Aurora Grace.
Texas, Dallas.
10:54 a.m, 26/09/2015.
As pessoas me olhavam estranho quando me viam correndo pela calçada desesperada por um táxi. O segurança de Justin não estava me esperando na frente da cafeteria, e eu obviamente não o esperaria para chegar ao hospital. Nos quinze minutos de percurso, eu recebi três ligações de Scooter, que estava no jatinho voltando para o Texas. Ele estava ficando muito insuportável, e eu não estou brincando. Não pelo fato das ligações, mas sim pelas coisas que ele dizia, como dizia e o que fazia. Não sei se é apenas comigo, mas ele estava sendo ignorante, mal humorado e me respondia seco. Maldito.
Eu praticamente tive que empurrar forte meu corpo contra os paparazzis que estavam na frente do hospital. Eles foram desrespeitosos e inconvenientes, mas eu apenas segui procurando o Justin. Isso me rendeu uma baita dor de cabeça, porque o pessoal do hospital não queria me dar autorização para vê-lo, e não acreditaram quando eu disse que era a médica dele, talvez pensassem que eu fosse uma fã louca e descontrolada. Perto das onze e meia, eu consegui vê-lo, mas Justin não estava acordado. Ele respirava pesado com a ajuda de uma máscara de oxigênio, e estava deitado no quarto escuro e gelado do décimo andar. Suas pálpebras estavam escuras, e ele aparentava estar bastante cansado. Eu recebi toda a ficha dele quando cheguei, e descobri que o motivo para ele ter desmaiado foi por conta de uma insuficiência respiratória.
Ele só veio despertar depois de uma agoniante hora. Justin não conversou comigo, ele apenas abriu os olhos e me encarou para dizer que estava acordado, e mal. Qualquer um percebia isso. E isso me desesperava internamente, porque ele estava “bem” há umas horas atrás. Perguntei se Justin precisava de alguma coisa, se queria comer ou merda qualquer, mas ele apenas negou. Scooter chegaria em menos em uma hora, pelo o que ele disse por mensagens, e eu aproveitei para me sentar na cadeira ao lado da cama e segurei a mão de Justin. Eu tinha pedido para que aplicassem codeína nele, e por isso as dores tinham diminuído.
— Você realmente acha que aquelas sessões de quimioterapia fizeram efeito? - ele pergunta fraco e abafado ainda com a máscara.
Eu não respondo. Talvez cause desespero em nós dois. Você não pode se desesperar sendo médico, sua parte racional para de funcionar caso isso aconteça. E eu tinha quase certeza sobre saber o motivo de ter feito Justin ficar assim, mas eu precisava das tomografias para confirmar.
Algo bem errado aconteceu durante esse mês, e eu omiti uma informação sobre o câncer de Justin. O que tinha acontecido, era que por ter dois nódulos em seu pulmão direito, eu acabei descobrindo que aquilo não tinha aparecido em menos de três meses. Aquilo com certeza tinha mais de cinco meses, mas eu me neguei a falar isso, e é algo que me atormenta até hoje. Eu não queria que Justin achasse que por conta disso, ele não tinha chance de cura, porque ele tinha. Se ele fizesse a quimio direitinho, tudo ocorreria bem. Pelo menos ao meu ver. E toda essa situação de agora me deixava irritada e preocupada, essa merda de doença não pode ter avançado. Ela não pode, mas eu tinha quase certeza que tinha. O que realmente tinha causado a insuficiência, foi o maldito câncer, que estreitou as vias respiratórias. O tumor provavelmente tinha crescido na parede torácica, e isso explicava as dores persistentes e fortes que ele vinha tendo. Grandes quantidades de líquido das células cancerosas levam à falta de ar, e isso é mais um motivo para as faltas de ar que Justin vinha tendo, ou seja, o seu pulmão direito deve estar com uma quantidade significativa desse líquido. Tudo indicava que o câncer estava no estágio II, ou quase. Mas eu ainda precisava de uma tomografia, dizem que a esperança é a última que morre.
— O que foi? - a voz arrastada de Justin diz em meio ao silêncio. - Está calculando quanto tempo eu tenho de vida? - debocha.
