Passaram duas semanas desde nosso encontro. Fiquei horas no flat pensando nela. Falei com Nick se ele a tinha deixado em casa e ele confirmou.
Encontraram com Zelena na chegada. Ele a ouviu dizer algo sobre uma falta de segurança no prédio devido à porta de entrada estar quebrada. Eu havia notado isso quando estive lá a primeira vez. Ele disse ainda que ela insistiu em devolver meu paletó, mas que ele a orientou a ficar com ele, como cortesia. Tudo bem.
Tenho muitos outros.
Pedi a Nick que cuidasse pessoalmente do problema de segurança no portão no dia seguinte. Pelo que ele me disse o zelador é muito relapso e só se importa com os alugueis, não dando a mínima para a segurança e conforto dos seus inquilinos.
Naquela noite depois do flat, cheguei tarde novamente e não encontrei Alice acordada. Como estava em férias de verão constantemente fica irritada de ter que ficar apenas com a babá. Claro que ela estava furiosa de manhã cedo, mas fiz suas panquecas e tudo ficou bem. Vou levá-la amanhã ao zoológico, conforme prometi a duas semanas. Estou devendo isso a ela.
Hoje, Nick me informou que as duas haviam mudado de apartamento.
Não que eu fosse uma maldita controladora e estivesse vigiando seus passos, mas ainda me sinto responsável por ela. Eu não sei exatamente de onde vem esse desejo de protegê-la.
Conforta-me saber que ela está em lugar mais tranquilo e menos perigoso. Nick me passou o endereço e lutei internamente entre ir até lá ou me manter a distância, embora a cada dia ela penetre mais e mais em meus pensamentos. Para meu próprio bem resolvo manter distância.
Deixei Sam de plantão no prédio de Regina, desde ontem à noite, mas não na porta do apartamento, e sim ao redor do prédio, onde ele pudesse observá-la ao sair de casa. Pelo menos por enquanto, apenas para ter certeza de que tudo ficará bem. Afinal agora ela e Zelena estão em uma moradia um pouco mais segura e não posso usar isso como desculpa, como anteriormente. Apenas por mais alguns dias, só para saber como é sua rotina e que não colocará sua vida em risco novamente. Eu prefiro acreditar que é isso e não uma obsessão com essa mulher na qual não me deixa trabalhar ou me concentrar direito.
Ela não voltou ao clube, graças a Deus. Hoje ela foi retirar seus documentos após a mudança, uma vez que foram roubados e esteve em um restaurante elegante ao ontem à noite, Saveur Supreme, onde costumo ir de vez em quando. Segundo Sam, ela não estava acompanhada e ficou pouco tempo.
O que será que foi fazer lá? Infelizmente, Sam teve que sair para atender a um chamado de sua esposa. Parece que a filha está doente e ele não chegou a entrar no restaurante. Voltou pouco tempo depois e Regina já havia saído.
Detesto incompetência, mas não pude fazer nada. Tinha que considerar que a filha encontra-se doente e esperando por ele. Se fosse Alice e eu fosse uma empregada, teria feito o mesmo. Apesar de ele ter me avisado, fiquei enfurecida, pois não tive tempo de enviar alguém em seu lugar.
Decido dispensar Sam ainda hoje e eu mesmo ficar e fazer a vigília.
Não há razão para manter meus empregados vigiando-a quando não pretendo vê-la mais. Não devo e não quero fazer disso uma obsessão.
Mas apesar de meus esforços não consigo esquecê-la, não consigo esquecer seu perfume, seus lábios, aqueles cabelos macios.
Com muito esforço volto minha atenção ao contrato importante que tenho com um grupo japonês. Ouço uma batida na porta e respondo com impaciência, pedi para não ser incomodada. Rose entra com uma embalagem de terno em sua mão.
— Desculpe Sra. Swan, sei que pediu para não ser incomodada, mas uma jovem deixou isso na recepção.
— Uma jovem? — meu coração salta no peito. Ela está aqui? Como ela é? — pergunto ansiosamente.
— Eu não sei senhora, mas posso perguntar?— ela diz apreensiva pelo deslize de não ter se informado antes.
— Ela está lá embaixo? — pergunto bruscamente. — Porque não a mandaram subir?
Vejo que Rose fica nervosa com meu tom de voz e tento me acalmar.
Afinal meus empregados só estão fazendo seu trabalho. Se eu tivesse que atender todas as pessoas que me procuram sem hora marcada não faria mais nada na vida. Todos os dias aparecem jovens inventores, recém-formados, estagiários, repórteres ou mesmo garotas atrás de umas das CEOs mais importantes do país.
