Kinslayer
Reino saiyajin, cidade do noroeste
Yamcha franziu as sobrancelhas, incomodado pelo modo como Vegeta segurou em sua roupa e deu um passo para trás, se soltando do príncipe e encarando-o seriamente.
— Eu acho que o assunto é um pouco mais complicado, príncipe Vegeta. Precisamos conversar com calma. — Yamcha tentou se manter firme, precisava da ajuda do saiyajin, e não de seus julgamentos. Por mais que não gostasse de Vegeta, era sobre Bulma, e precisava engolir o orgulho e passar por cima de qualquer tipo de desentendimento que havia entre eles.
— Conversar? Calma? Sem saber onde a Bulma está? Que engraçado você é, humano! — Vegeta riu irônico, julgava Yamcha como se ele tivesse culpa de algo, mesmo sem saber ainda exatamente o que tinha de fato acontecido, se deixando levar pela raiva que sentiu quando percebeu que nem Bulma e nem o humano estavam no castelo. Mas o ferimento no rosto do guerreiro o incomodava, parecia feito por uma espada, ou algo tão afiado quanto, e era isso o que deixava-o mais apreensivo com seja o que tenha acontecido.
— A Bulma estava no porto, mas… um dragão surgiu de repente dos céus e então... Bulma sumiu! E eu não sei mais onde ela pode estar.
As palavras fizeram Vegeta encarar o humano e analisar cada detalhe de suas palavras. Nada ainda lhe fazia muito sentido, sem entender o motivo pelo qual Bulma estaria no porto, e o por que Yamcha também estava lá. Os músculos estavam tensos, e nem mesmo percebeu quando cerrou o punho com força, mas o nameku ao seu lado se aproximou e tocou em seu ombro tentando aliviar a tensão que crescia.
— Vegeta, mantenha a calma. Vamos para dentro conversar. — Piccolo tentou argumentar.
— Bulma ainda está desaparecida, Piccolo! — o saiyajin nem sequer olhou para o nameku, apenas fechou os olhos tentando manter algum controle. — Não pretendo perder tempo com conversas sem sentido.
— Se o que Yamcha disse é verdade, então eu não acho que adianta procurar por ela agora! Ele sabe sobre algo que nós não sabemos ainda, então acho importante ouvir o que o humano tem a dizer primeiro. — Piccolo sabia que se o dragão apareceu e a álfar desapareceu, possivelmente ele tenha levado Bulma consigo, e de qualquer forma, Yamcha poderia ter alguma informação mais importante para dizer, eles precisavam ouvi-lo antes de mais nada.
Vegeta inspirou fundo. Era difícil querer ouvir o que o humano tinha para dizer, mas sabia que precisava ouvi-lo, ainda se tratava sobre Bulma, sobre saber o que houve de fato e o que precisava fazer para encontrá-la.
Seguiram até uma sala qualquer dentro do castelo, a mais próxima que encontraram pelo caminho, apenas para ouvir as palavras do humano.
Yamcha foi o único a se sentar, exausto, passando a mão pelo rosto para limpar um pouco do sangue que escorreu de seu ferimento, enquanto Vegeta e Piccolo decidiram por ficar em pé. Vegeta estava agitado demais para simplesmente querer sentar-se, como se estivesse pronto para agir a qualquer momento.
O humano apoiou os braços em suas pernas e perdeu o olhar em algum ponto no chão a sua frente, visivelmente cansado, mas por também se sentir derrotado ao lembrar-se do momento em que lutou contra o saiyajin para salvar Bulma.
— Eu estava saindo dos campos de treinos depois do pôr-do-sol, como todos os dias desde que voltei ao reino saiyajin. Sou sempre o último a sair de lá, por isso a movimentação nesse horário é mais baixa ali por perto. Foi quando eu a vi. — Yamcha deu uma pausa, pensativo. — Achei estranho Bulma estar fora do castelo naquela hora, e mais estranho por vê-la entrar no estábulo. Então, por algum motivo, decidi aguardar do lado de fora, pois acho que algo dentro de mim sabia que tinha algo acontecendo de errado e então…
Vegeta ouvia tudo em silêncio, de braços cruzados, mas se controlando ao máximo para não explodir a qualquer momento, a ansiedade lhe tomava conta, e Yamcha não parecia chegar ao ponto exato.
— E então o quê? Para de ficar enrolando!
— E então eu vi o rei sair de lá, pouco antes de um cavaleiro saiyajin sair carregando algo… carregando Bulma!
