Debrah - Mas o que é que você pensa que está fazendo? Você acha que tudo isso é uma grande brincadeira e que tudo vai acabar muito bem? Então você está errada Megan! Está errada novamente, assim como você já errou antes em me subestimar, e agora está errando de novo comigo, eu sei que você não se lembra das coisas, mas ao menos uma vez na sua vida coloque este seu cerebrozinho de merda pra funcionar e faça algo que preste e perceba que isso aqui não é um jogo, não é uma brincadeira, a sua vida está por um fio apenas, pelo menos morra de uma maneira fácil, você me dá nos nervos e me cansa, facilite um pouco as coisas. Você não sabe o quanto eu te odeio garota, você tirou TUDO de mim, então nada mais justo que eu tirar a sua vida o que acha? (Ela dizia cada palavra com pura e simples raiva, cada palavra que saía da sua boca era regada de ódio que escorria por cada palavra e agora… Eu entendia isso. Ela estava vermelha e hiperventilando ao respirar, batendo o pé no chão praticamente gritando de pé ali na minha frente enquanto eu ainda a encarava encostada na porta e apertando o celular atrás de mim ligando o sinal do meu gps, era tudo o que eu precisava fazer e agora vinha a parte mais difícil, não sair daqui ou deixar que ela saísse, eu não poderia ir pra lugar algum e ainda teria que ficar com ela aqui dentro. Eu só pedia mentalmente para que tudo ficasse dentro dos planos e nada desse errado, caso contrário, eu não tinha um plano B, ainda acreditava que alguma parte dela pudesse sentir e fosse sensata.)
A partir do momento em que eu percebi que ela estava sozinha eu entendi finalmente a Debrah, ela não era uma pessoa ruim, não como aparentava ser, mas tudo o que já tinha acontecido na vida dela a levaram a tomar certas decisões, mas também não foi esse o problema, todas as decisões que ela tinha tomado na vida até agora, ela não tinha feito isso de uma forma consciente… Debrah estava doente e precisava de ajuda. E a forma que ela tinha encontrado pra fazer isso era agindo dessa maneira, foi a forma que o cérebro dela criou para poder pedir ajuda, ela estava gritando a plenos pulmões para ser ajudada e em todo caso, não era sua culpa, eu não podia sentir raiva dela, mesmo que ela tenha me causado muito sofrimento, ainda assim, não era sua culpa. Eu não queria que ela morresse, fosse presa ou qualquer coisa que seja, eu apenas queria ajudá-la e era isso que eu estava disposta a fazer.
Megan - Eu sei que você não quer fazer isso realmente. (Eu disse tentando aparentar estar o mais calma possível, de nervosa por aqui, já bastava ela.)
Debrah - Errada novamente estúpida, eu quero. (Ela disse com raiva entre os dentes, praticamente rosnando e se forçando a dizer cada palavra. Eu apenas neguei com a cabeça lentamente.)
Megan - Não você não quer, o que acontecerá depois que me matar? Vai fugir? Pra onde? (Eu disse baixo enquanto a vi engolir seco e rangir os dentes dentro da boca.) Eu não te odeio. (Acho que isso tinha sido um choque pra ela, por que a sua expressão tinha mudado drasticamente em seu rosto, ela estava confusa.)
Debrah - O que? (Ela perguntou parecendo não entender a situação.)
