Uma semana depois - Sábado - 14h28
~Himuro Tatsuya~
Uma angustia desgraçada e infindável vinha se alastrando em seu interior de forma constante, retirando de seu ser toda a vontade de fazer as coisas, por mais simples que fossem... Escovar os dentes, tomar banho, comer, dormir, ver pessoas, abrir as cortinas, levantar da cama. Não tinha ânimo para absolutamente nada.
Há pelo menos uma semana Himuro estava enfurnado em seu quarto — ou melhor, em seu quarto provisório na casa da tia, que logo abandonaria, finalmente — assistindo séries de super-heróis e zumbis, recusando ligações que não partissem de sua mãe e desviando-se de todo e qualquer tipo de visita. Só queria ficar ali, quieto em seu canto, sentindo o cérebro latejante armar sabotagens e armadilhas perturbadoras que o assombravam o tempo todo. Nessas horas preferia fugir dos fantasmas.
Vez ou outra Tatsuya começava a remoer as merdas que fizera nos últimos meses em relação a Kagami e a todo o resto do mundo ao seu redor, mas no instante seguinte jogava a sensação fora para viver no ambiente fictício de suas séries. Era mais fácil assim, esvaziar a mente tornou-se o melhor antídoto para sua dor de cabeça... Mas não funcionava por muito tempo.
Estava cansado. Cansado daquele lugar, daquela sensação miserável e vazia, daquelas pessoas apontando o dedo para si, alegando coisas. Tatsuya queria ir para sua verdadeira casa, sentir o ar salgado que vinha junto com as ondas do mar, olhar pela janela do quarto e vislumbrar as palmeiras altas cortando o horizonte ensolarado... No entanto Himuro sabia que o que estava o aguardando em Los Angeles não seria exatamente o que planejava. A realidade sempre era mais cruel.
Há alguns dias, durante o acerto dos últimos detalhes sobre sua viagem de volta para a América, sua mãe viera com um papo estranho sobre doenças, transtornos psicológicos, bipolaridade, psiquiatras e coisas do gênero... Bullshit. Não sabia de onde ela tirara aquele bando de baboseiras, mas tinha certeza que isso tudo iria gerar uma movimentação desnecessária em sua nova vida.
Não estava doente, não era louco, sentia-se apenas magoado por tudo o que aconteceu e principalmente desapontado consigo mesmo por ter agido como uma pessoa que na verdade não era o real Himuro Tatsuya. Tornara-se uma espécie de monstro inconsequente por alguns instantes — meses na verdade.
Seu nariz inchado e latejante era um lembrete de que fora um estúpido, egoísta e boçal, principalmente quando relacionava isso com o tempo em que passara com Taiga. Arrancara o precioso anel da irmandade do pescoço do ruivo e dera a descarga no objeto sem pensar duas vezes, o magoara com palavras erradas e mentirosas, e antes disso o manipulara por meses, praticamente o forçara a ficar no relacionamento que já estava fadado à dar errado antes mesmo de começar.
Tatsuya sempre soube que o coração do ruivo não era seu, e sim de Aomine... Claro, tinha certeza de que ele o amava profundamente, mas apenas como um irmão; e sabia também que ele estava buscando ao máximo corresponder aos seus sentimentos, mesmo se anulando durante a tentativa. Porém ao invés de aceitar a verdade e procurar o bem estar do ruivo, Himuro simplesmente deixou-se levar pelas próprias ideias ilógicas de que tudo iria mudar, de que conseguiria transformar os sentimentos fraternos de Kagami em uma paixão louca e obsessiva como a que sentia. Ou talvez que achava que sentia, já que essa paixão também era uma ideia irreal em sua mente... Hoje isso estava mais claro do que nunca, como se uma nuvem estivesse afetando sua mente nos últimos tempos e agora se dissipara.
Confundira tudo em um nível épico e estragara tudo. Tolo. Fora um tolo... E agora estava sozinho, sem seu irmão e melhor amigo para confortá-lo. O perdera mais uma vez por um ato impulsivo. Era sua sina.
— Shit! — Sibilou com pesar, virando-se para o outro lado da cama.
Uma nesga amarelada e intensa de luz entrou por uma fresta da cortina, iluminando seu quarto, que estava escuro e fechado até então. Aquele simples segundo de distração foi o suficiente para que Himuro ficasse hipnotizado por horas, observando os minúsculos grãos de pó que dançavam lentamente quando iam de encontro com a luz do sul. E assim o tempo passava, assim o mundo ao seu redor girava. As luzes, as cores e os movimentos desapareciam, e logo já era noite.
***
— Muro-chin! — A voz conhecida fez com que Tatsuya abrisse os olhos com dificuldade. As batidas lentas na porta se repetiram, mas dessa vez não era alucinação ou imaginação. Quase sentia o cheiro enjoativo das batatinhas que Murasakibara levava para todos os lados. Ele estava ali, com certeza. — Vou entrar. — O rapaz anunciou, abrindo a porta, que por algum motivo estava destrancada.
Himuro fingiu estar dormindo no mesmo instante em que a luz de seu quarto foi acesa, apenas para não precisar conversar. Por que sua tia permitiu que ele subisse?
— Muro-chin? — A voz arrastada e quase infantil encheu o quarto. — Está dormindo? — Passos ecoaram cada vez mais próximos, assim como o leve baque da porta, que fechou-se sozinha. — Hm. — Ele sibilou com curiosidade, mexendo em um pacote de salgadinhos, já que o ruído característico da embalagem metalizada fez o cérebro de Tatsuya latejar. — Vou esperar.
E assim o barulho de assoalho rangendo ocupou o ambiente por milésimos de segundo. Ele sentara-se no chão, totalmente inconveniente, comendo salgadinhos atrás de salgadinhos. Parecia realmente uma criança.
— Vai embora. — Himuro sibilou quase ineludivelmente, não dando espaço para o tempo que teria que esperar até ele desistir sozinho.
— Muro-chin? — Murasakibara falou mais alto, assim que Tatsuya virou-se na cama para encará-lo sem o menor ânimo.
— O que você quer? — Murmurou com a voz fraca, já que não a usava direito há alguns dias.
— Vim ver como você está. Trouxe alguns chocolates. — Ele disse, apontando para uma embalagem de papel reciclado do seu lado, no chão. — Tudo bem?
A suavidade na voz do amigo o desarmara.
— Não. — Admitiu, fitando distraidamente a embalagem, ainda com a cabeça apoiada no travesseiro, que já parecia duro como concreto. Ou era sua consciência que estava pesada, causando aquela sensação?
— Hm... — Ele suspirou, olhando para as pernas enormes entrecruzadas no chão. — Vai voltar mesmo para a América na próxima semana, quando começarem as férias de verão?
— Vou. — Limitou-se a responder, notando que havia farelos amarelos nos fios roxos do cabelo do amigo.
— Que saco. — Murasakibara resmungou, abrindo espaço para um silêncio embaraçoso e pesado.
— Obrigada pelo chocolate. — Himuro sibilou depois de alguns segundos, virando-se para encarar o teto amadeirado. — Mas eu quero ficar sozinho agora.
— Por que?
A pergunta simples o deixara pensativo. Tatsuya não sabia exatamente o motivo de querer ficar isolado... Talvez porque todos que entravam em seu caminho acabavam machucados uma hora ou outra, como se tivesse recebido uma arma carregada quando nascera e de tempos em tempos atirava para todos os lados sem a mínima responsabilidade.
Ignorando a falta de resposta, Murasakibara perguntou:
— Por que você e o Mine-chin brigaram no Interescolar?
— Não quero falar sobre isso. — Suspirou, fechando os olhos para simular uma indiferença que não estava ali. Não mais. Simplesmente sentia remorso, tristeza... Arrependimento.
Ah, se isso matasse... Pelo menos resolveria sua situação.
— E o Kagami-chin? — Ele continuou com o interrogatório arrastado.
Tatsuya não conseguiu manter a imparcialidade. Ao ouvir o nome do irmão — porque sim, ele era seu irmão mais novo e sempre seria —, sentiu algo o corroer lentamente por dentro. Doeu. Pensar nas cagadas que fizera era uma coisa, porém ouvir alguém falar sobre isso era mil vezes pior. Simplesmente afastara Kagami de sua vida para sempre. Ele não tinha mais nenhum motivo para voltar, para perdoar novamente seus atos impensados, seus erros seguidos.
