História Live A Dream - Acabou.

Clarissa Pov's

 

— Vamos amiga — Sophie disse.

 

— Não, eu não quero — Falei afundando meu rosto no travesseiro.

 

— Eu já comprei os ingressos — Ela disse.

 

— Chama outra pessoa — Dei os ombros.

 

— Não, eu quero que você vá comigo — Falou — Você não pode recusar um jogo do Santos na Vila, Clarissa! — Ela insistia.

 

— Não tô no clima — Murmurei.

 

— Tá sim, pode levantar — Ela disse me puxando — Vai tomar teu banho que eu vou separa tua roupa.

 

Revirei os olhos. Não teria outra opção, Sophie era bem insistente. O jeito era ir nesse jogo, mesmo contra a minha vontade.

 

— Olha, mesmo que o Gabriel não tenha culpa, eu entendo que você não quer ficar com ele. Mas se você quer mesmo esquece-lo, ficar em casa não é a melhor opção — Ela disse.

 

— Nem ir pra Vila ver ele jogar — Falei.

 

— Mas o Santos ainda é seu clube de coração. E além do mas, acredito que ele continue sendo teu ídolo — Falou.

 

— Tá, você tem razão — Bufei e ela sorriu.

 

— Então vai — Me empurrou.

 

Fui até o banheiro e liguei o registro. Enquanto esperava a água ficar quentinha, me despi e em seguida entrei. 

 

Ontem depois que vi Gabriel com aquele vaca, decidi esquece-lo. Afinal, pelo visto ele já havia me esquecido e não adiantava eu ficar mal por isso. Dhio até veio aqui ontem e tentou falar comigo, ela é irmã dele, é claro que vai tentar defende-lo. Alias, o que ela disse me deixou um pouco confusa. Ela insistia em dizer que aquilo era tudo armação da cobrinha, vulgo Letícia. Ou sei lá, mas achei que esquece-lo seria a melhor opção.

 

Terminei meu banho e me enrolei na toalha, saindo do banheiro.

 

— Já viu minha roupa? — Eu perguntei.

 

— Aqui — Ela me entregou.

 

Era um short jeans claro e a clássica camisa branca do Santos, com o nome de Ricardo Oliveira atrás. Sorri por isso e voltei ao banheiro para me vestir. Quando saí, coloquei uma sapatilha simples e apenas dei um jeito no meu cabelo. Sem maquiagem, apenas lapis de olho. Peguei meu celular e o pus no bolso do short jeans.

 

— Estou pronta — Falei.

 

— Então vamos — Falou me puxando — Tia, vou levar a Clarissa no jogo do Santos e depois a gente vai lá pra casa tá?! Vou trazer ela de volta ainda hoje — Sophie disse e minha mãe riu.

 

— Mãe diz pra ela que eu tô de castigo e não posso sair de casa — Eu disse.

 

— Você pode levar ela, Soph. Fique a vontade — Minha mãe respondeu. Revirei os olhos.

 

Sophie sorriu em resposta e continuou me puxando pra fora de casa. Entramos no elevador e esperamos que ele chegasse até o estacionamento.

 

— Cla, eu quero você sorrindo, feliz. Não gosto de te ver mal assim. Só entende que tudo que eu tô fazendo é pra você ficar bem. Não fica brava comigo — Sophie disse. Eu sorri.

 

— Você é a melhor sabia?! — Falei abraçando ela.

 

— Sabia — Ela sorriu e beijou minha bochecha.

 

Eu tinha sorte de ter ela comigo nesse momento tão ruim pra mim. Precisava esquecer tudo aquilo e me concentrar na minha fisioterapia, que não foi tão boa hoje. Precisava voltar logo a jogar e me concentrar apenas naquilo, como sempre foi. O apoio dela e que meus pais estavam me dando era esensial. 

 

Logo entramos no carro dele, e ela deu partida para a Vila. Durante o caminho ficamos cantando feito loucas algumas músicas que tocavam no rádio. Eu estava me animando um pouco, começando a ficar empolgada pro jogo, pra todo aquele clima dos torcedores. 

 

Chegamos na Vila faltavam quarenta minutos para o jogo e mesmo assim decidimos entrar na Vila.

 

— Ei, eu vou ir ver o Thiago. Você vem? — Ela perguntou.

 

— Vai me obrigar a entrar no vestiário? — Eu perguntei. Ela negou — Então vamos. 

 

Ela sorriu e entrelaçou nossos braços. Ali estava bem cheio e estávamos com medo de se perder uma da outra. Logo chegamos na entrada do corredor que levava aos vestiários. O segurança me reconheceu e liberou nossa entrada.

