Anos atrás.
Naquela noite fria muitas famílias se aconchegavam em suas casas, muitos casais passeavam animados e muitos trabalhadores voltavam para casa, felizes por ter finalizado seu turno diário e finalmente poderem descansar.
Todos felizes em suas próprias realidades, mas era diferente para aquela pequena figura tremendo aos soluços dentro daquele grande armazém.
Aquela criança chorava encolhida abraçando os próprios joelhos, tão jovem e ainda assim seus soluços indicavam uma dor de outro mundo, uma dor que não era física e poderia ser facilmente curada com a medicina, mas de dentro do coração.
*
Um pequeno individuo emburrado corria saltitante para dentro do armazém, tinha muitas caixas a recolher, mas o jantar que viria depois o animava.
Entra dentro daquela construção, e rapidamente avista as caixas recém entregadas, se apressando para colocar o máximo que poderia suportar nos braços para evitar ter que voltar muitas vezes.
Já estava abrindo a grande porta para sair quando um soluço ecoa pelo armazém, anteriormente silencioso.
O jovem se assusta e deixa todas as caixas que estavam em sua mão caírem com um grande estrondo no chão, virando todo o arroz e farinha pelo piso sujo.
Seus olhos se arregalam e suas mãos se apertam.
- Q-quem está aí? - Pergunta tremendo pelo medo e susto.
Como o esperado, não obtém nenhuma resposta.
Tomado por um impulso de coragem, o menino resolve se aproximar hesitantemente na direção do som.
Dali conseguia ver uma sombra encolhida na quina das paredes, abraçando os propios joelhos e tremendo em leves espasmos de soluços.
- O-ola? Eu..eu tenho uma faca aqui e não tenho medo de usar, mostre seu rosto agora!
Aquele estranho encolhido parece se assustar ainda mais e seus soluços aumentam em um choro incontrolável.
O menino sente uma pena inundar seu coração, hesitando um pouco antes de se abaixar na direçao do estranho, suavemente tirando seus braços da frente da cabeça e levantando seu rosto.
Como se estivesse planejado, naquele exato momento a luz lunar passa pela claraboia e inunda o cômodo escuro.
O rosto levantado agora fica visível, um rosto pálido e infantil, banhado por lagrimas, ainda escorrendo de seus olhos inchados, como se chorasse a bastante tempo. Seus cabelos castanhos claros desarrumados e olhar amedrontado.
O outro se surpreende, não esperava alguém de sua idade. Estava um pouco encantado também, aquele menino mesmo estando todo sujo e desarrumado, banhado pela luz da lua ainda o fazia ter a aparência um tanto quanto..angelical.
Sai de seu transe com uma tapa dado em sua mão e o menino voltando a passar os braços em volta do corpo, como se quisesse se proteger.
-Ei, não precisa ter medo de mim, não vou te machucar.
O garoto no chão não parece acreditar e se encolhe ainda mais.
-Qual o seu nome?- pergunta e espera alguma resposta, novamente sendo recebido pelo silencio.
-Meu nome é Iwazumi- continua- Fugi de um orfanato ano passado, os caras daqui me encontraram nas ruas e me trouxeram pra cá. Você também esta fugindo? Talvez possa ficar aqui. Não é tão ruim quanto parece, eles não são lá pessoas boas mas me alimentam e dão roupas se eu fazer alguns serviços pra eles.
O garoto no chão parece relaxar levemente. Vendo isso como um avanço Iwazumi resolve continuar:
-Você deve estar com fome, não é? Hoje vai ter mingau, você gosta de mingau? Se nos apressarmos um pouco, acho que conseguimos comer ele ainda quente.
O garoto parece se animar ao ouvir falar de comida, se sentando e espiando entre os dedos.
-Pra gente ir comer você tem que me falar seu nome. Pode fazer isso?
O menino parecia meio receoso, como se decidisse se deveria falar ou não. Depois de segundos calado resolve abaixar as mãos e olhar para o chão.
-O..Oikawa Tooru.- diz sussurrando em um fio de voz, quase inaudível, mas com o armazém silencioso foi suficiente.
Iwazumi sorriu de ponta a ponta pelo garoto finalmente ter falado, se animando e chegando mais perto, fazendo Oikawa se arrastar para trás.
-Ah, desculpe, você prefere que eu fique aqui?
O menor apenas acena levemente com a cabeça.
-Ok, tudo bem. Pode me dizer sua idade?
Mais rápido que anteriormente o garoto responde:
-Tenho onze.
-Serio? Então temos a mesma idade- ri nasalado- Em que mês é seu aniversário?
-Em..em julho.
-Oh? Então parece que eu sou mais velho que você, a partir de agora me trate como seu sensei-fecha os olhos e ergue a cabeça orgulhoso, para logo em seguida os abrir surpreso ao ouvir um pequeno riso.
-Você é engraçado. - O mais novo diz de repente sorrindo meigo, fazendo Iwazumi se surpreender ainda mais.
Ele ficava bonito sorrindo.
Um sentimento de orgulho se instala em seu peito ao ver que aquele garoto tímido já estava se soltando.
-Por que está aqui? Você fugiu? Sua mãe deve estar preocupada te esperando. - Não queria se intrometer mas estava curioso, como exatamente aquele menino veio parar aqui?
-Ela não está. - A resposta veio tão rápida que ate o assustou.
-Como sabe? Mães se preocupam com seus filhos, principalmente quando somem.- Divaga um pouco em pensamentos olhando para o teto, vendo a linda lua cheia presente no céu.
Se assustou ao voltar o olhar para baixo, o rosto do menino, que antes já havia parado de chorar, agora estampava tristeza e seus olhos voltavam a se marejar com a última fala do moreno.
Tentando consertar qualquer que fora seu erro, ele se apressa em dizer:
-Tudo bem, tudo bem, não vamos falar sobre isso, só não chore tá bom? Que tal irmos comer o mingau que eu falei? Nós temos um gatinho também, ele sempre aparece essa hora pra pedir comida, vem comigo que eu posso te mostrar, mas primeiro você tem que confiar em mim.
