Os passarinhos cantando ao longe, indicam que a manhã chegou. Meus olhos ardem, minha garganta arde, minhas pernas ardem. E minha cabeça é a maior prejudicada de tudo isso. Sinto vontade de espreguiçar, só me faltam forças para isso.
Abro os olhos e encaro uma parede branca familiar. Estou numa cama diferente, completamente jogada. Olho para baixo e vejo que estou com uma camiseta da Nike do Dallas.
Mordo os lábios de nervosismo, com o que vem em seguida. Levanto o edredom, fecho os olhos por medo e abro um de cada vez em seguida. Ok, estou coberta com a cueca do Cameron. Só não sei como isso foi acontecer.
Sei que é impossível e torço para que seja mesmo, mas uma parte de mim está confusa com o que aconteceu. Eu estou num processo de alzheimer, onde a única coisa que lembro da noite anterior é chegar na boate e depois mais nada.
Maldito álcool. Se eu conseguir sobreviver depois de hoje, prometo nunca mais beber.
Nem preciso me olhar no espelho para saber que estou um caco.
Tateei minha mão sobre o criado-mudo á procura do meu celular e acabo encontrando. As notificações são infinitas, mas as que mais me chamam atenção são as de Matthew com vinte ligações e trinta mensagens.
Ouço um grito da cozinha e dou um pulo de susto, enroscando o pé no lençol mau colocado. Meu corpo é jogado ao chão, junto com o travesseiro e o lençol. Gemo de dor, ao mesmo tempo que tento entender o que está rolando.
— Cameron Dallas, você só pode estar achando que eu tenho cara de otário, né?! — reconheço a voz cheia de fúria do meu irmão. — Você sabe que é o único menino que eu deixo a Camila sair e você vai e faz isso!
Totalmente desnorteada, tiro forças do céu para me levantar e saio do quarto às pressas.
— Eu não fiz nada. — se defende.
Os dois ainda não notam que eu estou ali, então digo com a voz arrastada.
— Gente, eu tô viva.
Nem tão viva assim. No momento sou uma zumbi.
O que importa é que estou respirando.
— Graças á Deus!
Matt me abraça, como se algo terrível pudesse ter acontecido. Ele analisa meus olhos, puxando minhas pálpebras e checando meu cabelo á procura de alguma droga ilícita injetada.
Caramba, eu estou tão ruim assim?
— Matt, eu estou bem! — o afasto, com raiva.
— Cameron, se você tirou a pureza dela eu…
— Olha Espinosa, dá um tempo vai. — fala com preguiça, ele parece ter acabado de acordar, assim como eu. — Eu nunca faria nada com a Camila, ela ainda tá aí, pura, viva e intacta.
O que ele quer dizer com não faria nada comigo?
Nem sei dizer, já que estou ocupada demais olhando para seu abdômen. Suspiro desviando o olhar para meu irmão, ainda parecendo querer matar Cameron.
— É bom mesmo, ela tem que ser pura até os trinta anos.
Franzo o cenho vendo que está falando sério.
— Matthew, vai passar um tempo com a Alexis e me deixa em paz.
Seu olhar surpreso me dá esperanças de que o dia ainda pode ser bom. Rio fraco da sua cara.
— Quem te contou?
Dou de ombros, cruzando os braços em seguida.
— Seus amiguinhos. — o tempo que estou conversando com o loiro, dá espaço para Cam começar a fazer o café da manhã. — Bom, isso não vem ao caso agora, pode ir embora.
— Eu vou, mas quero ver vocês dois na escola.
Dando a última palavra Matthew sai pela porta, suspiro de alívio por ele ter finalmente se acalmado. Me aproximo da mesa, pronta para ser destruída.
Parece que não como há décadas.
— Não acredito que dois zumbis estão sendo obrigados a ir pra escola.
Definitivamente se não estivesse recebendo um ultimato do meu irmão, não iria para escola, porém não quero que ele faça um escândalo desses de novo. Ele esquece até que Cameron é seu melhor amigo, quando acontece algo comigo.
