Capítulo 2
"Terapia diária"
ALGUNS MESES DEPOIS.
Já sou quase uma mulher completa novamente, e com completa quero dizer que estou quase tendo alta.
Tem noção disso?
Liberdade dessa prisão infernal.
-Bati! Há! -Drew joga a carta em cima da cama com um ar vitorioso.
-Porque ela sempre ganha? -A loira resmunga.
-Não sei, pacto? Ai! -Resmungo com um tapa forte da morena -Quer me debilitar mais?
-Quieta o cu, Eilish. Admitam que sou boa! -Retruca.
-Agressiva. -Resmunguei.
Agora estava oficialmente mais informada. Depois de conseguir enfim ficar de pé e caminhar, voltar a minha rotina independente do corpo. Descobri que Mavis ainda estava em coma. Na verdade, isso eles tinham me contado, mas a situação da minha querida esposa era mais delicada.
Perdemos nosso filho.
Sim, filho.
Billie Mitchel O'connell viveu por longos vinte minutos.
Me lembro de pegá-lo nos meus sonhos. Um garotinho lindo.
Ele ainda era muito pequeno e não estava completamente formado. Mavis perdeu muito sangue no acidente e ele foi retirado, colocado em uma incubadora, mas não resistiria de qualquer modo. É o que me falaram.
Mavis teve um traumatismo porque não usava cinto, foi arremessada contra o vidro do carro. Eu também não usava, mas segundo a perícia eu fui amortecida porque minha posição no banco me favoreceu.
A morena entrou em coma profundo na recuperação, depois de muita suplica permitiram que fosse vê-la.
Nunca chorei tanto quanto naquele dia.
Também voltaram minhas crises de asma. Crises essas, emocionais. Segundo meu médico é a forma do meu corpo lidar com tudo, então agora ando com duas bombinhas o tempo todo. Duas por precaução.
Ao longo dos dias também descobri que Cláudia e Finneas estavam grávidos do meu sobrinho.
Flash back
-Eu ia esperar você sair daqui... mas tá demorando tanto. -Finn comenta e o encaro confusa.
-Que que você fez?
-Engravidei a Clau.
-Quê? FINN! -O abracei forte.
-Eu sei eu sei, sou lindo. -Fala e lhe dou um tapa.
-Parabéns bobão!
-Obrigado. Cláudia não se aguenta mais em ansiedade pra te contar... ela vai me matar quando souber que contei antes.
-Haha! Eu vou fingir que não sei.
-Obrigado.
-Já sabem o sexo?
-Sim, um menino.
Sorri, lembrando por um instante do pequeno Billie.
-Sinto muito... pelo bebê...
-Tudo bem. Ele deve estar em um lugar melhor, mas não vamos falar da morte! Estamos comemorando a vida aqui. Já escolheram o nome?
-Oh sim, claro, Cláudia e eu decidimos por Levi. -Sorri largo.
-É um lindo nome, já quero conhecer essa criança -Comento.
-Falta pouco, Cláudia faz sete daqui uns dias... só mais três para os nove meses. -Para pensativo.
-Ela enjoou muito?
-Não, no início não, mas agora. -Arregala os olhos -Sabia que ela tá comendo pepino com iogurte toda noite? -Me encara incrédulo e solto um riso -é sério! Ela mergulha o pepino no iogurte de abacate, ABACATE, Billie! E come! -Resmunga e gargalho.
-É assim mesmo Finn. -Comento.
-Pelo menos ela saiu da fase do sabonete! -Fala baixo e arregalo os olhos -Sim, ela comeu sabonete. E tinha que ser um com cheiro de lavanda e ameixa.
Não contenho uma gargalhada e sou acompanhada do mais velho.
Ficamos entre risadas e histórias sobre os desejos da minha querida cunhada que, percebi ter se tornado uma ogra alimentar pela gravidez.
Flash back off
-Até que enfim em bela adormecida! -Zoe fala quando abro os olhos de um cochilo.
A loira se aproximou ficando ao lado de Cláudia que segurava minha mão, alisando a mesma com carinho.
-Como se sente? -Pergunta com um sorriso meigo.
-Eu que pergunto, como se sente? -Encarei a barriga da mulher que deu de ombros.
-Só quero que esse menino saia de mim. -Murmura e Donahoe segura um riso.
-Quantos dias?
-Já está no período. Agora só esperar.
-E você veio me ver? Ao invés de ficar em repouso?
-Tô num hospital, Billie. -Retruca me lembrando e Dohanoe não se segura, me fazendo lhe lançar um dedo do meio.
-Cadê o ruivo? -Pergunto não vendo ele ali.
-Ele veio te trazer uma surpresa.
-Uma surpresa?
Que seja Mavis!
Que seja Mavis!
-Não é uma pessoa. -Ela responde percebendo minha animação e faço um bico -Mas você vai gostar.
-Vocês estão me deixando curiosa.
-Ah! Por falar nisso, trouxe isso pra você! -Cláudia abre uma bolsa que carregava, tirando uma pasta branca. -A última ultrassonografia. -Me entrega com um sorriso e não consigo conter a ansiedade e alegria para ver.
Abri a pasta, vendo algumas fotos e informações do meu sobrinho, Cláudia e Finneas haviam feito uma ultrassonografia 3d para verem o bebê, eu queria ter ido junto, mas tive alguns exames no mesmo dia e não pude ir com os dois. Acho que meu médico não teria deixado de qualquer modo.
