1 ano depois.
— Sra. Jauregui? - Ouvi algumas batidas na porta, me tirando atenção. - Sra. Jauregui?
— Sim? - Levantei a cabeça um pouco confusa, mas logo revirei olhos ao ver quem era. - Pode entrar, Jesse. E não venha com essa de Sra. Jauregui outra vez.
— Sabe que eu gosto de te perturbar e o Jauregui está enorme na porta. - Jesse deu os ombros, assumindo uma postura séria, nem parecia o mesmo de segundos atrás. - Eu queria sua autorização para encaminhar o projeto dos novos prédios da Paulista. Ainda são os mesmos papéis de ontem, com melhorias, é claro.
— Deixa eu ver. - Peguei os papéis das mãos de Jesse, notando que ele tinha aceitado algumas das dicas que dei para ele. - Ficou melhor ainda, está mais que autorizado.
— Que bom que gostou. - Assinei três das quatro folhas, devolvendo todas para ele. - Você parece bem calma e confortável sentada aí. Nem parece que já perdeu cinco minutos de reunião.
— Merda, esqueci totalmente da reunião. - Me levantei correndo, mas Jesse me segurou. - O que foi?
— Você não pode correr, Camila. Sabe que pode sangrar se fizer muito esforço. Não corre porque estou de olho em você.
— O que eu estava pensando da vida quando te deixei entrar nela? - Jesse riu beijando o topo da minha cabeça, segurando meu braço enquanto íamos saindo do escritório. - Obrigada por me avisar da reunião. Vamos acabar logo com isso.
Quando eu disse que queria acabar logo com a reunião, eu não sabia que estava totalmente errada. Foram duas horas ouvindo todos os problemas que a CCJ estava enfrentando com construções, quando pensei que acabaria, voltamos para o começo do último problema. Era até ridículo a volta que dava e não chegava em nenhuma solução.
— A casa precisa ser demolida. - Justin repetiu sem paciência, igual a minha desde quando minha cabeça começou a doer. - Não tem como construir um segundo andar com a parte de baixo comprometida, aquilo vai cair na cabeça de todo mundo.
— O dono não quer nos deixar começar do zero, Justin. - Peche jogou seu cabelo para trás, me deixando boba. Eu adorava aquele cabelo todo. - É isso que você não entende, cara.
— Sabemos bem disso, Peche. Ele falou que é a única lembrança que ficou do pai dele, mas não vai aguentar o peso do segundo andar. De forma alguma. - Giovanna conseguia ser calma até nessas horas, eu precisava aprender com ela. - É impossível.
— Chega. - Chamei atenção dos quatro, eu tinha que colocar um fim ou ficaríamos até amanhã. - Se ele quer ficar com a parte velha da casa, vamos avisar que não tem nenhuma construção com a CCJ. Não vou colocar meus funcionários em risco por causa de uma pessoa teimosa.
— Concordo com a Camila, isso é óbvio. - Justin disse diretamente para Peche, mas fiquei surpresa por Jesse ficar tão calado, talvez estivesse pensando em como ajudar. - É isso que temos que explicar, não tem como ter construção com a casa em ruínas.
— Então você vai pessoalmente falar com o dono? Porque Giovanna e eu cansamos de falar, parece que conversamos com as paredes e não com o dona da casa.
Deixei eles falando e fui até a janela olhar a rua, onde eu queria está indo para casa colocar os pés para cima enquanto comia sorvete azul com cobertura de morango, mas não, eu estava aqui quebrando a cabeça por causa de um cliente muito teimoso.
— Mila? - Jesse bateu seu braço no meu, me fazendo olhar para ele. Sua expressão parecia preocupada e eu desconfiava que logo saberia o que era. - Você está bem?
— Só estou um pouco sem paciência com esse último cliente.
— Você sabe que não deveria ficar brava ou estressada, não sabe?
— É quase impossível, Jess. Sempre tivemos o nosso jeito de trabalhar com nossas construções, um único cliente pode foder com tudo, ainda pode atrasar várias outras construções. Como vou ficar calma?
— Precisa ficar calma, Camila. Você me deixa preocupado cada vez que leva as mãos na cabeça, cada vez que fica estressada por causa de trabalho.
— É inevitável.
— Okay, vamos fazer assim. Se você ficar calma, eu mesmo vou ir atrás desse cara para resolver tudo, pode ser?
— Aproveita e fala para aquele cabeça dura que é o último aviso. Ou ele aceita ou caímos fora.