— Péssima hora para fazer brincadeiras, Justin. - digo séria.
Scooter já deveria ter chegado.
— Eu não estou brincando. Eu achei que você estava mesmo calculando isso. - ele diz sério. Ele tem a respiração regulada agora, e tira a máscara para falar.
— Seu empresário disse que postaria algo ontem sobre você, e não postou. - mudo de assunto.
— Ele gosta de fugir dos problemas. - cospe.
— O que acha de você postar algo? - sugiro e ele me olha atento. - Um vídeo, esclarecendo tudo.
— Hoje? E gravar o vídeo aqui?
— O cenário não é muito agradável. - entorto a boca. - Mas nós podemos tentar, e qualquer coisa descartamos a ideia.
— Talvez ele fique irritado. - Justin bufa. - Mas tudo bem, as pessoas precisam mesmo saber o que está acontecendo, e se depender do meu empresário problemático isso nunca vai acontecer.
Nós passamos meia hora para gravar o vídeo, metade do tempo foi o nervosismo de Justin que tinha atrapalhado. Ele ficava a toda hora pensando em como suas protegidas reagiriam ao ver a gravação, e o que ele diria para não causar um desespero infernal. Ele tinha se saído bem, falou exatos cinco minutos e encerrou com um “eu amo vocês”. Justin aparentou estar calmo, quando na verdade não estava, e foi bem objetivo, explicando o que tinha, quando tinha descoberto, o porquê de não ter falado antes e alguns outros questionamentos. Eu gravei, enquanto ele estava sentado na cama do hospital, com uma cara de sono e lábios ressecados.
— Você acha que elas vão surtar? - ele pergunta preocupado entrando no Youtube pelo celular. Justin postaria o vídeo na sua conta “kidrauhl”.
— Noventa por cento de certeza. - digo sincera. - Mas elas te enviarão energias positivas que irão te ajudar.
Justin assente, e nós conversamos por dez minutos antes de Scooter chegar. Quando ele viu Justin, logo suavizou sua cara irritada, e finalmente abriu os olhos para a realidade, percebendo que seu astro não estava bem. Eu não sei como o Justin pode ter mudado tanto das oito da manhã para às doze, ele não estava dessa maneira.
Scooter ficou um pouco chateado e irritado quando dissemos sobre o vídeo, mas ele suspirou e disse que tudo bem. Fizemos certo. Justin disse que desmaiou no campo de golf, no meio do campeonato, e depois disse não lembrar de nada. Eles gravaram vídeos, Scooter me mostrava pelo celular dele, e em um deles eu vi o corpo de Justin caído na grama, com várias pessoas ao redor, ele estava desacordado. Alguém balançava o corpo dele, para que Justin acordasse, e outro alguém dizia para deixá-lo lá, o socorro já estava vindo. Depois, ele me mostrou os sites comentando em disparada sobre o vídeo que postamos há pouco tempo, e como as redes sociais estavam agitadas com a notícia. Alguns comentários são desumanos, outros tristes demais, e outros apenas passavam apoio. As pessoas conseguem ser más quando querem.
Um enfermeiro adentrou no quarto perto de doze e meia, e disse que nós já poderíamos ir preparando Justin para a tomografia. Eu não faria o exame dessa vez, apenas olharia o resultado e diria algo para eles, e esses só sairiam depois de uma hora. O que me irritava, era o olhar de pena que as pessoas dos corredores lançavam para ele. Não sei se Justin percebeu, mas se sim, deve ter ficado constrangido, porque ele abaixou a cabeça enquanto carregavam ela na cadeira de rodas. Eu fiquei do lado de fora da sala, e me deixava com uma péssima sensação não poder estar lá dentro. Justin saiu, e nós já estávamos no quarto novamente. Scooter aproveitou para ir na lanchonete do hospital, e foi pegar algo para comer. Eu não estava com fome, e a comida de Justin só chegaria às uma e meia da tarde. Enquanto isso, nós ficamos conversando.
— Você mantém contato com eles?
— Apenas com Ryan. - ele diz cansado. - Christian anda estudando ultimamente, então fica difícil, e Chaz eu não sei. Ele deve estar ocupado demais tentando construir uma família.