Ele se levanta e estende a mão para o mais novo, que olha para ela um pouco hesitante antes de aceitar a ajuda e segura-la, sendo prontamente puxado para cima.
-Vamos lá- Iwazumi o deu um grande sorriso antes de pegar sua mão e começar a correr para fora o arrastando logo atrás de si.
Enquanto corriam os olhos de Oikawa brilhavam encantados por aquele que o puxava, seu salvador.
O terreno do armazém se assemelhava a um pequeno condomínio rural, mesmo que estejam no meio da cidade. O chão de barro possuía alguns buracos cheios de lama que eram prontamente desviados e saltados por Iwazumi, que conduzia o outro para que o mesmo não caísse neles também.
-Olha ali na direita- O mais velho aponta para uma construção de madeira com algumas luzes acessas- Ali é o alojamento, onde eu durmo e onde você também vai dormir. Ah e ali na frente são os banheiros, fique longe deles depois do almoço, lá tem muitos velhos tarados. Quase me esqueci da cozinha, ela fica...- O rapaz foi continuando a falar e indicar todas as construções, sendo observado pelos pequenos olhos curiosos que tentavam acompanhar seu ritmo.
Depois de correrem por todo o terreno, eles voltam ao ponto inicial, agora meio ofegantes.
-Bom, eu tenho que falar com o dono daqui, ele é como o chefe, todo mundo aqui trabalha pra ele. Você pode vir comigo se quiser, só não fale e deixe que eu resolvo as coisas, ele é bem durão e bravo, não se meta em encrencas ou ele vai virar uma fera. - Disse sério sendo prontamente respondido com um acenar de cabeça.
Eles andam até uma pequena casa mais distante das outras construções, com um pequena sacada e piso de madeira.
Quando chegam lá ficam parados um tempo de frente a porta. Iwazumi respirava fundo como se tomasse coragem.
Esta tudo bem, é só você ir rápido e-
-Você vai conseguir Iwa-chan.
Ele se vira surpreso. O mais novo o olhava atento, leva sua mão de volta a do rapaz e a aperta para transmitir coragem, lhe dando um sorriso carinhoso.
O mais velho fica estupefato o olhando parado durante segundos.
Ele tinha acabado de lhe dar um apelido?
-T-tudo bem- responde um pouco desnorteado, não sabendo muito bem o por que.
Mais uma vez ele puxa o ar rudemente antes de bater três vezes na porta e esperar.
Depois de alguns segundos o barulho de passos pode ser ouvido e uma voz ruidosa e desgastada os manda entrar.
Lentamente o moreno abre a porta, e entra no cômodo sendo seguido pelo garoto cabisbaixo atrás de si.
O cômodo em si não tinha nada de especial, mobilhado com moveis rústicos, e uma pequena lareira, o ponto de destaque estava na grande escrivaninha de frente a porta, onde uma homem velho se sentava. O mesmo tinha cabelos pretos coloridos por muitos brancos, barba rala e pele ligeiramente flácida, devia estar na casa dos cinquenta.
-Iwazumi, o que te trás o prazer de vir aqui?
O mesmo pigarreia nervoso antes de começar a falar:
-Senhor, desculpe a minha intromissão a essa hora da noite, mas eu não poderia esperar, gostaria que o senhor pudesse-
-Você já fez sua tarefa noturna?
-S-senhor?
-Já trouxe os sacos que eu mandei para a cozinha?
-Eu..eu..não senhor. - Se amaldiçoa mentalmente por ter gaguejado.
-E eu poderia saber o por que não?
-E-eu deixei os sacos caírem senhor.
-Ah entendo...você deixou os sacos caírem.
Iwazumi tremia levemente agora, seus olhos fixos no chão. Ele os levanta e abre a boca para tentar explicar quando um forte tapa é acertado em seu rosto o fazendo perder o equilíbrio e cair no chão.
-VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO QUE DERRUBA TODOS OS NOSSOS NOVOS MANTIMENTOS E AINDA VEM ME PEDIR FAVORES SEU MOLEQUE INSOLENTE? - Ele levantou o pé e chutou seu estomago o fazendo se encolher deitando abraçando seu próprio corpo.
Já ia chuta-lo novamente quando uma pequena figura rapidamente se coloca de braços estendidos na frente do corpo encolhido.
-Não o machuque, é minha culpa que ele tenha derrubado os sacos, e é minha culpa que ele tenha vindo te pedir um favor, se quiser machucar alguém machuque a mim. - o garoto fala com voz firme ainda se postando protetoramente a frente de seu mais novo amigo.
Iwazumi olha pra cima respirando ruidosamente, vendo a cena. O homem que estava com uma expressão furiosa agora demostra leve surpresa pela intromissão, isso o amedronta e faz com que tome folego ate conseguir pronunciar:
-Oikawa..não...eu disse pra não se se intrometer- a cada palavra uma respiração era tomada, como se fosse muito difícil falar, o que não é muita surpresa devido ao chute em seu estomago.
-Ora ora o que temos aqui, parece que você arrumou um cão de guarda Iwazumi.
O garoto de pé trinca os dentes exibindo uma feição de puro ódio.
A todos que fossem assistir a cena de fora seria um tanto quanto amedrontador, um garoto jogado ao chão tossindo e tentando inutilmente se levantar, outro garoto e em pé confiante confrontando cara a cara um homem adulto que teria pelo menos duas vezes seu tamanho, uma situação que exigia uma coragem inestimável, o tipo de coragem que não se esperava vir de uma criatura tão pequena.
- Diga seu nome moleque. – O homem se aproxima a passos lentos de Oikawa que permanece parado sem recuar um único passo.
O garoto não responde, permanece o encarando sem emitir um único som.
O próximo barulho ouvido não foi a fala do garoto e sim um grande estralo após um tapa ser desferido na face do menino, que cambaleia um pouco antes de voltar a sua postura.
