Desde pequeno nunca foi surpresa para ninguém que Meliodas Haznedar, primogênito e herdeiro legítimo das ações de seu pai. Sofria de problemas para lidar com suas emoções, a raiva em específico lhe fazia ver tudo vermelho e quando dava-se por si grandes estragos já tinham sido feitos.
Para controlar esses ataques de fúria Meliodas fizera acompanhamento com médicos e aprendeu ainda criança a ser menos explosivo. Quando Elizabeth entrou em sua vida seus ataques diminuíram a quase nulo, o que foi bom e um alívio para todos. Porém, mesmo nos dias de hoje, já com seus vinte e dois anos completos Meliodas ainda não consegue se controlar perfeitamente.
Enfurecido o loiro bate a porta do apartamento assim que entra e o som ecoa pelos cômodos amplos, como um furacão ele passa para ir até seu quarto, mas para confuso em ver seu melhor amigo sentado confortável no sofá jogando fortnite na tevê despreocupadamente.
- Ban! - Meliodas exclama surpreso.
- E aí capitão, beleza?
Mesmo que a fúria ainda agite seu sangue, com seu melhor amigo presente Meliodas se sente pouca coisa mais calmo e se joga na poltrona livre.
- Não cara, não tá' nada bem.
- O que aconteceu?
Meliodas franze o cenho quando Ban desliga o console e olha para si, apesar de tudo sua expressão é serena.
- Pelo visto a cegonha resolveu me presentear. - Sarcástico o Haznedar comenta.
- Engravidou a Ellie?
- Se fosse a Elizabeth eu estaria muito feliz agora.
- Mais que caralho, Meliodas! Não consegue usar a merda de uma camisinha? Quem você engravidou?
- Minha ex, naquele dia depois do bar. Eu tava bêbado e rolou!
Ban que estava pronto para retrucar de repente se torna sério e larga de lado o controle que ainda segurava. Algo não se encaixa em tudo que seu amigo está dizendo.
- Tem um exame dela? Um ultrassom?
- Não, só um HCG que eu nem sei direito o que é.
- Você soube hoje?
- Pela Elizabeth, porque advinha - Meliodas diz raivosamente - a Liz resolveu contar para ela no dia que eu viajei.
Agora tudo faz sentido para Ban. Por isso Elizabeth estava tão ríspida quando ligou para ele dizendo sobre o emprego que poderia ser seu na boate que Meliodas e ela são sócios e irão inaugurar. Elizabeth está desolada por saber da gravidez da ex de seu namorado.
- Você tá com problemas hein.
- Nem me diga. - Desgostoso Meliodas gemeu cobrindo o rosto com o blazer.
- Você tem que ir falar com a Liz, você é o pai não é? Dê suporte, talvez ela precise de algo.
- Eu não quero ver ninguém hoje, vou para o meu quarto e pretendo ficar lá o dia todo.
- Tudo bem. Eu vou para o apartamento da Ellie, tô de visita lá.
Meliodas que já estava no corredor para os dormitórios volta correndo e se encosta no umbral da porta.
- Tenta amansar a fera por favor.
- Eu não, foi você que não conseguiu controlar o pinto. Se vira agora.
Como um gato Ban de levanta do chão e estica-se para só então olhar seu amigo.
- Ela é sua garota, você tem que resolver a merda que fez sozinho. E não digo só com a Ellie, quero dizer com a Liz também.
- Eu sei, eu sei!
- Bom... Eu estou indo.
Quando a porta se fecha e Meliodas se vê sozinho no silêncio ininterrupto do quarto ele resmunga e bate a testa na parede fria.
- Você é um merdinha irresponsável, Meliodas.
(•••)
O cheiro de flores incomodava o nariz sensível de tantas reações alérgicas da caçula dos Liones que tentava não demonstrar que a coriza lhe irritava. Não era um momento propício para reclamar de uma coisa tão insignificante comparado a dor que seu melhor amigo está passando no momento.
