Sophie Pov's
Finalmente havia saído do hospital à quatro dias e ainda estava sendo horrível para conseguir andar sozinha. Eu comecei a fisio ontem, obviamente não conseguia mover minha perna com tanta facilidade, ainda doía muito, mas eu tentava me virar com as muletas.
É, me virar e sozinha, por que os meus pais decidiram fazer mais outra viagem de trabalho assim que eu sai do hospital. Eu só contava com a ajuda do Thiago, era o único que estava comigo durante essa pausa para data FIFA. Estaria mentindo se dissesse que não me sentia mal com isso tudo, afinal, são meus pais. O mínimo que poderia mostrar um pouco de amor e preocupação da parte deles, seria parar com essas viagens pelo menos durante minha recuperação. Ao contrário disso, novamente foram na primeira oportunidade.
Eu estava decepcionada e magoada com os dois, mas tentava não demonstrar. Eu sempre tentei ser a "durona". Não gostava de mostrar quando estava mal, mas dessa vez realmente não tinha como esconder.
Estava deitada no sofá assistindo um filme qualquer que passava na TV, enquanto o horário do jogo da seleção feminina não se aproximava. Eu não iria perder o primeiro jogo da Cla na seleção.
— Cheguei — Escutei Thiago entrando.
Com isso tudo que estava acontecendo, eu fui "obrigada" a dar para Thiago uma chave daqui de casa. Eu estava gostando na verdade, ele entrava e saia na hora que quisesse e eu nem precisava levantar para abrir – e mesmo que eu precisasse fazer isso, até eu chegar na porta ele já teria desistido e ido embora.
— Oi — Forcei um sorriso.
— Por que esse sorrisinho triste, em? — Ele se sentou ao meu lado.
— Nada, tá tudo bem — Falei.
— Não adianta mentir pra mim, Sophie — Ele disse e eu apenas suspirei — Ainda é pelos seus pais?
— Sim — Abaxei o olhar.
— Meu amor, eu já disse pra você, não precisa pensar nisso. Eu sei que eles são seus pais e isso te deixa chateada, mas é o trabalho deles e além disso, eu estou com você — Ele disse.
— Parece que o trabalho deles é mais importante que eu. Isso dói, Thiago — Eu disse — Eu estava pensando e... Eu já fico sozinha nessa casa mesmo. Quando eu estiver melhor, quero procurar um apartamento pra mim. Você me ajuda?
— Claro, se for sua vontade e te fizer feliz, eu te ajudo com tudo, Soph — Ele disse.
— Obrigada — Forcei mais um sorriso.
— Agora não quero mais ver essa carinha triste — Ele disse pondo a mão em meu rosto, me fazendo sorrir — Isso, quero você bem e sorrindo — Me deu um selinho.
— Ah meu Deus, Thiago Maia — Eu soltei uma risada fraca.
— Eu sei do que você precisa — Ele disse.
— Desde quando você sabe do que uma mulher precisa pra "curar" a mágoa? — Perguntei.
— Desde que eu tenho uma princesa pra cuidar — Ele sorriu pra mim.
— Então me diz, Thiago, do que eu preciso? — Eu perguntei desafiadora. Ele riu.
— Primeiro, você precisa de uma banho bem relaxante. Depois suas gordices. Eu tava pensando em... Pizza e sorvete — Ele disse.
— Não é que você sabe mesmo do que eu preciso — Falei e ele riu.
— Achou uma boa ideia? — Ele me perguntou. Eu assenti prontamente — E depois a gente vê a Clari jogando.
— Eu amei essa ideia — Falei sorrindo.
— Ótimo. Então vai tomar banho, princesa — Beijou minha teste — Precisa de ajuda para chegar ao banheiro?
— Não, tudo bem. Eu consigo sozinha — Sorri.
— Tá — Me deu um selinho — Cuidado, qualquer coisa me chama.
— Pode deixar — Falei.
Peguei as muletas e segui para o meu quarto, com certa dificuldade e logo cheguei. Liguei o chuveiro e enquanto a água esquentava, me despi. Novamente, com dificuldade, consegui tomar meu banho longo e relaxante. Depois de minutos sai. Coloquei uma roupa qualquer – e confortável – e depois sai do quarto.
— Thiago? — Chamei ele.
— Oi — Ele apareceu na ponta da escada.
— Você pode me ajudar? — Sorri tímida.
Subir aquelas escadas não era problema algum, o problema mesmo estava na parte de descer. Era uma parte bem complicada.
— Claro que sim — Ele sorriu.
Subiu as escadas rapidamente e logo já estava ao meu lado.
— Posso apoiar em você? — Eu perguntei.