Megan - Você perdeu os seus pais muito cedo, cedo demais para ter que se virar sozinha enquanto eu… Eu tinha os meus dois pais, cuidando de mim e me dando amor, coisa que você acreditou que teria com seu primeiro namorado até ele quebrar seu coração e ir embora com uma outra vadia não foi? Essa mesma vadia que também levou o seu dinheiro que te mantinha sustentada, fruto da herança que seus pais deixaram, não era muito, mas era o suficiente pra viver, sem dinheiro você teve que ir para um lar de adoção onde um casal de viciados te adotou para mostrar as pessoas que eles eram pessoas decentes, mas apenas você sabia o que acontecia dentro daquela casa e um dia depois do seu pai adotivo te bater você saiu na rua sem rumo onde encontrou aquele garoto de cabelos vermelhos e meio rebelde que você sempre observara na escola, mas nunca trocou uma palavra. Ele estava chateado pela corda da guitarra arrebentada enquanto você tinha acabado de levar uma surra e mesmo com tão pouco o aborrecendo você achou que conversar com ele fosse algo bom, por que ele parecia tão chateado quanto você. (Ela apenas tinha parado e continuava me olhando sem demonstrar qualquer reação sequer, apenas calada escutando.) Os dias, semanas e meses foram passando até que você achou que aquilo poderia ser algum tipo de amor, mas não era, era uma acomodação por que ele era a única pessoa que era decente com você. A melhor amiga dele, magrela e sem graça, com amor e pais vivos parecia querer roubá-lo de você e você pensou que ela talvez fosse uma ameaça, ou melhor, pensou que talvez eu fosse uma ameaça, por que você acreditava que ele era seu, que ele era a única pessoa que você tinha e podia confiar, mas quando aquela proposta apareceu, a possibilidade de deixar tudo pra trás era incrivelmente tentadora não era? Então você percebeu que não ligava em deixá-lo pra trás e se você não ligava, então não era amor, mas quando as coisas não deram certo e você teve que voltar, você acreditava que ele ainda estaria lá pra você, mas não estava, por que ele estava comigo agora, a garota que parecia ter tudo tinha pegado de você a única coisa que você achava que tinha, foi demais pra você e você surtou, mesmo que não o tivesse de volta você tinha que se livrar de mim, por que isso fazia sentido, mas quando ele chegou no local do acidente cedo demais pra me salvar você teve que obrigá-lo a ir com você, o ameaçando, só para que não ficasse sozinha novamente, por que afinal de contas, você nunca teve ninguém ao seu lado. (Eu não esperava nenhuma reação dela que não fosse negativa, mas ver que seus olhos tinham enchido de água realmente me surpreenderam.)
Debrah - Você não sabe pelo que eu tive que passar, não sabe o que eu senti. (Sua voz agora era baixa, ainda com raiva, mas baixa, ela tinha parado de gritar.)
Megan - Como eu disse Debrah, eu não odeio você, eu quero te ajudar. (Eu queria olhar as horas no relógio, ver quanto tempo ainda faltava, mas não podia fazer isso, não agora.)
Debrah - Ninguém pode me ajudar Megan. (Ela disse balançando a cabeça de um lado pro outro.)
Megan - Se você precisar de uma amiga, eu estarei disposta a ser uma pra você, mas só se você me deixar fazer isso, tem que me deixar te ajudar. (Eu disse suspirando e ela negou com a cabeça de novo.)
Debrah - A garota que sempre teve tudo quer me ajudar? (Ela riu com desgosto.) Patético Megan. (Ela mordeu os lábios engolindo seco, contendo chorar de verdade.) Você não me odeia? Isso por que não se lembra do que eu fiz pra você. Você se lembra do acidente? Eu estava lá com você não é? Eu não consegui te matar, mas o que você não sabe é que eu consegui matar outra pessoa naquela noite, talvez você não se lembre, mas se você se lembrasse não diria nada disso. (Ela parecia querer me desafiar, querer que eu a odiasse, só então tudo isso faria sentido pra ela.)
Megan - Eu me lembro Debrah, de tudo, não há mais nada faltando nas minhas lembranças. Eu nunca vou me esquecer de todo aquele sangue e que ele não era todo meu e sim do meu filho. (Engoli o choro sentindo meu coração apertado dentro do meu peito.) E mesmo lembrando disso eu não te odeio, eu sei que você precisa de ajuda, é só me deixar te ajudar. (Seu sorriso sarcástico se desfez do seu rosto rapidamente e novamente a confusão voltou aos seus pensamentos, ela não entendia, não conseguia.)
Debrah - Por que está fazendo isso? (Ela perguntou agora encarando o chão com as sobrancelhas franzidas.)