Meliodas, seu melhor amigo de apenas doze anos sempre passou a impressão de ser alguém forte e inabalável, para ela é apenas isso, uma impressão, já que o conhece bem o suficiente para saber que emocionalmente ele está quebrado. É o velório de seus pais que acontece, mortos em um acidente de trânsito que só não matou a família toda porque no dia os três meninos ficaram na casa dos Liones, e isso evitou que aquele caminhão desgovernado matasse-os também.
Tentando passar conforto para o loiro, o único filho presente no velório por ser o mais velho e também o único que não queria perder a chance de despedir-se pela última vez. Quieta ela se aproxima e enlaça seus dedos entre os dele, surpreendente a mão de Meliodas está fria e tremendo o suficiente para que ela sinta.
- Eu sinto muito, Meliodas.
Elizabeth o acolhe em um abraço apertado quando o mesmo esconde o rosto entre seus cabelos e pescoço, ela afaga duas costas e sente seu coração quebrar em pedacinhos quando, com a voz fanha e rouca do choro o loiro murmura:
- Não me abandone Elizabeth, você e meus irmãos são a única família que eu tenho. Não posso perder vocês também.
- Você não vai me perder, jamais. Entendeu?
(•••)
Trêmula e com o choro entalado na garganta Elizabeth se senta no sofá da sala e esfrega suas bochechas úmidas pelas lágrimas. Fazia anos que ela não sonhava com esse dia, com o enterro dos pais de Meliodas e principalmente com a promessa que tinha feito para com ele.
O momento de fraqueza logo é substituído pela raiva de saber que ele lhe fizera juras vazias de amor sendo que tivera uma recaída com sua ex.
Como ele pôde ser tão dissimulado a este ponto?
Hoje faz cinco dias desde a última vez que Elizabeth viu Liz, o dia também que soube que ela está esperando o primogênito de Meliodas. Cinco dias que Elizabeth tem levado tudo a ferro e fogo por estar com o coração partido e sentindo-se trocada. Não é justo, por que Liz sempre toma as coisas que por direito é seu?
Namorou o loiro e decidiu trocá-lo por um intercâmbio, depois quando tudo estava se ajustando e Elizabeth pensou que poderia ser feliz, Liz surgiu do nada e agora carrega o bebê de Meliodas.
Irritada e exausta de tudo Elizabeth vai para o banheiro do seu quarto e toma um longo banho. A inauguração da boate é hoje e como sócia ela deve estar lá para garantir que tudo sairá nos conformes.
Uma hora depois a Liones se olha no espelho e sorri de lado mal reconhecendo-se no reflexo. O vestido vermelho fogo realça sua palidez e o decote apenas deixa mais evidente seus seios, a maquiagem esfumaçada realça as orbes azuis intensas e ela dá as costas indo calçar os saltos.
Quando Elizabeth chega na boate, Diane e Elaine esperam-na em uma fila gigantesca de pessoas eufóricas para entrar e aproveitar a noite da melhor forma possível, com música e álcool.
- Você está maravilhosa! - Elaine diz embasbacada quando a albina de aproxima e Diane concorda.
- Eu pegaria facilmente.
- Vamos - Rindo Elizabeth passa pelos seguranças e empurra as portas do estabelecimento.
A música alta preenche seus ouvidos e andando entre o aglomerado de pessoas que esperavam para ser atendidos no bar Elizabeth aponta para o interior da boate.
- Espero que gostem, deu um trabalhão fazer tudo.
- A última coisa que os clientes vão pensar é na decoração impecável. - Diane comenta. - Os baristas são gatos e a bebida é bom assim como a música, tá perfeito.
- Falando nisso, vamos beber!
- Mas não muito, amanhã eu volto a trabalhar.
Diane faz careta de brincadeira e em seguida puxa suas amigas para irem até o bar, no caminho Elizabeth vê com clareza Meliodas chegar acompanhado por seus irmãos e ele diz alguma coisa para os dois antes de se embrenhar entre os clientes.