Sento na cadeira ao lado de Cam, preparada para comer tudo aquilo até explodir.
— Eu quero justiça. — brinco, pegando um dos cookies que estão sobre a mesa. — Mas eaí, o que aconteceu ontem?
Percebo que ele me olha alarmado.
— Como assim o que aconteceu ontem?
Seu olhar assustado e o seu ato de engolir em seco em seguida, faz com que eu sinta que ele está escondendo algo. É algo estúpido, até porque eu sou a pessoa que mais sabe quando ele está mentindo. Não adianta tentar mentir para mim.
— É que eu não estou lembrando de nada.
O clima parece ter melhorado quando digo isso, logo após comendo um croissant que há sobre a mesa.
— Você basicamente desmaiou. — arregalo os olhos, mas não paro de comer. — Tive que pedir o carro de Aaron emprestado e te trouxe pra cá. — sorrio em agradecimento, por ter cuidado de mim. — Te deixei no banheiro tomando um banho e dei uma roupa pra vestir, por isso você tá assim.
Me analiso mais uma vez. É engraçado ver o quão as roupas de Cam ficam largas em mim.
— Adorei a roupa, por sinal. — o faço rir.
— Era o intuito. — para de falar por um momento, para tomar seu café. — Você até que dormiu, mas há cada dois segundos você acordava para vomitar e eu tive que te ajudar.
Não me lembro de ter vomitado, porém me lembro de sentir um amargo diferente em minha boca ao acordar.
— Obrigar por me ajudar. — seus lábios se abrem em um sorriso perfeito e alinhado. — Eu nunca mais vou beber.
Eu nunca fui muito dessas coisas, e depois de tudo que aconteceu nunca mais aconteceria mesmo.
— Ah, mas fala sério foi bom ser uma garota má por uma noite, né?
O olho com a minha melhor expressão de tédio. Ele sabe que só bebo o suficiente nessas ocasiões e que ontem só foi um deslize. Continuo sendo a mesma Camila de sempre.
— Eu sou uma garota má, porque quase morri bebendo? Então, você é mau também.
— Porque tá ofendida, garota? Eu já me conformei que não sou a melhor pessoa do mundo.
Cam se conformar que ele é um fuckboy é mais do que normal, mas eu sou diferente. Ontem foi um fato isolado, que eu quero esquecer.
— A Camila inteligente ainda vive dentro de mim.
Sua expressão de deboche me faz rir por um momento.
— Se você diz. — ele dá de ombros.
A casa está tão silenciosa e só então percebo que a mãe de Cameron não está por aqui. Se ela estivesse, com certeza passaria a manhã inteira conversando com a gente.
— Cadê a Gina?
— Decidiu que seria uma boa ideia ir pra Paris e vai passar uma semana lá.
— Com um filho igual você, até ir pro esgoto ia ser uma boa ideia pra fugir.
Ele ri tomando o último gole de seu café.
— Obrigada pela parte que me toca.
Terminamos de comer, assim nos dando conta do quanto estamos atrasados. Entramos numa maratona para conseguir chegar á tempo. Cameron começa a se arrumar enquanto eu desço para meu apartamento.
Atravesso a porta correndo feito louca. Chegando em meu quarto, me despi o mais rápido possível e entrei debaixo do chuveiro.
Aproveitei para fazer minhas higienes matinais e lavar o meu cabelo com cheiro de vômito. Uma péssima hora pra isso, mas prefiro me atrasar do que afastar todo mundo com meu cheiro de morto.
Me atrapalho um pouco ao sair do banheiro enrolada na toalha. Pra variar escuto os gritos de Cam e as batidas na porta de entrada.
— Camila! Tenho que te lembrar que estamos atrasados?!
Bufo em resposta, mesmo sabendo que ele não está por perto para me ouvir. Enxugo parcialmente meus cabelos umedecidos com a toalha. Coloco uma lingerie qualquer e puxo o primeiro jeans que encontro em meu armário. Calço meus all-stars pretos de cano baixo e visto a camiseta da Nike de Cameron jogada sobre a cama.
