"Nós somos gloriosos! Não teremos mais medo! Somente através da dor você pode alcançar sua glória, os impuros são os intocados. Os não queimados, os não mortos. Aqueles que não foram rasgados, não tem valor para si mesmos e nenhum lugar nesse mundo!"
(Fragmentado)
Rey se colocou de pé vagarosamente, sentia-se incapaz de dormir naquela noite devido ao enjoo, a irritabilidade e o desconforto que a consumia em seus três meses de gravidez. Ben Solo tinha problemas para dormir, no geral, ele tinha muitos pesadelos e um sono inconstante, portanto Rey esperou algumas horas para deixar a cama - usando sua fluída e bela camisola branca quase transparente - para quando tivesse certeza de que o cavaleiro não acordaria. A garota foi até o banheiro, lavou o rosto e caminhou até a outra extremidade do aposento onde normalmente o espaço era destinado a livros, papéis, planos e escrita. Rey sentou-se no tapete e fechou os olhos. Desejava chegar até o General Hux.
Agora o Líder Supremo da Primeira Ordem deveria estar dormindo, nos últimos dias Rey havia tentado de todas as outras formas imagináveis descobrir para qual planeta as bases de “criação dos stormtroopers” foram transferidas, porém não havia alcançado nenhuma resposta. Ela não gostava de tentar entrar na consciência de Hux, não apenas porque o esforço a exauria, mas também porque ele tinha uma mente limpa e não fraca, ele não era influenciável e acessa-lo quase sempre significava cautela para que não fosse percebida.
Rey fechou os olhos, se concentrou, canalizou sua força que agora parecia crescer exponencialmente na medida em que a criança crescia dentro dela. A garota percebeu que Hux não dormia, ou seja, parte de seu plano já estava desmantelado afinal seria muito mais fácil acessar o conhecimento sobre o planeta se ele estivesse adormecido. Rey ainda assim tentou vasculhar alguma memória superficial porém se viu observando através dos olhos do homem a mulher de cabelos longos e loiros cujo nome Lyra ainda estava presente na memória da garota.
-Eles estão tão crescidos - Disse Lyra com um sorriso enquanto segurava uma criança de dois anos que brincava com a mãe - Eles não tem medo de mim, apesar de tudo.
-Crianças precisam de uma mãe - Respondeu Hux menos rígido agora que percebia a interação pacífica das crianças com a mãe - Eu sou um bastardo, nunca conheci minha mãe.
-Não somos casados Armitage, essas crianças também são bastardas - Respondeu Lyra dirigindo o olhar fixamente para Hux e então olhando para atrás do ombro dele.
-Minha mãe foi uma cozinheira era apenas um caso insignificante e uma mulher indigna para meu pai. - Respondeu ele com sua usual afetação - Você Lyra é aquela por quem vale a pena lutar.
-Não estamos sozinhos - Disse Lyra ainda encarando para além do ombro do General Hux o fazendo se virar.
Rey imediatamente deixou a conexão, estava ofegante, exausta e chocada demais com o fato de Lyra ter percebido tão facilmente o elo estabelecido. A garota se colocou de pé ainda confusa e viu debaixo de uma das mesas o antigo capacete de Kylo Ren, ele havia voltado para as mãos de Ben uma semana antes quando conseguiram roubar uma imperial shuttle que infelizmente já pertencera ao cavaleiro em algum momento. A garota pegou o capacete e se questionou porque Kylo o mantinha.
Havia agora um espelho menor acima da cômoda, a meia luz do aposento era suficiente para que Rey pudesse encarar o próprio reflexo. A garota sentiu um forte desejo de colocar o capacete em si mesma, sentiu o desejo latente quase como uma piada de mal gosto, como alguém que espera rir dos demais mas acaba se tornando o verdadeiro motivo para a paiada; ainda assim, vagarosamente, Rey ergueu o capacete e o colocou em seu rosto em um desejo que agora parecia natural: ver o mundo através dos olhos de um monstro.
Rey pegou o sabre de luz duplo que havia ganhado de Kylo Ren, colocou suas botas negras e um casaco também negro e abriu a porta pronta para partir: para onde ela iria? Para o lado negro? Para a escuridão? Não sabia ainda, mas a escuridão - o lado negro - a possuía com tamanha certeza que ela desejava a conquista, o império, o poder absoluto de jamais ser contrariada. Ela se encheu de vaidade pelo seu poder e também da certeza que era invencível.
Kylo Ren despertou em um rompante e imediatamente seus olhos se voltaram para Rey que usando o capacete e preparada para partir mais parecia uma alucinação. A expressão no rosto do cavaleiro ainda era confusa quando ele apenas usando suas calças negras desceu as escadas atrás de Rey.
A garota estava caminhando calmamente segurando o sabre de luz, com algumas roupas escuras e usando aquele maldito capacete. Kylo Ren a seguiu cautelosamente - esperando a garota parar de caminhar para tentar segura-la - até a única cachoeira da propriedade que durante a noite emitia os sons de uma tempestade e parecia absolutamente ameaçadora e destrutiva. O espaço era normalmente utilizado para meditação e não para rompantes impossíveis de decifrar, ainda assim a escuridão em Rey escolhera o local mais sombrio daquela propriedade. Kylo notou que os diamantes da cachoeira reluziam contra a luz do satélite natural lunar daquele planeta fazendo com que mesmo em meio a escuridão entrecortante a luz brilhasse em infinitos pontos.
-O que está fazendo Rey? - Questionou o Cavaleiro chocado demais para perguntar qualquer outra coisa. - Tire esse capacete.
