História La Lune - Wake Up Call

Você nunca vai conseguir nada

Porque nada é do jeito que você acha que é

Então, chega de fingimento

Tomar uma surra com certeza teria doído menos. Bem menos, mil vezes menos. Eu iria sangrar, sentir dor, ficar alguns meses com algumas marcas mas no final das contas nada que alguns remédios não ajudassem a estancar e aliviar. Não a dor física que se prolongue para sempre. Já apanhei o suficiente para dizer isso.

Por outro lado, a dor emocional sempre será uma ferida exposta que a qualquer mínimo toque, volta a doer do mesmo jeito do que no dia que foi efetuada. Não bastasse a dor que eu estava sentindo no momento, eu imaginava como iria explicar isso para o Yoongi, quando o Jimin descobrisse -não poderia esconder para sempre- e porra, o namorado do Taehyung! Eu nem cheguei a conhecer o pobre infeliz e já me tornei o responsável por uma ferida aberta no meio do seu peito.

Parabéns JungKook, você destruiu seu relacionamento e não satisfeito, destruiu de outra pessoa. O Taehyung está errado? Tanto quanto eu porém eu não quero e não tenho o direito de dividir esse peso com ele.

Já dizia a minha mãe “se você não aprende pelo amor, aprende pela dor”. E que dor.

●

Olhei no relógio do celular e fazia mais de 20 minutos que estava parado na frente do espelho encarando o meu reflexo deplorável. Meus olhos e nariz estavam vermelhos, minhas lágrimas já começam a tomar forma na minha camiseta, afinal, em momento algum fui egoísta a ponto de impedi-las de prosseguirem seu caminho. Sentia que ao simples toque em uma delas, eu iria desmoronar completamente. Já havia deixado de segurar o som do choro e provavelmente até os vizinhos conseguiam me ouvir.

Ouvi uma batida na porta e logo depois aquela voz grossa.

- Jeon, o que ta acontecendo? Parece que você está morrendo.

Talvez eu realmente estivesse.

O tempo realmente não perdoa, as coisas começam a acontecer e a sua única opção é seguir em frente mesmo não estando pronto. Minha vontade era de descer por aquele ralo e sumir por no mínimo uns 20 anos.

Meu cérebro tinha dado pane e absolutamente nada era formulado, comecei a mexer a boca na esperança que algo saísse...nada.

Novamente ouvi as batidas na porta mas dessa vez elas demonstravam um certo, desespero?

- Jeon é sério, você ficou mudo do nada. Para com isso! Ta me assustando.

Completo silêncio.

- Eu vou contar até três, se você não responder eu vou arrombar a porta. -Ouvi o seu suspiro- Posso ser bem magro mas não subestime a minha força.

O que eu deveria fazer após girar a maçaneta? Não era a sua abertura que me incomodava mas tudo que viria depois, a verdade é que eu não queria encarar os fatos e os meus erros. Isso significava admitir que estou errado e que a minha inconsequência seria bem maior e mais complicada que apenas uma dor de cabeça causada pela ressaca. No momento a porta era muito mais simbólica do que deveria.

Ouvi sua contagem regressiva, logo depois o som do seu corpo contra a porta e por mais trágico que fosse eu não consegui segurar o riso após ouvir seu choramingo e um sussurro dizendo algo similar a “isso parecia mais fácil nos filmes”.

Por maior que fosse a vontade de deixá-lo se acabar contra aquela porta, acabei abrindo.

- Taehyung, cadê você? Fui olhando pelo corredor de casa e ouvi alguns ruídos vindo da sala. Caminhei em passos lentos até o cômodo e consegui encontrá-lo no meio das pilhas de caixa aparentemente procurando algo.

- Ah que ótimo, você saiu do banheiro! Eu não ia me jogar naquela merda de porta de novo, então vim procurar alguma ferramenta e arrancar aquela porta de um jeito mais...rústico? Acho que não é essa a palavra mas você entendeu - Novamente ele estava mostrando aquele sorriso peculiar-  Agora me diga, o que aconteceu naquele banheiro enquanto eu dormia? Não me diga que você fez aquilo de novo?

- Fiz o que de novo? -Dei uma fungada-.

- Você estava chorando de novo? Poxa vida, ontem a noite você parecia tão decidido a mudar…A gente se divertiu tanto.

O pesar na consciência é a pior coisa do mundo, porque enquanto uns querem arrebentar a cabeça na parede por causa da culpa -lê-se, eu-  outros fingem que está tudo certo e à abraçam  como se ela já fosse uma velha amiga.

Não estou em posição de julgar ninguém mas ver aquele sorriso no seu rosto e a atitude de “tudo são flores” me fazia sentir vontade de socá-lo enquanto chorava. Isso é completo egoísmo, sei disso, porém eu queria muito que ele estivesse tão mal quanto eu ou pelo menos um pouco acabado.

