Duas semanas depois...
Hoje era dia de jogo na Vila Belmiro. Era uma quarta-feira, mas eu não tinha jogo, então obviamente iria pra Vila assistir o jogo lá. Aliás, já fazia um tempinho que eu não fazia isso. Já estávamos no segundo turno do campeonato brasileiro, então novamente iriamos ter uma partida importante contra o Galo.
Eu estava usando uma calça jeans escura de cós alto e uma camiseta simples, por cima dessa camiseta, usava o novo agasalho branco do Santos. Eu achava ele muito lindo e o feminino era ainda mais, ótimo para usar em uma noite fria de futebol. Nos pés eu usava um all star branco simples, que combinava com a minha roupa. Meu cabelo estava solto e eu usava uma maquiagem fraca, nada exagerado para ir somente assistir o jogo.
— Acabou, Clarissa? — Escutei Soph gritando.
— Acabei — Gritei de volta rindo fraco.
Peguei meu celular e a chave do quarto, então sai do quarto.
— Então podemos ir? — Ela perguntou.
— Podemos — Eu disse e ri da sua pressa toda — Tudo isso pra ver o Thiago?
— Para, sua palhaça! Você sabe que não estamos bem — Ela disse saindo do AP.
— Vocês vão se acertar, Thiago é muito carinhoso. Ele só tá com ciúmes, Soph — Falei trancando a porta.
— Ele não tinha que ter ciúmes do Isaac. Só estávamos fazendo um trabalho da faculdade — Ela disse.
— E você não deveria ter ciúmes das meninas do time — Eu disse e ri fraco. Percebi ela revirar os olhos — É normal sentir ciúmes, Soph.
— Ah — Ela deu os ombros — Mas ele vai ter que vir falar comigo.
— Que orgulho é esse, Sophie? — Eu gargalhei entrando no elevador.
— Mas foi ele quem brigou comigo, eu não fiz nada — Ela disse me fazendo novamente rir — Mudando de assunto, quanto você acha que vai ser o jogo de hoje? — Ela perguntou ajeitando seu cabelo levemente cacheado.
— Hum, eu acho que três a um pro Peixão. E você? — Perguntei.
— Eu acho que vai ser quatro a zero pro Peixe — Ela disse e riu.
— Estamos otimistas, isso é bom — Falei e ri.
Logo a porta do elevador se abriu e então saímos, seguindo para o carro da Sophie. Tomei a liberdade de ligar o rádio e deixar a nossa playlist tocar. É, nós fizemos uma playlist com as nossas músicas favoritas, aliás, temos muitas delas em comum. A primeira música a tocar foi Bailando do Enrique Iglesias a qual eu e Soph cantamos e dançamos durante toda ela e assim foi com as outras músicas que vieram até chegarmos na Vila.
Após estacionar o carro, nós saímos e seguimos para o setor aonde a gente ia entrar. Ao chegarmos nas tribunas da Vila, encontramos lá a esposa do Ricardo com seus dois filhos, Pietra e Anthony.
— Clarissa — Pietra foi a primeira a me ver e vir em minha direção pra me abraçar.
— Oi princesa. Tudo bem? — Eu perguntei e ela assentiu sorrindo.
— Cla, você pode tirar uma foto comigo depois? — Ela perguntou fofa.
— Pietra, seja educada — Seu irmão disse aparecendo ao seu lado — Oi Clarissa. Você tá muito bonita.
— Que isso, eu tiro uma foto com você sim, amor — Sorri pra ela, que mostrou a lingua pro irmão. Eu ri — Oi Anthony, muito obrigada. Você também está um charme.
— Puxei meu pai — Ele disse dando os ombros e eu ri.
Após isso, os dois foram falar com a Soph, que também era um amor com os dois.
— Clarissa, querida. Tudo bem? — Débora me abraçou.
— Eu tô ótima. E você? — Eu perguntei.
— Bem — Ela disse, sempre muito simpática. Eu apenas assenti sorrindo.
Segui até o vidro que cobria do teto ao chão me dando uma visão maravilhosa do campo, e vi os jogadores no aquecimento. Meus olhos correram em direção ao Gabriel e não queriam desgrudar. Era até engraçado. Nossos olhares se cruzavam e ele sorriu. Usava uma touca preta, a camisa de aquecimento de mangas cumpridas, calça do Santos e obviamente as chuteiras, estava lindo. Ele levou a mão a boca me mandou um beijo no ar. Eu sorri e mandei um de volta.
— Você é o tio Gabi são muito fofos, sabia? — Pietra disse aparecendo ao meu lado. Eu sorri timidamente — Vocês vão casar, tia?
— Quem sabe um dia, pequena. Eu ia amar — Eu disse sorrindo.
— O Gabriel tem sorte de ter uma menina que ama futebol com ele — Anthony disse. Eu ri.
— É, eu acho que ele tem mesmo — Eu disse.