Então é absolutamente normal que a segurança seja rigorosa.
— Apenas deixou isso e foi embora, Sra. Swan — ela explica. — Ela também pediu que entregasse isso a senhora.
Rose me estende um papel dobrado.
Intrigada eu peço que ela se aproxime para que eu possa analisar a embalagem. Era o que eu temia. Meu terno perfeitamente embalado.
Agradeço Rose e a dispenso. Olha para nota em minha mão como se fosse uma bomba prestes a explodir em meu rosto. Pareço uma adolescente cuja ex-namorada devolve os presentes.
Sra. Swan.
Eu estou extremamente agradecida pela sua gentileza na outra noite.
Manteve-me protegida e aquecida ao me emprestar seu terno. No entanto, não posso ficar com ele. Tive o cuidado de mandar lavar e passar. Espero eu que tenha feito de forma correta
Regina Mills.
Não posso negar que estou extremamente desapontada. Passei horas imaginando-a vestindo meu terno. Muitas vezes imaginei-a completamente nua dentro dele. Queria que tivesse algo para se lembrar de mim, que tivesse meu cheiro. Deixo a embalagem pendurada no meu cabide de ternos perto da minha mesa e saio da sala.
— Rose?
— Sim, Sra. Swan — ela levanta e me encara prestativa.
— Ligue para a melhor floricultura da cidade — ordeno enquanto pego um pedaço de papel para anotar o endereço — Encomende uma dúzia de rosas amarelas.
Poderia mandar rosas vermelhas, mas são muito comuns, as rosas amarelas têm outro significado para mim. Significam amor, respeito, alegria, amizade e desejo. Além disso, essa cor indica certa malícia. Se a pessoa a oferece a outra que não é muito próxima, indica que tem segundas intenções.
Ademais, as rosas trarão perfume e luz.
Entrego o endereço e ela parece surpresa. Nunca mandei rosas para ninguém antes, nem mesmo para minha teórica esposa. Nem mesmo em datas comemorativas como seu aniversário, aniversário de casamento ou dia dos namorados. Definitivamente são datas que não tenho a menor pretensão de comemorar. Bem, a não ser que fosse com Regina. Viro-me para retornar a minha sala e antes que eu possa entrar Rose me chama eufórica.
— Sra. Swan! Algum cartão ou alguma nota? — ela questiona apreensiva.
— Apenas as rosas — digo e fecho a porta da sala.
Estou em frente ao prédio dela observando. Fico com carro estacionado olhando para ver se a sorte está comigo e eu possa vê-la entrar ou sair. Após quase uma hora vejo o quão ridícula estou sendo e resolvo ir embora. Não sem antes ter aquela sensação de que perdi algo.
Como já havia decidido mais cedo, dispensei Sam por hoje e também durante esse fim de semana, pois quero que ele fique perto da filha doente.
Parece que não é nada grave, mas acho importante a presença paterna em momentos como esse. Talvez porque meu pai tenha sido um pai “presenteausente” ou por eu ser uma espécie de “ mãe solteira”. Meu pai sempre estava em casa, viajava pouco, mas não quer dizer que ele estivesse disponível. Bem, não
para mim, pelo menos. Ele tinha verdadeira adoração por Elsa, minha irmã gêmea. Quem não tinha? Elsa sabia como ninguém tornar-se adorável quando pretendia. Eu a odiava e admirava ao mesmo tempo. Elsa era ótima em manipular as pessoas. Mas aos poucos fui descobrindo seu verdadeiro eu, na verdade acho que sempre soube, mas assim como meus pais me deixei enganar por algum tempo. .
A Elsa real era fria, dissimulada e perversa. Fazia mal pelo simples prazer de magoar alguém. Despois fazia com que as pessoas acreditassem que a culpa fosse delas. Se eu parar para pensar em todas as coisas terríveis que ela fez passaria dias fazendo isso. Como duas pessoas, nascidas no mesmo ventre, praticamente na mesma hora, criadas pelos mesmos pais, podem ser completamente diferentes?
Eu me sentia inferior e fazia de tudo para agradá-la, para agradar meus e ter sua atenção, mas a dela era mais importante, sempre. Eu queria ser como ela. Apesar de sermos gêmeas univitelinas e as pessoas nos confundirem frequentemente, Elsa tinha alguma coisa especial. Ela chamava a atenção das mulheres e dos homens, coisa que eu não conseguia. Era galanteadora e sensual. As mulheres caíam aos seus pés. Achavam-na o máximo dentre os meros mortais na Terra, inclusive eu. E eu ficava sempre de escanteio, com as migalhas. Isso fazia com que eu me sentisse péssima, inferior, indigna.
