Regina
A primeira reação que tive foi saltar na cama como uma leoa assustada, fazendo um escudo entre mim e os meus filhos. Meu coração bate tão acelerado em meu peito que chega doer de tão comprimido que o sinto. Eu consigo visualizar cinco homens, talvez mais.
Dois deles com armas apontadas para mim, como se eu fosse algum tipo de terrorista.
Por Deus, eu sou apenas uma mãe tentando proteger seus filhos.
Estou paralisada com a dúvida entre encarar o homem com olhar hostil que me deu voz de prisão e o bebê que grita desesperadamente atrás de mim.
Pego o corpinho trêmulo prendendo-o forte contra o meu peito. Aos poucos Lena emite pequenos suspiros sentidos. De forma desajeitada, eu seguro seu irmão em meus braços fugindo para o outro lado da cama.
Enquanto eles estiverem em meus braços, eu sinto que sou capaz de enfrentar qualquer coisa.
— O que vocês estão esperando? — o homem berra. As gotas de saliva saltando de sua boca retorcida de euforia e raiva — Algemem-na, imediatamente.
Eu pisco descontroladamente tentando livrar-me da barreira de lágrimas que se formam em meus olhos.
— Não!
O grito havia saído de minha boca, mas eu nem mesmo havia sentido, o nó queimando em minha garganta como ferro quente é denso demais para isso.
— Não... não... não — sussurro me prendendo contra a grade da cama formando uma espécie de bola protetora entre eu e os bebês. — Por favor!
O homem negro que se aproxima de nós parece divido entre a cena que vê e a aquilo que é obrigado a fazer. Encaro-o dessa vez com lágrimas rolando soltas por meus olhos. Meu corpo gélido e enrijecido, apenas o calor de corpinhos macios aquecendo meu peito fazem meu coração continuar batendo.
— Senhora... — ele senta ao meu lado da cama, os olhos não têm coragem o suficiente para enfrentar os meus.
Estão focados em algum ponto além da minha cabeça. — Não dificulte as coisas.
Eu vejo o brilho metálico brilhando das algemas em sua mão.
Impulsivamente arrasto para o outro lado da cama, fugindo. No fundo, eu sei que não há nada que eu possa fazer aqui, além de prolongar a dor, mas a realidade de que irão tirar meus filhos de mim é pior do que qualquer pensamento obscuro ou pesadelo
aterrorizante. A realidade é mais cruel.
— Eu mesmo faço isso — o homem hostil caminha pesadamente em minha direção.
— Não precisa ser desumano Jefferson — o policial levanta ficando entre nós dois.
— Estou apenas cumprindo o dever, Facilier. Não acredite nesses olhos fingidos e inocentes. Sabe muito bem o que ela fez. É uma assassina cruel e impiedosa.
— Isso a justiça ainda decidirá — o homem negro, agora conhecido como Facilier retruca ainda fazendo uma barreira contra ele.
— Ouça, Sra. Swan, não vou algemá-la — ele murmura de costas para mim. — Mas tem que nos acompanhar. Pegue o que precisa para seus filhos e vamos. Isso é tudo o que posso fazer.
Balanço a cabeça, mesmo sabendo que ele não pode me ver. Eu havia conseguido, minutos, horas, quanto tempo eu não sei. Mas eles ainda estariam em meus braços.
— Eu ajudo — Uma jovem loira de porte mediano e uniformizada surge atrás dos outros homens.
Eu acredito que seja mãe ou tenha experiências com recém-nascidos. Ela sabia exatamente o que colocar, o que os gêmeos precisariam.
— Revistem cada centímetro — o oficial Jefferson disse aos seus companheiros. — Encontrem a esposa dela, não deve ter ido muito longe.
— O carro abandonado na estrada — um deles murmurou. — Talvez...
Meu coração que até alguns minutos parecia congelado em meu peito saltou desgovernado ao ouvir o que ele disse.
Emma havia saído atrás de Sam. Eu simplesmente recuso em acreditar que algo possa ter acontecido. Quanta dor eu seria capaz de suportar ainda?
— Pobre crianças — Jefferson pronuncia em tom de deboche. — Crescer com os mães na cadeia será muito difícil. Chegou a pensar neles? Por um minuto considerou que...
— Cala a boca, Jefferson! — Facilier esbraveja. — Já chega!