Vegeta paralisou, sentiu um gosto amargo na boca, mas tentou ao máximo manter o controle e ignorar a raiva que se instalou dentro de si ao ouvir que o rei - seu pai - muito provavelmente estava envolvido no desaparecimento de Bulma de alguma forma, e apenas pensar sobre isso fazia seu sangue ferver.
Piccolo arregalou os olhos, apesar de surpreso, sabia que o que o humano falava era coerente.
— Eu me senti na obrigação de ir atrás do saiyajin, óbvio! Embora toda situação fosse estranha demais, eu não poderia deixar que algo acontecesse com a Bulma! — Yamcha tomou coragem para finalmente encarar Vegeta. — O saiyajin levou-a até o porto, havia um pequeno barco ancorado, como se já o esperasse ali, como se tudo estivesse planejado. Ele largou o corpo de Bulma, e eu não tive a chance de ver se ela estava apenas desmaiada ou… morta… — a última palavra pronunciada soou difícil, fraca, deixando não apenas ele, mas Vegeta extremamente tenso com a pronúncia, que abriu a boca quase sem reação. — Na verdade ela apenas parecia adormecida de longe, com a capa a envolvendo, mas então acabei por lutar com o saiyajin que a carregou até lá, na tentativa de salvá-la, até que eu fui acertado por ele… — era difícil admitir que tinha perdido a luta contra o saiyajin e que não foi o suficiente para salvar a álfar. — Foi quando o dragão apareceu de repente e matou o saiyajin que estava na minha frente, e depois disso eu não vi mais nada, pois acabei desmaiando… Quando eu acordei, Bulma não estava mais lá, só vi o corpo carbonizado daquele saiyajin…
O príncipe parecia por um momento congelado diante do relato do humano, sem expressar nada além das sobrancelhas franzidas e o olhar escuro. Seus batimentos pareciam fortes e um pouco acelerados, a garganta já seca e um leve tremor em sua mão, não por algum tipo de nervosismo, mas pela raiva incontrolável que crescia por todos os seus músculos ao pensar que um saiyajin sequestrou Bulma e que talvez tenha feito algo contra ela.
Sentiu-se como se estivesse perdido em algum pesadelo horrível a cada nova palavra de Yamcha, desejando apenas acordar e ver que Bulma estava ali, deitada do seu lado e que estava bem.
Mas não.
A álfar não estava ali, tampouco sabia como ela realmente estava, ou se estava mesmo viva.
E por mais que tentasse respirar fundo para manter o controle, já estava se tornando difícil.
— E você não foi capaz de sequer derrotar esse saiyajin para salvar Bulma? — Vegeta perguntou, pareceu calmo, mas soou um tom abaixo do normal, e se aproximou perigosamente em passos lentos do humano, que tentou manter-se firme diante do príncipe e do seu olhar mortal que pesava sobre ele.
A verdade era que Yamcha condenava a si próprio mentalmente por não ter conseguido derrotar aquele saiyajin, mas Vegeta julgá-lo sobre isso o deixava um tanto irritado. O príncipe não percebia que ele ao menos tinha tentado?
— Vegeta! — Piccolo chamou sua atenção, pois Vegeta avançava lentamente para cima de Yamcha sem nem mesmo perceber, como se estivesse prestes a atacar uma presa.
E quando Vegeta se deu conta de que parecia querer descontar sua frustração em Yamcha, parou, fechou os olhos e respirou fundo, virando-se de costas para o humano e se afastou novamente.
Bulma poderia mesmo estar morta?
Não. Era difícil de acreditar.
Deu alguns passos pela sala, com os olhos fechados.
Não sabia mais dizer o que sentia, mas era algo totalmente diferente de tudo o que já havia experimentado em toda vida.
Parecia uma sensação de vazio.
Quase um desespero.
— Tenho a sensação de que seu pai atingiu Bulma por causa de você, Vegeta. — Yamcha não conteve-se em dizer, olhando irritado para o príncipe. — Porque as palavras daquele saiyajin não deixaram eu me enganar, o rei queria separar Bulma de você!
Aquilo foi o que bastava para Vegeta perder a cabeça diante de tudo o que o humano estava falando. Insinuava que a culpa era dele por algo ter acontecido com Bulma?
— Cale a boca, humano! — Vegeta fez menção em responder com agressividade, cerrando o punho, pronto para descontar em Yamcha toda a frustração por algo ter acontecido com Bulma, mas Piccolo o parou, colocou a mão na frente dele, impedindo-o de seguir.
