Duas semanas depois.
Sábado, 02:19Am.
Acordo suando frio e assustada após um sonho não muito agradável, estou com a mente tão cheia que mal consigo relaxar. Levanto da cama com meu shorts preto e uma blusa de manga curta e saio do quarto cautelosamente. Desço as escadas devagar e meu corpo se arrepia quando sente uma onda de ar frio, um pouco antes de chegar nos primeiros degraus da escada ouço uma voz vinda da sala, Berlín, e em seguida uma voz feminina, não parece ser a Tokyo e sim outra mulher, que porra ele tá fazendo?
Com quem ela tá conversando a essa hora? O professor sabe? — penso. Em seguida subo as escadas novamente em silêncio e volto para meu quarto, não quero discutir com o Berlín a essa hora, mas nós todos sabemos que é proibido trazer qualquer pessoa pra cá.
× × × × ×
08:45Am.
Meu alarme desperta, levo a mão até o mesmo dando uma batida em cima dele fazendo o desligar. Levanto já escutando as conversas no corredor, todos apressando Denver que estava no banheiro já faz uns vinte minutos pelo que parece. Mais tarde após o banheiro estar desocupado, vou até o mesmo fazer minhas necessidades e tomar um banho, começando o dia com o pé direito. Desço as escadas indo até o patio me dirigindo até a mesa do café da manhã a qual estava farta hoje.
Sento na cadeira ao lado de Tokyo e Helsinki tomando meu café. Depois de uns dez minutos Berlín chega e senta na cadeira em minha frente, eu o olho, porém não falo nada apenas continuo tomando meu café e conversando com os demais.
Nos poucos segundos que trocamos alguns olhares meus pensamentos voltam para a aula de primeiro socorros que tivemos a uma semana atrás, quando senti o calor de suas mãos quase encostando em minha pele nua, com ele demonstrando o nome correto de cada veia importante do corpo; depois que o professor explicou corretamente ele mandou que Tokyo demonstrasse, ela começou e errou, então Berlín resolveu corrigir a mesma "Está errado, Tokyo. Assim vai matar alguém." Berlín proferiu em um tom sério, "Então pega e faz você, 'professor' ", ela o respondeu irônica. Por um momento pensei que ele não faria isso, mas ele o fez, e o meu corpo se arrepiou, eu me sentia um tanto quanto desconfortável com ele fazendo aquilo, e para piorar conforme ele ia riscando os traços em minha pele demonstrando as veias, minha cicatriz da cesariana quase apareceu e eu não tenho certeza se ele viu, estava lembrando disso constantemente.
Berlín e eu já não nos falamos muito, e quando isso acontece acabamos por ter um impasse no meio da conversa, todavia mesmo sendo um filho da puta as vezes, sempre me tratou bem, embora suas piadinhas e sarcasmo ele mantém o respeito, pelo menos algo bom.
— Nairóbi! Chamando para terra. – Denver fala rindo em um tom mais alto tirando-me dos pensamentos.
— O que foi?
— Passa a manteiga pra cá. – ele estende o braço e eu pego a manteiga o entregando.
Enquanto terminamos o café, o professor conversa conosco sobre o plano.
× × × × × ×
16:31Pm.
Os homens estão conversando e rindo sobre alguma coisa perto dá área onde treinamos os tiros, Tokyo e eu estamos se aquecendo nos poucos raios de sol sentadas em um banco observando eles, conversamos sobre a festa que iremos hoje a noite após todos estiverem dormindo, o professor principalmente, só irá o Denver, Rio, e nós duas. Para falar a verdade eu tô bem ansiosa, sair para se divertir um parece ótimo.
• • •
As horas passaram num piscar de olhos, já está tarde e todos estão indo para seus quartos após o jantar. E eu vou para o meu me arrumar para a festa mais tarde, pego um vestido azul-escuro e o visto, deixo os olhos e a boca marcados com maquiagem e batom, brincos, colares e diversos anéis, calço um coturno preto e arrumo o cabelo.
— Você é uma puta de uma fodona. – digo me olhando no espelho com um sorriso no rosto.
Após uma meia hora abro a porta do quarto devagar vendo se havia alguém no corredor, não avistando ninguém saio indo até o quarto de Tokyo, bato na porta duas vezes e entro rapidamente.
