota de malha por baixo de um excêntrico capacete prateado, adornado com uma crista feita de náilon de cor magenta. O mesmo possuía um anel no indicador esquerdo, com um símbolo idêntico ao que as sentinelas jaziam em suas armaduras. — Mas precisamos saber o máximo possível sobre quem estamos colocando dentro de nossas fortalezas.
— O Líder do Clã Nara já entrou com um pedido de entrada no Centro Kushina para Órfãos, mas precisamos saber mais sobre você para prosseguirmos com o protocolo. — disse o indivíduo de cabelos negros. Sentado entre aquelas duas figuras esquisitas, enquanto dava um olhar confiante para o garoto — sei que deve ser difícil digerir tudo isso, só que quanto mais rápido resolver isso melhor será para todos.
— O que vocês querem saber? — disse o jovem de modo defensivo. — E por que estão fazendo isso?
— Diz que na passagem de Satori Ao, do Livro Primordial; “Os incapazes são filhos de Ao, e merecem o amor de seus irmãos”. — rapidamente palestrou o outro homem enviado, de aparecia bem mais rechonchudo, com o mesmo tipo de elmo. — Shikatsu, pegue mais água para o garoto.
Após um breve silencio, que se ascendeu na sala como uma despedida fúnebre, o homem se levantou em direção ao saguão trazendo mais um copo de água.
— Certo... — disse Kubo erguendo a mão tremula enquanto bebia a água. — Eu me chamo Kubo... Kubo Kodoma quero dizer...
O homem gordo rapidamente retirou um calhamaço da bolsa mensageiro feita de couro que carregava, e atirou o sobre a mesa, forçando uma brusca pausa no testemunho do garoto, e se pondo a escrever.
— Eu tenho...— deu uma pausa pensativa. — Acho que são doze anos, é bem difícil ter o controle dos dias vivendo sempre na estrada. Eu e meus pais estávamos vindo do País dos Ursos para...
— Então você é do País dos Ursos? — disso o homem gordo entusiasmado parando de escrever.
Instantaneamente, seu companheiro escrivão lhe deu um olhar de rigidez e correção. Calando o ser roliço de imediato, que rapidamente endireitou o corpo voltando a escrever.
Kubo reiterou.
— Eu não disse que era do País dos Ursos. Eu disse que passei pelo País dos Ursos... Bem nos estávamos vindo depois de terminarmos o trabalho nas linhas férreas da Vila da Estrela. Estávamos indo para a Vila da Pedra, mas no meio do caminho ouvimos de patrulheiros em um posto avançado, que Konoha estava construído uma nova ponte de acesso para o Templo do Fogo, e precisavam de mão de obra...
— Entendi vocês eram pedrei... — dizia o gordo, porem antes mesmo de completar o raciocínio sentiu um soco lateral acertar as suas costelas.
— VOCE QUER CALAR ESSA PORRA DE BOCA, SUA COISA GORDA. — gritou o outro homem, em tom de revolta, em seguida voltou ao tom mais ameno. — Continue, por favor.
— Meu pai durante muito tempo disse que Konoha era o melhor lugar do mundo. Ele contava de que aonde quer que você fosse era possível ver ninjas voando e pulando de um lado para o outro, fazendo coisas inacreditáveis para os olhos comuns. Falava também de como a comida local era maravilhosa, ele me falou pelo menos umas cem vezes que o lámen de Konoha era melhor coisa que se poderia comer no mundo todo. Havia uma receita milenar de um restaurante local passado de gerações em gerações. — Kubo deu uma pausa como se fosse prender algo dentro de si — A muito tempo eu não via meu pai com aquele sorriso no rosto, ele não era a pessoa mais feliz do mundo, nem a mais animada, mas a ideia de vir para Konoha lhe injeta uma excitação que eu vi raras vezes. Em determinados momentos achava que ele amava mais Konoha do que a mim. Ele me contou que esteve aqui duas vezes; uma quando era criança, seu pai veio para trabalhar na construção do Porto do País do Fogo. Ele ficou apenas dois dias aqui, mas mesmo assim conseguia contar histórias e mais histórias sempre de pontos de vistas diferente, com vários tipos de finais. Mas não importava quão diferente fosse a história ele sempre falava com orgulho do grupo de ninja que os acompanhou durante a viagem até a região litoral do País do Fogo. Sua parte favorita era falar do mais forte deles. Se chamava... Alguma coisa Uzumaki, se me lembro bem, era filho de dois ninjas poderosos. Esse ninja conseguia ver tudo, sentir tudo, estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Meu pai dizia que conhecer aquele garoto de cabelos loiros foi a momento mais incrível de toda sua vida vagando pelo mundo.
Kubo parou por um momento como uma homenagem a todas essas histórias e olhou para o copo em que estava bebendo. Deu mais uma forte golada e recomeçou.
— Na segunda vez em que eu ele passou por aqui, eu já havia nascido, mas não estava junto com ele. Ele recebeu uma proposta para a construção de várias muralhas na época da guerra, e acabou deixando minha mãe cuidando de mim em nossa antiga casa no País do Som. Ele contava com menos brilho nos olhos sobre essa outra vez em que esteve aqui na Vila da Folha, mas mesmo assim foi capaz produzir muito material para suas histórias. — Kubo deu uma nova pausa para respirar um pouco — Ele me contou que aquele tal Uzumaki já não estava mais aqui, tinha desistido ou algo do tipo... Não sei ao certo. O que sei é que dessa vez ele reviu um dos garotos que tinha o acompanhou naquela primeira viagem aqui em Konoha, ele tinha se tornado o Líder da Vila, mas não tinha muito que se dizer sobre ele.