— Acalme-se, Vegeta! Yamcha não tem culpa de nada. — Vegeta olhou para o nameku que se colocou na sua frente. — A verdade é que eu já imaginava que o rei poderia estar envolvido nisso. E diante de tudo o que Yamcha disse, eu acredito que talvez descobrir sobre seu envolvimento com Bulma foi apenas a gota d'água para o rei agir. Pois o que ele queria mesmo era a Joia do Dragão antes de mais nada.
Piccolo percebeu a confusão atravessar pelos olhos do saiyajin, que se afastou e passou a mão pelos cabelos.
Com todas as informações, com tudo o que estava acontecendo, precisava tentar manter um controle, o último fio de controle que poderia ter, por mais que tudo o que queria naquele momento era matar alguém, com uma sensação de quase sufocamento por não saber mais o que devia fazer.
Tudo já parecia resolvido quando voltou para o reino naquela noite, pronto para dar a certeza que Bulma precisava - pronto para dar um próximo passo importante na vida deles. Jamais imaginou que na verdade iria se deparar com uma situação tão complicada como aquela, onde sentiria-se totalmente sem chão e sozinho sem Bulma ali; sem acreditar que seu pai seria capaz de tal atitude, chegando num ponto tão extremo.
E por mais que soubesse o quanto o rei se mostrou contra o príncipe estar com a álfar, ou por mais que soubesse que o rei tenha demonstrado algumas vezes interesse pela joia.
Ele tinha mesmo sido capaz de chegar tão longe?
— Você precisa fazer alguma coisa, Vegeta. O rei deve estar com a joia nesse exato momento, pois eu sinto que uma energia negativa já está se apoderando da joia, e eu sei que você pode sentir também. Patriarca desde o início alertou sobre o rei, falando que talvez fosse dar algum problema por sua constante ambição. E eu falei com seu pai pessoalmente sobre isso desde o início, para não deixar que a ganância tomasse conta dele. Porque no fundo ele sempre quis a joia, Vegeta, e eu sei que você sempre soube disso também.
Vegeta nem mesmo sabia o que responder, tanta coisa passando pela sua cabeça, que chegava a latejar.
— Você precisa fazer algo para parar o rei Vegeta. — Piccolo insistiu, procurando pelo olhar perdido do príncipe.
— E o que você sugere que eu faça? Matar meu próprio pai? — Vegeta falou com sarcasmo e riu, olhando finalmente para o nameku.
— O que precisa ser feito para salvar a Terra. Você é herdeiro da Espada Lendária, essa é a sua missão.
O príncipe franziu a testa olhando para o nameku que estava realmente sério. Sentiu como se longos minutos tivessem se passado sem ninguém ser capaz de falar uma palavra sequer, antes que Piccolo inspirasse para continuar a falar:
— Talvez ele possa ser o inimigo mais difícil que terá de enfrentar, mas você precisa, Vegeta. O rei saiyajin sucumbiu à loucura com tudo isso acontecendo ao seu redor, ele não foi capaz de resistir a tentação do poder da joia. As pessoas precisam ter a cabeça centrada, e se você não for uma dessas pessoas, acontecerá o mesmo destino que o rei, com sua ganância aumentando até que não possa mais controlar. É por isso que existem pessoas nesse mundo que são capazes de construir um exército para se apoderar da joia; é por isso que não falamos sobre a joia para mais ninguém que realmente não seja necessário. E infelizmente, um de nossos inimigos sempre esteve calado ao nosso lado. O rei acabou por se perder nessa obscura ambição, ele não é mais o mesmo.
Vegeta caminhou pela sala, por mais que tentasse não demonstrar, era inevitável não perceber a agitação dentro dele.
Não teve como não se lembrar do seu encontro com Kaioshin, que havia falado também sobre um inimigo calado ao seu lado. Talvez ele soubesse que seu pai poderia chegar tão longe.
Enfim, Vegeta sentou-se, enquanto o silêncio pesava sobre a sala onde estavam, enquanto procurava forças para se levantar e fazer o que tinha que ser feito.
Estava se sentindo em um caminho difícil para prosseguir, era como se tivesse chegado em um ponto que a situação estava começando a escapar como areia fina por entre seus dedos.
