Volta no tempo | 14/05/2011
Mansão Wayne — 07:23 PM — Pov Jason
— Você vai ter que ficar com o Damian, Jason. — aquelas palavras soaram como as trombetas do inferno nos meus ouvidos.
Direcionei meus olhos as escadas e o vi sentado lá, segurando seu morcego de pelúcia, com a mão no queixo e um sorriso cínico, completamente satisfeito por ter estragado minha noite.
E aí que vocês me perguntam: Jason, mas que noite?
Eu tinha uma social para ir junto com o pessoal da faculdade. — até porque universitário é uma praga que só pensa em fazer social. Estudar que é bom, nada.
Mas infelizmente, parece que não vou poder ir, porque a maldita noite dos casais não deixaria.
Em Gotham, existe um feriado especial além do dia dos namorados. Era a noite dos casais, que era só pra gente casada. E adivinha? Meus pais receberam um convite irrecusável para essa noite.
Dick havia viajado com Kori, Tim estava dormindo na casa do Conner, Alfred teve que resolver um assuntos em uma cidade vizinha e Sevirina estava em seu dia de folga. E o único que sobrou para cuidar do Damian foi eu.
Nós não tínhamos babás porque todos sabiam da fama que Damian tinha de traumatizar as mulheres que vêm para cuidar dele e fazê-las correrem aos gritos.
Ninguém queria cuidar do bebê de Rosemary, e eu tinha desistido completamente da social.
Nunca vi uma criança tão rancorosa quanto aquela. Fazia todas as babás pedirem demissão, e algumas até precisaram de acompanhamento psicológico.
Eu não posso culpa-lás, Damian é diabólico e traiçoeiro as vezes.
— Eu posso levar ele. — argumentei, vendo minha mãe gargalhar enquanto olhava para Damian que nesse momento parecia o anticristo sentado na escada.
— Você sabe que ele não gosta dessas coisas. Além de que, você não pode nem deve levar uma criança a uma social com universitários. — disse ainda rindo um pouco.
Claro. Damian não gostava de nada. Odiava todas as criaturas existentes.
As únicas que pessoas que gostava — ouça bem, eu disse "gosta" —, além dos meus pais, era eu e meus irmãos. Talvez um pouco de Kori também.
Não suportava que ninguém sequer tocasse nele, odiava qualquer tipo de afeto e carinho vindo de alguém que não fosse de casa, e de longe, era a criatura mais egocêntrica e ignorante que já pisou nesse planeta.
Por fim, eu já aceitei meu destino cruel e assisti com lágrimas nos olhos o carro dos pai sumir pela noite escura.
Damian veio até mim, segurando seu morcego de pelúcia — a qual ele tinha chamado carinhosamente de Jubileu — fortemente nos braços.
— Muito bem, o que quer fazer, Damian? — perguntei.
Ele continuou me olhando em silêncio, como se eu fosse um falso. Momentos que eu não sabia o que fazer da minha vida.
— Você não quer ficar comigo. — vrá, direto e reto.
— Não é verdade. — na verdade, é sim.
— Eu sei que você quer ir para aquela social e beber até cair. Você chega em casa parecendo um boneco de posto. — tá, admito que isso é verdade. — Se for para virar um alcoólatra, pelo menos finja que não está bêbado. É vergonhoso e ridículo.
Eu estou recebendo um sermão de uma criança de cinco anos. É isso mesmo, Brasil?
— A propósito, seu celular está tocando.
Que criança de cinco anos fala a propósito, meu pai?
[...]
Atendi aquele telefone na força do ódio. Não estava crendo que Wally ainda tinha a cara de pau de me ligar.
— Cadê você, Jason? Vai furar rolê mesmo? — perguntou, e eu podia ouvir a música eletrônica me ensurdecer mesmo eu nem estando lá.
— Não vai dar cara. Minha mãe me mandou ficar com o Damian. — respondi, sendo sincero. Não ia queimar mais o meu filme, que já estava danificado.