— Nossa que convencida. Fiquem longe dela, vai afetar vocês — Soph disse e eu novamente ri.
— Idiota — Revirei os olhos e dessa vez ela riu.
Ficamos ali mais alguns minutos brincando com as crianças e conversando, até os jogadores entrar em campo para o inicio da partida. Só ai, os dois pararam quietos.
A escalação logo começou a ser passada no telão, tem surpresa alguma. Santos iria com o nosso muralha Vanderlei fechando o gol. Cobrindo as laterais iriam o Zeca e o Victor Ferraz. No meio, nosso Maestro Lucas Lima, o Thi e o Renato. E por fim, no ataque iriam Gabriel pela esquerda, Marquinho Gabriel pela direita e o Ricardo centralizado no meio, como um real centroavante.
Após o hino nacional brasileiro tocar e todo o protocolo ser realizado, a partida se deu início. O jogo começou bem pegado para os dois lados. O Santos era forte em casa, mas o Atlético Mineiro também tinha uma ótima campanha fora de casa. Era um jogo difícil contra uma equipe forte. O jogo era lá e cá, uma distração do adversário, era um contra-ataque. O jogo ficou nesse ritmo sem gols, até os 37 minutos do primeiro tempo, quando Gabriel recebeu a bola no meio e arrancou até a grande área, sem opções para passe, ele puxou para o meio e chutou rasteiro, impossibilitando a defesa do Vitor.
Gol do Santos!
Gabriel correu e deu um pulo, ficou bem próximo de onde eu estava. Depois de comemorar com os outros jogadores do Santos, ele se virou e novamente nossos olhares de encontraram. Ele apontou pra mim e fez um coração, eu sorri tímida e lhe mandei beijos no ar. Estava feliz com o gol, afinal, Santos estava na frente. A torcida cantava a bela música feita em homenagem ao Gabriel.
"Vai pra cima Gabriel
Menino da Vila, santista e cruel..."
O primeiro tempo logo se findou com o placar a favor do Santos. O jogo estava bom e quente. Os minutos do intervalo pareceram se passar voando, só deu tempo d'eu beber um pouco de água e voltar para o meu lugar, eu estava agitada com aquele jogo.
O segundo tempo começou com a mesma intensidade do primeiro, mas dessa vez o Santos atacava mais. Aos 9 minutos do segundo tempo, Santos atacava na grande área do Galo. Gabriel recebeu a bola por trás do zagueiro e só precisou driblar para chutar ao gol, novamente fora de alcance das mãos do Vitor.
Gol do Santos! Gabriel de novo!
Ele correu para a linha de fundo, aonde tinha as torcidas organizadas e apontou pra eles, fazendo um coração. Esse menino é mesmo apaixonado pelo Santos e sua torcida. Após isso, ajoelhou-se e agradeceu a Deus junto com seus companheiros de time. Eu apenas comemorava feito doida.
O jogo continuava intenso e pegado, mas novamente o Santos ampliou o placar mais 3-0 com um belo gol de Marquinhos Gabriel. O Santos goleava o Galo dentro de casa e aquilo incendiava a Vila. Todos estavam muito bem em campo e aquilo me orgulhava. O jogo estava prestes a acabar, quando conseguimos ampliar o placar pra 4-0 com um gol de Ricardo Oliveira, levando seus filhos ao meu lado a loucura. O jogou se encerrou assim e eu estava bem agitada.
— Eu disse que seria quatro a zero — Soph disse pulando em minhas costas assim que eu me levantei — Ainda ganhou um gol do menino Gabi em, que chique.
— Para, Sophie — Eu disse e soltei uma risada — Pode descer das minhas costas agora, sua vaca!
— Credo, amiga. Que delicada — Ela disse e desceu, me fazendo rir.
— Vai comigo pro vestiário né, amiga sua linda — Eu disse e ela revirou os olhos.
— Vou — Ela disse eu sorri satisfeita.
— Então vamos — Puxei ela.
Débora também iria com as crianças, então fomos juntas. O segurança já nos conhecia, obviamente, então entramos por ali sem problema algum. Débora foi a primeira a entrar com as crianças com facilidade. Eu por outro lado tive que puxar Soph, que não queria entrar por não estar tão bem com Thiago.
Deixei ela em qualquer canto e segui a procura do meu menino. Vi ele de costas pra mim e conversava com Vitor. Ele me viu e eu apenas sussurrei um "shiiiu" levando meu dedo aos labios em sinal de silêncio. Ele obedeceu e agiu normalmente. O barulho ali era grande, então ele não percebia que eu me aproximava. Aproveitei sua distração e pulei em suas costas.
— Parabéns, meu goleador — Eu disse sorrindo.
— Meu, que garota louca — Ele comentou rindo.
— Poxa, amor. Assim você me ofende — Eu disse e escutei sua risada — Meu menino da Vila, santista e cruel. Parabéns pelo jogo incrível — Eu disse e beijei sua bochecha, em seguida desci das suas costas.