- Ontem a noite, você não sentiu nenhuma culpa? -Me aproximei até estar quase tocando os nossos narizes- Tantas fotos e comentários de como seu namorado era maravilhoso e que você nunca foi tão feliz na vida serviram para que? A menos que você me diga agora que está em um relacionamento aberto, todo o resto vai soar como o nível mais baixo de escrotidão.

Como um grande fã de novelas mexicanas, já estava esperando um tapa na cara e umas declarações clichês mas a cada minuto que passa, eu percebo cada vez mais que minha leitura das pessoas é péssima.

Taehyung riu.

Não apenas uma risadinha discreta ou algo rápido, mas aquelas altíssimas que se você ouvir na rua é certeza que vai tomar um susto. Esse garoto é realmente acima da média.

- Se eu soubesse que você ia soltar uma dessas eu tinha filmado. Socorro eu acho que vou chorar de rir! Jeon eu não sei se você é inocente ou burro.

- Mas do que porra você tá falando? - Me sentei no sofá e acabei formando um bico.

- Não, não. A pergunta aqui é do que porra você -ele deu ênfase enquanto me apontava o dedo- está falando? Ou deixa eu adivinhar, você deve estar pensando que após toda a sua bebedeira a gente transou?

Atualmente eu estou sentindo um mix de sentimento se entalando na minha garganta por qualquer coisa que eu veja, sinta,escute...Me tornei tão fraco que já não me reconheço mais. Será que isso influenciou na decisão do Jimin, foi por isso que ele terminou comigo por uma mensagem?

Sai dos meus devaneios quando percebi Taehyung acenando na frente do meu resto.

- Minha pergunta te deu tela azul? Responde só um sim ou não, você não precisa ser abduzido pelos próprios pensamentos.

- A gente...não...a gente… Por que eu…

- OK, ainda bem que você está sentado porque eu acho que suas pernas iam esquecer como funciona. Eu vou te explicar tudo mas primeiro você vai precisar me alimentar. - Ele diz isso enquanto se encaminhava para a minha cozinha- Jeon vem logo!

●

Estavamos sentados a mesa enquanto eu bebia um copo gigante de café e o Taehyung acabava com todas as minhas bolachas de chocolate.

- Você poderia deixar alguma dessas intacta e me contar logo o que aconteceu ontem?

- Já pensou em pedir por favor, ou melhor, por favor grande e maravilhoso Tae? Eu adoro elogios.

Vou colar um post it ao lado da cabeceira da cama escrito algo referente a não cair em tentação e que tristeza combina com sorvete e roupa furada, não roupas que deixavam meu ex louco para transar ou álcool que consegue me deixar louco para...fazer tudo.

- Primeiramente, vai se foder. Segundo, você está comendo a minha comida, usando minhas roupas e eu ainda não sei como caralhos entrou na minha casa. Então assim, não vai ter um por favor ou um elogio, no mínimo o que eu consigo te oferecer é uma denuncia e quem sabe uma medida cautelar.

- Certo, definitivamente sua personalidade amigável foi culpa da tequila. Aliás, você quebrou uma garrafa quando subiu no balcão e vai ser descontado do meu salário, então, acho bom você me pagar.

- E-eu...subi no...balcão? Oh céus - Dizia enquanto sentia as mãos começarem a formigar-.

- Não só isso, você começou um strip e eu tive que me trancar com você no banheiro antes que de te expulsarem ou você fosse filmado. Bem, eu filmei - ele disse sorrindo-.

Adeus dignidade, acho que nunca mais poderemos nos encontrar.

- Você me filmou? -disse gritando- Mas que porra você filmou? Me mostra esse caralho...agora!

- Nervosinho, cuidado com as rugas tá? Quer mais tequila pra relaxar? Calma, é brincadeira, pode sentar de novo, credo.

Taehyung foi me empurrando da cadeira até que ficasse a metade da minha bunda e a dele. Qualquer mínimo movimento e alguém iria para o chão.

Ele desbloqueou seu celular e fez questão de colocar o vídeo no máximo pois -segundo ele- eu não poderia perder nada.

- Se você vai filmar então deixa eu falar uma coisa bem importante. Jimin olha o que você perdeu e aqui você não entra mais! - Falava alto com a voz mole enquanto batia na própria bunda-.

Comecei a abrir minha blusa lentamente enquanto mordia os lábios, era possível ouvir alguns gritinhos ao fundo e era perceptível que haviam outras pessoas achando a situação comica.

Era perceptível ver no meu rosto a minha excitação em fazer aquilo, estava me sentindo no topo do mundo.

Quando comecei a abrir a calça o vídeo pausou.

- Então Jeon, foi nessa parte que eu tive que te jogar nas costas e te levar para o banheiro. O segurança já estava vindo pronta para te jogar no meio da rua.  Agora vamos continuar vendo porque sua cara horrorizada é hilaria.