- Você tem muita coragem garoto imundo, quando eu te perguntar algo você responde! – Os dois se encararam face a face, o rosto do menor ainda tinha uma tonalidade vermelha do lado onde o tapa foi desferido, mas ainda assim seu olhar estava frio e inabalável, o que não passou despercebido pelo homem. – Tudo bem, se é assim. Você não parece o tipo de pessoa que se importa de ser ferido, então vamos fazer o seguinte...Ou você me responde corretamente ou eu vou espancar tanto seu amiguinho ali que ele nunca mais vai andar. E aí, como vai ser?
Oikawa olha para seu amigo jogado ao chão e permanece olhando para ele por um momento antes de voltar seus olhos ao homem a sua frente.
- Oikawa Tooru.
Diferente do modo que havia dito seu nome para Iwazumi minutos atrás, dessa vez sua voz foi fria e direta.
- Tudo bem Oikawa - Pronunciou seu nome lentamente separando as sílabas e chegou um passo mais próximo do garoto – A partir de agora você deve me chamar de senhor, me ouviu insolente?
- Sim - Deu uma pausa e olhou para cima, direto aos olhos cortantes de seu mais novo chefe. – Senhor. – concluiu contragosto.
- Muito bem. Iwazumi levante-se agora, deixe de ser molenga.
Agora a atenção se voltava ao garoto ainda no chão que observava tudo calado. Estava chocado demais com o amigo que não conseguiu nem demonstrar reação, mas agora com seu nome chamado despertou de seu transe e se pôs com dificuldade de pé, ainda abraçando seu abdômen.
- Iwazumi, você veio aqui para me pedir para acolher esse garoto imundo, certo?
O moreno apenas olhou para o chão e acenou com a cabeça.
- Vamos fazer assim, o garoto pode ser útil e precisávamos mesmo de mãos descartáveis para fazer os serviços daqui, mas saiba Iwazumi que você não foi desculpado e não tenha a falsa esperança de você e seu amiguinho serem tratados com piedade, vocês são menores que escória aqui, se deixarem de ser úteis eu não irei hesitar em descarta-los.
O mais novo, que tinha se juntado a ele se postando protetoramente ao seu lado, como se pudesse o defender caso o homem quisesse o agredir mais uma vez, acenou afirmativamente e perguntou:
- Nós podemos sair agora?
- Podem. – O homem disse após lhes lançar um olhar de desprezo e voltar a sua mesa para acender um charuto.
Oikawa passou um dos braços de Iwazumi pelos seus ombros para ajudá-lo a sair, mas foi imediatamente parado pelo moreno que tirou seu braço e se pôs a andar até a porta sozinho, deixando o mais novo confuso.
Antes que saíssem o homem a mesa fez um último aviso:
- Iwazumi não se esqueça que ele está aqui por sua causa, então todas as despesas e gastos que eu tiver para manter ele será descontado de você, e pode se contentar com as sobras da comida por um mês.
Iwazumi cerrou os dentes mas não disse nada, apenas abriu a porta e saiu puxando Oikawa consigo.
O mais novo o seguia calado, quando chegaram a uma distância razoável da construção o moreno parou e se virou para ele.
- Oikawa eu disse para não se intrometer.
- Mas-
- Você podia ter se machucado ou pior, sido morto - Iwazumi o corta - E não ofereça apoio como fez, aquilo é o mesmo que me chamar de fraco, pessoas fracas não sobrevivem aqui, me entendeu?
Oikawa mantinha a cabeça baixa durante toda a fala e apenas a balançou afirmativamente.
O moreno se sente mal por estar descontando tudo nele mesmo sem ter culpa, as vezes esse tipo de coisa é necessária para tornar alguém mais forte, ele só não queria que Oikawa interpretasse as coisas da forma errada.
Ele suspira, antes de consertar:
- Me desculpe eu sei que você não fez nada por mal, eu apenas quero que você estenda que esse lugar não é como um lar adotivo feliz, aqui a vida funciona assim, eu apenas quero que você entenda isso.
- Eu sei disso - diz o menor o olhando diretamente.
Um minuto se passa em completo silêncio e antes que qualquer um dos dois pudesse falar algo a barriga dos dois ronca em alto e bom som.
- Bom parece que é hora de jantar - Diz Iwazumi rindo levemente acompanhado do outro.
Eles andam até o refeitório, não muito longe dali, e entram no cômodo iluminado. Não era muito grande mas de bom tamanho, três mesas compridas se estendiam pelo piso de madeira e um balcão com parede semi aberta dividia a sala de jantar da cozinha.
A sala estava vazia, como era de se esperar visto que a hora de comer já havia passado.
- Vem cá, vamos na cozinha ver o que sobrou da janta. - Diz o mais velho puxando o amigo até o balcão, onde uma pequena porta dava acesso ao lado de dentro do cômodo.
Era apenas uma cozinha rústica comum, com forno a gás, pia, armários e balcão, nada de especial. O que procuravam estava em cima de uma das bancadas, onde algumas panelas desorganizadas estavam dispostas.
- Tudo bem, vamos ver aqui, hum nessa panela só sobrou ossos, nessa outra não tem nada, oh olha aqui nessa tem um pouco de feijão ainda, podemos aproveitar, vou ver se naquela outra...- Ele foi checando de panela em panela e organizando as que tinham algo aproveitável e comestível.
O mais novo observava aquilo levemente curioso, o moreno fazia tudo com tanta praticidade que parecia que aquela era apenas uma das muitas vezes que comia sobras, isso o deixava triste mas ao mesmo tempo aquela também seria sua nova vida então queria ajudar.
- Iwa-chan eu quero fazer algo também. – Exclamou decidido.
O moreno que ainda estava organizando as panelas contrai os músculos levemente, quase tinha esquecido que havia mais alguém ali, já tinha feito aquilo tantas vezes que já era sua rotina. Além disso ele disse aquele apelido de novo, por que se sentia feliz com isso?
- Oikawa da onde você tirou esse apelido?