— Acho que agora está bem. Feliz. Com quem ele gosta. — Disse com calma e convicção, olhando as imperfeições no teto de madeira envernizada.
— E você, está bem?
— Não. — Murmurou, fechando os olhos ardidos das lágrimas contidas até então. Não se importava com o fato de Murasakibara não saber de nada sobre nada, na verdade isso era quase um alívio. Precisava falar, precisava ser ouvido. — Eu estraguei tudo o que tinha para estragar... E agora olhando para trás eu não sei por que fiz isso, por que insisti em uma coisa que no fundo eu sabia que jamais iria funcionar. Agora nem sei se ficar junto dele daquela forma era o que eu realmente queria... Sei lá, ele é meu irmão, o que diabos eu estava pensando? Parecia outra pessoa agindo no meu lugar, e não eu. Isso... Isso quer dizer que realmente sou um doente? — Perguntou mais para si mesmo do que para o rapaz, fazendo uma pausa para suspirar fundo. — Por que insisti tanto em ficar junto dele de um jeito que eu sabia que não era o certo? Ele estava se apagando conforme os dias passavam... Era óbvio que iria se machucar no final. E eu também. Aqui. Sozinho. O que foi que eu fiz? — Lamentou-se, fechando os olhos com força.
— Hm... — Murasakibara resmungou ao notar suas lágrimas, pegando um chocolate da sacola. — Toma. — Esticou o doce minúsculo se comparado à sua mão enorme.
Um leve e breve sorriso caricaturou seu rosto molhado e triste assim que encarou o amigo ao lado de sua cama. Atsushi fora a maior vítima de seu mau humor e frustração em relação a Taiga. O desprezara tanto, o ignorara, fora estúpido com ele diversas vezes... Mas ali estava o titã de Yosen, ouvindo suas dores confusas e oferecendo doces para lhe animar.
— Obrigado. — Aceitou o chocolate, sentando-se na cama com um pouco de dificuldade. Não iria comer, mas o gesto significara bastante. Bastante mesmo.
— Você vai melhorar. — Ele murmurou com convicção, olhando para o pacote aberto de salgadinhos em seu colo.
— Hm... — Suspirou, mexendo a pequena barra do doce entre os dedos. — Eu não estou doente. Só cansado. Quero ir para casa.
— Na América eles vão te ajudar. — Atsushi murmurou, pegando um punhado batatinhas. — Sua tia falou que você é bipolar e que precisa de tratamento.
— Não sou bipolar e não preciso disso. — Himuro apressou-se a responder, olhando-o. — Sei que não sou doente. Já disse, só estou cansado de cometer erros com pessoas importantes.
— Não sei muito bem como é alguém bipolar... Mas sei que você vai ficar bem, independente do que esteja acontecendo na sua vida. Você é forte. — Murasakibara simplificou com a voz arrastada de sempre. — Acho que vou sentir sua falta, principalmente no time.
— Vou sentir a sua também. — Himuro sorriu de canto para o amigo, tentando ignorar as pontadas em sua mente exausta. Precisava dormir, descansar. Conversar ainda era difícil.
— Se for para você melhorar, não me importo em ser esquecido junto com as coisas ruins que aconteceram com você aqui. — Ele deu de ombros, simplório mas profundo. Algo realmente surpreendente. — Quer salgadinhos?
— Acho que você foi a única pessoa boa que ainda me restou aqui... E não sei o motivo, porque fui indiferente e até estúpido com você. Diversas vezes. — Sorriu de forma relutante para Atsushi.
— Não ligo para isso. Não adianta ficar pensando em coisas que não podemos mais mudar. Acho que... É um saco ficar fazendo isso. Perda de tempo. — Ele disse, colocando a mão mais uma vez no pacote, olhando para o além.
— Certo. — Não soube o que fazer. Ele tinha razão, por incrível que pareça... Mas era tão difícil deixar os erros para trás, tão difícil deixar o passado longe de sua mente, principalmente quando o arrependimento batia à porta com tanta força e insistência.
— Vamos assistir alguma coisa? — Murasakibara apontou para as capas dos filmes de terror logo abaixo do armário da televisão.
— Claro. Pode escolher um. — Assentiu, secando as novas lágrimas que começavam a brotar de seus olhos acinzentados.
Precisava ser forte. Agora mais do que nunca. Não estava doente, não estava quebrado, não precisava de conserto... Precisava apenas superar os erros e continuar com sua vida de uma maneira nova e livre. Jamais seria feliz se não tentasse. Taiga estava bem, e era isso que importava, principalmente depois de todo o malefício que causara ao irmão que tanto amava... Mas que por um motivo tênue e até insano passou a odiar.
Não demorou muito para Himuro dar-se conta de que era o culpado de tudo o que aconteceu de errado na amizade que tinham, de que o fizera sofrer na angústia, de que agira como um desesperado em busca de atenção, verdadeiramente louco e principalmente confiante de que tudo funcionaria se certos passos fossem seguidos. Não era assim que funcionava um relacionamento. Manipulara, o enganara e enganara a si mesmo.
Quem sabe estivesse doente... Mas não, não estava. Estava apenas arrependido. Era melhor se ele ficasse longe de si, pelo menos assim não se machucaria mais.
Só tinha mais uma coisa a fazer antes de ir embora... Teria que arranjar forças de algum lugar secreto para conseguir. Talvez essa força fora Murasakibara, insistentemente entrando em seu quarto com as batatinhas, falando coisas inteligentes e exatas que quase não condiziam com sua mentalidade preguiçosa.
Ele o salvara por hora, de certa forma. Era seu amigo, sem julgamentos. Teria muito a agradecer quando estivesse melhor.
***
Uma semana depois - Sexta-feira - 17h22
~Aomine Daiki~
— FREEDOM! — O moreno exclamou de forma alegre, fazendo referência ao grito final de William Wallace no filme Brave Heart, assim que escancarou as portas do ginásio da Academia Touou com um empurrão forte.
Não que estivesse morrendo — como William Wallace na cena —, mas estava livre agora. Livre da escola, dos treinos puxados, de acordar cedo, das provas chatas que praticamente foderam com sua saúde mental nos últimos três dias, e principalmente livre do tempo longe de Taiga. Estava com saudade do ruivo. Muita saudade. Não o via há quase cinco dias por causa daquelas merdas da escola, no entanto agora ele o esperava na quadra do Maji Burguer com Kuroko e Kise.
— Menos Dai-chan. — Momoi suspirou ao ver sua reação exagerada e teatral, aparecendo atrás de si junto com os outros membros do time, que conversavam animadamente.
— Menos nada. Férias de verão Satsuki. Férias! — Aomine sorriu com a situação, recolocando a aliança, anteriormente guardada, em seu dedo. Ainda não se acostumara direito com o anel, mas já não parecia um tumor, só uma espinha chata na ponta do nariz. — Até pessoal! A gente se fala. — Acenou com uma gracinha para os outros jogadores, apressando o passo para sair da escola o quanto antes.
— Espera Dai-chan! — A voz esganiçada de Momoi o fez olhar para trás e sorrir assim que cruzara os portões com as costas viradas para a rua. Só voltaria para aquela escravidão camuflada de 'futuro promissor' depois de algumas semanas de descanso.
— Aomine? — Uma voz repentina e conhecida fez com que seu sorriso desaparecesse no mesmo instante. Ao virar o rosto e deparar-se com ele encostado no muro da Academia, sentiu todo o bom humor evaporar, como gotas de água pingando em cima de uma chapa quente.
— O que você quer agora, Franjinha? — Murmurou com desprezo, olhando para o horizonte com impaciência assim que Momoi também apareceu ali para presenciar a cena.
— Eu estava te esperando. Hm... A gente pode... Conversar? — Himuro Tatsuya perguntou com a voz surpreendentemente calma e baixa, completamente desarmada e até embaralhada. Nem parecia a mesma pessoa que o provocara ao ponto de gerar uma briga em pleno andamento de campeonato.
Além da calmaria, todo o resto estava estranho, agora que Aomine voltava a encará-lo, certificando-se de que era o seboso ali mesmo. Quase podia afirmar que não era... O que o fez lembrar do papo de bipolaridade que Taiga soltou inconvenientemente. Era isso que significava? A pessoa era uma idiota exagerada e depois ficava abatida, quase morrendo? Provavelmente, já que o olhar frio não aparentava hostilidade, olheiras arroxeadas decoravam a pele pálida, os cabelos pareciam secos e ele inclusive estava mais magro. Sinceramente, estava horrível.