— Que mulherão... – Tokyo diz com um sorriso no rosto terminando de arrumar seu cabelo.
— Eu que o diga... Olha pra você. Toda sexy, o Rio vai ficar caidinho. – Riu fraco a olhando.
— Para, o Rio é... – ela não termina sua fala e ouço três subitas batidas na porta, me viro abrindo vendo Rio e Denver, eles nos olham de cima a baixo dizendo "Wauh", entram no quarto e Denver gira dando uma voltinha segurando o blazer que vestia, o blazer do Berlín.
— Esse blazer... É do? – Tokyo pergunta.
— É sim, do Sr.Berlín. – Denver responde rindo todo animado.
— Você tá maluco?!? Se ele te pega vestindo isso ele faz picadinho de você caralho. – digo a ele e então sou interrompida.
— Shhh... Agora prestem atenção, vou falar dos meus cinco divórcios... – ele fala imitando os gestos de Berlín e acabo por rir.
— E aí, pegaram as chaves do carro do professor? – Tokyo indaga e então Rio ergue a mão com as chaves.
— Estão aqui.
— Então o que estamos esperando porra? – digo alegre fazendo todo mundo sair do quarto, em silêncio.
× × × × × ×
23:54Pm.
Não se passou duas horas na festa e Denver parecia estar furado, não parava de beber e dançar, Tokyo e Rio ainda estavam na pista dançando e até se pegando, os dois não sabem disfarçar. Me sento em um dos banquinhos vazios da bancada e peço mais uma bebida para o barman, após dançar muito, preciso beber um pouco e recuperar o fôlego.
— Por conta da casa. – o barman fala e eu agradeço dando um gole.
— Alma? – escuto uma voz familiar e me viro vendo Juan, o mesmo cara do beco a algumas semanas atrás.
— Desculpa, o que? – digo ajeitando o cabelo.
— Juan. Lembra de mim? Faz muito tempo, eu fiquei esperando uma ligação sua. – ele ri se acomodando em um dos banquinhos ao meu lado, logo pedindo um whisky.
— Eu tive alguns imprevistos. O que você tá fazendo por aqui?
— Vim para Toledo por causa de familiares, e você, não morava em Sevilha?
— Eu moro. Estou aqui a trabalho, só isso.
— Claro. Você parece uma mulher de seriedade. – ela fala dando um gole no whisky.
— Você não faz ideia, amigo...
— Bonita também. – ele termina sua fala e me olha sorrindo, e eu sorrio agradecendo.
[....]
Ficamos conversando por alguns minutos sobre a vida dele e eu tentando esquivar os assuntos da minha, ele mora em Sevilha, mora no mesmo bairro que a Rúbia e tem uma filha da idade do Axel, porém ele não sabe do mesmo, ele parece ser gentil, estava começando a esfriar mais, a festa não era em uma área coberta e então ele colocou sua jaqueta jeans por cima de mim.
— Vamos? – ele aponta para a pista de dança. — Não vai me deixar dançar essa sozinho, vai? – uma música agitada e boa começa a tocar.
— É claro! Vamos requebrar o esqueleto. – falo secando o copo e levantando já sentindo o efeito do álcool, mas ainda estava completamente ciente.
Juan e eu dançamos por toda a pista dando risadas e conversando sobre coisas aleatórias, até que em um breve momento dançando juntos se aproximamos e no calor e agitação do momento ele se inclina me beijando, ele desce suas mãos para minha cintura apertando, então me afasto parando o beijo.
— Não... – digo o olhando.
— Por que?
— Desculpa, isso não... Não pode ir pra frente assim. – respondo com as primeiras coisas que veio em minha cabeça tentando não ser rude, esse momento não foi ruim, mas senti que isso não estava certo, por todos os motivos. Eu estou concentrada no plano, qualquer tipo de relacionamento comprometeria tudo, mas ultimamente meus sentimentos estão começando a ficar diferente, e eu tô me esforçando para continuar focada.
— Me desculpa, eu fui rápido de mais, você tem razão. – ele passa a mão no cabelo se afastando meio sem jeito. — Eu já vou indo.
— Você tem certeza? Olha eu...
— Não, tá tudo bem. – ele sorri me interrompendo. — Eu tenho algumas coisas para resolver, de qualquer forma foi bom te ver, espero que depois desse seu tal trabalho misterioso você volte para Sevilha.