A raiva que sinto por esse homem desprezível e insensível só não é maior do que a dor da verdade nas palavras dele. Crescer sem o amor, carinho e proteção das mães é doloroso, nos deixa um vazio desmedido, eu havia perdido os meus cedo demais.
Mas e, quanto a vê-los presos? A marca de um crime pesando sobre a cabeça. As pessoas podem ser ferais.
Esse homem é a prova disso. E esta é uma mágoa que causaria a eles, na qual jamais me perdoaria. Sendo inocente ou não.
— Não há nada lá fora — dois homens rompem a porta. — Ou ao redor do perímetro.
— Onde ela está? — as mãos de Jefferson prendem meus braços com força, como garras, pouco se importando com os bebês em meus braços. — Pois é obvio que não fez isso sozinha.
— Eu não sei! — tento me afastar dele sem sucesso. — Ela não está comigo. Por favor, pare — o choro infantil me faz voltar às vias do desespero — está assustando-os.
Eu clamo a Deus para que ela não volte. Que a guie e proteja onde ela estiver. Basta apenas um inocente pagando por um crime que não cometeu.
Emma cuidaria dos nossos filhos, protegeria e daria todo amor negado a mim. Os amaria incondicionalmente, como havia feito comigo.
— Chega, Jefferson — a mulher aproxima-se de nós e põe-se ao meu lado. — Vamos embora, não há nada mais aqui. Acho que o capitão não vai gostar nada da sua forma de agir, certo?
— Muito bem, princesa — murmura ele para ela, afastando-se de mim. — Já encontramos o que nos interessava.
— Vamos? — a oficial me auxilia a sair da cama, esticando os braços para Lena. — Posso ajudá-la?
Se ela não tivesse feito a pergunta, talvez eu não tivesse notado meus braços doloridos e formigantes devido ao peso de segurá-los por tanto tempo.
Mas eles poderiam apodrecer e cair em pedaços antes que eu entregasse-os a algum deles. De alguma forma, eu sei que ao fazer isso, não haveria retorno.
— Não!
Caminhar até a saída, passo a passo, é como estar no corredor da morte.
“Não importa o que aconteça, saiba que amo você.”
As palavras de Emma parecem ressoar na cabana atrás de mim, quanto dou o último passo, olho em volta, deixando para trás o local que havia sido meu refúgio e paraíso, por curto tempo.
****
Assassina! Assassina! Assassina!
As palavras duras e cruéis e ofensas sem sentido que ouvir quando chegamos à delegacia algumas horas depois, poderiam ter dilacerado minha alma e coração, se o pavor que estava rondando em meu peito assim o permitisse. O enxame de câmeras e jornalista não me assustaram mais do que eu esperava que está por vir.
Encontro-me em uma sala minúscula, há uma hora ou o que creio ter decorrido desde que chegamos, em um sofá marrom e desgastado pelo tempo, manchado de café, gordura e pequenas marcas de cigarro. Imagino que seja um lugar para descanso. Aguardo apreensiva pelo momento que romperiam a sala e tirariam o bem mais precioso dos meus braços.
Eles se comportam como perfeitos anjinhos. Sinto que de alguma forma, eles compreendessem o pouco tempo que temos juntos e o quanto isso é valioso.
Começo a cantar Somewhere Over The Rainbow, suavemente. É um dos musicais que mais amo e, eles me encaram com olhar penetrante, como se estivessem hipnotizados ao som da minha voz. E cada um desses segundos é precioso para nós três.
As cores do arco-íris tão bonitas no céu
Estão também nos rostos das pessoas que passam Eu vejo amigos apertando as mãos
Dizendo — Como vai você?"
Eles estão realmente dizendo, eu... eu te amo
Eu ouço bebês chorando e eu os vejo
Crescer Eles vão aprender muito mais
Que nós sabemos E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso
Um dia eu vou fazer um pedido para
uma estrela
E vou acordar bem longe das nuvens
Onde problemas derretem como balas de limão Bem acima dos topos das chaminés é onde você vai me encontrar
Eu toco cada pedacinho de seus corpos pequenos, memorizando-os. Os cabelos negros e loiro com pequenos fios que enrolam nas pontas. Os pequenos olhos verdes. Cílios grossos e longos, como os do mãe. Eu sempre havia admirado e invejado isso em Emma.
Meus pequenos arrasariam muitos corações, apenas com um piscar de olhos. Quantos momentos assim, eu perderia com eles?