— Ah não! Isso vai demorar muito — Ele riu fraco.
— Ué, ent...
Antes que eu pudesse terminar de falar, Thiago me pegou no colo. Isso me assustou e ele riu.
— Thiago — Eu acabei rindo, enquanto ele descia as escadas.
— Isso sim foi bem mais rápido — Thi disse e riu.
— Palhaço — Falei.
Ele me deixou no sofá e então eu me ajeitei, colocando a perna dolorida em cima de algumas almofadas.
— Aonde estão seus remédios de dor? — Ele perguntou.
— Na cozinha — Respondi.
— Vou pegar pra você. A pizza chega daqui a pouco.
— Tá — Sorri — Thi — Falei antes dele se levantar.
— Oi.
— Obrigada. Você é a melhor coisa que me aconteceu — Falei sincera e o vi sorrindo.
— Você é tudo pra mim, Sophie. Eu vou sempre cuidar de você, independente de qualquer coisa. Eu amo você — Falou.
— Eu te amo — Respondi sorrindo.
Ele se inclinou e me deu um selinho longo, seguindo para a cozinha. Vi meu celular tocando em cima da mesinha de centro e o nome da minha mãe vibrar. Decidi não atender, não queria falar com ela agora. Estava muito bem com a presença do Thiago. Olhei no relógio e percebi que faltavam poucos minutos para o jogo da seleção feminina começar, então coloquei no canal que transmitiria o jogo.
— Toma — Thi apareceu sala com o remédio e água em mãos.
Peguei os dois e bebi tudo, o entregando de volta e agredecendo. Ele apenas deixou em cima da mesinha de centro e se sentou ao meu lado, então esperamos até que o jogo da seleção começasse.
— Como você quer seu apartamento? — Ele perguntou.
— Hum — Murmurei pensativa enquanto me ajeitava, deitando em seu peito — Eu quero um lugar pequeno, mas confortável — Eu disse.
— Tive uma ideia — Ele disse e sorriu.
— Qual? — Perguntei curiosa.
— Você pode procurar um apartamento no mesmo condomínio que a Clari — Ele disse. Sorri — Assim eu fico até mais tranquilo em te deixar sozinha, por que sei que vocês não vão se desgrudar mais.
— Thiago, você é um gênio — Eu disse sorrindo.
— Eu sei — Ele disse me fazendo rir — Mas e ai, vai ser isso?
— Eu vou tentar. Quando a Cla voltar pra Santos eu peço pra ela me ajudar — Falei animada.
— Faça isso — Ele disse e beijou minha testa — Vou ficar mais tranquilo com alguém por perto.
— Eu não sou mais criança, Thiago — Eu ri.
— Mesmo assim, amor. Eu me preocupo com você — Ele me apertou em seus braços.
— Se você me quer bem, precisa me deixar respirar — Eu disse e em seguida escutei sua risada.
— Desculpa — Riu fraco e beijou o topo da minha cabeça.
Escutamos a campainha tocar, sai dos braços do Thi e ele se levantou.
— Deve ser a pizza — Falou.
Ele foi até a porta e depois de alguns minutos, já estava de volta. Realmente era a pizza, então comemos enquanto o jogo não começava.
Clarissa Pov's
Finalmente chegou o dia da minha primeira partida pela seleção brasileira. Sim, eu fui confirmada pelo Davão como titular para a partida contra os Estados Unidos. Estava explodindo de felicidade e ansiedade. Eu vestiria a camisa 21 e atuaria pelo meio, ao contrário do Santos aonde sou centroavante. Mas não via problema algum, eu exercia bem as duas funções.
A poucos minutos encerrei uma ligação com o Gabriel. Ele havia me desejado sorte e eu me sentia pronta para o jogo.
Estava no ônibus da delegação brasileira seguindo para o Maracanã, aonde iria acontecer nosso jogo. Mas um motivo para que eu estivesse nervosa: eu nunca sequer pisei no Maracanã e a expectativa é que estivesse casa cheia. Eu já estava no vestiário do Maraca, já tínhamos aquecido e agora faltavam alguns minutos para o inicio do jogo.
Camisa amarela, número 21 "C. Goulart", bermuda azul, meião branco e minha mesma chuteira verde. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e eu usava uma faixa branca simples. Estalava os dedos de dois em dois minutos, estava mesmo bem ansiosa.
— Meninas, venham aqui — Marta nos chamou.
Suspirei, era hora de formar a roda para a oração e depois iríamos para o campo. Formamos uma roda e Marta, com a faixa de capitã começou a falar.
