Isso não está certo. Era o que Dan Heng dizia a si mesmo todas as vezes que acordava naquele quarto e via aqueles músculos rodeando sua cintura. Eu não posso continuar com isso. Mas no fim, ele sempre cedia, sempre deixava que seus sentimentos falassem mais alto que o cérebro e mergulhava nos braços do homem que não deveria ser seu, mas era.
Eles sempre usavam desculpinhas ridículas para se verem. Ah, eu preciso de carona pra faculdade, mentira. Dan Heng não morava tão longe do campus assim. Eu estou bêbado, preciso de alguém pra me levar pra casa, mas ele sabia que Blade tinha alta tolerância ao álcool. Preciso entrevistar alguém para o trabalho da faculdade, mas Dan Heng não enganava ninguém com isso; todos sabiam que ele conhecia milhares de pessoas diferentes para entrevistar e poderia muito bem evitar fazer isso especificamente com aquele que outrora chamara de namorado.
E sempre acontecia a mesma coisa quando eles ficavam sozinhos em um ambiente fechado. Dan Heng nunca conseguiu se esquecer da sensação, dos dedos firmes e habilidosos que deslizavam por seu corpo e arrancavam sua roupa com uma agressividade que ele jamais experimentara antes, dos lábios sedentos que o beijavam como se necessitasse disso para sobreviver, dos dentes que puxavam sua pele e deixavam pequenas marcas no corpo trêmulo dele.
Era sempre intenso quando Blade e Dan Heng ficavam juntos. Os gemidos preenchiam todo o lugar junto com o barulho de seus corpos se chocando lentamente. Ren não era um homem apressado, ele metia fundo dentro do ex-namorado, indo devagar no começo e ajustando a velocidade conforme os sons eróticos iam saindo da boca do universitário.
Dan Heng costumava abafar os sons, fosse enfiando o rosto no travesseiro ou mordendo a própria mão, mas Blade sempre o repreendia por isso. Ele agarrava o queixo do menor e aproximava sua boca da orelha apenas para sussurrar: Ha… não faça isso, eu quero te escutar gemer meu nome. Os olhos de Dan Heng se fixavam nos de Blade, no desejo que habitava neles, tão profundo quanto o oceano e tão intenso quanto o calor do inferno, isso o consumia.
Seu rosto queimava de vergonha, e Dan Heng desviava o olhar ao sentir o sorriso divertido nos lábios de Ren. T-Tá, era a resposta dele, tão baixa que Blade mal conseguia escutar, mas era o suficiente para que ele agarrasse a cintura do outro com mais força enquanto seu pau saia e entrava de dentro de Dan Heng um pouco mais forte do que antes, arrancando gemidos manhosos do garoto.
Era quando Dan Heng estava com Blade que ele tinha os seus orgasmos mais intensos. Ele sujava todo o lençol com o próprio sêmen e caía na cama por alguns minutos, se sentindo completamente acabado, até decidir levantar e tomar um banho — na qual Blade tentava participar, mas Dan Heng sempre o barrava, dizendo que queria um pouco de descanso, coisa que não teria caso o mais alto entrasse no banho consigo.
Bastava apenas abrir o chuveiro e deixar a água cair em seu corpo para que Dan Heng sentisse o arrependimento batendo, fazendo-o se queixar consigo mesmo sobre o erro que cometera, novamente.
Blade e Dan Heng haviam terminado por um motivo, e esse motivo ainda existia. Não importava o quanto ele tentasse pensar que talvez Ren mudasse no futuro, nada tirava de sua cabeça o que teve que passar durante seu relacionamento com o mais velho, todos os surtos de ciúmes, a desconfiança, o jeito agressivo dele, tudo isso era um problema; e Dan Heng só foi perceber isso quando encontrou Blade com as mãos ensanguentada depois de ter dado a maior surra em Caelus, melhor amigo dele, por causa de seu ciúmes obsessivo.