Além do arco-íris pássaros azuis
Voam E o sonho que você ousa sonhar
Por que, por que eu não posso?
Em algum lugar além do arco-íris
Lá no alto
E os sonhos que você sonhou
Uma vez em uma canção de ninar
Talvez essa seja a última canção de ninar, mas eu guardaria na memória para toda vida e sei que eles também. Em algum lugar de seus corações, eles teriam a certeza de quanto os amo e amei.
— Regi? — a voz grave de Killian interrompe esse momento terno.
— Killian! — murmuro quando ele me abraça.
Eu sinto um fio de esperança voltar a nascer dentro de mim. Eu dou vazão a toda dor existente em mim. Tudo o que viemos enfrentando é despejado em um mar de lágrimas e desalento.
— Pode chorar, querida — sussurra ele. — Está tudo bem.
Sinto tapinhas em minhas costas.
Pequenos gestos que fazem lembrar de meu pai, quando me ensinava a andar de bicicleta, aos seis anos. Cada vez que eu caia e ou ralava os joelhos, ele me abraçava forte dizendo que ficaria tudo bem.
Afasto-me dele enxugando as lágrimas grossas em meu rosto. De certa forma, envergonhada por minha fraqueza. Eu não estou mais sozinha no mundo, meus filhos precisam que eu seja forte.
— Tenho um recado que acho que a fará feliz.
— O quê?
Penso que seja algo de Zelena ou mais provável de Alice. Pensar nela causa nova onda de dor em meu peito. A única coisa boa nisso tudo é que talvez agora eu possa vê-la.
— Aconteça o que acontecer, eu a amo — ele diz, sem jeito. — Bem não eu...
— Emma... — gemo seu nome. Meu amor, minha vida, meu tudo. Pressiono a mão em meu peito, massageando-o em busca de minimizar a navalha afiada que parece querer rasgar meu coração, quando minhas pernas já não me sustentam mais.
— Está vendo esses bebês, Regi? — Killian ajoelha ao meu lado, em frente aos gêmeos, no pequeno Moisés, no canto do sofá. — É o motivo que você precisa para ser forte. É por eles que tem que lutar a cada dia.
Eu teria forças? Teria forças para enfrentar tudo isso? Quando meu único desejo é que esse pesadelo acabe.
Há alguns meses, eu planejava uma nova vida. O quarto dos bebês. Meu dilema era entre paredes azuis ou amarelas. Minha única aflição era a saudade que teria de meus grandes amigos. Principalmente de Zelena, minha amiga louca e completamente sem juízo.
— Eu vou — murmuro, determinada.
Eu daria minha vida por eles, eu não preciso declarar isso. E sei o quanto Killian tem razão. Eu tenho que encontrar forças de algum lugar.
Além do arco-íris possa existir a esperança que eu não possa ver. Eu havia perdido minha irmã, meus pais, a visão, quase perdi Daniel, Emma e continuo aqui. Não vou perder meus filhos, esposa e o direito de estar com eles, principalmente o direito de ser feliz.
— Me ajuda? — pergunto, estendendo a mão a ele.
— Sempre! — responde ele, apertando minhas mãos com firmeza.
Embora Killian tenha tentado disfarçar a emoção, vejo o brilho úmido em seus olhos contrastando com o semblante endurecido.
— O que acontece agora? — pergunto, angustiada.
— Eu tenho que ser sincero, Regi — diz ele. — Será muito, muito difícil. A sua tentativa de sair do país e ficar foragida por todo esse tempo, foi praticamente um atestado de culpa.
— Será interrogada — continua ele — e apresentarão as provas contra você.
— Provas? — pergunto atordoada.
Killian levanta, andando de um lado a outro da sala, mãos na cintura e um olhar gazeado. É a primeira vez que o vejo no modo advogado e imagino que esse olhar perspicaz e felino, deva ser ainda mais evidente em uma sala de audiência.
De uma sagacidade impressionante, Killian não é o tipo de homem que deixa passar algo despercebido.
— Todas as evidências apontam para você, Regi — ele pontua. — Local do crime, arma e um motivo.
— Motivo! — exalto-me elevando a voz mais do que gostaria. Henry se assusta e o pego para acalmá-lo. — Por que eu teria motivos para matar aquela bruxa?