Ao tirar o vídeo do pause, o local que estávamos havia mudado e agora como Taehyung havia dito, estávamos no banheiro.

- Jeon desce dessa privada, se você enfiar o pé aí dentro você vai acabar causando um acidente!

- Cala boca! Eu estou me libertando! Não foi você que disse que eu preciso ficar feliz comigo mesmo antes de pensar em reconquistar o Chim?

Comecei a cantar -se é que posso chamar assim- hands all over do maroon 5 enquanto voltava a abrir meu zíper. Após descer a calça até a altura das canelas, dei um pulo da tampa da privada e comecei a encarar a câmera sorrindo.

- Eu acho que vou parar de filmar, imagina se o Hobi vê isso?

- Não para! - Fui me aproximar e acabei perdendo o equilíbrio, quando fui segurar na porta acabei impulsionando meu corpo para trás, o que acarretou que eu caísse sentado na privada.

- Eu to bem -dizia enquanto ria- sou duro na queda, pode continuar fazendo o seu trabalho.

- Meu trabalho? -Ele virou a câmera do celular para o seu rosto enquanto fazia uma cara de falsa indignação- Escuta aqui Jeon...O que você tá fazendo cara? - Era perceptível que após todos os seus gritos seu tom de voz havia ficado mais rouco e também ganho um tom de surpresa-.

Quando ele virou a câmera de volta para mim, a imagem estava meio borrada devido a falta de foco, entretanto o som foi gravado perfeitamente -para a minha infelicidade-.

Havia soltado um gemido bem alto e ao fundo era possível escutar Taehyung pedindo que eu fosse mais baixo.

Estava completamente abismado com o ponto a qual eu havia conseguido chegar. E pior, eu ainda não consigo me lembrar de ter feito isso, a única lembrança foi a que me acordou hoje.

- Agora agradeça-me por ser um ser humano maravilhoso por ter parado de filmar e estar apagando o vídeo e também, por ter segurado a porta enquanto você se masturbava. Eu poderia perder o emprego, ir preso com você por atentado ao pudor e pior, perder meu namorado!

Ficamos em silêncio por alguns minutos, bem, teoricamente o Taehyung estava em silêncio, eu estava fungando e fingindo que não estava chorando.

Ele ainda tentou me explicar como chegamos até a minha casa e que eu havia vomitado nele mas naquele momento minha mente havia se desligado completamente de tudo.

Como ele consegue dizer tudo isso e acreditar que no final deu tudo certo? Ao invés de me sentir aliviado, aquele aperto no peito só piorava. Eu realmente havia feito algo absurdamente irresponsável, só conseguia lembrar de todas as vezes que Jimin e eu brigavamos e ele dizendo que minhas atitudes refletem no quão imaturo eu ainda consigo ser.

Ele estava certo, absurdamente certo.

Ei, suas bolachas acabaram e eu ainda to com fome.

●

Taehyung me arrastou até o mercado ao lado do prédio alegando que eu estava em débito com ele e precisava ser um bom garoto.

Ao entrarmos, ele largou do meu braço e correu em direção aos doces enquanto eu encarava a banca com revistas.

A quantidade de títulos retratando dramas adolescentes e decepções amorosas são absurdos e eu conseguir me identificar com todos é pior ainda. Travei uma batalha interna me impedindo de tocar essas revistas mas não resisti, aproveitei que Taehyung estava muito entretido tentando me falir comprando comida e corri em direção ao caixa.

Fingi que não notei o olhar de deboche da atendente e enrolei aquela maldita revista na sacola.

Após aguardar por quase 20 minutos na calçada enquanto Taehyung pegava todas as compras, voltamos para o apartamento. O caminho era curto demais para conseguir convencê-lo de não voltar para a minha casa mas grande o suficiente para ele me convencer a levar as sacolas com ele.

Sai do elevador sentindo aquela maldita azia ganhando forças e minha cabeça começando a dar sinais que o álcool não é tão amigo assim. O dia mal havia começado e já estava na torcida para o seu fim.

Só queria ler aquela revista ridícula e mandar o Taehyung embora.

Ouvi meu celular tocando no bolso mas como estava com as mãos ocupadas, ignorei.

Talvez essa seja a resposta para todos os meus problemas atualmente. Ignorar tudo até que eu esqueça que eles existem. Acho que eu consigo fazer isso, certo? Errado.

Acabei me esquecendo de um pequeno -grande- detalhe chamado Yoongi e o quanto ele odeia ser ignorado. Olhei na direção da minha porta e consegui ver sua pele alva fazendo contraste com seu cabelo cor de menta.

Tentei me convencer que eram os efeitos da ressaca causando alucinações mas quando aquela “miragem” me encarou com fúria nos olhos e veio na minha direção, eu tive certeza que se eu sobrevivesse, nunca mais iria ignorar suas mensagens.