Após o término, Dan Heng prometeu a si mesmo que não se envolveria com Ren novamente, mas como podem ver, ele não cumpriu essa promessa. Não era porque ele não sabia o que estava fazendo, ou porque Blade disse que mudaria, isso nunca aconteceu, nenhum dos dois gostaria de escutar algo tão falso assim, eles sabiam que seria mentira. Mas Dan Heng não podia evitar se levar pelo momento. Ter terminado seu namoro com Ren não significava que seus sentimentos por ele haviam sumido, era exatamente o contrário.
Ficar longe de Blade era aliviante e doloroso ao mesmo tempo. Ele queria um futuro com o ex, mas toda vez que fechava seus olhos a imagem de Caelus quase inconsciente vinha a sua mente e o fazia pular assustado. Ele queria abandoná-lo mas era incapaz disso, então vez após vez cometeu o erro de ligar para Blade, lhe dar desculpas ridículas apenas para vê-lo, e então foder com ele.
Mas isso precisava parar. Não daqui algumas semanas, ou daqui alguns meses, e sim agora. Dan Heng tinha que deixar Blade, ele precisava seguir em frente com a sua vida e encontrar um outro alguém que pudesse lhe fazer se sentir bem em todos os sentidos, coisa que Ren não fazia.
— Isso não vai se repetir. — Dan Heng não conseguia olhar para Blade deitado na cama bem atrás de si, o abraçando em silêncio.
Os dedos de Ren, que antes faziam carícias circulares no braço de Dan Heng, pararam imediatamente. — Por quê?
— Você sabe o porquê.
— … — Dan Heng temeu que Blade ficasse irritado; ele não saberia como lidar com a situação caso ficasse. — Não é muito convincente escutar isso de alguém que sequer consegue me olhar.
Dan Heng fechou os olhos e puxou o ar para os pulmões. Foi necessário um pouco de força de vontade, mas ele se sentou na cama, olhando Blade semi-nu. Odiou como sua mente o achou atraente naquele estado, deitado preguiçosamente na cama com o olhar surpreendentemente calmo e o cabelo levemente bagunçado. Seria ótimo se ele pudesse acordar com essa visão todos os dias, mas…
— Isso tem que parar. Não estamos juntos mais.
Blade deu de ombros. — E daí? Não estamos machucando ninguém. Eu não me envolvi com suas amizades mais depois que terminamos.
— Isso não significa que está tudo bem.
— O que isso significa então?
— Você só está cauteloso porque sabe que perdeu o direito de se meter na minha vida. Mas eu vejo o jeito que você olha pros meus amigos quando a gente se esbarra pela cidade, principalmente com o Caelus.
Blade revirou os olhos e se ajeitou na cama. — É, foi mal se eu não sou fã do demente que causou o nosso término.
Dan Heng franziu a testa e apertou a mandíbula. — Foi você que causou nosso término, e não ele.
— Ele gosta de você. Todo mundo sabe disso, você é o único que não enxerga.
— Eu sei dos sentimentos do Caelus, Blade. Isso não é justificativa pra bater nele. — Dan Heng fez uma breve pausa, passando a mão pelo cabelo, um sinal de frustração dele. — Eu nunca teria traído você, e o Caelus nunca teria feito nada comigo contra a minha vontade.
— É esse pensamento seu de que esse cara não vai fazer nada que me irrita. Você está sendo ingênuo. — O olhar de Blade se tornou mais rígido para com Dan Heng.
— Ele é meu amigo.
— E eu era seu namorado.
Silêncio. Foi tudo o que restou. Os dois se encararam por muito tempo, nunca desviando o olhar. Raiva, dor, frustração, amor e mais um pouco de dor, era tudo o que um conseguia ver no rosto do outro. E no entanto, nenhum deles quis ceder ou admitir estar errado.
— Eu vou embora. — Dan Heng levantou da cama e começou a buscar por suas roupas espalhadas pelo quarto de Ren.
— Não diga que eu não te avisei — disse, e voltou a se ajeitar na cama para tentar dormir um pouco mais antes de ter que levantar pra trabalhar.
E naquele dia, Dan Heng foi embora com o coração pesado, desejando voltar ao tempo em que ele e Blade eram felizes.
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