Desço as escadas na velocidade da luz e abro a porta sem cerimônia, trancando-a e escondendo a chave sob o carpete.
— Fala pra mim que você pegou meu celular.
Aperto o botão do elevador repetidas vezes. Cameron saca algo em seu bolso traseiro. Sorrio ao ver ele me entregando meu precioso, que imediatamente guardo em meu bolso.
— É claro, mas vai custar caro esses favores todos. — levanto uma das sobrancelhas, ao mesmo tempo que entramos no elevador. — Que foi? Tá achando que eu sou barato, querida?
Paramos no andar do estacionamento, deixo ele um pouco para trás ao apertar o passo.
— Às vezes você até que é. — o olho por cima do ombro.
Encontro o Porsche de Dallas e espero que ele destrave o carro, mas ele não o faz de imediato.
— Eu só sou pra você.
Reviro os olhos ao vê-lo dando uma piscadela e analisando minhas pernas. Até que ele para seu olhar ali e não levanta mais, como se visse algo inédito.
— Que foi? Porque tá me olhando desse jei…
Olho para onde ele está focado. Não pode ser que eu seja tão distraída assim.
Como que eu não percebi que eu estou usando shorts? Eu jurava que estava com uma calça.
Com certeza vou assustar todos hoje. Se tem uma coisa que eu mudaria no meu corpo, com certeza seria minhas pernas.
— O shorts combinou com você.
Semicerro os olhos para ele, que apenas ri malicioso. Até que enfim ele destrava o carro e entra no banco do passageiro.
Sento ao seu lado e ajeito os shorts, me incomodando com minha pernas à mostra. Porém, é tarde demais.
Consigo sentir o moreno me olhando mais uma vez. Meu rosto queima e quase sinto o resto do meu corpo em chamas. Não sei o que está acontecendo, mas deve ser o fato de eu sempre estar usando calças.
Só pode ser isso para fazer minhas pernas bambearem. Não tem outro motivo. Não tem porque ter.
— Você sabe porque eu não venho com shorts pra escola? Porque só tenho shorts curto. — sinto vontade de me jogar do carro ao ele sair do estacionamento. — E isso tudo é culpa sua, porque você me apressou.
Cam aperta o volante, rindo enquanto revira os olhos como se eu fosse estúpida.
— Que ótimo. — ri do meu desespero. — Ninguém vai estudar hoje, todo mundo vai perder o foco.
— Obrigada, Alexander. — passo as mão por minha cabeça, que ameaça doer de ressaca. — Você não faz ideia do quanto isso me ajudou.
— Camila, você precisa parar com esse negócio de ser tão insegura. — ele parece tão cansado disso, como se não aguentasse mais me aconselhar sobre tal assunto. — Você esconde esse monumento atrás de uma calça, como se fosse algo vergonhoso para mostrar. — seu olhar passa do semáforo aberto para mim. — Eu garanto pra você que suas pernas conseguem ser mais bonitas do que a de qualquer garota daquela escola.
Sorrio para ele que sela um beijo rápido em minha bochecha e já se concentra na entrada da escola. Encontramos um vaga rapidamente e estacionamos.
Saímos do carro tranquilamente, como se não estivéssemos completamente atrasados. Entramos na escola e após em nossas devidas salas. Entrei na aula de Química e Cameron de Matemática.
E eu nem sei qual das duas é pior.
Passo o olhar pela sala inteira à procura de um lugar, porque essa aula é realizada em duplas para fazer os experimentos. Infelizmente Dakota não está aqui e nem nenhum dos meninos.
Bella é uma das alunas que está sozinha e eu torço muito para que ela não perceba que eu estou aqui. Decido me sentar ao lado de um menino com um cabelo pontudo e piercings espalhados pelo rosto, mas antes mesmo de eu me mover, a ruiva me vê. Ela faz menção para eu sentar ao seu lado, então forço meu melhor sorriso e sigo meu caminho até sua mesa.
O que pode dar errado pra uma dupla infalível?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.