[•••]
Mental e fisicamente exausta Elizabeth apóia o quadril na mesa do escritório no primeiro andar da boate e solta o ar ruidosamente. A sala é abafada por acústico e graças a isso nenhum som do térreo infiltra no cômodo silencioso, perdida em seus pensamentos a albina balança levemente a taça de Martini que está bebendo, é a quarta e até o momento o álcool ainda não fizera o efeito e provavelmente não fazerá.
Resmungando coisas ininteligíveis Elizabeth dá um longo gole sentindo o álcool descer aquecendo a garganta e olha por cima do ombro quando a porta de abre.
- Ótimo - ela faz careta e deixa a taça sobre a mesa para conseguir cruzar os braços.
- Eu preciso falar com você, Elizabeth.
- Pode ser outro dia? Estou tentando ficar bêbada agora.
Meliodas franze o cenho e pega a taça que ela deixara sobre a mesa, sem pestanejar ele joga a bebida no lixo e devolve a taça rasa e vazia para o local onde estava.
- Não, você está me evitando então vamos ter que conversar aqui e agora.
- Tudo bem.
Respirando fundo Elizabeth se senta na cadeira do escritório e descalça os saltos, sua expressão é relaxada e ela aponta para que Meliodas se sente à mesa, mas contrariando-a ele dá a volta e apóia o corpo no móvel, frente a frente com a albina.
- Eu sinto muito, deveria ter te contato que eu dormi com a Liz... - Meliodas ergue a mão quando Elizabeth está pronta para dizer algo e continua - Foi um momento conturbado e eu não lembro de nada.
- Eu realmente não ligo para suas explicações, Meliodas. Você engravidou ela, meus parabéns agora curta a sua responsabilidade.
- Ellie eu...
- Guarde suas mentiras, não quero saber mais nada! - As íris azuis brilham e Meliodas joga as mãos para cima, em um gesto sem paciência.
- Por que você simplesmente não me escuta?!
- Porque é simples - Elizabeth se levanta da cadeira e se afasta do loiro - eu estou cansada de acreditar em você e no fim ser enganada ou ser a última a saber de uma coisa muito importante!
- Elizabeth, eu não sabia sobre a gravidez dela!
Pela primeira vez na noite a Liones se vira e caminha até estar pressionando seu corpo contra o de Meliodas, que surpreso leva a destra até seu quadril mantendo o contato corporal entre eles.
- Eu estou cansada de ser usada... Cansada de ver a Liz roubando minha felicidade.
Ela sussurra quase inaudível e bate o punho no peito do loiro.
- Eu odeio você, Meliodas!
Ele sorri de lado desconcertado pela posição em que estão e com o coração batendo forte no peito.
- Mas eu amo você, Elizabeth.
Ela ergue o punho para novamente bater no Haznedar, porém para e solta o ar em uma lufada.
- Eu odeio você...
- Está tentando me convencer ou se convencer, Ellie? - Meliodas pergunta segurando o riso e ela grunhe afastando-se repentinamente e Meliodas sente falta de sentir o corpo dela contra o seu.
- Saía! - A Liones aponta para a porta - Eu não quero ver você aqui.
- A boate é minha também.
Elizabeth arqueia as sobrancelhas e se curva pegando os saltos do chão.
- Então eu vou.
Desesperado para não deixá-la ir Meliodas lhe segura pelos quadris e murmura:
- Por favor, vamos resolver as coisas como adultos, Elizabeth.
Amaldiçoando-o a Liones se recorda do sonho que tivera mais cedo sobre a promessa de nunca deixá-lo e respira fundo fechando os olhos.
- Me solta e então eu fico.
Imediatamente as mãos esguias deixam-na e Elizabeth sente falta da caloria das palmas irradiando em sua pele.
- Agora quero que me diga sobre a noite que você teve a recaída com a Liz.
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