 

— Vantagens de ter uma amiga famosa — Sophie disse me fazendo gargalhar.

 

— Amiga, você é a namorada do Thiago Maia. Óbvio que ele deixaria você passar — Falei e ela riu.

 

Continuamos seguindo o corredor até chegar na porta do vestiário do Santos. Eu parei em frente a porta e Sophie iria entrar.

 

— Se o Gabriel perguntar...?!

 

— Você não veio. Ok. Entendi — Ela disse revirando os olhos. Eu ri.

 

— Não demora ou eu vou e te deixo aqui sozinha — Eu disse.

 

— Tá bom — Ela riu.

 

Ela entrou e eu encostei na parede e cruzei os braços. Me preparava para o tédio que teria que passar. Mesmo alertando Sophie, ela demoraria. Percebi os jogadores do Grêmio chegando e arregalei os olhos. Passou-se em minha frente o goleiro Marcelo Grohe, em seguida o meia Wallace. Estava distraída olhando pra eles passando, quando sinto alguém esbarrar em mim. 

 

— Ai — Eu disse quando a pessoa pisou no meu pé.

 

— Desculpa moça. Eu não vi você ai — Ouvi uma voz masculina.

 

— Eu percebi — Falei me virando pro infeliz.

 

Arregalei os olhos novamente ao perceber que era Luan, um dos jogadores do Grêmio. Ele sorriu fraco e eu sorri sem graça. Eu não acredito que fui grossa com ele.   

 

— Desculpa pela grosseria. Eu...

 

— Tudo bem — Ele disse — Seu nome? 

 

— Clarissa — Sorri fraco.

 

— Me desculpe, Clarissa. Eu estava distraido — Disse me mostrando seu celular. Eu ri.

 

— Tá tudo bem. Eu também estava distraída — Falei.

 

Escutei a porta do vestiário do Santos se abrindo e olhei, vendo Gabriel.

 

— Por que você está falando com ele? — Gabriel me perguntou indeferente.

 

— Oi pra você também, Gabriel — Luan disse.

 

Eles jogavam juntos na seleção olímpica. Sempre achei que fossem amigos, mas eu sentia um clima estranho entre os dois.

 

— Isso não é da sua conta — Falei respondendo a pergunta do Gabriel, que me olhava feio.

 

— A gente se vê por ai gatinha — Luan disse me olhando — Tchau, Gabriel.

 

Gabriel apenas balançou a cabeça pra ele e cruzou os braços me olhando.

 

— O que foi em? — Perguntei.

 

— Gatinha? — Perguntou.

 

— Ô Gabriel, quem te deve satisfações é a sua namoradinha lá. Nós não temos mais nada — Eu disse e ia sair dali, mas ele segurou meu braço.

 

— Cla, não faz assim — Ele disse.

 

— Não me chama assim, você perdeu esse direito desde que me traiu — Falei soltando meu braço de sua mão.

 

— Deixa eu explicar o que aconteceu?! — Falou.

 

— Pra mim tudo pareceu bem claro. Você já me esqueceu e eu vou te esquecer. Acabou — Falei e corri pra sair dali.

 

Respirei fundo quando finalmente cheguei ao fim do corredor. Não iria deixar aquele conversa estragar meu dia. Eu estava indo bem, estava tendo um dia bom. Esperei mais alguns minutos e logo Sophie apareceu.

 

— Por que você não me esperou? — Ela cruzou os braços. Ri.

 

— Desculpa. O Gabriel apareceu é a gente acabou tendo uma conversa não muito agradável — Falei.

 

— Sinto muito — Ela torceu os lábios.

 

— Tá tudo bem — Sorri fraco — Vamos pro jogo?

 

— Vamos! — Ela disse animada. Ri com isso.

 

Seguimos para o campo e em minutos, que não demoraram para se passar, o jogo já estava começando.

 

O jogo começou pegado. O Santos estava atacando, mas com uma falha de Geuvanio, Galhardo pegou a bola e seguiu um ótimo contra-ataque, assim, sem chances pro Vanderlei, o Grêmio abiu o placar com três minutos de jogo.

 

O jogo continuou assim, mas dessa vez com o Santos mais atento. A zaga conseguia tirar facilmente a bola. O Grêmio invadia nossa grande área, mas teve que voltar o jogo pela marcação forte do Santos. A bola parou nos pés de Luan e Gabriel lhe acertou forte com um carrinho trasiero. O juiz lhe puniu com um cartão amarelo e ele ficou bem bravo. Minutos depois, Geuvanio foi expulso.