Megan - Por que todos nós merecemos uma chance na vida para sermos melhores do que éramos antes e eu sei que você não é ruim. (Eu disse baixo.)
Debrah - A vida nunca foi justa pra mim. (Ela disse baixo, quase não pude escutar.)
Megan - Então aprenda a reconhecer boas oportunidades, estou te oferecendo a minha amizade, aceite-a. (Eu disse suspirando e estendendo a mão, mesmo com receio. Ela levantou a cabeça me olhando fixamente, enfiou a mão em um dos bolsos e retirou o celular olhando pra tela dele.)
Debrah - Eu… (Ela disse e parou engolindo seco olhando pra tela e respirou fundo.) Eu vou confiar em você. (Foi como se alguém tivesse me dado um tapa na cara por que eu entrei em choque.) Quer dizer… Todo mundo confia e se deu bem até hoje então eu acho que tem um motivo pra isso. (Ela disse dando de ombros e balançando a cabeça de um lado pro outro ainda olhando para a tela do celular.) 30 segundos não é? (Ela disse antes de olhar pra mim e eu pude escutar o barulho da sirene do lado de fora se aproximando, retirei o celular de trás de mim e olhei para a tela.)
“Em 30 segundos estamos aí Megan!”
Debrah - Eu clonei seu celular também, a gente aprende muita coisa quando estamos sozinhos na vida. (Ela disse dando de ombros.) Foi com a ajuda da polícia que você descobriu tudo isso não é? (Ela perguntou e eu assenti com a cabeça levemente.) Vocês acharam o diário. (Novamente eu assenti ainda com receio.) Tudo bem. (Ela disse baixo, mas pra si mesma do que pra mim.)
Megan - Tudo o que eu disse é verdade Debrah. (Ela assentiu com a cabeça ainda meio avoada, tentando aceitar as coisas por ela mesma.)
Debrah - Eu… Eu posso confiar em você não posso? (Ela perguntou novamente olhando pro chão enquanto os sons da sirene de polícia ficavam cada vez mais altos do lado de fora.)
Megan - Sim. (Foi tudo o que eu disse.)
Debrah - Eu… Eu realmente vou ficar boa? Quer dizer, eu vou ser uma boa pessoa? Eu não vou ficar sozinha de novo? (Eu nunca na minha vida pensei em ver tanta insegurança em sua voz, justo nela, da qual por todo o tempo em que eu a conheço a vi sendo segura de si e no final das contas, ela só precisava de alguém.)
Megan - Eu não vou deixar que isso aconteça, eu vou ser sua amiga se você deixar, você vai ficar boa. (Eu disse andando na sua direção até estar bem próxima à ela a vendo levantar os olhos e me olhar nos olhos.)
Debrah - Você vai me visitar todos os dias? (Assenti com a cabeça.) Eu posso confiar em você mesmo? (Assenti novamente.) Você… (Ela foi interrompida pelo barulho alto da sirene do lado de fora seguido de alguns murros na porta, mas ainda assim continuei olhando pra ela.) Você me perdoa? (Esperava qualquer outra pergunta, menos essa. A porta foi aberta com um chute fazendo com que ela fizesse um barulho alto batendo do outro lado da parede, aqueles poucos segundos em que eu fiquei em choque com sua pergunta pareceram muito tempo, mas foi o necessário para que eu acordasse e a abraçasse, dessa vez, a surpreendendo.)
Megan - Eu te perdôo. (Eu disse baixo em seu ouvido enquanto a abraçava e ela retribuiu o abraço me apertando um pouco.)
Foi um abraço estranho e sem jeito que durou apenas alguns segundos antes dela ser puxada pelos policiais a algemando, mas foi o suficiente para encerrar ali aquilo tudo e mesmo sendo difícil pra mim também, eu estava mesmo disposta a ajudá-la.
Debrah - Lembre-se do que me prometeu. (Ela disse olhando pra trás enquanto estava sendo arrastada pra fora de casa.)
Megan - Eu vou.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.