— Não. Não podemos. — Respondeu com simplicidade. Não tinha pena, não depois das merdas que ele tentou fazer.
— É importante. — Tatsuya insistiu com a voz calma, aproximando-se um pouco com passos relutantes. — Não viria até aqui se não fosse.
— Cara, não ligo para nada que você ache importante. — Daiki murmurou com uma sinceridade exagerada, virando-se para o outro lado... O lado onde Momoi estava.
Ela o encarou com aquele olhar julgador e inquisidor que esmagava cada pedaço de sua consciência, deixando-a pesada. Apenas com uma expressão facial, disse intuitivamente para a amiga: 'Sem chance, não vou falar com ele!'. No fundo Daiki sabia que era uma batalha perdida, já que com um simples e duro movimento de rosto, ela respondeu no silêncio do olhar: 'Vai lá, agora!'.
— Saco. — Sussurrou com desgaste, voltando-se para Himuro, que o aguardava com a expressão vazia. Chegava a assustar. — Fala logo, não quero me atrasar.
— Não se preocupe, Dai-chan. — Momoi murmurou antes de qualquer coisa, afastando-se com curtos passos trás. — Eu aviso que você vai chegar mais tarde, invento uma desculpa. Conversem com calma.
Aomine fechou os olhos com mais uma onda de impaciência, controlando o dedo do meio, que estava erguendo automaticamente na direção da amiga. Aquele dia tinha tudo para ser o mais incrível da semana, Daiki inclusive estava aguardando ansiosamente aquele momento para correr até o Maji Burguer, apenas para compartilhar a sua liberdade com Taiga... E então tudo desmorona de um jeito desagradável com a aparição de um verdadeiro fantasma.
No fundo o moreno sabia que iria se arrepender de aceitar aquele papo furado com aquele idiota... Mas não tinha escolha. Como já pressentira, era uma batalha perdida.
— Tá, tá. — Grunhiu para Satsuki, fazendo um gesto com as mãos para que ela fosse embora o quanto antes. — Fala logo. — Cruzou os braços contra o peito e voltou-se pra Himuro, que aguardava impassível.
— Bem... São várias coisas. — Ele disse de forma mais direta e firme, olhando para os carros que passaram na rua assim que Momoi se afastou. — Mas para começar, acredito que devo desculpas a você. Por tudo o que fiz... Desde o início.
— Você o quê? — Daiki exclamou, incrédulo.
— Eu comenti vários erros, e muitos deles acabaram envolvendo você e principalmente o Taiga, então estou aqui para pedir sinceras desculpas, mesmo que você não as aceite ou compreenda.
Daiki nada disse, apenas continuou encarando-o enquanto os outros garotos do time da Touou saíam pelo portão, olhando-os de canto. O moreno não ligou, apenas continuou fitando o olhar de peixe morto que Himuro Tatsuya tinha em seu rosto enquanto pedia uma porra de uma desculpa. Não sabia o que dizer, já que estava com uma mescla de surpresa e incredulidade.
— Não é a primeira vez que faço algo assim com o Taiga. — Ele continuou, antes que Aomine pudesse se manifestar. — Você deve saber que somos amigos de infância, não é?
— E daí?
— E daí que essa não foi a primeira vez que conduzi o Taiga pelos caminhos que eu queria que ele fosse, entende? — Ele tentou explicar, suspirando.
— É. Eu sei. Você manipula ele. — O moreno simplificou com um leve tom de acusação, apoiando o peso do corpo em apenas uma das pernas, impaciente.
— Sim. Acredito que faço isso desde sempre. — Himuro suspirou, olhando para o chão, nitidamente culpado... Ou apenas fingindo. Daiki não sabia dizer. — No ano passado eu voltei para o Japão por causa disso, por causa dele, para ter ele de volta, porque... Hm... Nós brigamos antes de ele vir para cá por uma idiotice minha, por basquete, e eu queria reparar isso. — O rapaz contou, ainda olhando para os próprios tênis escuros. — E então quando eu cheguei para restaurar tudo, ele já estava com você. Por isso me desesperei. — Tatsuya foi sincero, erguendo o olhar para encarar Aomine. — Na minha cabeça eu havia perdido meu irmão para outra pessoa, e isso me amedrontou bastante, mesmo que eu não quisesse admitir.
— Hm... — Daiki fez um movimento com a cabeça para ele prosseguir, apesar de não estar nada afim de ouvir aquela ladainha chata.
— Mas mesmo assim não desisti. Fui me aproximando dele, fingindo as melhores intenções quando na verdade eu tinha as piores... Digamos assim. — Himuro deu de ombros, movendo lentamente as mãos brancas enquanto falava. — O tempo todo eu ficava dizendo coisas erradas, tipo, insinuando, tentando fazer ele lembrar dos nossos momentos, tentando tirar ele de você... Porque eu achava que não conseguia mais vê-lo como irmão, já que a gente teve... Uma história. E esse foi meu erro, uma ideia estranha que surgiu não sei de onde, já que ele é e sempre vai ser meu irmão mais novo. Não sei por quê fiz aquilo. — Ele disse, novamente olhando para o chão. — Se eu tivesse apoiado o Taiga desde o começo, quem sabe hoje seríamos unidos como antes e eu e você até fôssemos amigos.
— É, só que você fez cagada. — Aomine ergueu as sobrancelhas, jamais conseguindo imaginar a situação que ele descrevera. Amigos... Que piada.
— Fiz. — Ele sorriu tristemente, olhando para o moreno. — E me arrependo bastante. Digamos que agora estou pagando por tudo, principalmente por aqueles dias que Taiga foi para Los Angeles. Depois de eu enrolar ele, fingindo que queria apenas amizade, eu o beijei, mesmo sabendo que ele gostava de você.
— Hm... — Daiki olhou para longe, unindo um pouco mais as sobrancelhas. Odiava lembrar aquilo.
— Peço desculpas por isso. Não sei porque fiz, mas na época eu queria ter ele do meu lado a todo custo, mesmo sendo errado. Parecia outra pessoa pensando na minha cabeça, não sei explicar.
O moreno nada respondeu, apenas voltou a encará-lo, buscando alguma espécie de farsa ou mentira naquela culpa que ele aparentava sentir. Porém ele parecia arrependido... Embora fosse manipulador. E doente. Daiki não sabia o que pensar, apenas esperou ele continuar com seu falatório.
— Eu conheço muito bem o Taiga, e como ele é uma pessoa inocente, sabia que ele iria contar tudo para você e que algo iria dar errado... Só não sabia que iria dar tão errado e que você iria magoá-lo também. Não faço ideia do que você fez, mas o Taiga estava muito mal mesmo quando voltou para o meu lado em busca de consolo.
— Escuta, você não tem moral para falar nada de mim. — Daiki deu um passo para frente, sentindo o interior esquentar com aquelas palavras. Não foi nada além da verdade, mas soou como uma provocação desgraçada.
— Não estou aqui para brigar ou criar intrigas, estou só tentando me redimir. — Himuro ergueu as sobrancelhas, ainda com a expressão vazia. — Só estou falando isso porque eu sei exatamente como você se sentiu ao descobrir que o cara que você gostava ficou com outra pessoa. E, querendo ou não, somos parecidos nesse ponto, por nossa impulsividade. — Ele disse, apontando para Daiki. — Você acabou de demonstrar isso mais uma vez.
— Fica na sua. — Aomine suspirou para se controlar, olhando aborrecido para um poste do outro lado da rua.
— Não magoe o Taiga como eu fiz, ok? — Ele murmurou, levando o moreno a encará-lo mais uma vez. — Só estou aqui para te pedir isso. Para você cuidar dele.
Silêncio.
— Sei que pode parecer esquisito eu chegar aqui do nada para pedir isso agora, já que fui o grande culpado pela maioria do sofrimento dele nesses últimos meses, mas eu realmente gostaria que você cuidasse bem do meu irmão... De uma forma que não consegui. — Himuro continuou. — Eu estou voltando para Los Angeles depois de amanhã. Desisti de me aproximar, já que no final sei que vou machucá-lo... Sempre. Sou muito inconstante e ele não merece isso.
— ... — Daiki não soube o que dizer.
— O Taiga é uma pessoa boa, boa demais até, que prefere ver os outros bem antes de falar como se sente, mesmo se estiver sofrendo. Ele fez isso comigo, ficou na dele, e tenho certeza que já deve ter feito isso com você. — Tatsuya prosseguiu, olhando em seus olhos. — Ele é ingênuo, ao contrário de nós dois. Sei disso porque seu olhar é bem parecido com o meu, Aomine... Você consegue ser frio quando quer, também tem um grande orgulho e é impulsivo.