O olhar interrogativo e as sobrancelhas arqueadas dele, respondem a minha pergunta. Eu a odiava e o sentimento era recíproco. Sim, eu teria milhões de motivos para querer matar Lily. Primeiro, toda a angustia que ela causou a Emma antes e depois de casada com ela. Segundo, todas às vezes que fez Alice sofrer e se sentir desprezada. Ainda há o escândalo que fez na loja de roupas quando cheguei a ameaçá-la na presença das vendedoras e outras testemunhas, o boneco vodu horrível que enviou a mim no início da minha gravidez e, por último, e não menos importante, a armadilha que me levou à casa dela no dia de sua morte.
— Eu sei que teria todos os motivos, mas eu não fiz isso — pressiono o corpo do bebê contra o meu. Como se isso me desse a força e coragem que necessito.
— Sabe disso, não é?
Mesmo tendo todo mundo, todas as pessoas que enfrentei lá fora contra mim, se Emma e meus amigos estiverem ao meu lado, eu sei que conseguirei sair de cabeça erguida, não importa como isso acabe.
— Eu sei que não, Regi.
Conhecendo a bruxa como eu a conhecia, não a condenaria se tivesse feito. Ela teve um fim merecido — murmura ele, brincando com as perninhas do bebê. — O inaceitável é ter atingido você.
O gesto me pega de surpresa. Killian nunca foi muito próximo a crianças. Não que não goste delas, mas prefere manter-se a distância. Isso me lembra o filho dele e Rose? Seria menina ou menino? E o que os dois haviam decidido sobre isso?
Essas perguntas são esquecidas assim que a porta é aberta de forma abrupta, seguida da voz exaltada de Zelena.
— Pois então me prenda e não fique ai parado! — ela encara o policial de prontidão do outro lado da porta.
— Zelena! — eu a chamo, preocupada que possa fazer alguma estupidez e ao mesmo tempo emocionada em revê-la após tanto tempo.
— Sis! — ela caminha apressadamente até mim e para ao ver o bebê em meu colo.
— Oh meu Deus!
A garota impertinente, boca dura e raivosa dá lugar a uma chorosa de colegial. Há apenas alguns dias, a incerteza de voltar a vê-la corroía meu coração. Agora tenho junto a mim, minha amiga, minha irmã de alma. Enquanto as lágrimas descem soltas, literalmente banhando nossos rostos, eu compreendo o quanto senti a sua falta.
— São tão lindos — diz ela, ao nos afastarmos um pouco. — Queria ter estado lá quando nasceram.
Sim, ela apreciaria muito, penso ironicamente. Brigar com a Emma, rir do Graham desmaiando e consequentemente, iria desistir de ter filhos por longos anos após me ver gritar e gemer de dor.
O burburinho lá fora chama minha atenção. Ruby conversa, na verdade, parece discutir com o policial que faz a guarda e que ainda parece muito irritado com a afronta de Zelena.
— Zelena? — Killian cruza os braços com olhar recriminatório.
— O quê? — Zel funga, balançando os ombros, secando os olhos. — Ele não queria me deixar
entrar. Quem ele pensa que é? — A lei? — Killian retruca, irritado.
— Desculpe, ok? — murmura ela, pouco convincente, enquanto senta ao lado de uma balbuciante Lena. — Oi lindinha, sou sua tia Zelena.
Ela olha compenetrada para ela, que faz sons e gestos esquisitos, similares aos que todos os adultos imaginam que façam os bebês rirem.
— Pedi que ajudasse, Zelena — ele esbraveja — não que criasse mais confusão.
Ajudar? Em que ela poderia nos ajudar, além de seu apoio e compreensão?
— Sr. Jones, sabe muito bem que é permitido apenas a presença dos advogados até que a indiciada faça seu depoimento — Jefferson, o policial odioso, rompe a sala bufando como um touro — e seu tempo com sua cliente está findando.
— Essa é uma situação atípica, oficial Jefferson — Killian responde, calmamente. — Há menores envolvidos e...
— Já solicitamos a presença da assistente social. Está a caminho para levar os bebês. Serão bem cuidados no abrigo infantil...
— Não! — meu grito angustiado chama atenção de todos — não!
Aperto meu filho em meus braços e dou alguns passos inconscientes para longe dele.
— Zelena... — soluço, encarando-a através da cortina de lágrimas vendendo meus olhos — por favor.
— Não vão fazer nada Sis — sussurra ela em meu ouvido, enquanto me abraça. — Eu prometo, fique calma.