— Ah… E você? Pensa em construir uma família?
— Pensava. - ele ri sem graça. - Não estou em condições para cogitar a ideia de ter filhos.
Ofereço a máscara ao notar sua respiração ofegante, mas ele nega.
— E você?
— Não sei. Talvez eu tenha meu primeiro filho com vinte e sete, eu acho. - digo.
— Vai ser engraçado se com doze anos o seu filho for maior que você. - zomba enrugando o nariz.
— Ele não vai ser, bobinho. - dou língua negando. - Você fala da minha altura como se fosse um jogador de basquete, não é? As pessoas te chamam de baixinho também, idiota.
— Não, não chamam.
— Eu leio as coisas que elas falam sobre você, Justin. E sim, elas chamam. - digo rindo. - Inclusive, você é um bolinho.
— O que?
— Isso significa que você é fofo. - bufo. - Você por acaso entra nas suas redes sociais?
— Vez ou outra no Instagram, mas não leio os comentários. - ele bufa. - E eu não sou fofo. Sou um cara fodidamente sexy e muito gostoso.
Franzo o cenho e gargalho. O que tinha demais em ser fofo?
— Você pode ser os três ao mesmo tempo, talvez. - dou de ombros.
Justin começou a me falar sobre a sua vida no mundo da fama, e eu fiquei surpresa por ele ter aguentado toda a pressão durante esses anos. Muitas pessoas não aguentariam, e algo me faz pensar por alguns minutos. Justin já me disse que teve depressão há alguns anos atrás, mas será que ele já pensou em suicídio? Eu já vi casos de famosos desse tipo.
— Você já pensou em suicídio? - pergunto rápido.
— O que?
— Você, Justin, alguma vez já pensou em suicídio? - repito. - A pressão às vezes te faz perder a cabeça, e você já me disse que teve depressão.
Ele me olha atento, e hesita em me contar a verdade. Não tinha pra que esconder.
— Sendo sincero? Já. - respira fundo umedecendo os lábios. - Eu sei que não fui o único, muitos já pensaram e fizeram, mas eu nunca cheguei ao ponto de perder a cabeça completamente para ter a coragem de me matar. Eu sempre respirava fundo, e uma das coisas que me fazia permanecer sem coragem, eram elas. Você sabe, eu sempre penso no que vou causar à minhas fãs quando faço algo. Quando isso não resolvia, eu ligava para a minha mãe, ela sempre me acalmava, e isso sempre funcionava. Em todas as minhas recaídas eu ligava para ela. Todas. Isso não acontecia diariamente, mas não demorava muito. As pessoas me pressionando e me seguindo, me sufocavam. Eu ficava sem saída. E na minha cabeça, era como se eu olhasse para todos os lados procurando alguma ajuda, e só encontrasse câmeras e vozes histéricas gritando o meu nome. Isso é desesperador.
— Ainda tem recaídas?
— Você nunca vai estar curado da depressão. E eu tento ao máximo me manter sã, mas tem vezes que eu perco o controle e não dá pra evitar. Mas não é como se em todas as minhas recaídas eu pensasse em suicídio, entendeu? Na verdade, eu não penso nisso desde que me batizei no início desse ano. Isso me ajudou bastante, mais que os remédios.
— Ainda toma?
— Quando eu sinto que estou ficando depressivo, sim.
Isso era algo que eu realmente não fazia ideia.
— Entendi… Eu não sabia de exatamente nada disso. E obrigada por me contar. - sorrio me levantando da cadeira. - Eu sempre estarei aqui caso precise. - aviso com um abraço e um beijo.
— Eu sei que vai.
Não demora para que Scooter chegue, e logo depois uma enfermeira me entregando o resultado da tomografia. Eu decidi esperar Justin comer o seu almoço, para depois abrir os exames. Admito, eu estava nervosa, provavelmente mais que Scooter, mas eu disfarço e abro a pasta com os papéis. Nelas estão fotos computadorizadas dos pulmões de Justin. Eu desejaria que eles tivessem trocado o paciente agora, mas eu tenho certeza que é de Justin quando vejo seu nome em branco no canto da foto.
— E então?
— Você conseguiu dois novos tumores no seu pulmão esquerdo.
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