— Tá. E daí?
— E daí que eu errei várias vezes com o Taiga por ser assim. A primeira vez ele perdoou, e com certeza perdoaria a segunda... Mas então teria a terceira, a quarta, a quinta... E ele continuaria ali, aguentando firme, mesmo que se machucasse o tempo todo, e então se apagaria. E se você ama ele como eu amo, não vai deixar isso acontecer com meu irmão. — Tatsuya pediu, sério. — Ele é tipo um anjo, quase dá para ver as asas... E por isso ele pode voar. Você sabe como dói perder ele, não sabe? Então evite isso.
— Ok. — Daiki finalmente compreendeu onde ele queria chegar, mas decidiu não falar muito... Seus pensamentos já eram o suficiente.
— Fui um idiota, confesso, mas agora que consigo ver meus erros, quero apenas que o Taiga seja feliz. E com você ele é. Não desperdice isso.
— Certo. — O moreno murmurou.
— Então... Eu acho que era isso. Só não conte nada para o Taiga sobre essa conversa, ok? — Ele suspirou como se tivesse acabado de completar uma missão exaustiva. — Acho que seria complicado.
O moreno ponderou com um pouco relutância, mas acabou concordando com um movimento de cabeça.
— Me desculpe por tudo o que causei, e pela briga que tivemos também. Espero que você dê um jeito de competir na Winter Cup, de verdade... — Ele sorriu fracamente, dando um passo para trás. — Bem... Boa sorte para vocês dois.
— Bom sorte para você também... Em Los Angeles. — Daiki finalizou, dando-lhe um aceno seco de cabeça que foi respondido da mesma forma.
Após alguns momentos se encarando, Himuro virou as costas e seguiu seu caminho, deixando Aomine para trás.
O moreno não sabia o que pensar, sabia apenas que o cara que viera pedir desculpas e dar-lhe uma espécie de conselho não era o mesmo cara que o provocara ao ponto de brigarem. Isso era a bipolaridade? Se fosse, então era estranho e complicado pra caralho. Com que frequência ele mudava de personalidade? Parecia um verdadeiro doente ali em sua frente. Não que Daiki estivesse sentindo pena, mas retirou grande parte da culpa que jogava naquela franja sebosa.
Querendo ou não, Himuro tinha certa razão... Eram parecidos nesse lance de impulsividade, egoísmo e orgulho, mas Daiki jamais manipularia Taiga ou o magoaria com mentiras e coisas do gênero. Apesar de que já fizera isso uma vez sem pensar muito em suas ações... Mas aquilo era passado, amadurecera desde então, não conseguia ver-se fazendo novamente. Doeu demais depois.
Demorou um bom tempo para Aomine entender o que Kagami realmente significava para si, já que um ser individualista não se abre tão facilmente para outras pessoas... Mas agora sabia que amava aquele ruivo idiota, tinha conhecimento de que ele era uma boa pessoa — mesmo com um porte de ogro e uma expressão fechada —, então com certeza faria o possível e o impossível para ficar de bem com ele, sempre. Não queria perdê-lo. Não iria perdê-lo para si mesmo mais uma vez.
***
Ao longe Aomine podia ver Kise e Taiga disputando um mano a mano enquanto Momoi e Kuroko conversavam no banco que ficava encostado à grade. Esperando o sinal fechar para cruzar a faixa de pedestres, Daiki conseguia reparar nos movimentos do ruivo, na forma como ele se divertia jogando basquete e no espírito competitivo e enérgico que ele emanava... Era contagiante mesmo à distância.
Nesse simples segundo de viagem após a conversa estranha com Himuro Franjinha Tatsuya, Aomine percebeu que estava feliz de verdade, que era um cara extremamente sortudo por ter Kagami ao seu lado e que com certeza não o deixaria ir nunca mais. Ele era incrível, simples assim. Talvez ele até fosse seu ídolo... Jamais admitiria verbalmente.
Se isso soava de forma gay e que não condizia com o jeito Aomine Daiki de ser, dane-se, Taiga era seu namorado, amava ele e não tinha vergonha disso. No início de tudo até sentia uma relutância grande por se abrir assim para seu maior rival no basquete, mas se era ele a sua metade, foda-se o resto. Estava ótimo. Conseguiria olhar o sol do refletindo naquelas mechas rebeldes e avermelhadas por muitos e muitos verões.
Cantarolando qualquer coisa de Imagine Dragons, o moreno cruzou a rua com passos lentos e adentrou a quadra do Maji Burguer, largando a mochila de qualquer jeito perto da do ruivo. Era besta a ideia de que suas mãos estavam suando com a perspectiva de encontrar Taiga, porém era uma reação inevitável depois de tantos dias longe. Sentira muito a falta dele, e isso só provava que estava bastante apegado. Era muito melhor que o individualismo, sinceramente.
O sorriso caloroso que Kagami lançou em sua direção assim que o viu foi o suficiente para Daiki abrir-se também. Não conseguira nem fingir indiferença como geralmente fazia, simplesmente mostrou todos os dentes ao aproximar-se para dar-lhe um demorado selinho nos lábios já levemente salgados pelo suor.
O beijou mesmo que estivessem na frente de todo mundo, já que com Taiga até seu orgulho ia por água abaixo.
Virara uma menininha. Uma menininha feliz.
***
19h28
~Kagami Taiga~
— Cheguei! — Daiki anunciou com um grito preguiçoso para a mãe, entrando pela porta da frente, seguido de perto pelo ruivo.
Após uma longa tarde jogando basquete com Kuroko e Kise, os dois passaram no apartamento de Taiga para pegar algumas roupas previamente separadas em uma mochila e então foram direto para a casa de Daiki, onde passariam a maior parte das férias de verão — de acordo com a senhora Aomine Yumiko, pelo menos. Ela gostara muito de Kagami, por isso o convidava para ir lá o tempo todo, o que era bem mais agradável do que ficar sozinho.
— Ih, acho que ela não está em casa. — O moreno ergueu uma das sobrancelhas, olhando ao redor com estranhamento enquanto tirava o tênis no hall. — Deve ter ido ao mercado.
— Hm... — Taiga não soube o que dizer, apenas deixou o Air Jordan ali também e ajeitou a mochila nas costas enquanto seguia Daiki até seu quarto, contornando a habitual bagunça nos corredores.
— Vou tomar banho. — Ele murmurou, removendo a camiseta da escola com uma mão só, atirando-a para o canto das roupas sujas. — Quer vir comigo? — A voz de Daiki saiu completamente provocativa, levando Taiga a sorrir.
— E se sua mãe chegar? — Perguntou, vendo-o se aproximar de forma insinuante.
— Não faz mal... Afinal, a gente só vai tomar um banho. — Aomine comentou, tirando a regata branca que Kagami usava, dando-lhe um beijo rápido nos lábios.
— Claro. Só um banho. — O ruivo sorriu, acompanhando Daiki pelo corredor, até o banheiro.
— O que você achou? — Ele perguntou com a voz arrastada, deslizando o calção e a cueca até o chão, tirando as meias logo em seguida. — Que eu ia te apoiar naquela parede ali e meter com força até a gente gozar? — Ele apontou para o box de forma provocativa, levando o ruivo a sentir um leve arrepio na espinha ao imaginar a cena.
— Sim, foi exatamente o que eu pensei. — O ruivo ergueu as sobrancelhas, também tirando completamente a roupa, olhando não tão discretamente para o corpo delicioso de Daiki. — Ou quem sabe o contrário, já que você está me devendo isso há quase um século.
— Corta clima você, hein. — Ele deu-lhe um chute fraco e cômico na perna e escancarou as pequenas e janelas superiores que ficavam dentro do box.
— Corta clima nada, você sabe que está me devendo uma foda. — Taiga disse de forma direta, trancando a porta do banheiro.
No fundo ainda não tinha certeza de onde tirava coragem para falar e fazer tanta coisa com Daiki, mas agora tudo era tão natural e espontâneo... Só pode ser a convivência. Afinal, eram namorados há duas semanas já, e a cada dia ficava mais à vontade com ele por perto. Quase dependente.
— É. Tá, tá, mas tenho quase certeza que não vai ser hoje. — Ele ligou o chuveiro assim que o ruivo também entrava ali no pequeno espaço, fechando a porta de vidro jateado atrás de si. — A menos que você me convença.