- Ah..não sei eu só achei que seria legal, e seu nome é comprido demais, abreviado fica bem melhor, mas por que está perguntando? Você não gostou? - ele o olhava com semblante triste o que amolece o coração do moreno que tentava de qualquer jeito arrumar a situação.
- Não não, eu amei, quer dizer..eu achei legal..digo, não acho que..é..VOU ACENDER O FOGO.
Se xingava mentalmente por ter gaguejado tantas vezes e se apressou para correr até o fogão e não passar mais vergonha.
Oikawa o olhava com as sobrancelhas arqueadas para um momento depois desabar em uma gargalhada alta e gostosa de se ouvir. Isso fez com que o moreno ainda de costas corasse pela vergonha, o que teria passado despercebido se não fosse suas orelhas, que também atingiram uma coloração mais forte que a de um tomate fazendo o mais novo rir ainda mais, abraçando seu próprio corpo.
- Para de rir de mim shitkawa – olhou para trás e o castanho tentava se controlar e aos poucos parou de rir secando as pequenas lágrimas formadas no canto dos olhos depois de tantas gargalhadas.
- Me desculpe, é que faz muito tempo que eu não rio. – ele sorriu mas depois de notar algo na frase do mais velho arregalou os olhos. – Ei, você me deu um apelido também!?
- Sim, como você disse, eu achei legal.
- Ora, mas esse apelido não é legal!
- Eu achei legal, você não me deixou escolher o meu então não pode escolher o seu!
- Ah, então é assim?
Oikawa pulou para cima dele e começou a lhe socar de brincadeira, Iwazumi sorriu e entrou no jogo começando a lhe dar tapinhas leves também. Ficaram rindo e correndo um do outro assim por minutos antes do cansaço os tomar por completo e o mais novo se sentar no balcão enquanto Iwazumi acabava de esquentar a comida.
Após os pratos serem devidamente servidos os dois se sentaram lado a lado e observaram seus pratos.
- É, até que não tá tão ruim. – Iwazumi comenta.
Nos pratos o jantar era bem simples: feijão, legumes murchos e uma mínima quantidade de carne de porco, repartida igualmente entre os dois pratos.
Os dois começam a comer em silêncio. O único barulho ressonando pelo ambiente era dos talheres batendo nos pratos e da comida sendo mastigada.
Quando todo o conteúdo dos pratos foi esvaziado os dois permanecem parados sem dizer nada, até que Iwazumi se levanta.
- Vem, temos que ir para o quarto antes que as luzes sejam apagadas, se não vamos acabar dormindo do lado de fora.
- Tá bom.
Se levantam e passam pela porta até o lado de fora, a lua cheia ainda brilhava lindamente no céu, tanto que os garotos tiveram que parar para olha-la por uns minutos.
A noite estava fria, e Oikawa não estava nem um pouco agasalhado, o que faz com que seu corpo trema levemente pela temperatura. Iwazumi percebe e puxa ele para continuarem até os quartos antes que pegue um resfriado.
Como o alojamento era perto, chegaram bem rápido.
Ele era umas estrutura em forma de “U", com uma pequena praça no meio, e uma varanda contornando toda a construção.
Eles passam por cinco portas antes de chegarem a uma encostada, que foi para onde o moreno se dirigiu, com Oikawa o seguindo rapidamente.
A luz do quarto já estava acesa, o que possibilitou os olhos curiosos do mais novo sondarem todo o pequeno cômodo.
Era um quarto simples, paredes brancas e piso de concreto com uma cama se solteiro encostada na parede, uma pequena cômoda, alguns brinquedos guardados em um baú e um tapete.
Mesmo sendo simples os olhos do menor brilharam e ele rapidamente pulou sobre a cama rindo bobamente, rolando de um lado para a outro.
O moreno riu com toda aquela animação e se virou apenas para trancar a porta antes de pular na cama também e pegar o travesseiro para bater no outro garoto, que arregala os olhos em descrença e agilmente o derruba começando a fazer cosquinhas em sua barriga.
Iwazumi gargalha a plenos pulmões enquanto rolava e tentava se livras das mãos brincalhonas de Oikawa em si.
- HAHAHA PARA, PARA, POR FAVOR!!! – conseguiu implorar entre as risadas.
O mais novo cede e para, rindo também e se joga ao seu lado. Ambos com um grande sorriso no rosto.
Minutos se passam até que alguém fala algo do lado de fora e a luz é apagada, fazendo o quarto se tornar escuro e silencioso.
Ambos não diziam nada, apenas olhavam para o teto em silêncio.
Mais minutos se passam sem que nada seja dito. As pálpebras do moreno já começavam a fechar quando a voz do garoto ao seu lado o desperta.
- Não estou fugindo.
O moreno arqueia as sobrancelhas confuso e se vira para o lado, ficando de frente com o outro, que continuava olhando para cima pensativo.
- O que? – Questiona.
- Mais cedo você perguntou se eu estava fugindo como você, como eu disse, não estou.
Iwazumi nada disse, apenas aguardou o outro continuar a falar, o que aconteceu logo depois e um suspiro cansado.
- Minha mãe fez isso comigo.
- Como assim?
Oikawa se vira de frente para ele também, seus olhares agora diretos, expressando tudo o que sentiam, no momento os do mais novo expressavam mágoa profunda.
- Eu tinha jurado a mim mesmo nunca contar pra ninguém, mas você é diferente, você me ajudou então eu quero que você saiba. – Seu olhar vagou pelas paredes até voltar a falar.