-Eu finalmente entendo - Começou Rey se voltando para Kylo e na frente dele retirando o capacete enquanto continuava - Agora podemos tomar o controle da Primeira Ordem, já temos a armada necessária…não precisamos destruir mais o que eles fazem e sim assumir o controle e não seremos líderes supremos. Seremos Imperador e Imperatriz.
-Quer se juntar ao lado sombrio - Respondeu Kylo notando que os olhos de Rey estavam possuídos pela mesma força sombria e destrutiva que ele já testemunhara.
-Eu vi nosso futuro juntos no lado negro da força - Declarou Rey com um sorriso se aproximando e tocando no rosto de Kylo Ren - Você não vê?
Rey mostrou a ele a visão que tivera. Kylo Ren e Rey lado a lado na sala do líder supremo, uma nova guarda pretoriana os vigiava enquanto caminhavam com as mãos se tocando para se sentarem nos tronos ao fim da sala. Após se sentarem no local de Imperador e Imperatriz podiam ver que todos os sistemas eram dominados agora pelo Império que renascia com as figuras sombrias de Rey e Kylo Ren. Eles reinariam a galáxia, em supremacia absoluta.
Kylo Ren sentiu-se tentado pela visão e assim que abriu os olhos pôde ver em Rey um sorriso desconhecido e então viu através dela sua própria face e compreendeu a capacidade infinita do lado negro de alterar a verdadeira natureza das criaturas vivas. Tudo deveria tender para o equilíbrio e ele procurou pela luz em si mesmo, porém a escuridão era tudo que encontrava e vasculhava. Onde estava a luz para tenta-lo? Onde estava a luz para faze-lo duvidar? Se tantas vezes em seus momentos mais escuros fora tentado pela luminosidade. Foi então que inconscientemente seus olhos se abaixaram e ele notou o ventre de Rey.
-Eu compreendo - Disse ele segurando a mão de Rey e a retirando do próprio rosto. - Mas vejo outro futuro, você não vê?
Kylo Ren ainda segurando a mão de Rey a conduziu até o ventre da mulher. Ambos agora tocavam a visível barriga de três meses da garota de Jakku e uma forte luz os invadiu como se nunca antes houvesse existido trevas. Ambos agora dividiam uma visão muito diferente, nela Rey e Ben Solo vestiam roupas brancas e estavam em uma espaçosa nave muito iluminada que se aproximava de uma estrela brilhante, haviam quatro crianças encarando a estrela que queimava diante deles sendo destruída e Rey sorria beijando levemente Ben e o conduzindo para junto dos quatro filhos de tamanhos e idades tão diferentes, estavam mais velhos, mais sábios e cheios de vida, ambos usavam os trajes de senadores. Ajudavam a governar a galáxia com bondade, com redenção e justiça.
A visão terminou e Rey abriu os olhos voltando a si mesma, o lado negro havia partido ao menos por enquanto. A garota praticamente caiu nos braços de Ben Solo em lágrimas desesperadas, nunca antes Kylo Ren vira a garota indestrutível de Jakku sentir tamanha dor e tamanha desolação, mas ele a segurou e a acolheu em seus braços incapaz de solta-la. Ele fechou os olhos e se lembrou de Leia, se lembrou que um dia sua mãe fizera esse mesmo gesto na tentativa de separa-lo da escuridão e ainda assim o lado sombrio foi tudo que ele pôde entender por longos anos.
-Eu não consigo controlar essa escuridão - Disse Rey ainda desesperada nos braços do homem que agora também estava com um dos joelhos apoiados no gramado para oferecer ainda mais apoio a garota.
-Rey…no dia que tirei o aquele capacete para você - Começou Kylo Ren dirigindo o olhar para o objeto caído no chão - Eu me abri para a luz, eu não sabia o que estava fazendo, mas naquele dia eu revelei minha verdadeira face para a única pessoa que poderia me afastar do lado sombrio.
-Ben…Kylo - Corrigiu Rey rapidamente se aproximando ainda mais - Não importa o quão escuro seja, quantas dúvidas existem e quantas vezes fugirei ou permanecerei...eu te amo.
-Eu sei - Respondeu Ben Solo com alguma tristeza.
Quando Rey adormeceu de tanto chorar nos braços de Kylo Ren ele a segurou perto e a ergueu caminhando rumo a casa que dividiam. Ao virar as costas para cachoeira, com Rey já em seus braços e seus primeiros passos já iniciados, ele ouviu algo que não esperava.
-Filho - Disse Leia atrás dele.
-Leia - Respondeu Ben Solo se virando imediatamente com a face confusa e ainda assim assombrada.
Kylo Ren sabia que Leia havia feito contato através da força, provavelmente o momento de vulnerabilidade havia permitido aquela ligação impossível, ainda assim a mulher estava diante dele como se nunca houvesse partido. O capacete de Kylo Ren caído no chão como um passado deixado para trás em prol de um caminho nunca antes esperado.
-Filho, mantenha Rey longe de Hux…não dê a ela as respostas para as perguntas que ainda não estão prontos para fazer - Pediu Leia com sua voz frágil e calma. - Precisa protege-la do que não pode impedir.
Kylo Ren não teve tempo para responder antes que Leia desaparecesse diante de seus olhos. Ele fechou os olhos por um instante e desejou começar de novo milhões de anos luz de distancia para que pudesse ao menos encontrar um jeito de não se entregar a dor das infinitas possibilidades de uma vida que provavelmente não seria vivida.
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