— Imagino... Porque se depender de você nunca vai acontecer, não é, orgulhoso de merda? — Kagami estreitou os olhos, virando-o para si e empurrando-o contra a parede sem pensar muito no que estava fazendo. Simplesmente estava, simplesmente queria, simplesmente faria.
— Hm... — Daiki sorriu malicioso perante sua atitude decidida. — Gostei.
— Claro que gostou. — Kagami murmurou com um meio sorriso extremamente confiante, beijando lentamente a boca de Daiki enquanto sentia a água escorrer por suas costas, molhando seu corpo e a parte da frente do de Aomine também. O cheiro de suor que misturou-se com o vapor da água quente foi inebriante.
Não demorou quase nada para Taiga sentir seu membro necessitado e agora úmido endurecendo entre as pernas, roçando insinuantemente no de Daiki, que também já estava parcialmente intumescido. Sinceramente, era muito fácil sentir-se excitado quando estava assim com o moreno, sentindo os corpos e os lábios colados depois de tantos dias de afastamento... E agora que notara, era o primeiro banho que tomavam juntos, o que tornava tudo mais foda ainda — principalmente porque à qualquer momento a mãe de Aomine poderia chegar.
Por mais certinho que Taiga fosse, estava adorando aquela sensação de perigo. A adrenalina apenas aumentava o tesão.
Enquanto deliciava-se com a língua quente de Daiki em sua boca, o ruivo desceu os dedos hábeis de uma das mãos e começou uma masturbação dupla, realmente lenta, apenas para estimular a pele sensível de ambos. E estava gostoso, já que os dois encontravam-se há vários dias sem o mínimo contato físico. A eletricidade que percorria seus corpos era quase visível.
Era a primeira vez que Taiga estava no controle mesmo... Claro, já comandara o sexo e as preliminares antes, mas nunca como naquele momento, nunca buscando ser o ativo. Era bom ser dominante uma vez, para variar, mesmo preferindo a sensação de estar completamente submisso à ele.
Agora a situação tornara-se um dilema. Enquanto sentia os dedos de Daiki descendo pelas suas costas, aproximando-se de suas nádegas, o ruivo foi tomado por uma vontade imensa de ser penetrado, de ser fodido, principalmente quando ele tocou ali perto de sua entrada, de uma maneira completamente insinuante... Mas a curiosidade de trocar também gritava alto, já que imaginara a cena acontecendo milhares de vezes desde o dia em que fizera a proposta. Queria tentar.
Aomine conteve o gemido em sua garganta assim que Taiga ignorou o gesto e mordeu seu queixo com um pouco de violência, descendo os caninos pontiagudos por seu pescoço, deixando ali dois fortes chupões que marcaram discretamente a pele morena. O ruivo sabia que Daiki gostava de sentir um pouco de dor, o que era bem excitante, já que ele elevou novamente as mãos para apertar suas costas, conforme intensificava as carícias, deixando mais marcas naquela pele quente.
— Tá indo bem pra caralho... — Ele murmurou em seu ouvido com um sussurro arrastado. — Quase me convencendo...
Ao ouvir aquilo, Kagami engoliu em seco contra o pescoço úmido de Daiki. Por mais que a adrenalina estivesse arrepiando todo seu corpo, o ruivo sentiu uma pontada de nervosismo cruzar seu estômago ao perceber que o moreno estava quase topando. Na verdade ele já havia topado a troca, só estava bancando o durão por causa de seu orgulho natural... Ainda era Aomine Daiki ali, afinal.
— É? — Perguntou provocantemente contra o ouvido dele, com a voz falha, ganhando tempo para pensar no que faria a seguir. Já assistira muito pornô gay para saber a teoria de trás para frente, mas a prática era mais complicada, já que envolvia suas mãos tocando um corpo de verdade.
— Uhum. — Daiki grunhiu ao receber outra mordida no pescoço, conforme Taiga intensificava a punheta, concentrando-se apenas no moreno agora.
Queria dar-lhe prazer, queria ele inteiro.
Sem pensar muito mais, O ruivo agachou-se na frente de Aomine, sentindo o coração quase sair pela boca, tamanha era sua apreensão e vontade. Estava fazendo coisas que nunca fizera até o momento, e a descoberta parecia interessante, apesar de assustadora.
— Caralho... — O moreno não controlou o sorriso safado e satisfeito ao ver o ruivo segurar seu pênis entre os dedos de uma das mãos, próximo à boca. — Não acredito que você finalmente vai chupar meu pau.
Com calma e sem dizer mais nada, Taiga encarou Daiki com uma expressão decidida, e, pela primeira vez, lambeu a cabeça de seu membro com uma leveza e lentidão exagerada. Como mantinha a outra mão apertando as coxas do moreno, Taiga sentiu um leve tremor de excitação por parte de Aomine, e isso apenas o incentivou a continuar. Claro, não sabia exatamente como fazer, mas tinha noção do quê gostava de sentir quando Daiki o chupava, então era só fazer o mesmo.
— Porra Taiga... — O moreno apertou os dedos inutilmente contra a parede de azulejos claros, fechando os olhos de forma sôfrega assim que Kagami envolveu uma pequena parte de seu membro com os lábios úmidos da saliva e da água morna que vinha do chuveiro.
O sabor doce da pele com a água se mesclava ao salgado do pré-gozo, algo que Taiga apreciou loucamente, ao ponto de suspirar, fechar os olhos e afundá-lo um pouco mais em sua boca, realizando movimentos de vai e vem lentos e cautelosos com a cabeça. Sua saliva e sua língua ajudavam a lubrificar aquela pele macia e pulsante, deixando o movimento mais gostoso e fácil.
Se soubesse que um boquete era tão delicioso e diferente — apesar da leve ânsia em certos momentos —, com certeza teria feito as pernas de Daiki tremerem daquele jeito meses antes. Era muito prazeroso, principalmente quando ele arfava logo acima de si, perdido em seu próprio desejo.
Como quem não quer nada, Kagami foi deslizando os dedos de uma das mãos pela coxa de Daiki, aproximando-se sutilmente das nádegas dele. O protesto e a relutância que esperava não vieram em momento algum, Taiga apenas sentiu o olhar do moreno queimar em seu rosto, assim como um sutil e contínuo ondular de quadris contra sua boca. Foi muito excitante e inesperado, levando Taiga a gemer baixinho, mesmo que estivesse com a língua bastante ocupada.
— Tá louquinho pra me comer, né? — Daiki murmurou com o tom de voz baixo e entrecortado pela respiração pesada.
Você não imagina o quanto... Taiga respondeu mentalmente, aumentando a velocidade do boquete, deixando os lábios mais comprimidos para que a pressão fosse maior. Adorava quando o moreno fazia isso consigo, então com certeza ele também iria gostar.
Os movimentos do corpo de Aomine apenas insinuavam que ele já estava mais do que convencido, talvez pelo próprio oral ou pelo ruivo finalmente estar confiante de que poderia fazer aquilo. Eram namorados, afinal das contas. Tinham essa liberdade.
Taiga simplesmente não aguentava mais. Sem pensar muito, afastou-se do membro de Daiki e colocou os dedos dentro da boca úmida, molhando-os bem com a saliva. Se fosse para tentar, seria agora. Dane-se se estava quase tendo uma síncope de nervosismo e vergonha... Seu tesão era bem maior. Se desse sorte, gozaria antes da hora e Aomine o comeria, para finalizar tudo.
— Puta que pariu... — Daiki o olhou com uma expressão sacana e surpresa ao mesmo tempo. — For Men? — Ele perguntou, ainda observando o ruivo ajoelhado em sua frente, lubrificando os dedos com a própria saliva.
— For Men. — Taiga respondeu, sorrindo segundos antes de colocar novamente o pênis de Daiki em sua boca, guiando os dedos agora bem úmidos até as nádegas de Daiki.
— Vou precisar assistir essa... Porra... — Ele murmurou em meio a um gemido, fechando os olhos e os dedos contra os cabelos de Taiga.
Com uma lentidão preocupada, o ruivo inseriu o primeiro dedo aos poucos, encarando o moreno para captar sinais de protesto, dor, arrependimento, orgulho ferido ou algo do gênero. Esses sinais não vieram, Daiki apenas fechou os olhos e suspirou fundo, entreabrindo minimamente os lábios, como quem está gostando, o que deixou Taiga mais confiante e excitado do que nunca.