- Sabe, a mamãe sempre foi diferente do que você disse mais cedo, de ser preocupada e coisas assim. Ela nunca ligou para mim, acho que eu era o maior arrependimento da vida dela, ela sempre demonstrou desgosto, sempre dizendo o quanto me odiava e que eu não servia pra nada, nunca disse nem uma coisa boa. Eu me acostumei com isso sabe, as vezes ela só ficava com muita raiva e me batia, as vezes sumia por dias e voltava pra casa doente, eu sempre cuidava dela quando isso acontecia, afinal sempre foi só a gente. Essa já era minha rotina até um dia um cara mau bater lá em casa e eles começarem a gritar, acho que tinha algo haver com dinheiro mas eu não entendi muito bem. Quando o moço saiu ela estava com muita raiva, tanta que eu me tranquei no banheiro pra que ela não descontasse em mim. Ela sumiu de novo depois desse dia, eu fiquei feliz e me senti mal por isso, por que ela não sabe se cuidar sozinha, e talvez ainda precisasse de mim. Dois dias atrás ela apareceu de novo em casa, dessa vez foi diferente, ela estava bem e não disse nada, nem olhou pra mim antes de ir pro nosso quarto e pegar uma mala que ela deixava de reserva com nosso dinheiro e coisas necessárias. Ela me puxou pra fora e chamou um táxi, não tive coragem de dizer nada, aquilo era ainda pior do que ela com raiva. Quando o carro parou a gente estava em um bairro bem pobre, com as ruas sujas, ela só pagou o moço e me arrastou pra fora pelo pulso. A gente só parou de andar quando chegou em uma esquina estranha, onde tinha três caras com cara de bem maus. Ela começou a discutir com eles sobre uma negociação e dinheiro, perguntaram algo de ser puro, não sei, eu não entendi bem, mas só sei que ela respondeu que eu era uma criança então era óbvio, então eles entregaram bastante dinheiro pra ela, aí nessa hora que eu percebi que tinha algo errado, ela soltou meu pulso e me jogou pra um dos caras, perguntaram pra ela se não queria se despedir e ela só olhou pra mim com olhar de nojo e se virou, eu gritei por ela, eu chorei e tentei fazer com que o moço me soltasse mas ela não me ouvia e não parou de andar, eu não entendo por que. Aqueles caras me davam muito medo, muito medo mesmo. Eles me levaram até um lugar estranho, que os adultos me olhavam esquisito e alguns até tentavam passar a mão em mim, alguns momentos me deixaram muito apavorado. Os moços foram lá pra me vender, eu ouvi isso em uma das conversas, por isso fugi enquanto dormiam. Eu andei muito muito muito, até ficar bem longe dali, consegui encontrar comida em um dos lixos de uma rua, fiquei muito feliz mas a noite estava muito fria e eu tive que dormir na rua sem nada pra me esquentar, no outro dia eu não sabia o que fazer, eu estava muito triste e foi aí que eu cheguei aqui, achei que seria um lugar bom pra dormir, mas aí você apareceu e eu achei que queria algo comigo também, de qualquer forma você é diferente. Foi isso que aconteceu, acho justo você saber.
“O pequeno corpo se chacoalhava dos braços que o seguravam gritando em prantos:
- MAMÃE, MAMÃE POR FAVOR, MAMÃE NÃO ME DEIXA AQUI, MAMÃE.
Aquela criança chorava e se debatia, tentando se soltar sem sucesso, vendo a figura que ia para cada vez mais longe sem se virar uma única vez, até sumir de vista.”
Oikawa chacoalhou a cabeça para afastar as lembranças, quando ia virar a cabeça para olhar para o outro seus olhos se arregalam e ele é surpreendido por um aperto esmagador de ser corpo.
Iwazumi estava o abraçando.
- Eu sinto muito, eu sinto muito, eu sinto muito, você não mereceu passar por nada disso, eu sinto muito, eu..- O garoto o abraçava cada vez mais forte repetindo as mesmas palavras.
O mais novo não entendia bem o por que dele estar fazendo isso, afinal nada daquilo era sua culpa e para ele essa era sua vida normal, mas pela falta de afeto que recebeu em sua vida aquele abraço significou muito, ele se sentiu acolhido, se sentiu seguro pela primeira vez em sua vida.
Com esse conforto ele se permitiu chorar, chorou por tudo que não havia chorado, por todas as brigas, todos os insultos, tudo que apenas ignorava e guardava no fundo do coração, pesando cada vez mais até que não conseguisse suportar, era apenas uma criança afinal.
Passou os braços pelo corpo do moreno também, e apoiou a cabeça em seu peito para abafar seus soluços.
- Shitkawa eu te juro, você nunca mais vai precisar passar por isso, você nunca mais vai ficar sozinho, por que eu vou estar com você, eu nunca vou te abandonar, confia em mim?
O mais novo levanta a cabeça do peito do outro para lhe olhar nos olhos, olhando tão diretamente para aquelas orbes escuras tão sinceras a resposta não poderia ser outra.
- Confio.
***
Um ano depois
- Ai Iwa-chan vai devagar, assim eu vou cair!!!
- Mas devagar é chato, assim é mais legal!
Os meninos, agora com doze anos, brincavam em um balanço de madeira no parquinho perto do sítio. Oikawa era balançando por Iwazumi a toda velocidade, fazendo o balanço quase dar uma volta completa.
- Iwa-chan eu tô com medo, para.
- Só se você pedir por favor. – diz irônico arrancando um bufo do mais novo.
- Por favor.
Iwazumi satisfeito ri e para de balançar esperando o balanço diminuir a velocidade para que o outro menino possa descer, mas para seu desespero Oikawa não espera e pula de uma vez do balanço, caindo com tudo no chão.
- OIKAWA!!!
O moreno corre até o menor, rapidamente se ajoelhando ao seu lado.
Oikawa desorientado, apoia suas mãos no chão e se senta, grunhindo baixo de dor pela queda.
- Aí meu Deus, que bom que você tá bem. – o moreno diz espanando a sujeira das roupas do menino com as mãos antes de mudar de atitude e bater em seu braço com raiva – Você é doido? Por que não só esperou o balanço parar, quase que me mata do coração!
- Ora eu só queria sair logo daquele balanço, não desconte tudo em mim Iwa-chan.- exclama indignado se pondo a levantar mas cerrando os dentes pela ardência em seu joelho.
- Olha ali no que dá, você ralou seu joelho todo! – repreendeu bravo enquanto o outro fazia bico e olhava pro lado. – Para de agir como bebê e senta no banco que eu vou pegar remédio no sítio, não sai dai!