Encaro as fotos com um sorriso e algumas lágrimas, observando o rostinho ali, lembrava um pouco Finneas e alguns traços reconhecia de Cláudia, não era muito, na verdade ele ainda parecia um joelho, mas já o amava.
-Que carinha de joelho linda! -Murmuro entre lágrimas, tirando risos de Zoe e Cláudia.
-Cheguei! -Finn avisa entrando pela porta -A última ultra? -Apronta para a pasta e concordo.
Um cheiro gostoso dominou o ambiente e quase não consegui esconder minha cara de ansiedade. Reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar.
-Não me diz que...
-Sim, maninha. Um delicioso burrito! -Se aproxima me entregando a sacola com o lanche dentro -Conversei com seu médico e ele te liberou pra comer ele hoje. -Explica enquanto não conseguia tirar o sorriso do rosto.
Não esperei mais, abri a embalagem, dando uma mordida gorda no lanche.
Indo ao paraíso no meu paladar.
-Hmmm! -Gemi arrastado pelo sabor maravilhoso.
-É, uma vez viciada, sempre viciada. -Donahoe fala brincalhona.
-Já falou com a médica? -Finn pergunta para Cláudia e ela concorda.
-Já, ela só está esperando dar entrada. -Avisa ao ruivo que concorda me encarando.
...
-E aí? Como tá se sentindo? -Drew pergunta enquanto caminhávamos pelos corredores.
Minha tarefa diária agora era dar algumas voltas pelos corredores para fortalecer a musculatura das pernas.
-Tô melhorando. Mas não vejo a hora de ver os olhos dela abertos. -Digo enquanto seguíamos para o quarto de Mavis.
-Dolores vai te bater se ver a gente aqui. E vai me bater junto. -Resmunga lembrando que a mulher tinha a mão pesada.
-Relaxa. Não tô deixando de fazer meu exercício. Só quero aproveitar pra visitar minha mulher. Eu mereço depois de receber os documentos.
-Zoe me contou, chegaram hoje, né? -Pergunta e não contenho um sorriso largo.
-Sim -A encaro eufórica.
A documentação do meu casamento com Mavis havia chegado hoje. Quando falei com Mavis meses atrás, preparei tudo antes de irmos até a casa de seu pai, porque sabia que para lutar pela guarda do mais novo precisaríamos ter uma união estável. Ela assinou os documentos antes de eu enviar para autenticar, mas aí veio o acidente e eu não tinha conseguido assinar minha parte. Até o último mês.
Agora somos oficialmente casadas.
Minha mulher.
Chegamos no quarto da morena e entro sorrateiramente, enquanto Drew vigiava o corredor.
-Oi, meu amor. Você provavelmente vai ver uma mensagem no seu celular com o dia de hoje, mas precisava conversar pessoalmente. -Me sento ao seu lado, vendo seu peito subir e descer tranquilamente.
Mavis estava serena, mesmo com sua feição mais magra e cansada pelo coma.
-Somos oficialmente casadas. Acredita? -Murmuro segurando algumas lágrimas -Quando acordar, quero fazer uma festa gigante... Eu te amo tanto.
Me levanto, segurando sua mão livre de aparelhos, fazendo um carinho suave.
-Odeio te ver assim... tão perto e tão longe... Volta para mim. -Peço me inclinando e lhe dando um beijo suave nos lábios.
Ouço batidas na porta e me assusto, saindo rapidamente com Drew antes que Dolores nos visse ali.
Assim que voltamos ao quarto começamos a rir, algum tempo depois Drew revezou com Finneas e minha mãe, que passaram a noite comigo.
Desde que comecei a ter mais forças pedi meu celular de volta.
A mídia estava uma loucura com a O'connell's Company, meu acidente parou em todos os jornais, não somente por ter uma CEO de uma companhia envolvida, mas também pelo estado dos corpos, pelo meu tiro que não passou despercebido, o estado de Jasen.
Caíram como tubarões em nós. Finneas mantinha tudo em sigilo, o mais velho havia dado a mim a escolha de falar ou não sobre tudo e decidi deixar tudo como estava por enquanto.
Precisava assimilar.
Scott enviou o dossiê pouco depois, e Batman e Robin, no caso Drew e Zoe, estavam se encarregando de conversar com as modelos e juntar provas, vítimas e testemunhas para enfim colocarmos Soiler e Monique em julgamento.
Com o uso do celular, ignorei todas as mensagens de revistas e jornais que pediam entrevistas. Não era hora.
Usava o aparelho para um único propósito. Além de conversar com meus amigos e minha família, também enviava mensagens diárias para Mavis, de alguma forma isso me ajudava a me manter sã, sentia que de alguma maneira ela estaria comigo enquanto ainda não podia estar cem por cento ao meu lado.
Encaro a tela do aparelho mais uma vez, digitando mais uma das minhas muitas mensagens para minha mulher. Minha terapia diária era o que faria o celular de Mavis encher a memória.
Talvez ela me bata quando acordar.
You
Bom dia, meu amor. Fui no seu quarto hoje.
You
Sinto tanto a sua falta, de conversarmos.
You
Sinto falta do seu beijo. Do seu sorriso.
You
Mas sei que iremos superar isso.
You
Agora você é oficialmente minha mulher.
You
Vou arrumar uma aliança linda pra você.
You
Te amo.
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