Pela estupidez de ficar longe do reino saiyajin naquele dia, tinha perdido Bulma, por mais que sua intenção fosse voltar e se resolver com ela, agora já não tinha mais essa chance, porque simplesmente não sabia onde ela estava e nem se estava bem ou não.
Mas se não bastasse isso, ainda precisava resolver sua situação com o rei - com seu pai - que traiu a confiança de todos e atacou Bulma - sua Bulma. Não sabia como lidar com aquela situação, nunca em toda sua vida se sentia tão sem chão para agir.
Cometeu um grande erro ao ignorar que seu pai pudesse ser um potencial adversário para enfrentar. Somando o fato de ele não concordar com seu relacionamento com Bulma e mais seu desejo pela joia.
Mas o que mais incomodava era o fato de ele tentar atingir Bulma de alguma maneira - por ela ter corrido riscos por causa dele.
Aquilo era… imperdoável!
E assim, levantou-se.
O olhar já parecia um tanto sem emoção, a respiração voltou a ficar mais calma. E sem simplesmente dizer nada, ele saiu dali, deixando Piccolo e Yamcha sozinhos.
Caminhou pelos corredores do castelo em modo automático, a cabeça já vazia de pensamentos.
E desceu.
Degrau por degrau.
As incontáveis escadas pelo seu caminho.
E quanto mais descia, mais sentia o ar ficar pesado, principalmente quando chegou no subsolo do castelo.
Era um tanto sufocante, como se uma massa grossa estivesse o envolvendo pelo ar.
Aquele era o poder negativo da joia?
Sim. Muito provavelmente.
Ele não se lembrava de como a joia emanava a negatividade enquanto estava possuído por Babidi, mas era mesmo uma sensação ruim, abafada.
E então, se encontrou diante da porta, que ao atravessar, encontraria o rei.
A sua cabeça estava pesada, mas não era pela negatividade da joia que parecia quase insuportável ali embaixo, era pela raiva, pela irritação e angústia que estava sentindo em relação ao rei, mas tentava manter um controle sobre tudo isso. Tentava não explodir com a raiva latejante e crescente que sentia toda vez que pensava que algo poderia ter acontecido com Bulma.
E foi assim que envolveu a mão na maçaneta e entrou na adega.
Logo reconheceu seu pai ali, sozinho, sentado em uma cadeira num canto, tomando uma taça de vinho.
Estava mesmo escuro ali dentro, poucas velas estavam acesas, o suficiente para enxergar apenas um pouco o local.
A joia se encontrava no centro de uma mesa, e o rei a observava de longe.
O artefato álfar estava aos poucos se tornando mais escuro em seu interior, tomando toda a cor alaranjada que tinha, e o rei parecia receoso em se aproximar dela, por algum motivo.
O saiyajin sequer ergueu o olhar para o filho quando entrou, apenas observava a joia, mas não podia dizer que não tinha visto Vegeta entrar, nem ficou admirado com a presença de seu primogênito, pois sabia que não tardaria para ele lhe encontrar.
— Veio acompanhar seu velho pai em uma taça de vinho? — a voz saiu meio rouca, quase sem emoção, e Vegeta parou no meio da adega, olhando para ele com cuidado. As feições de seu pai eram cansadas, deprimentes, por mais que tentasse mascarar com aquelas palavras.
— Vinho… cor equivalente ao sangue! — Vegeta comentou. — Você poderia me oferecer uma dose de sangue, eu ficaria mais grato e satisfeito.
Rei Vegeta riu, mesmo que parecesse não ter mais forças para isso.
— Você nunca aprendeu mesmo a ser mais sociável e menos arrogante, não é mesmo, Vegeta? — Vegeta continuou parado, observando o seu pai e estreitou os olhos. Era difícil olhar para seu pai e sentir como se não o reconhecesse mais.
— Ser menos sociável e mais arrogante que você é um problema? Pois para mim, o problema é a sua falsa simpatia mascarada de bom rei, distribuindo sorrisos quando na verdade em sua mente fica planejando a melhor forma de conseguir o que quer das pessoas para seu bem próprio….
O rei finalmente ergueu o olhar em direção ao príncipe, curioso com suas palavras, mas não ousou falar nada naquele primeiro momento, tomando algum tipo de fôlego para isso.
— Um rei é capaz de fazer muito pelo seu reino. Quando você se tornar rei um dia, vai entender melhor meu ponto de vista, Vegeta. Às vezes precisamos dar sorrisos para que as pessoas confiem em você, para conseguir o que precisa.