Ele deixa Oikawa emburrado em um banco de madeira e se vira para correr agilmente até o terreno, bem perto dali, entra pelo grande portal do armazém e continua a correr até seu quarto, que continha um pequeno kit de primeiros socorros que o garoto havia roubado de uma farmácia.
Depois de se certificar que tinha pegado tudo, o garoto volta até a praça rapidamente onde oikawa o esperava sentado no mesmo lugar, balançando os pés impaciente.
- CHEGUEI!! – exclama ofegante por toda a correria, sendo recebido com um sorriso.
- Demorou demais, foi engatinhando?
- Não enche.- diz revirando os olhos.
Se ajoelha de frente ao menor e abre o kit, separando iodo e algodão, sobre o olhar apreensivo do outro.
- Relaxa só vai arder um pouquinho, você pode apertar a minha mão se quiser. – OIKAWA sorri e aceita a mão do outro, observando enquanto o outro molhava o algodão no iodo e levava até seu joelho.
Ele gentilmente passa o algodão em seu ferimento, sendo respondido com um forte aperto em sua mão e um gemido de dor baixo. Se apressa em acabar o serviço para que o outro não sinta mais dor e quando se dá por satisfeito pega uma tira de gase e a enrola pelo joelho falando um nó firme ao terminar.
Olha orgulhoso para seu serviço e sobe o olhar para o mais novo que também admirava o bom trabalho do moreno.
- Obrigado Iwa-chan, o nó ficou perfeito!
- Ah, não foi nada demais. – responde constrangido.
O silêncio cai sobre os dois, e permanece até que Oikawa adiciona:
- Mas está faltando algo.
- O quê? – pergunta curioso arqueando as sobrancelhas.
- O beijinho pra sarar.
Iwazumi fica estático antes de cair em uma gargalhada.
- Mas isso não é coisa de contos de fadas?
Oikawa o encara ofendido mas uma ideia lhe passa pela cabeça.
- Bem, se for conto de fadas eu com certeza sou a Fiona.
O outro não entendeu bem essa frase, logo questiona:
- Como assim Fiona? Você não é nem um pouco feio.
Sobe o olhar para o outro que lhe encarava divertido mordendo os lábios para conter uma gargalhada.
Demorou alguns segundos para que o moreno processasse o que tinha acabado de falar, mas quando o fez atingiu uma tonalidade vermelho puro do pescoço as orelhas fazendo o mais novo finalmente não se aguentar e desabar em risos histéricos.
- Ah s-seu..V-VOCÊ FEZ DE PROPÓSITO. – grita envergonhado e com raiva.
O outro ri ainda mais e se levanta em um pulo para chegar bem perto do moreno e lhe dar um leve selar na bochecha saindo correndo no mesmo instante.
Iwazumi arregala os olhos e fica estático, parado no mesmo lugar sem mexer um único músculo, passando a mão pelo local onde os lábios de Oikawa tinham estado. Demorou longos segundos para que ele saísse de seu transe e processace os acontecimentos, isso o fez ficar ainda mais envergonhado e gritar correndo atrás do outro.
- OIKAWA VOLTA AQUI AGORA!!!
- Me pegue se conseguir Iwa-chan.- o outro gritou a uma grande distância longe rindo incansavelmente.
~<>~
3 anos depois.
- Tá quase na hora, vem vamos rápido!
- Não corre assim, vai acabar caindo.
- Vai logo, você é lerdo demais!
Os garotos corriam rapidamente de mãos dadas com o mais novo guiando. Atravessavam a rua congestionada até o mirante, ainda mais lotado que a rua.
- Vem por aqui, sei de um lugar, mas fecha os olhos que é surpresa.
- Por quê!?
- Só fecha logo!
Hesitantemente o moreno obedece se deixando ser guiado pelo, agora mais alto, Tooru.
Este abria caminho até uma rua estreita, a direita do mirante, onde as casas eram juntas e vários varais eram estendidos. Ele chegou até o fim da rua, agora claramente sem saída, mas como esse não era seu objetivo, não se importou.
Procurou pela escada, colocada ali por ele mesmo horas antes, achando-a no mesmo lugar que pôs. Ele a pega e abre sobre o muro, se virando para Iwazumi.
- A gente vai subir uma escada agora, se apoie nos meus ombros, e NÃO abra os olhos!!
- Onde caralhos você tá me levando?
- Só obedece!
O outro bufa mas coloca as mãos nos ombros do outro como foi instruído. Depois de checar se o outro mantinha mesmo os olhos fechados começou a subir lentamente ajudando o mais velho a colocar os pés nos degraus certos. Depois de pouco tempo já haviam chegado ao topo do muro largo.
Oikawa continuou andando até chegar em uma pequena escada de cimento, rapidamente subindo-a e correndo com Hajime até onde o piso acabava.
Agora já era possível ouvir claramente as vozes altas fazendo uma contagem.
10
9
8
7...
- Já posso abrir?
O outro não respondeu, apenas chegou perto dele e quando a contagem chegou a 1, o puxou pela nuca e colou seus lábios.
De início o moreno não correspondeu pela surpresa, mas se recuperou rápido e passou os braços pela cintura do outro, aprofundando o beijo e levando uma mão ate os cabelos castanhos sedosos, acariciando os fios com os dedos.
O beijo era profundo e cheio de significado, seus lábios se pressionavam, suas línguas se entrelaçam e suas mãos afobadamente corriam pelos corpos, como se tentassem memorizar cada curva um do outro, como se aquela fosse a última vez que poderiam desfrutar de momentos como esse.
Aquele não era um beijo movido pelos hormônios da juventude, aquele beijo exalava paixão, era tudo o que sentiam sendo colocado em atos, o que as palavras não podiam dizer.
Como sempre estava ali, o pior inimigo dos beijos, a falta de ar.