Wally começou a gargalhar.
— Vai furar o esquema do ano por idiotice? — riu tão alto que eu tive que afastar o telefone. — Eu vou ligar para a Wanda, e ela fica com o Damian, ai você pode vir.
Wanda Maximoff era a prima de Wally, que morava com ele e Barry após a morte de sua mãe e namorado, além disso Wanda tinha um irmão gêmeo, chamado de Pietro, que estava viajando em outro estado. Apesar de tudo que aconteceu com ela, era uma menina falante, animada, gostava de conversar com as pessoas e era uma boa companhia.
Eu não queria fazê-la vir de tão longe para cuidar do meu irmão.
Mas a questão não é essa. A questão é que Damian não gostava ela. — eu já disse que ele odiava qualquer criatura que se mova e respire?
A verdade é que pouco me importa isso se o Damian não gosta dela. O importante é que Damian, como eu já disse, é traiçoeiro e diabólico. Eu tenho certeza que não ia medir palavras para fazê-la se sentir mal.
Se tem uma coisa que eu odeio nessa criança, era que ela sabia se aproveitar da maior fragilidade de uma pessoa.
Com certeza tocaria em assuntos delicados como a morte da mãe dela, e eu não queria a ver a sofrer. É ridículo, além dela ser uma pessoa boa e não merecer nada disso.
Mas apesar disso, Damian é uma criança de cinco anos, imaturo e que quer que tudo seja do jeito dele. Então se for para fazer ela ir embora, usaria de todos os meios que tinha.
— Nada disso cara! Vai estragar a noite dela e... — e o filho da puta desligou na minha cara.
Era só o que me faltava.
[...]
Eu e Damian estávamos sentados no sofá, comendo leite moça para a diabetes vir de trem bala, até que ouvi a companhia tocar.
— Conseguiu convencer uma babá? — me olhou irônico. Até tentei, mas seu capetismo venceu meus dotes.
Levantei e fui até a porta, a abrindo e já me deparando com a cabeleira ruiva natural na minha frente.
Me deixa surpreso o fato de como uma pessoa tão bonita de personalidade como a de Wanda pode não ter um namorado.
Na minha opinião ela era linda, mas não conta isso pra Rose.
Seu sorriso brilhava, e a deixava mais bonita.
— Oi, desculpa te fazer vir tão tarde. — assenti sem graça.
— Não tem problema. — riu levemente. — Quer para a social não é? Pode ir, eu fico com ele.
— Não, Wanda. Eu não vou. — suspirei pesadamente.
— E por que não? — perguntou confusa.
— O que ela está fazendo aqui? — Damian atraiu nossa atenção.
— Eu vim te ver. — ela deu um sorriso um pouco forçado. Ficava histérica quando não tinha o que dizer.
Damian a ignorou.
— Você vai me deixar com ela e ir para a social? Tudo bem, eu não ligo. — disse em seu habitual tom de tédio, porém senti melancolia na sua voz.
— Eu não vou, Damian. — alertei, antes de me virar para ela. — Eu sei o quanto ele pode ser cruel. Não quero que diga coisas terríveis para você.
— Que fofo você estar preocupado comigo, Jason. — Wanda riu e eu corei um pouco. — Mas não fique assim, eu aguento.
[...]
Na primeira esquina minha vontade de ir a essa social sumiu completamente. Minha consciência pesou em um nível que eu não me aguentava em pé.
Wally pode me matar e esquartejar, mas pelo menos vou morrer de forma digna.
Definindo forma digna; morrer para proteger a princesa Wanda do dragão que eu tenho em casa.
[...]
Ao abrir a porta de casa não vi ninguém, cheguei a cogitar a ideia de Damian ter matado Wanda.
Caminhei mais um pouco até achar Wanda sentada na escada, um pouco abalada, olhando para o nada.
Me sentei ao seu lado e ela pareceu acordar do transe.
— Wally vai te matar. — ela riu um pouco.