 

O Santos perdia em casa e agora estava com um jogador a menos. Passei as mãos no cabelo nervosa. O primeiro tempo terminou assim. Me sentei ao lado de Sophie e respirei fundo. 

 

Gabriel estava mal no jogo e eu me sentia mal por aquilo, me sentia culpado por tudo que eu disse pra ele antes do jogo começar. Pode ter tirado a concentração dele.

 

— Tá tudo bem? — Sophie perguntou.

 

— Ele não tá se concentrando no jogo, Sophie! E a culpa é minha. Eu não deveria ter dito aquelas coisas pra ele antes do jogo — Eu disse.

 

— A culpa não é sua, Clarissa. Ele é um jogador profissional, precisa saber separar as coisas — Ela disse.

 

— Ele parecia meio tenso — Falei.

 

— Relaxa, ele vai esfriar a cabeça no intervalo — Ela disse. Apenas assenti.

 

Não demorou muito pro segundo tempo começar. E novamente, aos três minutos de jogo, o Grêmio ampliou o placar, dessa vez, calando a Vila. Bufei. Não estava acreditando naquilo. Aos dezenove minutos, Ricardo Oliveira diminuía a vantagem do Grêmio.

 

2-1 para o Grêmio. Ainda dava tempo de pelo menos empatar certo?! Pois é, só que ao invés disso, o Grêmio ampliou para 3-1. O jogo seguia muito difícil e já estava no final dele. A partida se encerrou, infelizmente, com a vitória do Grêmio.

 

Eu e Sophie saímos rápido da Vila e logo já estávamos no carro dela, seguindo para sua casa.

 

— Decepcionante — Eu disse me jogando no sofá dela, assim que chegamos em sua casa.

 

— Foi bem triste — Ela disse.

 

— Bad pós jogo — Falei e ela riu.

 

— Tá brincando né?! — Se jogou do meu lado.

 

— Tô — Falei rindo — Mas eu realmente fiquei chateada. Precisamos somar pontos.

 

— Amiga, ainda é o primeiro turno — Ela disse.

 

— Eu sei, mas esses pontos fazem falta mais pra frente — Falei — Ah, esquece isso. O que vamos fazer agora?

 

— Não sei — Sophie disse suspirando.

 

Escutei barulhos na ponta da escada e percebi a mãe de Sophie ali, que havia chegado de viajem hoje cedo.

 

— Oi tia — Sorri pra ela.

 

— Oi amores — Ela sorriu em nossa direção — Que carinhas tristes são essas em?

 

— Santos perdeu — Sophie disse e fizemos biquinho. Ela riu.

 

— Acontece, amores. Nem tudo nessa vida é ganhar — Ela disse calmamente — Querem fazer um lanche?! 

 

Tia Sônia sempre foi bem simpática comigo, desde que eu a conheci. Já passou horas conversando comigo e com a Sophie sobre tudo. Ela parecia ter nossa idade, nos entendia na maioria dos assuntos. 

 

— Eu quero — Sophie disse — E a Cla também, ela é muito tímida com você pra dizer que quer.

 

Sophie murmurou e riu. Dei um tapa na barriga dela, fazendo ela soltar um grunhido de dor.

 

— Ai sua vaca! — Ela disse.

 

— Dá próxima vez fica quieta — Eu disse revirando os olhos.

 

A mãe de Sophie apenas ria de nós duas.

 

— Um lanche saudável pra nossa atleta e um com gordice pra minha princesa. Já está saindo — Ela disse e foi pra cozinha.

 

Sophie ligou a TV e continuamos conversando sobre qualquer coisa. O que importava era que ela me fazia rir como ninguém. Sabia o que fazer pra me deixar feliz e passar o dia com ela estava sendo ótimo. Eu certamente hoje ficaria em casa, mais precisamente no meu quarto o dia todo.

 

— A gente podia ir no shopping hoje né? — Sophie sorriu.

 

— Ou ficar em casa vendo Brasileirão — Falei e ri da cara que ela fez.

 

— Sério? — Perguntou.

 

— Não, eu só tava brincando. Mas se você quiser eu não vou me importar não — Falei e rimos — Eu vou, mas...

 

— Ih lá vem — Ela disse me fazendo rir.

 

— Você vai me dar um açaí — Falei.

 

— Se aproveitando da minha bondade, que feio Clarissa — Ela disse — Tudo bem, nós vamos ao shopping.

 

— Ok — Sorri me ajeitando no sofá.