Relutantemente seus lábios se separam e ambos arfam ao mesmo tempo em busca de ar, suas testas se encostando e um sorriso sincero sendo partilhado.
Ao fundo o som extremamente alto dos fogos era impossível de não ser ouvido.
- Feliz ano novo Iwa-chan!
O moreno riu, voltando os olhos para frente o olhando mais detalhadamente. Seu rosto se destacava com as luzes coloridas que explodiam no céu, sua respiração ainda ofegante e lábios vermelhos depois do beijo. Não pode evitar sorrir largo, não conseguia pensar em um modo melhor de iniciar outro ano.
Estava tão concentrado no outro que quase se esqueceu de olhar o lugar. Agora que se lembrou disso e olhou para os lados não pode evitar um assobio, Oikawa se superou dessa vez.
Como as ruas estavam cheias e seria quase que impossível ver algo de lá, o mais novo os levou até o telhado de uma das casas, como ele era plano, era o lugar perfeito para uma vista privilegiada dos lindos fogos que iluminavam os céus.
- Você gostou?
Tooru chegou atrás de si, o olhando inseguro.
Hajime coloca suas mãos em ambas as bochechas do mais alto e aperta, levando o corpo pra frente para depositar um selinho em seus lábios.
- É claro que eu gostei idiota.
Ambos caem na gargalhada e sentam no chão para admirar a comemoração do novo ano, que ainda não sabiam, mas mudaria a vida deles em apenas um dia.
***
Os garotos não podiam ficar muito tempo, afinal ainda tinham que dormir para na manhã seguinte trabalharem.
Não é como se não quisessem sair daquele serviço que os maltratava e abusava, mas com o passar dos anos acumularam dívidas pela estadia e comida, que acabava os prendendo ali até pagarem.
Eles chegam rapidamente ao alojamento se despedindo apenas com um aperto de mão, afinal não sabiam o que poderia acontecer com eles se descobrissem sobre seu relacionamento.
- Boa noite, até amanhã.
- Boa noite.
Cada um se dirige ao seu próprio quarto, diferente do primeiro ano que Oikawa esteve ali, agora dormiam em quartos separados, do lado oposto do alojamento.
Iwazumi se deita e olha para o teto, não podendo evitar sorrir, por mais que negasse amava aquele imbecil.
Ambos não demoram a cair no sono, afinal já era madrugada e o cansaço do dia veio a tona.
***
Quando o dia amanheceu Iwazumi trocou de roupa agilmente e correu para fora, pronto para a ir ao quarto de Oikawa para acorda-lo, como sempre fazia toda manhã. Mas ao chegar no quarto se surpreende ao encontrá-lo vazio.
Ele fica confuso, afinal Oikawa sempre se atrasava para levantar por ser um malandro, será que hoje ele resolveu fazer o café?
Com essa ideia em mente ele corre até o refeitório não dando de cara com ninguém no caminho, isso é ainda mais estranho, será que foi marcada alguma reunião e ele se esqueceu?
Não, impossível, sua memória nunca falhava.
Parou a passos do refeitório ao olhar pela janela e o encontrar vazio.
Bem, agora sua última opção era o grande salão, onde as reuniões aconteciam e alguns treinamentos eram feitos.
Ao correr e chegar lá já consegue ouvir uma grande balbúrdia e discussões, bem, acho que era ali que todos estavam.
Abre a porta e quase não consegue passar pelo amontoado de pessoas no mesmo espaço. Estranhamente as pessoas abrem caminho quando veem seu rosto, estranhou isso é se apressou para chegar a frente onde seu chefe se encontrava sentado.
- Chefe, o que está acontecendo? É alguma reunião de emergência ou algo assim?
O olhar do homem para si o deu calafrios, não entendia bem o que estava acontecendo mas sabia que era ruim.
- Vou te dizer o que está acontecendo.
Ele faz um sinal e logo Iwazumi sente seu corpo sendo atirado ao chão e seus cabelos puxados para o manter de joelhos.
- Imagine a minha surpresa..ao ter um dos meus subordinados vindo até meu escritório de madrugada em pleno ano novo, para me contar que dois dos meus insetos estavam aos amassos em um telhado?
Iwazumi prende a respiração e seu coração acelera. Não, não pode ser, qualquer coisa menos isso.
- Agora imagine o meu nojo, agora eu sei que eu manti na minha própria casa duas bichinhas imundas.
Toda a multidão em volta gritou xingamentos e vaias o que só aumentava ainda mais o desespero do moreno.
- Você deveria se envergonhar, ser tão imundo e insolente assim, parece que eu dei minha comida só pra alguém que gosta de dar o rabo. Ou será que o seu amiguinho é a puta? Vocês me dão vontade de vomitar, se arrastando pelo chão até mim pra pedir moradia? Se eu soubesse antes já teria os matado, gayzinhos de merda como você deviam ser todos mortos!
A multidão agora levantou o ápice, todos berravam ao mesmo tempo, o mandavam se matar, jogavam coisas e o xingavam. Iwazumi não sabia o que fazer, só sentiu lágrimas quentes descendo pelo seu rosto e o seu corpo tremendo violentamente.
- Sabe, você tem sorte demais moleque. Você só se livrou da punição por que eu devo algo a um homem e ele te aceitou como pagamento, desde que você não tivesse um arranhão. Não sei onde isso foi um bom negócio, um animal como você de pagamento? Não me faça rir. – Ele gargalhou alto acompanhado de todos da sala – Uma peninha a sua puta não ter essa sorte.
Iwazumi que tinha cobrido as orelhas para parar de ouvir levantou a cabeça na mesma hora ao ouvir falar de Oikawa.
- O-O quê você fez com ele!? – Sua voz saiu tremida e rouca, mas não ligava, só queria ter uma resposta.
O homem riu, como se aquela fosse a melhor piada que já tivesse ouvido, olhou para as pessoas da sala e disse:
- Vamos, abram caminho para ele conseguir ver.
Todos da multidão se separaram e abriram caminho, Iwazumi se pôs de pé na mesma hora, e quando finalmente o garoto ficou visível, seus olhos se arregalaram e as lágrimas começaram a fluir em abundância.