— Vou falar com essas palavras. Que tal ir para casa agora? Posso te encontrar lá mais tarde.
— Eu espero que essa reunião tenha acabado. - Era só o que faltava para multiplicar a minha dor de cabeça, agora sim a reunião tinha que acabar. - Você prometeu que não trabalharia de sábado, Camila.
— Já acabamos, Mani. - Disse alto para todos ouvirem, eu estava de saco cheio e nem saco eu tinha. - Já acabou.
— Por que eu não acredito? - Normani não acreditava e os outros três também não. - Você está viciada em trabalho, Camila.
— Nunca fui viciada em trabalho, Mani. - Me virei para Giovanna, a única mulher no meio de três marmanjos e a única que poderia conseguir alguma coisa. - O Jesse vai ir até a casa dos Bardenbs e você vai junto, Giovanna. Se tem alguém que pode convencer aquele homem, esse alguém é você.
— Obrigada pela confiança, Camila.
— Não sei o Peche, mas eu vou ir junto com a Giovanna e o Jesse.
— Vamos todos então, mas eu sou o único que já não aguenta mais ouvir não. Não vou abrir a boca para brigar com ele.
— Ótimo, reunião definitivamente acabada. Temos que ir, Camila. - Normani só faltou me puxar para fora daquela sala, mas pareceu lembrar de algo e me deixou andar por conta própria. - Desculpa, desculpa.
— Eu já estava indo para casa de qualquer jeito. - Estranhei o jeito que Normani apertava o botão do elevador, quase afundando o coitado. - O que foi?
— Esqueceu que dia é hoje?
— Hoje faz...
— Sim, faz um ano. Temos que ir.
Eu acordei pensando somente nesse dia e quando Jesse me falou da reunião, automaticamente deixei meu lado estressado ativo. Agora eu estava aqui com cara de paisagem e a Normani conseguia ver perfeitamente.
Descemos até o andar do escritório para pegar minhas coisas e fomos para o elevador de volta. Nem preciso dizer que Normani foi falando de todas as vezes que prometi não ir trabalhar de sábado e me pegou no pulo.
Eu só tinha quebrado a promessa duas vez, mas só porque era realmente muito importante. As reuniões tinham que acontecer em algum lugar e na minha casa que não ia ser, nunca.
Apertei o cinto logo após fechar a porta, finalmente eu estava saindo da CCJ. Normani deu a partida e logo lembrei de mandar alguém levar meu carro embora, eu sabia que Normani não me deixaria voltar com ele sozinha.
— Você sabe que não estou doente ou coisa do tipo, né? - Normani me olhou por alguns segundos, revirando os olhos antes de olhar para frente de volta. - Você não me deixa dirigir sozinha.
— Sabe que não pode dirigir, assim como sabe que está cansada. Ninguém mandou você ir trabalhar, só faz três meses que...
— Foi preciso, Mani. Você acha que eu queria sair de casa para ficar assinando papéis? Ainda por cima ficar em uma reunião de duas horas e no final ouvir que o cliente é um puta de um teimoso?
— Conversa para boi dormir, Camila. - Revirei os olhos para sua resposta de sempre, cadê a paciência reinando em mim? - Não acredito que já passou um ano, foi muito rápido.
— E como. Esse último ano foi de alegria, tristeza e muito chororô para todas nós.
— Nem me fale, isso mexe comigo até hoje.
— Você errou a rua da minha casa, Mani.
— Não errei, estou indo pegar a Sofia no apartamento do seu pai. Depois pego a Dinah e vamos para sua casa.
O caminho até o meu antigo apartamento foi rápido porque a CCJ não era longe, nem precisei descer do carro quando Normani parou de frente ao prédio que eu morei.
Meu pai estava parado conversando com o porteiro como se fossem super amigos e como eu não estava com paciência para esperar, meti a mão na buzina e chamei atenção dos três. Sofia logo despediu e correu até o carro, tomando cuidado para não bater a porta, Normani enchia o saco por isso.
— Está cheirosa. - Sofia deixou um beijo na minha bochecha e repetiu com Normani, se jogando no banco de trás. - Adivinhou que estávamos chegando?
— Mais ou menos.
— Mandei uma mensagem para ela avisando que já estávamos saindo da CCJ e era para ela ficar pronta. - Normani respondeu colocando o carro em movimento, até acelerando um pouco mais. - Eu só não sabia que ela estaria esperando no portão.
— Ainda não me acostumei que a Sofia tem um celular, com nove anos eu brincava na rua.