Aquelas palavras fizeram Vegeta rir em tom sarcástico.
— Assim como fez desde o começo com a princesa do reino humano? Apenas para em seguida querer tomar o reino dela? Sinceramente, não espero entender esse tipo de atitude um dia, mesmo quando eu for rei. Eu não acho que ficaria orgulhoso de conquistar as coisas de maneira tão baixa como você.
O rei suspirou e sorriu como resposta.
— Você é mesmo muito diferente de mim, Vegeta.
— Ah sim, e eu agradeço por isso. Eu jamais seria tão baixo como você a ponto de tentar roubar a Joia do Dragão para conseguir poder dessa forma. — um silêncio se estendeu por alguns minutos.
O rei olhou de volta para a joia quando Vegeta a mencionou, ele parecia um tanto hesitante pela joia sobre a mesa.
— Você tem noção do que fez? — o príncipe falou de uma maneira suave e gelada, caminhando ao redor da mesa, olhando para o teto, pensativo.
— Não me culpe por querer o melhor para meu povo.
— Para o seu povo? — o tom de voz alterou, já difícil de controlar a raiva. — O que é o melhor para o seu povo? Que eu não fique com uma álfar? Que a joia passe a pertencer a alguém como você?
— Eu apenas agi como achei que deveria. Por mais que isso tenha me custado caro... — rei Vegeta inspirou fundo, parecia cada vez mais difícil para ele respirar.
— Bulma estava grávida. — o príncipe apenas falou, percebendo que o rei ficou surpreso, mas não irritado com a revelação, diferente de como reagiu ao saber sobre o envolvimento dos dois. — Ela foi a única pessoa que eu conheci até hoje que viu como eu realmente sou, sem medo ou receio, e você…você nunca teve capacidade de pensar em mim ou em Tarble...
O rei apenas abaixou a cabeça, sem forças para discutir ou argumentar sobre nada.
Ou apenas porque ele já se sentia derrotado.
As palavras de seu filho apenas mostravam o quão longe ele tinha chegado. E não era mesmo uma vitória.
— Me perdoe…
— Perdoar você? — o príncipe riu. — Acha que é assim tão fácil? Você simplesmente tentou acabar com tudo! — as palavras soaram alteradas, já sem mais controle sobre elas. — Colocou a vida de Bulma em risco por sua maldita ambição - ou apenas pela maldita “tradição saiyajin” de não poder se envolver com alguém de outra raça! Eu nem mesmo sei se ela ainda está viva ou não, e em nenhum momento você pensou nas consequências sobre suas atitudes egoístas. Você sempre colocou seus desejos a frente de qualquer coisa!
— Não estou orgulhoso do que eu fiz. — o rei admitiu e olhou para o príncipe. — Eu sei que nunca fui o melhor para vocês, mas eu me deixei levar pelo desejo de poder possuir algo tão poderoso como a joia, e esse desejo foi aumentando a cada dia mais, até que me senti começar a enlouquecer. — o rei abaixou a cabeça novamente e passou a mão pelo rosto. — Eu errei, Vegeta. Eu perdi totalmente o controle, eu sei que cheguei longe demais.
O príncipe não amoleceu, a raiva ainda o possuía. Não era fácil depois de tudo o que aconteceu o rei simplesmente lhe falar esse tipo de palavra, dizer que errou. Vegeta ainda não sabia como Bulma estava, ela correu riscos por causa do rei e viu ele dar um gole do vinho que tomava, tentando entorpecer ainda mais a mente, a fim de parar de pensar - de parar de sentir - e voltou a olhar para a joia sobre a mesa, sentindo o corpo estremecer ao fazê-lo.
— A Joia do Dragão… Eu não estou conseguindo suportar a escuridão que se apoderou de mim ao usá-la. É muito… sufocante. — ele colocou a mão sobre o peito, como se aquilo lhe doesse fundo. Príncipe Vegeta olhou curioso com as palavras dele. — Eu não imaginava que pudesse sentir algo como isso, não imaginava o quão doloroso seria possuir essa joia, eu… não posso conviver com esse peso para o resto de minha vida. Eu cometi um erro!
Sem perceber, o príncipe franziu as sobrancelhas e envolveu a mão na empunhadura da Saiyan Blood de modo automático, e a manteve ali, sentindo a doce vibração lhe subir pelo braço.