— Eu vou voltar, mas não ficarei lá. Foi bom te ver também. – assento tentando ser gentil, em seguida ele se despede e sai. Não quero que ele crie sentimentos por mim, a gente se viu só duas vezes, e provavelmente não terá uma próxima.
× × × × × ×
02:13Am.
Termino meu terceiro copo de whisky dançando com Tokyo, e os pensamentos confusos dentro de mim a flor da pele.
— Tokyo, chama os meninos, temos que ir embora, já está tarde pra caralho.
— DENVER!!! RIIO!! – ela grita o nome deles e eu dou um tapa no seu ombro.
— O que você tá fazendo porra?
— Eu tô chamando eles, você não pediu pra chamar, Nai? – ela fala meia tonta por conta do álcool ingerido.
Logo os meninos aparecem, Rio é o que está mais sóbrio portanto foi dirigindo para casa. Chegando em casa ele para o carro e desce ajudando Tokyo que está quase caindo e falando um monte de baboseiras, Denver ainda com uma garrafa de bebida caminha ao meu lado até a porta de entrada.
— Curtiu a noite? – ele indaga.
— Meu amigo, foi a melhor noite que tive nesse lugar! – riu baixo o olhando, então chego na porta e paro.
— Não vai entrar? Vai ficar aqui fora?
— Vou pegar um ar, entra, eu vou daqui a pouco.
— Tá bom, mas vê se entra. Se o professor descobrir sobre isso a gente tá muito fodido. – ele fala e entra na casa indo para seu quarto em silêncio ainda com o blazer.
— Como se eu não soubesse. – falo sozinha após ele sair e me sento em um banco que ficava perto da porta.
Se passaram alguns minutos e eu continuo ali, parada a sós com meus pensamentos, a festa, Juan... Fico me perguntando por que a cada dia que passa meus sentimentos vão ficando mais confusos. Ainda estou com a jaqueta jeans de Juan, ele acabou por esquece-la na festa. As correntes de ar frio passando pelo meu rosto me dando calafrios, fecho os olhos ouvindo o canto dos grilos, sentindo o efeito do álcool ainda em meu corpo.
— É uma melodia para os ouvidos.
Abro os olhos e vejo Berlín parado na porta ajeitando seu roupão por cima da roupa, me observando.
— A quanto tempo "cê" tá aí? – dou de ombros para o que ele acabara de falar.
— Tempo o suficiente para saber que não se arrumou toda para vir aqui fora. Seus amigos não sabem fazer muito silêncio. Onde estavam? Na cidade?
— Não é da sua conta, por que caralhos você não volta a dormir?
— Mas pode ser da conta do professor... Ele vai querer saber. – ele fala em um tom sério e calmo se aproximando tentando me persuadir.
— Pode ser da conta do professor querer saber também quem você trás aqui as duas da manhã. – levanto do banco olhando sério para ele. Eu queria satisfações dele, queria saber quem era ela e isso não é ciúmes, claro que não, é sobre ele não cagar no plano.
Ele dá aquela risada fraca inclinando levemente a cabeça para cima, dando alguns passos se aproximando mais de mim.
— Nairóbi... Está me espionando agora? – ele tenta se esquivar do assunto.
— Não tenho porque fazer isso. E não me surpreende você estar fugindo do assunto, é o que você sempre faz. Quem é ela?
— Por que você se importa com isso? – ele responde ficando em minha frente a poucos centímetros de distância, fazendo com que eu sinta sua respiração, e ouça seus batimentos cardíacos.
— Não quero que você foda com o plano. Só isso... – o olho nos olhos.
— Nós entraremos no banco juntos, Nairóbi... E sairemos juntos. – ele se inclina um pouco quase encostando seus lábios nos meus ao falar sussurrando com sua voz grossa e rouca.
Fico parada por um momento o olhando nos olhos sentindo sua respiração, com meu coração acelerando aos poucos. O que eu tava sentido? Borboletas no estômago? Eu não acredito nisso, não, não, não.
— É melhor que você seja um homem de palavra... Se não eu mesmo acabo com você. – levanto a cabeça olhando em seus olhos e finalmente respondo com uma voz baixa.
Ele sorri assentindo.
— É melhor ir deitadar para descansar agora, está frio aqui fora. – ele fala apoiando uma de suas mãos nas minhas costas me conduzindo para dentro da casa.
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