— Jefferson, eles têm família — diz Killian, num tom impaciente. — Os avós estão vindo para cidade, até lá, a Sra. Luccas é responsável pela guarda.
— Não é você que decide isso! — Jefferson objeta.
— Não, é o juiz e saberia que a Sra. Luccas têm autorização se tivesse olhado o documento que mandei entregar em sua mesa. Mas preferiu atormentar minha cliente em vez disso.
Eu sabia que cedo ou tarde o momento da separação chegaria. E eu compreendo que aqui não é o ambiente natural e tranquilo para eles, que como mãe, eu quero uma casa quentinha e aconchegante. Mas a dor de vê-los partir, deixando meus braços vazios e alma despedaçada. Mães, não deveriam perder seus filhos em nenhuma circunstância. Nenhuma deveria passar pela dor que sinto.
— Vocês têm mais quinze minutos — murmura Jefferson. — Depois você será conduzida à sala de depoimentos.
— Eu vou cuidar bem deles, Sis. — Choraminga Zelena, com o bebê nos braços.
Eu olho para o meu filho em meu colo. O nó em minha garganta dificulta-me respirar.
— Um dia eu terei você de volta — sem que eu possa evitar, uma gota de lágrima toca a bochecha rosada. Deslizo o dedo por ela, acariciando-o com delicadeza. — Eu amo você, meu filho.
Ruby se aproxima de nós pegando-o de mim. Mil navalhas rasgam meu peito. Um sofrimento diferente, de que tudo que já senti.
— Por favor... — bato o punho cerrado contra os lábios, tentando controlar a dor visceral que faz meu corpo tremer. Esse é momento que o abraço de um amigo significa tudo.
E enquanto Killian me abraça forte, eu os vejo partir. Soluçando, gemendo e contorcendo-me de dor. Suprimida por uma dor que nada e ninguém poderá amenizar. Eu tive apenas poucos e preciosos momentos. Tão poucos.
— Ahhhhhh... — agarro-me a ele, em busca de ar, forças ou qualquer coisa que me mantivesse viva — ahhh...
****
Quanto tempo eu tinha ficado ali, destruída, eu não sei. Só havia notado que estava no chão, quando o oficial Jefferson ressurgiu, encarando-nos desconcertado.
— Jefferson — Killian murmura, rouco.
— Certo — ele limpa a garganta saindo em seguida.
Pouco me importo se ele vai ou fica.
Tudo o que me importava havia partido ao que para mim, já era um tempo longo demais. Minutos que já haviam se transformado em eternidade.
— Ei, lutadora? — Killian segura meu queixo, obrigando-me a encará-lo. — Vai desistir agora? Quer que aqueles bebês pensem que a mãe deles é uma derrotada?
— Não — soluço. — Não, eu não quero.
— Então vamos vencer isso aqui. — Ele sorri, confiante.
— Como? — pergunto num muxoxo.
— Comece contando tudo o que aconteceu desde que recebeu a ligação de Lily, até hoje.
É angustiante reviver esses momentos, mas se é fundamental para solução desse caso. Eu os enfrentaria.
****
— A senhora alega inocência, o que a levou a fugir, então? James Spencer, o investigador responsável pelo andamento do caso, pressiona-me pela milésima vez, enquanto seu amigo me analisa com olhos de águia, à espera que eu dê um passo em falso.
— Eu tive medo — balbucio nervosa — medo do que aconteceu hoje.
— O que quer dizer? — ele parece confuso.
— Que tirassem meus filhos de mim — busco ar em meu peito. — Mas isso acabou acontecendo, no fim.
— E só agravou a sua situação a cada dia.
O que posso dizer a ele? Que Emma e eu, entramos em um estado de desolação e desespero que ninguém jamais conseguiria entender. Eu não me arrependo de nada. Posso ter tornado pior as acusações contra mim, mas nada compensará os momentos que nós quatro tivemos juntos. E se nossa ruptura fosse logo após o parto, como temíamos, eu morreria literalmente.
— Recapitulando, senhora Swan — ele senta na quina da mesa. — Recebeu uma ligação da vítima dizendo ter sequestrado a própria filha. Foi sozinha até a casa dela, mesmo sabendo que era “perigosa.” Tiveram uma discussão onde acabou atingindo-a com a faca...
— Eu só me defendi! — levanto-me exaltada. — Aquela louca ameaçou meus filhos.