— Hoje nós vamos voltar em campo e o Maracanã está cheio, esperando que a gente faça um bom jogo. Não vamos entrar em campo pensando que é apenas um amistoso, nós vamos jogar como se fosse um jogo importante, uma decisão. Se estamos aqui é por que merecemos, e temos que fazer por merecer uma próxima convocação. E além disso, temos que dar alegria e orgulho ao nosso povo brasileiro. Vamos entrar em campo para conseguir a vitória, só a vitória nos interessa. Ok? Vamos! — Gritou a última parte.
Por fim, fizemos nossa oração e nos cumprimentamos.
— Boa sorte, Cla — Andressinha disse me abraçando.
— Obrigada — Sorri largamente.
Ajeitei meu meião e depois disso segui para a fila em frente aos gramados do Maracanã.
— Boa sorte, garota — Marta deu dois tapinhas em meu ombro.
— Obrigada — Eu disse sorrindo.
Mais alguns dois minutos de ajustes da árbitra, peguei na mão da garotinha ao meu lado e entramos em campo. O Maraca realmente estava lotado do povo brasileiro, todos vestindo a amarelinha. Era noite, então as luzes do Maracanã estavam ligadas em verde e amarelo. O barulho da torcida gritando era de arrepiar.
Eu estava vivendo um sonho.
Me posicionei ao lado de Bárbara com a garotinha parada na minha frente. O anúncio do hino nacional brasileiro logo foi audível naquele estádio enorme e ele começou. Estava uma festa linda, era incrível de se ver. Não parecia apenas um amistoso, parece um jogo realmente muito importante. O estádio inteiro cantava o hino a capela, aquilo me emocionava, mas eu apenas me controlava para me concentrar na partida.
Por fim, tocou o hino dos Estados Unidos e cumprimentamos as meninas da seleção rival. Marta foi até lá para disputar a bola ou campo, e o Brasil começaria com a bola. Me posicionei no meio e esperei a partida começar.
Gabriel Pov's
Estava deitado na cama do hotel esperando a partida da seleção feminina começar. A câmera insistia em focar em Clarissa, destacando bem que ela era estreante da noite. Eu me sentia orgulhoso, mas a saudade só aumentava.
— Cuidado pra não babar em — Gabriel Jesus disse.
— Cala a boca — Falei e eles riram.
No quarto estavam eu, Jesus, Lucas – como sempre –, Jorge, Valdívia e Rodrigo Caio.
— E vocês? Não tem quarto não? — Perguntei pra eles.
— Qual é, Gabriel. Não vamos ficar olhando sua namoradinha não, relaxa — Jorge disse rindo.
— Mas que ela é linda, é — Rodrigo Caio disse.
— Idiotas — Falei negando com a cabeça.
— Relaxa cara. Come uma pipoca ai vai — Lucas disse.
— Não quero, obrigado — Falei.
— Mal humor em. Isso ai é carência? — Ele revidou.
— Vá se ferrar — Falei e ele riu, me tacando um pouco de pipoca.
— Dá pra vocês calarem a boca?! O jogo vai começar — Valdívia disse. Nós rimos.
Voltei minha atenção para a televisão no exato momento em que a árbitra deu inicio a partida.
O jogo se iniciou com pressão do Brasil e logo aos sete minutos, abrimos o placar com um gol de Cristiane. Isso serviu para acordar a seleção dos EUA e ferver o jogo, de modo que agora houvesse pressão dos dois lados. Mas, antes que o primeiro tempo pudesse acabar, o Brasil ampliou o placar com um gol de Marta. E assim se findou o primeiro tempo.
— Olha, sua namorada joga bem mesmo em. Dominou o meio campo — Jesus disse.
— É, joga mesmo — Sorri orgulhoso.
— Olha lá, um idiota apaixonado — Lucas disse e eles riram.
— Vocês são chatos em. Mais gracinhas e eu tiro vocês do meu quarto — Falei.
— O quarto também é meu — Jesus disse.
— Tá duvidando? — Perguntei.
— Não — Ele negou e nós rimos.
Mais alguns minutos deles zoando, o segundo se deu início. Não demorou muito e os EUA diminuíram a vantagem do Brasil, deixando o placar por 2-1. O jogo já estava quase no fim, estava sendo um jogo emocionante e pegado, quando Cla recebeu a bola no meio e levou até a grande área, fazendo um cruzamento perfeito na cabeça de Marta, assim ela marcou e deixou o jogo 3-1. O placar terminou assim e eu estava feliz pela ótima estréia de Clarissa com um belo passe.
Os caras logo saíram do quarto e de novo só restou a mim e Gabriel Jesus. Ele foi tomar banho e eu fiquei esperando, queria ligar pra Clarissa mas já era meio tarde. Era melhor ligar amanhã. Depois de tomar um banho relaxante, me deitei e dormi.
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