— Você fala como se fosse velha e o celular novo, mas era o celular da Lauren, a Sofia merece um da loja.
— Nunca vi esse celular cair no chão, bater na parede, ser jogado e ter gotas de água nele, então é novo.
— Não importa, a Sofia está fazendo bom aproveito dele. Não é, Sofi? - Não tivemos resposta. - Certeza que já colocou os fones.
O caminho até a casa da Normani foi bem descontraído, a gente ouvia música enquanto ela me contava sobre Dinah e a mudança dos quartos novamente. Desde quando tudo aconteceu, Dinah mudava os móveis de lugar um mês sim e um mês não. Na verdade ela fazia Normani mudar para ela.
Já fazia três meses que ela não falava de mudar nada, até hoje, mas eu entendia seu lado. O dia de hoje não era uma coisa que gostaríamos de ficar lembrando para ficarmos se martirizando e por isso ela ocupava sua cabeça com os móveis da casa.
Quando Dinah entrou no carro, a primeira coisa que ela fez foi tirar os fones de Sofia e jogar no volante para Normani guardar do seu lado da porta. Toda vez era a mesma coisa, não importava em qual banco Dinah sentada, ela conseguia tirar os fones de Sofia e a fazia conversar. Era nesses momentos que eu fechava os olhos e apreciava a voz que minha irmã tinha, tipo como agora.
— Já falei que não vou, Sofia.
— Vai sim, você já quebrou três fones meus. Qualquer dia a Mani vai tá com o vidro aberto e o fone voa para fora.
— Sabe o que vai voar para fora do carro?
— Não ameaça a minha irmã, Dinah.
— Não estou ameaçando ela e sim o celular. - Claro que sim. - Quem disse que criança tem que ter celular?
— A Camila já deu início sobre esse assunto chato sobre a Sofia ter celular, nem vem, Dinah.
— Você tem que ficar do meu lado, Normani. Até porque você nunca devolve o fone dela enquanto não chegamos.
— Claro, se eu devolver você vai jogar ele para fora do carro, eu estou do lado da Sofia se vocês não perceberam.
— Ridícula.
— Eu também te amo, amor. Já chegamos, abre o portão, Mila.
— Sim, senhora.
Abri o portão e logo já estávamos todas descendo do carro, como eu me sentia cansada de tudo. Sofia se apressou para pegar seu fone de volta, aproveitando que Dinah não poderia correr atrás dela. Duas crianças.
— O de sempre, Sofi. - Avisei quando ela passou correndo por mim. - Não esquece.
— Eu já sei, Kaki.
O de sempre era Sofia subir, arrumar a bagunça que fazia toda sexta de manhã antes de ir para o colégio. No começo da tarde meu pai ou Valentina buscava ela no colégio e por lá ela ficava até domingo de noite. Então ela chegava, arrumava as coisas e ficávamos juntas assistindo algum filme. No entanto, hoje ainda era sábado, mas ela tinha que voltar antes. Ela fazia parte do pedido.
— Vamos nos dividir. Eu pego as coisas de comer, Camila pega as coisas de beber e a Mani arruma o lugar que vamos...
— Não vai ser preciso, já está tudo arrumado, só falta as bebidas. - Alertei as duas assim que entrei na segunda sala, estava tudo perfeito. - Depois eu agradeço a dona Ashley.
— Meu Deus, nos livramos de mais um trabalho. - Dinah falou como se realmente fizesse alguma coisa do tipo, era muito cara de pau. - Só não estou gostando desse silêncio todo, acho que vou subir para ver o motivo. Não estou acostumada com silêncio.
Muito menos eu. Subimos todas até o quarto que ficava do lado do meu no mais completo silêncio, Dinah abriu a porta com cuidado e nos fez derreter. O silêncio estava bem explicado.
— Já podemos começar. - Dinah disse assim que voltamos para sala, esperando Normani voltar da cozinha. - Anda logo com isso, Mani.
— Não acredito que a Lauren nos fez prometer que um dia nos sentaríamos para lembrar de tudo o que aconteceu, ainda mais exigindo que fosse nesse dia. - Tentei convencer aquela cabeça dura, mas não adiantou de nada. - Sério, não acredito.
— Pode acreditar. - Normani apareceu segurando uma enorme jarra de suco e ocupou o último lugar, entre Sofia e Dinah. - Quem começa?