Ela me levava aos seus encontros, às vezes, só para que eu a observasse, como um voyeur. Lembro-me dela dizendo:
—“Vamos lá, Emma! Deixa eu te mostrar como se faz! Veja se dessa vez você aprende!”
E eu ia. Ficava horas vendo-a trepar com os piores tipos de mulheres. Digo trepar por que Elsa trepava, não fazia amor ou sexo normal. Ela era bruta e muitas vezes, cruel.
Gostava de usar brinquedinhos como ela chamava as bizarrices que ela usava para o que fazia. A primeira vez que eu a vi fazendo esse tipo de coisa fiquei estarrecida. Ela punia as mulheres, causava dor a elas, batia ou espancava.
Nessa primeira vez por pouco não saí do meu esconderijo e fui até ela para que parasse com aquilo. Mas o que me chocou ainda mais era que a mulher que estava gostando da dor que ela infligia a ela.
No começo os jogos pareciam fascinantes, mas depois de um tempo aquilo não me satisfazia mais, eu me sentia enojada. É certo que houve um motivo especial para aquilo, mas não quero pensar nisso agora. Não quero pensar em Elsa ou em suas crueldades.
Ela era completamente sádica e maluca, hoje entendo isso. E essa consciência faz com que eu me sinta uma merda. Como um dia eu pude querer ser parecida com ela? Mesmo diante de toda a merda que eu a vi fazer, como quando nós tínhamos apenas oito anos e ela decidiu afogar meu cachorro, pelo simples prazer de me punir. Ela sempre foi mal, desde pequena. E ninguém conseguia ver isso. Quer dizer, quando caímos na real foi tarde demais.
Mas isso é passado. Não quero trazer à tona essas lembranças sombrias.
Preciso de algum tipo de diversão hoje. Talvez telefone para Fiona. Com certeza ela me dará prazer, nem que seja apenas para eu esquecer a merda que eu sou.
Não foi uma boa ideia ligar para Fiona. Ela falou por horas e eu não me lembro de nada do que disse. Na verdade achei sua presença irritante. Nem cheguei a tocá-la, sexo então, nem pensar. Inventei uma desculpa qualquer e fui pra casa.
Mais uma vez chego tarde. Alice vai ficar irritada mais uma vez. Mas amanhã iremos ao zoológico. Pretendo dar um bom dia de diversão a ela e sinceramente, a mim também. Subo as escadas e vou direto ao seu quarto. Ela
dorme tranquilamente agarrada em seu ursinho favorito. Cubro-a, ajeito seu braço que está para fora da cama e dou um beijo suave em sua testa.
— Ninguém nunca vai te machucar, Alice — sussurro. – Eu não vou permitir.
Em vez de seguir para o meu quarto, como de costume, decido descer e me servir de um drinque. Tive um dia de merda, com lembranças que pretendo esquecer, sem contar inúmeros problemas na empresa. Ainda não descobri quem está por trás do roubo do meu principal projeto e isso está me deixando louca.
Chego à sala e jogo meu terno no sofá. Sigo para o bar e me sirvo de duas doses de uísque e ligo para Graham.
— Graham, sou eu.
— Hei cara! O que manda de bom? Espero que não tenha encontrado outra encrenca na noite!
— Graham eu vou ignorar seu sarcasmo. Você deve estar muito seguro de si para me tratar de forma tão insolente! — digo irritada.
— Ok... Desculpe Emma. Não quis ofendê-la — diz resignado.
— Escuta Graham, não tenho tempo pro seu papo furado agora. Quero saber se você tem notícias. Você esteve na minha empresa há vários dias e até agora não se manifestou novamente. Quero saber se você encontrou o que eu te pedi.
— Bem, Emma, você sabe que não é muito fácil, considerando...
— Chega de papo furado, Graham — digo cortando-o. Inspiro profundamente. – Olha, sei que você é meu amigo, mas eu te pago uma pequena fortuna para você resolver esse meu problema. Sei que não é fácil, mas pedi isso por que você é o melhor. Você é a única pessoa que eu posso confiar esse problema e espero sinceramente que você me ajude. Mas não estou gostando do rumo que as coisas estão tomando. Não gosto de ficar no escuro, Graham.