— Sente-se, senhora, ainda não acabei.
Encaro Killian, ainda exaltada, minhas unhas cravadas nas palmas das mãos, por sorte, as tinha cortado no dia anterior, pois tive receio de machucar os gêmeos ou minha mão estaria em carne viva. Ele me encara firme e balança a cabeça para que eu sente.
— Então, após deixar a vítima se esvaindo em sague, a senhora fugiu, trancou a porta e deixou que morresse sozinha. Isso é inocente?
— Já disse que a deixei viva — apoio minha cabeça contra a mesa fria de ferro.
— Voltou para casa e contou ao sua esposa o que havia acontecido — continua ele — que por sua vez, foi terminar o que você havia começado, mas chegou tarde demais para isso.
— Não!
— Investigador — Killian coloca-se entre nós dois. — Não está aqui para distorcer os fatos, limite-se ao depoimento da minha cliente.
Eu queria arrancar o sorriso de deboche desse homem à unha. Pela terceira vez, eu repito o que aconteceu, e ele a cada vez, muda a história. Estou exausta, psicologicamente abalada e tentando fervorosamente não me contradizer no que diz respeito a Emma. É claro que ele não acredita na versão que dei a ele, mas ninguém tem provas de nada e eu não mudaria uma única linha.
— Certo — murmura ele. — Será conduzida à cela provisória até ser transferida. Estamos em busca do senhora Swan e veremos o que ele tem a dizer.
— Quero alguns minutos com minha cliente. — Objeta Killian.
Ele não responde, mas sai deixando-nos sozinhos por um tempo.
— Promete que vai convencê-la? — sussurro assim que a porta é fechada.
— Acredita mesmo nisso, Regi— Killian esfrega os olhos, desanimado. — Porque eu não.
Sei que Emma dificilmente entenderia a decisão que tomei e, que se pudesse, assumiria a culpa. Mas de alguma forma, eu preciso convencê-la de que estou fazendo o melhor por nossa família. Por Alice, pelos gêmeos e por ela também.
— Eu farei isso — insisto com fervor. — Consiga que ela me ouça primeiro, Killian.
— As coisas não funcionam assim, Regina.
— Eu não vou mudar uma única linha — revido, determinada — Será a palavra dela contra minha.
— Como seu advogado, discordo — ele suspira. — Como seu amigo, eu entendo. Verei o que posso fazer.
****
A cela da delegacia não é como imaginei. Confesso que havia feito em minha mente uma pintura bem mais aterrorizante. No entanto, decorado por apenas uma cama minúscula, condiz exatamente com meu interior. Frio e vazio. A parede gelada contra minhas costas, já não incomoda tanto. E os joelhos que sustentam minha cabeça há quase uma hora, estão tão dormentes quanto o resto do meu corpo.
É fácil se manter forte com as pessoas ao seu lado incentivando-o, mas quando as portas se fecham, o mundo volta a ficar negro. Eu queria ter ficado com alguma coisa deles. Uma muda de roupa com seu perfume de bebê.
O ranger da porta assusta-me, fazendo com que me encolha contra a parede.
— Senhora Swan, — vejo o policial que havia sido gentil comigo na cabana, o mesmo olhar bondoso de antes — preciso que me acompanhe.
Agora notando com mais calma, concluo que tenha uns quarenta anos mais ou menos.
Mas bem forte pra sua idade, grande alto e com um físico invejável.
— Sinto muito — diz ele, ao estender as algemas em minha direção.
Observo o metal frio circular os meus pulsos e me pergunto para onde estão me levando. Imaginei que demoraria algum tempo ainda até ser transferida para uma penitenciária.
Ajude-me a ser forte, senhor, rogo aos céus. Sei que posso encontrar todos os tipos de pessoas ali e, estaria mentido se não dissesse que estou apavorada.
Sigo fazendo esse mantra até a sala que estive anteriormente. Onde vivi o momento mais doloroso de toda minha vida. Facilier abre a porta e entra.
Exaurida, respiro fundo, fechando meus olhos.
Ela está aqui! Ergo a cabeça e nossos olhos se conectam imediatamente. É como acordar de manhã, abrir a janela e depara-se com um imenso sol brilhante.
Tudo em mim reflete luz quando estou perto dela.
Até o momento que as amarras de ferro, restringindo meus movimentos, puxam-me de volta para realidade.
Não há céu sem nuvens. Não para nós duas.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.