— Sim. Mas pelo menos minha consciência vai parar de pesar. — brinquei. — Cadê ele?
— No quarto. Eu quis cozinhar algo para ele, mas ele xingou alguma coisa sobre meus pais e foi se trancar lá. — ah, aquele capeta em forma de criança...
— Eu sinto muito que ele tenha dito isso. — a encarei com pena. Minha vontade de dar porrada nesse moleque tá como?
— Não tem problema. É só uma criança de cinco anos, não mede o que fala. — disse em tom leve. Ela parecia realmente não guardar rancor dele.
— Obrigado por ter tentando cuidar dele.
— Você me ajudou a estudar quando eu precisava, é o mínimo que eu poderia fazer.
— Wally disse que você tinha ido mal.
— Ele é um idiota. — gargalhou. — Está com raiva de mim porque eu o contei que tenho um crush.
Eu não sei porque, mas aquilo me incomodou de uma forma...
— Como assim? Você gosta de alguém?
— Queria poder dizer que não. — seu rosto de decepção era evidente. Me fez entender que não era correspondido.
— Mas você já se confessou? — perguntei, sem saber quem era o cara, mas com ranço dele.
— Não. Ele tem namorada, eu jamais faria isso. — deu de ombros. — Não quero estragar um relacionamento por uma coisa idiota como meu benefício próprio.
— Quem é?
— Não importa. É uma coisa que nunca vai acontecer. — riu.
Ouvimos a porta do quarto ser aberta e Damian passar por nós com a delicadeza de um cavalo. Wanda quase caiu, mas eu a segurei a tempo.
— Dois idiotas. — comentou olhando para nós dois e foi embora.
— Sortuda será a mulher que se apaixonar por ele. — Wanda comentou e eu gargalhei.
Voltamos para a sala, sentamos os três no sofá e começamos a assistir um filme qualquer. Wanda comentava sobre o filme e Damian também, e eu estava no meu canto respondendo as mensagens de ameaça do animal que eu chamo de melhor amigo.
Eu não vou para a social, e aquilo estava decidido. Até que pude ouvir o barulho de pessoas andando, música alta e coisas que eu já distingui como bloquinhos.
Geralmente, você só ver blocos em carnaval, mas em Gotham, tinhamos esse tipo de bloquinho para absolutamente qualquer data comemorativa.
— Ei, vamos dar uma volta! — chamei, e os dois me olharam.
— Pra onde? — perguntou Wanda.
Não respondi e já fui enfiando um casaco em Damian e os arrastando para fora de casa.
Wanda riu enquanto Damian berrava indignado que não queria entrar naquele tanto de gente.
No final conseguimos entrar no bloco e eu fui carregando Damian no colo. A ruiva estava eufórica, aceitando todos os doces que davam para ela. Tão infantil, tão dócil... não queria acreditar que estava apaixonada.
Ela compartilhava doces com Damian, e por incrível que pareça, ele estava aceitando de bom grado.
Uma moça apareceu tirando fotos, ela estava usando uma roupa bastante chamativa, como uma boba da corte. Cabelos presos em duas maria-chiquinhas, um lado azul, outro rosa.
Damian olhava tão surpreso para a fantasia dela que eu tive que pedir para tirar foto com ela. — mesmo o mais novo berrando que não era necessário.
A moça sorriu para nós, dizendo que não tinha problema algum.
No final, a noite foi bem melhor do que eu imaginava. Pelo menos quando o Damian virar um adolescente gótico rockista, vou poder zoar ele dizendo que adorou ir no bloquinho.
Tiramos várias fotos, incluindo uma de casal — pois dava desconto — e uma com direito a Damian no meio de nós dois.
Eu peguei as fotos, e a ruiva disse que queria a de casal para guardar de recordação.
— Você não vai mesmo me dizer quem é? — se eu insistir um pouco, vai que?
Ela riu, acenando que não com a cabeça. Damian percebeu esse ato e sorriu.
— Você é muito burro mesmo, Jason. — comentou o mais novo, olhando para mim.
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