— Obrigada, meu amor. Você foi uma das minhas inspirações hoje. Fazia tempo que você não vinha me ver jogar — Ele disse fazendo um biquinho fofo. Ri.
— É verdade — Concordei — Ah, e obrigada pelo gol. Sem dúvidas, foi a melhor parte do jogo — Eu sorri animada e lhe abracei forte.
Senti sua risada fraca contra minha nuca e quando difezemos o abraço, ele me deu um longo selinho.
— Nossa, fiquei até comovido com a vela que eu segurei agora — Bueno comentou. Eu gargalhei.
— Parabéns pra você também, Bueno. Quase fez gol em. Logo logo sai vários dai — Falei sorrindo.
Vitor tinha subido pro time principal a poucos dias. Teve uma chance no jogo de domingo, Dorival o chamou para reforçar alguns lesionados e ele acabou marcando. Ganhou a confiança do professor e subiu de vez pro time principal, atuando nos minutos finais.
— Obrigado. Espero que saia mesmo — Ele sorriu fofo.
Fiquei mais alguns minutos conversando com o Bueno e Zeca, que tinha se misturado em nosso papo, mas fui interrompida por Soph.
— Ei, você vai embora com o Gabriel, certo? — Ela perguntou.
— Sim — Confirmei.
— Ótimo. Eu e Thiago vamos sair para conversar — Ela sorriu fraco.
— Tá bom — Eu disse e ri — Boa sorte.
— Obrigada — Ela sorriu e beijou minha bochecha — Tchau.
— Tchau — Sorri
Fiquei mais uns curtos minutos esperando Gabriel, quando ele finalmente voltou. Me despedi de todos, sem exceção e saímos dali. Estávamos virando o correr quando escutei alguém me chamar.
— Ah, oi Bruno — Sorri fraco pra ele.
Bruno Leonardo, aquele que eu conheci no CT outro dia. Ele tem se aproximado muito ultimamente, achava ele um cara legal, mas não gostava muito da forma como ele me olhava, aquilo me deixava incomodada de verdade.
— Tudo bem? Oi Gabriel — Ele disse se aproximando.
Gabriel apenas balançou a cabeça pra ele. Nem precisava dizer que Gabriel não ia com a cara dele, não é?!
— Tô bem e você?
— Bem. Só passei para te cumprimentar, estou indo pro vestiário — Ele disse me olhando. Aquele olhar que me incomodava.
— Ok, até mais então — Falei.
— Até — Ele disse e balançou a cabeça pro Gabriel, que não tinha uma expressão muito boa.
(...)
Eu tinha o casaco do Gabriel pendurado em meus ombros, me protegendo do frio que estava ali. O vento gelado batia em meu rosto e isso fazia meu cabelo voar. Os braços do Gabriel me envolviam em um abraço por trás, aquilo me aquecia mais. Apesar da noite bonita, fazia frio em Santos. A brisa do mar também estava bem fria e isso deixava minha pele descoberta gelada.
Eu gostava de ficar na praia durante a noite, era uma paz incrível. Ver o mar quebrar tranquilamente, escutando o som dele me trazia tranquilidade.
— Aconteceu alguma coisa? — Eu perguntei pro Gabriel, quebrando aquele silêncio que já me incomodava.
Escutei seu suspiro, eu já sabia o por que ele estava daquele jeito.
— Não gosto do jeito como aquele cara olha pra você — Ele disse negando com a cabeça.
— Gabriel...
— Eu sou homem, Clarissa. Conheço aquele olhar, sei exatamente o que passa pela cabeça dele e não me agrada. Sei muito bem as intenções dele e não são as melhores. Isso me irrita — Ele disse, claramente bravo.
— Eu sei, eu não sou idiota. E isso também me incomoda — Eu disse sincera.
— Você deveria se afastar dele — Ele negou com a cabeça.
— Eu concordo com você, Gabriel.
— Cla, olha pra mim — Ele disse e assim eu fiz — Eu não quero ser esse tipo de namorado chato que fica tentando te proibir de falar com algum outro homem, mas eu realmente não vejo boas intensões nele.
— Eu sei, amor. Mas você tem razão. Vai ser melhor eu me afastar dele.
— Você é boa demais pra mandar ele se afastar, então se afasta você mesmo — Ele disse passando a mão no meu rosto — E por favor, toma cuidado. Não quero ninguém te fazendo mal e não sei do que ele é capaz.
— Eu já deveria ter me afastado dele, e isso não vai demorar mais, tá?! Eu também não gosto do jeito como ele me olha — Falei.
— Ele não é louco de fazer nada com você, Clarissa. Se fizer, é um homem morto! — Ele disse e tornou a me abraçar forte.
Eu sorri, me sentia protegida com ele. Ficamos mais alguns minutos ali na praia e depois seguimos para a minha casa.
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