— Seu pai parece saber muito sobre os antigos Shinobis. — disse o homem sisudo, com um olhar desconfiado. — Por que esse fascínio todo dele?
— Eu não sei bem ao certo. Talvez contar essas histórias o fazia se sentir vivo — o garoto deu a mais longa de suas pausas. — A vida de um pedreiro não tem muitas emoções. Conta-las para mim devia ser como passar uma linhagem de sonhos para frente. Desde de que me lembro sempre ouvia essas histórias. Sendo reais ou não era tudo o que eu poderia fazer pra me distrair nas viagens era escutar essas histórias...Você é um Ninja...Não é?
Kubo direcionou o olhar para o homem a sua frente, que olhava atento para ele com o seu coque.
— Sim garoto. Meu nome é Shikatsu Nara. No momento você está na Floresta do Clã Nara. Você tem muita sorte. Eu encontrei você desmaiado a uns dois quilômetros daqui, enquanto procurava um cervo fugitivo .— disse falando com o tom de voz mais amigável que conseguia. — Eu te disse que responderia suas perguntas.
— Isso explica os barulhos de cascos que eu ouvi antes de desmaiar. — disse Kubo com sua cabeça baixa. Já emendando com outra pergunta exalando curiosidade. —Mas o que foi aquilo que você fez com aquela sombra no chão?
— Aquilo é um Jutsu. — Shikatsu respondeu. — Jutsu Possessão das Sombras para ser mais exato.
O Escrivão interrompeu a conversa com uma sutil tosse. Cortando o curto dialogo entre os dois, e completou em um tom seco como o chão.
— Por favor. Você se importaria em continuar a história?
Kubo logo levantou a cabeça e se aprontou para contar a história.
— Como eu estava dizendo, eu e meus pais estávamos a caminho de Konoha pelo trabalho na ponte do Templo do Fogo. Eu e minha mãe sempre ficamos na parte de trás da carroça para ficar observando a retaguarda, ela sempre foi uma pessoa muito desconfiada. Às vezes acho que ela não confiava nem no meu pai. Por isso sempre prezava pela segurança em qualquer tipo decisão. Ela costumava dizer que saqueadores estavam sempre em busca de alvos em áreas desoladas como aquelas. Sinceramente ela falava para ficar de olho em qualquer tipo de área. — disse misturando melancolia com um leve fio de riso. — Era de se entender. Ela nasceu nessa vida de estrada, meus avós eram comerciantes que circulavam por toda a parte Norte, desde muito pequena minha mãe nunca soube o que é casa, nem como confiar nos outros. Nessa vida ela ouviu muitas histórias sobre massacres, roubos e os mais tipos de histórias trágicas sobre viajantes, meu pai dizia que a maioria delas eram para assustar mercadores e aliviar a concorrência. Volta e meia esse jeito pessimista dela batia de frente com o mundo perfeito do meu pai; ele sempre defendia o símbolo que os Ninjas representavam. Já a minha mãe era totalmente diferente falava sempre que podia da violência do mundo que os Ninjas provocavam, suas guerras e seu poder descontrolado acabariam causando a morte de todos um dia. Ela me educou contando as mais terríveis histórias de guerra que ela ouvia na infância. Sempre que podia contava essas história que ouvia dos mercadores . A história favorita dela era a dos Três Órfãos da Vila da Chuva.
— Três Órfãos da Vila da Chuva? —questionou Shikatsu — que história seria essa?
Kubo percebeu um olhar de reprovação dos Escrivães, mas sem pensar direito emendou.
— Ela dizia que durante a Terceira Grande Guerra Ninja, uma salamandra soberba por poder estava temendo perder seu trono para poderosos guerreiros defensores da paz. Para impedir isso ele se disfarçou de um homem, e preparou uma emboscada para sequestrar a mais bela guerreira do grupo, obrigando-o grupo a se render. Só que a salamandra estava cega demais pelo poder, e não se contentou com uma simples rendição. A salamandra colocou faca na ponta de uma montanha, exigindo que o mais novo dos guerreiros do grupo escolhesse qual permaneceria vivo ao amanhecer. Mas seu líder era nobre demais para deixar esse fardo nas costas de seu companheiro. E se atirou perante a faca. — contava Kubo enquanto via a cara dos escrivães se avermelhar de raiva cada palavra que saia de sua boca. — Mas a salamandra não era um ser de palavra, e exigiu que seus servos matassem o sobrevivente. O jovem então sacrificou seu corpo, que foi queimado pelo ataque da salamandra, para desviar do ataque e salvar a bela guerreira dos braços do inimigo.
— Antigas fabulas infantis. Nada mais que isso. — protestou o Homem mais esguio se levantado e olhando para o garoto. — nós sabemos que as únicas histórias verdadeiras, são aquelas grafadas nas Escrituras de Ao.
O homem fiscalizava o rosto de todos na sala, como um rígido professor lecionando para uma turma indisciplinada.
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