— Pelo pouco de sanidade que ainda há em mim, Vegeta. Me liberte dessa escuridão massante que eu sinto preencher por todas as minhas veias. — o rei caiu de joelhos no chão, deixando o resto de seu vinho se derramar no tapete, derrotado. Não aguentava mais a escuridão dentro de si, a loucura que o dominou, e a sensação de ter chegado tão longe. — Eu renuncio. Tenho certeza que você será um rei melhor do que eu.
Ele desejou a joia que estava sobre a mesa desde o primeiro momento, mas o que era apenas um desejo banal sobre algo poderoso, foi tomando conta dele a cada novo dia. Pois a joia estava ali, dentro de seu reino, ao seu alcance de uma maneira tão fácil. Mas foi capaz de manter o controle por muito tempo, porém toda vez que via a joia, sentia a vontade em ao menos segurá-la, em colocá-la.
Por dias e noites, sentia enlouquecer quando pensava em maneiras de ficar com a joia, no começo dizendo a si mesmo que não devia, sabendo que era errado, mas depois, se perdendo em pensamentos sobre como poderia usar a joia no dia em que seria sua.
Descobrir sobre o envolvimento de seu filho com a álfar foi apenas o que bastava para ele sucumbir de vez na loucura, foi o que precisava de combustível para querer se livrar dela.
De Bulma.
Pois via que seu filho estava se tornando cada vez mais rei em suas atitudes, e junto de Bulma seria difícil controlá-los. Com a Joia do Dragão e a Espada Lendária, não demoraria muito para juntos terem poder sobre todos os saiyajins. Mas isso acabaria com seu reino, acabaria com ele.
E só agora percebeu.
Quando foi que ficou cego pela ambição em ter mais poder, a ponto de chegar na ruína que chegou?
Quando tirou a joia de Bulma e aquele flash despertou, sentiu uma vibração atingir sua mão, tomando conta de seu braço, e em seguida de seu corpo.
Foi uma sensação estranha, mas ele sentiu num primeiro momento sua energia mais forte. Sorriu com aquela prazerosa sensação.
Foi quando viu um pontinho preto no interior dela, crescer cada vez mais à medida com que os minutos se passavam.
E foi junto com aquele pontinho preto dentro da joia ao crescer, que foi sentindo cada vez mais um peso dentro de si mesmo.
Era como um chumbo começando a correr por suas veias, começando a se tornar difícil até mesmo para respirar ou erguer o braço.
Pensamentos insanos tomaram conta de sua cabeça, o desejo por destruição, por devastação. Foi quando tirou o colar de seu pescoço, em um ato de lucidez.
Aquilo era perturbador, e os pensamentos cessaram quando tirou a joia de si.
Mas a sensação pesada, o corpo cansado, continuou, assim como a joia continuava a ser preenchida com a escuridão, em sincronia com sua alma.
Ali ele percebeu o erro que cometeu ao tentar se apoderar da joia.
Então era isso o que aconteceria se alguém que não fosse álfar pegasse a joia?
Ergueu o olhar novamente para o príncipe, seu filho.
Estava mesmo arrependido, se sentia fraco de todas as maneiras.
Lhe pedir perdão realmente não seria suficiente por seus atos. Mas ele precisava da libertação daquele mal que tomou conta de si, e enquanto ainda tivesse um pingo de lucidez iria clamar pela liberdade.
— Por favor, filho, me liberte.
As expressões do príncipe endureceram, sentiu a boca secar.
— Isso não é apenas para te libertar dessa tortura que você mesmo criou. É o julgamento pelo o que tentou fazer com Bulma, com meu filho. É por uma nova Era. — empunhou a Saiyan Blood. Ela ainda lhe correspondia tão resplandecente, e Vegeta sabia que se o que estava prestes a fazer não fosse o certo, a espada iria contra sua vontade. Mas a Espada Lendária foi entregue a ele pelo Deus saiyajin, e seria com ela que deveria proteger a Joia do Dragão, o reino saiyajin, e toda a Terra.
~ ~ ~
Embriagado com o sangue da sua vítima que escorreu pelo chão da adega, guardou a Espada Lendária, e ao virar-se em direção à saída, viu a Joia do Dragão já totalmente preta, corrompida pela alma do rei saiyajin que tentou a possuir, mesmo depois de morto.
Ele hesitou por alguns segundos.
E então envolveu as mãos no colar que sustentava a joia e saiu com ela dali.
Seu olhar era duro e sem emoção, enquanto caminhava para fora da adega do castelo saiyajin.
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