Era impossível não perceber que o canal era bastante apertado, o que levou o ruivo a imaginar imediatamente a sensação de seu pênis entrando ali, sendo envolvido pela carne quente... E isso o fez desandar completamente no boquete que ainda fazia. Estava excitado demais para concentrar-se em tanta coisa ao mesmo tempo, principalmente quando não sabia fazer nenhuma delas direito.
— Vem aqui comigo Taiga. — Ele murmurou entre dentes, puxando o ruivo para cima pelos cabelos. — Não quero gozar já... Ou não vou conseguir te comer depois. — Daiki murmurou com a voz sôfrega, dando-lhe um beijo urgente e afoito.
— Ah... — Kagami foi obrigado a gemer contra os lábios de Aomine, ainda colocando e retirando o dedo do interior dele, agora sentindo o corpo inteiro de Daiki contra o seu. Iria gozar só assim se não cuidasse, estava gostoso demais, inclusive já movia seu corpo contra o dele, imaginando a cena final.
Ainda com calma — que vinha de algum universo paralelo, porque naquele era impossível existir essa paciência —, Taiga inseriu um segundo dedo, levando o moreno a grunhir de prazer e dor contra sua boca, apertando-o contra si com força. Ele queria, apesar de ser orgulhoso demais para pedir e até mesmo para admitir isso.
— Daiki... — Kagami murmurou com tesão, descendo a boca até seu pescoço, mordendo a pele com força enquanto aumentava a velocidade dos dedos, afastando-os sutilmente dentro de Aomine, que atirou a cabeça para trás, segurando os ruídos em sua garganta.
O ruivo sinceramente não sabia o que estava fazendo, era como se o seu próprio corpo se movesse sozinho, mesclando-se com as vontades e intenções de Daiki. A sincronia entre ambos era palpável, e Kagami adorava isso. Mal podia esperar pela sua vez.
— Cacete... Termina isso logo, Taiga. — Ele grunhiu de repente com prazer e em voz alta, mesmo tentando disfarçar no segundo seguinte, olhando para o lado.
Ah, o orgulho infalível de Daiki tentando camuflar a verdade... No entanto sua respiração acelerada e suas pupilas extremamente dilatadas denunciavam tudo. O ruivo tinha certeza que havia atingido sua próstata, e mais certeza ainda de que ele havia adorado a sensação, já que estava todo molhado e afobado.
— Fica de costas pra mim Daiki. — Murmurou contra o ouvido dele, sentindo o pré-gozo sair de seu próprio pênis. Estava mais do que pronto.
Daiki não rebateu, não disse nada, apenas encarou o ruivo por alguns segundos, como se avaliasse a situação como um todo, e então se virou lentamente. Nesse momento Taiga não sabia mais como ainda estava vivo, já que seu coração estava batendo descompassado, principalmente ao olhar as costas molhadas e gostosas de Daiki ali em sua frente, apenas o aguardando.
— Acho não vou durar muito. — O ruivo admitiu em voz baixa, rindo com nervosismo ao aproximar-se uma pouco mais, colando seu tórax ao corpo dele.
— Ótimo, porque eu também vou te foder hoje ainda. — Ele disse com a voz baixa, apoiando os braços contra a parede, mas sem se curvar.
— Daiki... Você não quer? — Kagami perguntou com um pouco de preocupação e relutância, apenas roçando seu membro contra a entrada dele. — Se não quiser, eu paro.
~Aomine Daiki~
O moreno não sabia como Kagami tirava tanta calma naquele momento para perguntar aquelas coisas. Seu tesão era muito nítido, Daiki não precisava ficar falando. A verdade é que ainda tinha um pouco que orgulho travando seu corpo, sempre era assim quando decidia trocar, mas não significava que não estava afim... Bem pelo contrário.
E era óbvio que Daiki queria, principalmente depois de ter sentido aquela dor gostosa se misturar com o prazer intenso de ter a próstata tocada pelos dedos do ruivo. Era um tesão diferente, uma sensação deliciosa demais — principalmente porque envolvia dor, e Daiki adorava sentir dor de vez em quando. E agora se tratava de Taiga, o que era melhor ainda.
— Se eu não quisesse, seu dedo nem teria chegado perto da minha bunda. — Respondeu em um sussurro quase cômico, virando o rosto para olhá-lo por cima do ombro. Teria que passar por cima do orgulho mais uma vez por causa de Kagami... Mas não se importava. Não mais. Disse, encarando-o: — Mete logo Taiga!
A expressão excitada que tomou o rosto do ruivo foi impagável, levando o moreno a sentir uma leve pulsação em seu próprio membro. Ambos estavam com vontade, eram namorados e gostavam demais um do outro... Não havia vergonha nenhuma em trocar, já que isso apenas fornecia uma cumplicidade maior ainda entre os dois. Era um equilíbrio que atingiam juntos.
— Ah... — Aomine segurou o gemido rouco ao senti-lo penetrá-lo aos poucos. Doía tanto, mas era bom demais, tão bom que o levava a respirar pela boca, entreabrir os lábios e fechar os olhos, apoiando a testa contra a parede umedecida pelo vapor que os rodeava naquele box.
— Daiki... — Taiga murmurou com prazer, repousando os lábios no ombro direito de Aomine. — Caralho. — Ele sussurrou com a voz sôfrega contra sua pele, empurrando o corpo para frente enquanto segurava os quadris de Daiki, para que seu membro chegasse até o fim. — É tão gostoso.— Gemeu baixinho com certa devoção contra o ouvido de Daiki, parando de se mover.
— É sim... — Aomine grunhiu com prazer, sentindo-o tocar sutilmente sua próstata. Era gostoso até demais, fazia seu membro pulsar... Mas o ignoraria por hora, apenas por hora.
Suspirando fundo, o ruivo começou a se mover de forma lenta, como se estivesse se acostumando com a sensação. Era mais do que perceptível seu estado de êxtase, apenas pelos barulhos sexys que emitia enquanto se movimentava para frente e para trás. Daiki se reconhecia nele, já que a sensação era a mesma que presenciava todas as vezes que fodia Taiga.
Com certeza era a primeira vez de Kagami, então provavelmente o fim seria bem mais rápido do que o esperado... Infelizmente, já que estava uma delícia. Ele estava sendo o melhor com quem já esteve. Para variar. Kagami Taiga simplesmente era o melhor em tudo.
— Vai... — Daiki murmurou com a voz baixa, fechando os olhos, quase implorando para ele tocar-lhe fundo, com força, para aranhá-lo, mordê-lo, puxar seus cabelos... Mas isso já era demais. Seu orgulho nunca permitiria tal pedido.
O ruivo imediatamente começou a aumentar a velocidade e a intensidade das estocadas, tornando o movimento cadenciado e cada vez mais gostoso e preciso. Como se lesse seus pensamentos sujos, ele deu-lhe uma mordida forte e contínua no ombro, onde anteriormente apoiava os lábios entreabertos, e começou a apertar seu quadril, puxando-o com mais vontade para si.
— Isso... — O moreno deixou escapar o gemido de aprovação e prazer, fechando os dedos contra a parede ao sentir os dentes do ruivo enterrando-se em sua pele. Não conseguiu segurar, mas cerrou os lábios logo em seguida para não fazer mais nada desnecessário.
Porém estava tão bom... Taiga parecia saber o que estava fazendo, e muito bem por sinal, mesmo sendo inexperiente. Sinceramente, Aomine estava adorando, inclusive suas juntas estavam brancas de tanto que apertava os dedos, na intenção de se conter. Era quase impossível.
À medida que ele entrava e saía de seu interior, o moreno via seu membro duro gotejar contra o piso molhado. Não estavam ali há muito tempo — uns cinco ou seis minutos talvez —, no entanto a sensação era tão gostosa que não precisava ter um fim tão precoce. Ouvir a voz rouca de Taiga contra seus ouvidos também estava sendo ótimo... Mas ele com certeza não iria longe.
— Deixa eu te comer antes de você gozar, Taiga... Agora, vai... — Aomine pediu com autoridade, olhando-o novamente por cima do ombro. A expressão do ruivo era deliciosa, na verdade ele era delicioso, principalmente com a água escorrendo por seu corpo.
— Vem. — Ele pediu na hora, removendo-se de seu interior com cuidado, gemendo minimamente naquele instante.
Satisfeito, Daiki o beijou com vontade antes de virá-lo de costas para si, apoiando-o contra a parede, exatamente como estava há segundos atrás. Esse era seu lugar de verdade, apesar de não se importar com a troca.