— Eu. - Sofia nos surpreendeu ao tomar a frente, eu nunca me cansaria de agradecer Lauren e Meryl por trazerem ela de volta. - Eu não vou lembrar das coisas que tinha medo porque a Lauren me fez prometer que deixaria tudo para trás. Então eu quero agradecer por tudo o que ela fez por mim, por trazer a Dra. Meryl, por fazer o antigo colégio suspender a Millie e com isso eu tive paz nos meus últimos dias lá. E ainda me levou para conhecer muitos lugares.
— Minha vez. - Normani se ajeitou melhor no chão, soltando o que estava comendo. - A Lauren sempre foi uma pessoa brilhante, sempre vou ser grata por tudo o que ela fez por mim. Desde o dia que Dinah e eu corremos com ela para o hospital até hoje, eu não me canso de agradecer por ela ter colocado as irmãs Cabello nas nossas vidas.
— Tão sentimental essa minha mulher. - Dinah zombou como sempre fazia quando estava de bom humor, não era sempre, talvez uma vez a cada dois meses. - Minha vez. Brigamos muito depois que ela foi até Ribeirão, e fiquem sabendo que me arrependo até hoje. Camila foi a melhor pessoa que Lauren colocou nas nossas vidas e com ela veio a Sofia, essa pirralha me não vivo sem.
— Minha vez? - Perguntei rindo da cara emburrada da Sofia, ela e Dinah nunca perdiam uma oportunidade de zombar da outra. - Okay. Nem em mil anos eu poderia sonhar que a minha vida toda mudaria drasticamente, não só a minha como a da Sofia também. Quando entrei naquele bar, não sabia que sairia com a mulher mais incrível que eu poderia conhecer lá dentro e no mundo todo. Foram meses chorando, meses sorrindo e muitos meses brava.
— Por que brava? - Normani arqueou as sobrancelhas enquanto limpava a boca, chegava até ser engraçado. - Se era por causa das mensagens que eu mandava todo dia, saiba que a culpa era da Dinah que me acordava logo cedo só para fazer isso.
— Não era as suas mensagens, essas eu deixava no silencioso. Fiquei brava com uma coisa que só eu não sabia.
— Não precisa economizar palavras ao invés de falar logo o que descobriu. - Sofia revirou os olhos ficando de pé, mas não saiu da sala. - Vou fingir que não tem suco aqui e vou ir até a cozinha. Seja rápida.
— Menina esperta. - Dinah jogou um beijo para Sofia, fazendo movimentos com as mãos para mandar ela sair e ela saiu. - O que descobriu?
— Lauren pagou todas as dívidas que o meu pai e a Valentina tinham. Tudo sem me contar.
— Lauren sempre foi assim, Mila. - Normani deu os ombros como quem não queria nada. - Sabe que ela faria até mais que isso.
— O problema não foi ela ajudar, foi ela pagar as contas que eles fizeram.
— Seu pai devolve todo... Mês. - Normani terminou de falar e encheu a boca de fruta, eu sabia que tinha o dedo dela no meio. - Issuéboum.
— Por que eu não fico surpresa em saber que você está no meio, Normani? Também tem dedo seu, Dinah?
— Mais ou menos, Mila. Eu não sabia de tudo...
— Claro que sabia, podem começar a contar tudo e para de enfiar comida na boca, Normani. Quero saber de tudo, e não te levar para um hospital porque se engasgou.
— Tudubeim. - Dinah revirou os olhos com Normani ainda falando de boca cheia e eu até poderia achar graça se não estivesse prestes a bater nelas. - Todo dinheiro que você depositava para devolver tudo o que achava que deveria, ele ia para uma conta específica e separada de qualquer outra, seu pai deposita todo mês na mesma conta. O que vocês não sabem, é que essa conta foi aberta para Sofia.
— Sofia? Minha Sofia?
— Sim, sua irmã. Eu mesma abri a conta e todo mês ela recebe o que seu pai manda e uma quantidade para o futuro dela.
— Não acredito... - Se eu queria bater nelas antes, agora eu queria cometer um crime. - Não acredito que fez isso, Normani.
— Pode acreditar. Você é a única que pode retirar dinheiro até a Sofia atingir vinte e um anos. Depois dos vinte e um, você pode estipular quanto ela pode sacar por mês. O futuro dela está feito, Mila. Pelo menos até ela aprender a se virar na vida.
— Eu que tenho que dar um futuro para a minha irmã. Eu trabalho para isso.
— Você também tem uma conta no seu nome, não só uma e sim duas. Sua conta normal e a que abri para mandar dinheiro para você. Tirando a da Sofia, ainda tem mais duas. São cinco contas para você tomar conta, Camila.