Ali, jogado ao chão, estava Oikawa. Quase que completamente sem roupas, tirando um pano sujo colocado em sua cintura. Seu corpo inteiro tinha marcas de mordidas e hematomas, seus olhos ainda estavam inchados e um rastro de lágrimas secas era visível em suas bochechas.
O moreno não conseguia acreditar no que via, só conseguia chorar.
Quando a raiva o dominou se levantou e tentou correr até ele mas foi rapidamente segurado por três homens, tentava se debater e gritar mas era inútil, ele era inútil contra todas aquelas pessoas.
Sem mais nada a fazer ele apenas pode gritar ainda chutando tentando se soltar.
- OIKAWA, OIKAWA POR FAVOR!!!
Os homens da sala riram diante da cena.
- Ora ele senta tão bem que você vai sentir tanta falta assim? – Todos riem – Acho que alguns dos nossos colegas podem concordar, três horas seguidas não é pra todo mundo, você devia ver ele tentando gritar, tenho certeza que ia adorar. Uma pena que depois daqui só vamos joga-lo em algum esgoto, que é o lugar dele. Na melhor das hipóteses ele vai morrer de hipotermia.
O barulho da sala deveriam ser risadas mas Iwazumi não conseguia mais ouvir, todo seu sangue tinha requentado e a raiva que ele sentiu naquele momento era maior que qualquer sentimento que já havia desfrutado , pela primeira vez ele sentiu a vontade de matar.
Se jogou para frente e chutou um dos homens que o seguravam, conseguindo se soltar e correr até o seu antigo chefe, sem um objetivo em específico, só queria ferir aquele homem até um ponto que seus braços se cansassem.
Infelizmente aquela luta não era justa, antes mesmo de chegar a cinco metros do homem, ele foi derrubado e segurado.
- Já chega isso passou dos limites, pode apagar.
Antes que pudesse desviar, uma mão lhe segurou a cabeça e bateu no piso.
Tudo ficou escuro. Mas não foi exatamente naquele momento. Tudo ficou escuro desde o momento que viu seu namorado no chão, naquele exato segundo a luz do seu mundo se apagou.
Sem resistir ele abraçou a inconsciência.
~<>~
4 anos depois.
- Iwazumi vamos logo, eu insisti muito para que meu pai deixasse você ir, é você sabe como ele é, não faça do meu esforço um ato perdido.
- Deixa de drama Kuroo, espera um pouco que a gente já vai.
Ali estava Iwazumi, anos depois do acontecimento se arrumando para sua primeira missão. Acontece que quando seu antigo chefe disse a tanto tempo que devia para alguém e que lhe daria como pagamento, essa pessoa era o pai de Kuroo. Uma pessoa bondosa que o acolheu como novo chefe, realmente não consegue esconder sua gratidão aquele homem.
E quanto a Oikawa? Bem ele tenta ao máximo não pensar nisso, guardou todas as suas memórias e não pretende as relembrar, elas apenas o faziam sofrer e já tinha passado tempo demais sofrendo, passou meses tentando procurar por ele e nada. Chegou no ponto que teve que desistir e aceitar, a dor da aceitação foi maior do que esperava, por isso apenas resolve não reviver esses sentimentos e colocar sua máscara de neutralidade para tudo.
Finalmente saiu do quarto, para a comemoração de Kuroo, e se dirigiu ao carro, onde o outro o esperava para sua primeira missão .
*
- Você tem certeza que quer ir?
- Eu já disse que sim, da pra me dar licença que eu tenho um uber pra pegar.
Oikawa ser desviou de Kageyama e foi esperar de frente ao prédio.
Anos haviam se passado, tudo havia mudado. Para todas as circunstâncias era quase impossível ele estar ali vivo e andando, mas era a realidade.
Quando foi jogado a rua, lhe disseram que Hajime havia sido morto. Aquilo conseguiu despedaçar seu coração, uma coisa que nem seu estupro tinha conseguido fazer. Ele apenas desistiu de viver, não ligava mais. A noite estava extremamente fria e seu corpo nu tremia, quando desmaiou, achou que finalmente tinha ido encontrar a paz. Para sua sorte quem o encontrou foi Kageyama, aos treze anos. A mãe foi extremamente caridosa e o levou para casa, cuidou de si como filho. Com todos os contatos influentes que o pai de Kageyama tinha, foi fácil encontrar um serviço para ele na Seijoh, aliada da Karasuno.
No fundo do seu coração ainda sentia muita falta de seu herói, aquele que tinha passado de seu amigo para amor. A saudade era grande demais para suportar, se apenas se rendesse a ela não sobreviveria, então aprendeu a continuar, a seguir em frente.
Agora estava dentro do uber, indo ao ponto de encontro, ao que parece haveria uma briga contra uma gangue inimiga, com certeza não poderia perder isso.
***
Esses garotos mal sabiam que seus destinos voltariam a se cruzar por causa desse momento.
Os barulhos eram altos, as brigas eram punho a punho, lutando pelo seu orgulho.
Ninguém cedia, e desafiava para mais.
Iwazumi se mantinha distante, observando tudo. Não era muito bom em lutas mano a mano, mas estava ali para aprender, sua primeira missão afinal.
Kuroo lutava como ninguém, com um sorriso no rosto desferia golpes em todos que passarem pelo caminho, já era de se esperar de quem treina desde criança.
O moreno acabou se distraindo demais olhando as lutas e não viu uma figura vindo atrás de si.
Só percebeu no momento em que um soco foi desferido em sua cabeça, o fazendo grunir e se virar com raiva pronto para revidar.
Mas naquele momento nenhum soco poderia ser dado, nem mesmo um movimento. Seus olhos estavam arregalados assim como os do outro, suas mãos tremiam inconscientemente.
Os olhos a sua frente se encheram de lágrimas.
Nada pode ser dito além de dois sussurros:
- Oikawa!
- Iwa-chan!
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