Fariam isso na proporção de uma vez para vinte. Uma Taiga comendo, vinte Aomine. Sorriu com o pensamento, voltando a se concentrar no corpo a sua frente.
— Daiki... — Kagami murmurou entre dentes, sentindo o moreno o penetrar lentamente, sem preparo algum. No fundo ele também gostava daquela dor, já que seu corpo não ficava tenso, e sim completamente receptivo. — Vai. Forte... — Ele suspirou, apenas esperando, enquanto Daiki preenchia seu interior sem a mínima pressa.
— Ah, Taiga... Acho foda demais quando você pede isso. — Daiki sorriu de forma libidinosa, segurando-o firme pelos quadris, puxando-o em sua direção.
Foi obrigado a fechar os olhos assim que começou a estocá-lo exatamente como ele o pedira, com força, vontade, algo totalmente carnal e quase abusivo. Kagami era um ótimo dominador quando queria, mas nada superava e o excitava tanto quanto aquela submissão deliciosa e natural. O ruivo gostava de ser fodido e Daiki gostava de foder. Provavelmente a proporção um para vinte seria a realidade dos dois mesmo.
Era evidente que ambos estavam em seus limites — já que não se viam à dias e o início do sexo foi excelente e bastante erótico —, então não demorou quase nada para que gozassem. Taiga chegou ao orgasmo muito antes, segurando o grito rouco com a mão em frente a boca — a janela estava bem aberta, então se alguém ouvisse não seria positivo. Daiki gozou em seguida, removendo-se de Kagami para ejacular contra seu corpo. Foi uma cena bem sexy, precisava admitir... Além de um dos orgasmos mais gostoso que conseguia lembrar. O de Taiga foi, com certeza.
Rindo, trocando beijos, cócegas e socos, os dois completaram o banho que originalmente vieram tomar, e saíram do banheiro com uma moleza no corpo e os dedos todos enrugados pela água. Motivo de piada por um bom tempo.
Ao chegarem no quarto de Daiki, o sono foi a consequência daquela noite quente (em todos os sentidos). Com as mãos dadas, os dois acabaram cochilando enquanto assistiam uma série qualquer de super-heróis. Estavam felizes, mas isso era só o começo das férias de verão... E do namoro. Teriam tudo pela frente.
***
Semanas depois
Los Angeles – Segunda-feira, 16h22
~Himuro Tatsuya~
O clima frio daquele consultório fantasmagoricamente branco e vazio contrastava com o calor do sol que brilhava do lado de fora da janelas, onde as altas palmeiras balançavam com a brisa quente que vinha do mar. Apesar de o dia estar perfeito, nem parecia o auge do verão para Tatsuya.
Olhando fixamente para a porta em sua frente, onde havia uma plaquinha com o nome do psiquiatra que iria atendê-lo — Dr. Quentin Jacobson —, Himuro sentia uma onda gelada de pânico e raiva em seu interior. Não estava doente, não era bipolar, não precisava de médicos e muito menos de remédios para a cabeça. Não sabia porque diabos estava ali.
— Está tudo bem, Tatsuya, querido? — A voz suave de sua mãe ecoou pela sala de espera, em inglês.
— Quero ir para casa. — O rapaz respondeu em japonês, ainda com os olhos fixos na placa da porta.
— Logo vamos. — A mulher sorriu de forma gentil, acariciando seus cabelos negros de uma forma irritante. Tatsuya sabia que toda aquela droga era mentira, ficariam por meio século naquele consultório idiota.
Não demorou nem mesmo dois minutos para a porta em sua frente ser aberta, dando passagem para um homem alto, com a pele morena e um semblante sério, que chamou seu nome — de forma errada e recheada de sotaque inglês — ao olhar em um grande calhamaço de folhas presas em sua prancheta.
— Vai lá, querido. — Sua mãe dera-lhe um empurrãozinho de incentivo, que na verdade pareceu um último golpe para que caísse no buraco negro de um precipício.
Com um suspiro de derrota, o rapaz se levantou do sofá e adentrou a sala — verdadeira jaula, também branca e fria —, sentindo o olhar irritante e avaliador do Dr. Jacobson o acompanhar o tempo todo. Já não fora com a cara dele, talvez porque em algum momento ele o fez lembrar-se daquela fuça arrogante do Aomine Daiki... E isso o levava a recordar o quanto se rebaixara perante aquele babaca, pedindo desculpas. Himuro se arrependia até à alma por ter ido conversar com Aomine em seus momentos de tristeza, fragilidade e minimização no Japão. Estava se contradizendo totalmente, parecia outra pessoa agindo em seu lugar.
— Boa tarde, Sr. Tatsuya. Sou o Doutor Quentin Jacobson. — O homem apresentou-se enquanto sentava na cadeira principal e confortável. — Por favor... — Ele apontou para o pufe ridiculamente pequeno em frente à mesa branca e polida. — Fique à vontade.
Como vou ficar à vontade se estou aqui por obrigação? Himuro pensou, encarando profundamente o psiquiatra com o rosto levemente inclinado para a direita. Não fazia a mínima questão de esconder o desinteresse.
— Diga-me rapaz, o que te traz ao meu consultório em uma tarde ensolarada de verão?
— Minha mãe acha que sou doente e que preciso de tratamento. Ela está errada, então não sei por que diabos estou aqui. — Tatsuya respondeu em japonês com a maior naturalidade do mundo, levando o doutor a sorrir com certo desconforto. Ele não entendera bosta nenhuma.
— Poderia repetir em inglês agora? — Dr. Jacobson soltou uma risadinha olhando para a prancheta e novamente para Tatsuya, buscando fazer piada com o que acabara de acontecer.
— Não, porque não fui com sua cara. — Tatsuya continuou com o idioma nipônico, inclinando um pouco mais o rosto para apreciar a feição bizarra do doutor. — Você é outro que acha que tenho problemas... Mas não tenho, só estou cercado por idiotas achando que sabem mais sobre mim do que eu mesmo. Só porque fico em meio a contradições que nem eu mesmo entendo, não significa que sou bipolar. Sou adolescente. Todo adolescente é assim.
— Sr. Tatsuya, por favor, isso não tem graça. — O homem disse um pouco mais sério agora, ajeitando-se na cadeira com desconforto. — Estou aqui para te ajudar, mas você precisa aceitar minha ajuda primeiro. Converse comigo em inglês, por favor. Deixe-me entendê-lo.
— Vai para o inferno. — Respondeu ainda em japonês, cruzando os braços em cima da mesa polida.
Ele o ignorou, já que não compreendeu uma palavra sequer, e olhou na prancheta mais uma vez, anotando algo.
— Vamos começar de uma maneira diferente. Me conte um pouco sobre você. Soube que tem mudanças constantes de humor, é verdade?
Dessa vez ao invés de falar, Himuro passou a prestar atenção na pouca decoração da sala, ignorando-o completamente. Não estava com vontade de abrir a boca para absolutamente nada, e muito menos responder àquelas perguntas ridículas.
— Certo. — Ele suspirou, levantando-se da cadeira, mas sem atrair o olhar de Himuro. — Chamarei sua mãe para acompanhar o atendimento.
E foi exatamente o que aconteceu. O doutor saiu da sala e fechou a porta. Demorou algum tempo para voltar em silêncio com sua mãe, provavelmente porque delatou toda a sua falta de tato ao ficar respondendo em um idioma que ele não compreendia. E então a porta abriu-se novamente.
— Eu. Não. Sou. Doente. — Tatsuya exclamou em japonês, palavra por palavra, para sua mãe, assim que ela se aproximava.
A mulher de cabelos negros e olhos acinzentados apenas suspirou fundo e sentou-se no pufe ao seu lado, olhando para o doutor com atenção ao traduzi-lo:
— Ele disse que não é doente.
— Essa é a frase que mais ouço em meu consultório, sabia Sr. Tatsuya? — O doutor tentou colocar simpatia na frase, mas não deu certo, já que soou de uma maneira super arrogante. — E a que mais repito é que para tudo se tem um jeito, um tratamento, menos para a morte. Gostaria apenas que colaborasse um pouco comigo, pois assim estará colaborando com você mesmo. Preciso fazer seu diagnóstico.
Silêncio. Tatsuya não tinha nada a dizer. Não precisava de diagnóstico. Estava com a saúde mental impecável.