— Eu sei Emma, peço desculpas por isso. Mas ainda não consegui descobrir muita coisa e não quero trazer informações fragmentadas e desconectas.
— Certo. Mas façamos o seguinte. Quero relatórios semanais de seus avanços. Tudo que você puder me passar. Fotos, vídeos e tudo o mais que você conseguir. Quero os fios de cabelo se for possível. Você entendeu Graham? — digo firmemente.
— Sim, Emma. Claro.
— Ótimo. Ligo para você depois. —desligo.
Graham é meu amigo há muitos anos. Eu o conheci na escola, quando tinha uns dez anos, mais ou menos. Fomos grandes amigos por muito tempo, somos ainda. Depois nos separamos na adolescência ele foi com a mãe e a irmã para Inglaterra e estudou direito em Oxford. Cheguei há passar um tempo por lá, mas acabei voltando para os Estados Unidos onde estudei Ciência da Computação na Universidade de Columbia em NY e fiz uma especialização em Gestão na mesma Universidade. Há alguns anos atrás ele retornou e entrou para o FBI. Não durou muito tempo por lá, assim como a advocacia.
Graham é astuto e curioso, gosta de aprender coisas novas e de aventuras.
Quando percebeu que o FBI não daria o que ele queria, decidiu exercer a advocacia. Claro, isso dá mais dinheiro, mas tem muito menos emoção. Não durou nem um ano. Então decidiu abrir um escritório de investigação particular e é isso que ele tem feito por enquanto. Rende um bom dinheiro, ainda mais considerando que eu sou uma dos seus principais clientes e traz a emoção que ele deseja para si mesmo. Foi ele também que enviou Nick, que é um excelente segurança.
Embora não possa negar que já estou muito perto do meu objetivo e claro que se não fosse por ele estaria muito longe, eu preciso de resultados imediatamente. E preciso o quanto antes.
Inferno! Simplesmente odeio quando as coisas não podem ser resolvidas por mim. Depender dos outros é um verdadeiro martírio. Mas por ora não há nada que eu possa fazer, exceto exercitar a pouca paciência que ainda me resta.
Sirvo-me de mais duas doses de uísque e me jogo no sofá. O dia de hoje foi um tormento sem fim. Reuniões, problemas, pensamentos sombrios e a maldita Regina que não sai da minha cabeça, além de ter devolvido meu terno.
Não consigo tirá-la dos meus pensamentos por mais de cinco minutos e isso nunca me aconteceu. Estou em um verdadeiro impasse, pois não sei se vou atrás dela ou se a esqueço de vez. Como vou esquecê-la? Meus lábios ainda formigam com aquele último beijo. Tenho certeza que ela sentiu a mesma coisa que eu, mas ao mesmo tempo não posso afirmar isso. Não consegui fazer nenhuma leitura a respeito dos seus sentimentos e também não descobri nada sobre ela.
Simplesmente fiquei tão enfeitiçada que meu maldito cérebro apagou. Merda!
Perdi uma boa oportunidade e agi como uma verdadeira pateta adolescente, mal conseguia falar qualquer coisa. É isso que ela faz comigo, me deixa enfeitiçada, abobalhada e eu simplesmente não consigo raciocinar direito.
Ela ficou decepcionada por eu ser casada. Eu vi sua tristeza. Reflete a minha. Eu também estou irritada com isso. Ainda mais com a víbora com quem me casei e nem sequer é um casamento de verdade. Como eu posso explicar isso à Regina? Nem saberia por onde começar a explicar tanta merda junta.
Também não sei se devo contar qualquer coisa. Estou agindo como se ela fosse minha E ainda enviei rosas. Inferno! O que ela vai achar disso?
Independente de tudo eu estou amarrada teoricamente a minha falsa esposa e não posso ter Regina por causa disso. Preciso acabar com essa merda toda e já demorei muito para fazer isso. No entanto tenho que esperar, pra variar.
Não tenho como fazer isso agora. Não até Lily sair da clínica.
Estou exausta. Preciso de um longo banho e cama. O uísque começou a fazer efeito. Amanhã pretendo levar Alice pra se divertir e não quero estar de ressaca. Levanto e vou até a cozinha para tomar um copo d’água. Deixo o copo vazio na pia, subo as escadas como se estivesse levando o mundo nos ombros e sigo para o meu quarto.
Entro e acendo a luz e é quando ouço aquela maldita voz.
— Olá! — ela ronrona.
— Lily?
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