— Eu não quero saber de contas, cancela tudo, pega o dinheiro de volta, sei lá. - Me levantei irritada com tudo o que Lauren tinha feito pelas minhas costas, que ódio. - Estou falando sério, Normani. Pega todo esse dinheiro de volta, não quero saber dele.
— Isso é impossível, Camila.
— É só você ir no banco cancelar tudo. Pega o dinheiro para vocês...
— Doação de dinheiro? Também quero. - Sofia voltou com um pedaço de bolo, se sentando em seu lugar com a boca mais suja que da Normani. - Cansei de ficar na cozinha, a Sra. Ashley me fez comer quatro pedaços de bolo.
— Deveria ter trazido para todas. - Me sentei um pouco inquieta, mas Sofia não precisava saber. - Quer falar mais alguma coisa, Sofia?
— Já sei que aconteceu alguma coisa e não é da minha conta, mas não. Não quero falar mais nada.
— Dinah? Normani?
— Vou comer, chega de falar. Me da um pedaço desse bolo, Sofi? - Não sei quem era mais cínica daquelas três, Sofia fingindo que não ouviu nada, Normani pedindo bolo para ela e Dinah rindo como se estivesse drogada. - Garota, já viu o meu tamanho? Não sou um passarinho para comer essa migalha que me deu.
— Fala de uma vez, Camila. Essa sua cara de bunda diz que você ainda quer falar. - Dinah cruzou os braços me olhando, do mesmo jeito que Normani e Sofia fizeram. - Fala de uma vez.
— Naquela noite que voltei, Lauren me falou de uma carta, que depois eu soube que tinha uma para cada uma de vocês. Eu li a minha dentro da banheira para relaxar porque passei horas... Viajando. - Dinah gargalhou feito a escandalosa que ela era e eu provavelmente tinha ficado toda vermelha porque ela me olhava e ria mais. Esperei quase cinco minutos até Sofia enfiar uma maça na boca dela. - Obrigada, Sofia.
— De nada, Kaki.
— Eu li aquela carta várias vezes e acabei acordando a Lauren quando comecei a chorar. Ela se levantou assustada, mas depois chorou quando eu disse que a amava e ela me disse o mesmo. - Sofia sentou no meio das minhas pernas quando comecei a chorar por lembrar daquela madrugada, toda vez que eu lembrava dos nossos eu te amo, era inevitável segurar as lágrimas. - Naquela noite eu demorei para dormir, fiquei um bom tempo olhando ela e não sei em qual momento da madrugada peguei no sono, mas lembro de acordar com ela parada na frente da cama, dizendo que me amava de todos os jeitos, até mesmo dormindo.
Era horrível lembrar daquela manhã.
— Eu não tive tempo de falar que também amava ela de qualquer jeito, ela simplesmente sorriu e caiu para trás. Meu coração gritava que eu ainda não estava perdendo ela porque ainda tínhamos uma semana, não era justo com nenhuma de nós duas...
— Nossa reuniãozinha de descarrego acabou indo por um lado totalmente emocional, já podemos parar porque falta pouco para alagar a casa. - Dinah se levantou secando o rosto, tratando de colocar um sorriso no rosto. - Será que já acordaram?
— Não ouvi nada, mas podem subir para ver. - Não me levantei como Dinah e Normani fizeram, preferi abraçar Sofia por um tempo. Meu grande porto seguro. - Sem fazer barulho vocês duas.
— A escandalosa daqui é a Dinah, fala com ela. Sabe que ela acorda todo mundo só para ficar distribuindo beijos.
Dinah nem se defendeu porque sabia que era verdade. Continuei abraçada com Sofia enquanto as duas iam subindo sem saber se faziam barulho ou subiam em silêncio. Duas loucas.
— Eu gostaria de ter crescido nessa casa. A mamãe teve um bom gosto quando escolheu ela.
— Eu não disse nada, mas sou muito grata pela Lauren ter devolvido a casa da mamãe com melhorias. De tudo o que Lauren me deu, essa casa eu não negaria nunca nessa vida. E você está crescendo ainda. Como agora mora comigo, você vai gostar de continuar crescendo aqui.
— Até hoje eu não acredito que o papai me deixou morar aqui.
— Para a minha alegria, e eu não deixei ele com muitas opções. Vamos subir?
— Vamos.
Eu conseguia ouvir a risada da Lauren em toda a casa, mesmo ela não estando ali comigo. Eu me sentia mais leve por ter colocado aquelas palavras para fora e ter finalmente deixado o passado no passado.
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