— Ele está agindo assim, teimoso, falando em japonês, com comportamento hiperativo, contraditório e sem dormir direito há mais ou menos uma semana. — Sua mãe se pronunciou com relutância, sem olhar para Tatsuya. Traidora. — Mas quando voltou do Japão, há mais ou menos um mês, ele não saía do quarto, mal comia, tinha pesadelos. E então de repente melhorou, até me ajudava com a casa, foi para a praia, jogou basquete, se empolgou com a volta às aulas e com a nova escola, fez amigos... Mas agora está agindo assim, e isso começou do nada.
— Compreendo. — O médico assentiu, anotando algo demoradamente no papel.
Cada traço da caneta parecia uma irritante unha arranhando um prato para Himuro, que sentia-se impaciente ali, olhando para os objetos ao seu redor. Sua mãe estava inventando coisas apenas para que ficasse dependendo de remédios. Todos estavam contra si.
— Estou preocupada doutor. — A mulher continuou, olhando agora para Tatsuya com compaixão. Falsa. — Ele morou no Japão com minha irmã por mais de um ano, mas nos últimos meses ela me ligava dizendo que ele estava diferente, bastante elétrico, irritadiço, mas depois de certo dia ficou na cama, triste... Inclusive ouvindo vozes. — Uma nesga de choro transpareceu pela voz de sua mãe, que voltou-se para o psiquiatra. — Mas quem me abriu os olhos sobre uma possível bipolaridade foi o melhor amigo dele, o Kagami-kun. Ele me ligo-
— Quê? — Himuro interrompeu o que ela dizia, arregalando os olhos. Sentiu seu estômago revirar ao ouvir aquilo, era outra traição, outro golpe pelas costas que Taiga dera em sua pessoa. O odiava muito mais a partir de agora, jamais o perdoaria. Continuou em japonês: — Não acredito que você vai confiar naquele mongol ao invés de confiar em mim. Não vê que ele está tentando acabar comigo, só porque eu fiz ele sofrer quando a gente estava junto? Ele está mentindo mãe, está tentando se vingar porque não quis mais ser irmão dele!
— Acalme-se Sr. Tatsuya. — O médico buscou mediar a situação, mesmo não entendendo nada, olhando de forma firme para a mulher e para ele.
— Por que está todo mundo contra mim? — Himuro levantou-se e exclamou em japonês, olhando ao redor. — O que foi que eu fiz? — Olhou de esguelha para o médico, que já estava levando a mão até o telefone. — Não ouse chamar ninguém. Eu não estou louco e nem exaltado! — Sibilou em inglês pela primeira vez, olhando-o de canto. Ele iria chamar os seguranças ou algo do gênero. Ninguém iria interná-lo, nem a pau.
— Sente-se agora Himuro Tatsuya! — A voz da mãe explodiu no consultório, levando o rapaz a encará-lo, quase abismado. Nunca vira ela agir assim, de forma tão zangada. — Sou sua mãe e só te trouxe aqui porque você está... Está doente sim, mas jamais vai admitir isso por ser um orgulhoso como o seu pai. Agora sente-se e ouça o que o doutor tem a dizer, já que isso é para o seu bem. Agora. — Ela acrescentou, com a respiração pesada, apontando para o assento.
— Vocês me odeiam... Só pode. Traidores. Todos vocês. — Himuro suspirou, sentando-se novamente ao olhar para o doutor com uma expressão de puro desprezo.
— Como sua mãe disse, só queremos o seu bem, Sr. Tatsuya. — Disse ele, abrindo a gaveta para tirar de lá uma caixinha azul. Era possível ouvir as cápsulas chocando-se ali dentro.
— Não vou tomar nada dessa droga de remédio. — O rapaz balançou a cabeça negativa e continuamente, falando em inglês agora, com um tom evidentemente preocupado.
— Ele vai tomar sim. O que é doutor? — Sua mãe assegurou, pegando a caixinha em mãos, como se fosse uma joia preciosa.
— É uma amostra de antidepressivo simples, para fazermos um teste de duas semanas. Um comprimido depois do almoço é o suficiente. Sempre com água. Vai acalmá-lo um pouco. — Dr. Jacobson explicou, olhando de um para o outro. — Não tenho um diagnóstico definido ainda, mas todas as descrições e atitudes indicam realmente o transtorno bipolar. De qualquer forma, só poderei concluir em nosso próximo encontro. — Ele explicou, voltando-se para o rapaz. — Sabe Sr. Tatsuya, nesse exato momento você provavelmente encontra-se em um quadro de mania, por isso está agitado e aborrecido com o mundo ao seu redor, não dorme direito, e sente uma vontade de gritar. É completamente compreensível. — Ele afirmou, olhando para a mulher. — A bipolaridade é uma mudança drástica de comportamento, senhora. Uma linha muito tênue separa o humor depressivo do humor hiperativo ou maníaco, mas essas mudanças podem ocorrer com um período de normalidade entre elas, e é exatamente aí que queremos chegar, nesse equilíbrio, para que ele leve uma vida tranquila como sempre. Se seguir o tratamento, não temos motivos para preocupação.
— Está dizendo que não sou normal? — Tatsuya perguntou ríspido.
— Não. — O psiquiatra sorriu de forma carismática, revelando dentes muito brancos. — Você é perfeitamente normal, Sr. Tatsuya, só está com um cabinho desconectado em suas ligações cerebrais, e com esse remédio e mais alguns nós vamos ligá-lo de volta, para que você não tenha mais crises de mania ou depressão. Você sabe como é ruim conviver com essas duas “pessoas” duelando em sua mente, provocando angústia em um momento e de repente trazendo a maior euforia, não sabe?
— Bullshit... — Bufou, olhando para as palmeiras balançando além da janela. Não iria tomar bosta nenhuma, não adiantaria eles ficarem falando aquele bando de baboseiras como se fosse uma criança. Mas sim, era bem ruim. Ainda não entendia o motivo de ter ido falar com Aomine, por exemplo.
— Do que vem isso, doutor? — A mãe de Tatsuya perguntou, preocupada. — Porque ele está assim?
— Sinceramente, ninguém sabe exatamente o que causa o transtorno bipolar. — Ele explicou, olhando para Himuro, que estreitou os olhos. — Podem ser várias coisas: Genética, situações traumatizantes na primeira infância, mudanças muito drásticas em sua vida... Uma verdadeira roleta russa.
— Entendo. — Ela olhou para o chão, pensativa.
— Além dos comprimidos, o Sr. Tatsuya precisa fazer sessões de psicoterapia e frequentar um grupo de apoio semanalmente, para aprender a conviver com as mudanças de comportamento e com os remédios. — O doutor falou, anotando novas palavras em sua prancheta dos infernos. — Seria interessante se a senhora fosse junto com ele nas primeiras reuniões.
— Sem chance. — Himuro murmurou com raiva, mal acreditando que estavam jogando-o em um buraco de loucos, apenas por suporem que era exatamente nisso que se tornara.
— Nós iremos. — A mãe o cortou antes que pudesse dizer as coisas ofensivas que tinha em mente.
— Certo. Vejo vocês daqui a duas semanas então. — O doutor levantou-se, estendendo a mão para a mulher, que retribuiu o gesto. — As especificações sobre a psicoterapia e o grupo de apoio serão passadas na recepção. Seria interessante se começasse essa semana mesmo. E Sr. Tatuysa, vi que você não é muito fã de conversar, então gostaria que você sempre anotasse como está se sentindo. Anote tudo. O dia em que estiver triste, feliz, angustiado, com raiva, com medo. Pode fazer isso e me trazer na próxima consulta?
— Não.
— Ele fará sim, e em inglês. — A mulher disse, abraçando o filho pelos ombros, mesmo que seu olhar fosse rigoroso. — Obrigada doutor, e desculpe pelas atitudes de Tatsuya.
— Tudo bem, ele vai melhorar logo. Não tem culpa de seus impulsos ou de sua depressão, por isso a senhora precisa ser bastante paciente. Eis a importância das reuniões. Tudo ficará bem no final, eu garanto. — O doutor afirmou, estendendo a mão para Himuro apertar. — Até a próxima, Sr. Tatsuya.
Lógico que Himuro não retribuiu o cumprimento, apenas livrou-se do aperto da mãe e virou as costas, deixando os dois para trás... Os dois malditos que acabaram de declará-lo doente, anormal, louco, desiquilibrado, bipolar. Agora estava condenado, e a culpa era de Taiga, apenas de Taiga. Jamais o perdoaria por isso. Jamais.
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