Eu já estava em casa a um tempinho. Já havia trocado de roupa e estava sentada no sofá, enquanto qualquer coisa passava na TV. Eu de verdade não prestava atenção. Me mexi desconfortável no sofá e desliguei a TV. Aquele assunto não me deixava sussegada, não saia da minha cabeça.
Escutei meus celular tocar, desligando meus pensamentos e me estiquei para pega-lo. Vi o nome do Gabriel na tela, não queria atender, mas eu também não tinha como fugir dele. Deslizei o ícone verde pra esquerda e atendi.
— Oi — Eu disse.
— Cla, por que você foi embora sem falar comigo? — Ele perguntou.
— Ahn... Eu tinha algumas coisas pra fazer — Eu disse.
— Eu não acredito — Ele disse.
— Por que?
— Porque você não sabe mentir pra mim. Algo não está certo — Ele disse — Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu — Eu disse.
— Você quer conversar? — Ele perguntou.
— Seria bom — Eu disse após soltar um suspiro.
— Eu chego ai em quinze minutos.
— Tá bom, até depois — Eu disse e desliguei.
Eu não estava brava com ele ou algo assim a ponto de não querer conversar. Eu estava chateada por ele não ter ne contado e pior ainda, pela possibilidade dele estar na Europa mês que vem. Não pelo egoísmo, ele merece muito realizar os sonhos dele. Mas a Europa é quase do outro lado do mundo, eu ficaria longe do Gabriel e isso com toda certeza seria horrível. Isso me deixava mal.
Me levantei do sofá ajeitando as almofadas e fui para a sacada, sentando em um banquinho dali. O clima estava fresco, bem diferente do de hoje mais cedo, que estava muito quente. O céu estrelado indicava que o dia seguinte também estaria muito calor, mas não era aquilo me preocupava naquele momento.
Em minutos, meus pensamentos novamente são interrompidos, dessa vez por alguém batendo na porta, provavelmente Gabriel. Respirei fundo me preparando para o que poderia vir a seguir, me levantei e abri a porta, vendo Gabriel.
— Entra — Dei espaço pra ele e voltei pra sacada.
Escutei ele fechar a porta e logo se aproximou, sentando no espaço ao meu lado.
— O que aconteceu? — Perguntou se aproximando.
— Quando você ia me contar sobre as propostas da Europa? — Eu perguntei e lhe fitei. Sua expressão mudou.
— Quem te disse isso?
— Não importa — Eu respondi calma.
Ele fitou o chão por alguns segundos e depois voltou a me olhar.
— Eu ia te contar, mas o Wagner não deixou — Ele disse sobre seu empresário — Ele pediu pra não contar.
— Mas eu sou sua namorada, Gabriel — Eu disse.
— Eu achei que você tivesse visto alguma coisa na internet — Ele me respondeu.
— São apenas especulações, Gabriel — Eu disse — Quando você ia me contar? Quando já estivesse de malas prontas?
— Claro que não, meu amor. Eu ia te contar quando a gente voltasse para o Brasil — Ele disse.
— E ai na semana seguinte iria pra Europa? — Perguntei voltando a olhar pra frente.
— Não, Clarissa — Ele disse calmo e pegou minhas mãos — Olha pra mim.
Ele pediu, assim eu fiz. Ele sorriu fraco e tirou um fio de cabelo que estava no meu rosto, o pondo atrás da minha orelha.
— Eu não iria tomar nenhuma decisão sem antes falar com você, Cla. O Wagner querendo ou não, você é a minha namorada, é mais que metade de mim e eu não faria nada sem antes falar contigo. Eu recebi sim propostas da Europa, mas eu já tenho quase certeza do que vou fazer.
— E o que você vai fazer? — Eu perguntei com um pouquinho de medo da resposta.
— Eu não quero — Ele disse.
— E por que não, Gabriel? Eu aposto que são oportunidades incríveis, sua chance de realizar seu sonho — Eu disse.
— Eu sei. Mas eu só tenho dezenove anos, Cla. Eu ainda quero conquistar mais coisas pelo Santos, quero cumprir meu contrato aqui e ai, o futuro só Deus sabe — Ele sorriu doce — E eu não quero ficar longe de você.
Eu suspirei, por um lado aliviada e o abracei forte.
— Então você não vai embora? — Eu perguntei e saiu mais como um sussurro, enquanto ele me abraçava na mesma intensidade.
— Você ainda vai me aturar por muito tempo — Ele disse. Eu sorri com isso.
— Te aturar por muito tempo parece ótimo pra mim — Eu disse. Ele riu fraco.
— Minha menina — Ele sussurou — Casa comigo?
— O que? — Eu perguntei e ri.
— Eu quero casar com você, Cla.
— Mas Gabriel...
— Você vai aceitar sim. Vai casar comigo e passar o resto da sua vida do meu lado nem que eu tenha que fazer você casar a força — Ele me apertou mais em seus braços.
Eu desfiz o abraço e lhe fitei arregalado os olhos. Ele soltou uma gargalhada alta e contagiante.
— Eu tô brincando, relaxa — Ele disse me abraçando novamente — Mas nós vamos casar sim! Futuramente.
Ele disse e eu apenas sorri largo, sentindo seus braços em torno da minha cintura. Era o melhor abraço do mundo e estar ali dentro pra sempre era o meu maior desejo.
Alguns dias depois...
Hoje era o último jogo do Brasileirão, o último jogo do ano na Vila Belmiro. A Vila sempre está lotada, mas hoje, talvez por ser o último jogo do ano, estava ainda mais lotada. Era onze da manhã e o sol estava forte, mas por sorte, a parte que eu estava, atrás do gol norte não batia tanto.
É, novamente eu estava junto com a torcida. Era o último do ano, não poderia deixar de sentir aquele clima, depois só vou conseguir no final de janeiro, no Paulistão. O Santos iria enfrentar o Atlético-Paranaense.
Desde o ocorrido contra o Palmeiras, Gabriel já está bem melhor, apesar de ainda estar chateado. Mas ele treinou a semana toda e se preparou para o jogo, afinal ele ainda estava concorrendo ao prêmio de jogador revelação do ano e poderia facilmente levar, mesmo que Ricardo Oliveira fosse o artilheiro do Brasileirão, Gabriel liderava a artilharia da Copa do Brasil com quinze gols.
Eu estava ali com Soph e Lívia, estávamos conversando enquanto o jogo não começava. Taina viria com a gente, mas teve um imprevisto em sua cidade e não pôde vir.
— Eu quero comer — Soph murmurou.
— Justo agora? — Eu perguntei e Lih riu.
— Ah gente, esse jogo já tá ganho. Eu realmente preciso comer, não tomei café hoje — Ela diz se sentando.
— Faltam quantos minutos pro jogo começar? — Lih perguntou.
— Sete — Eu disse olhando em meu celular.
— A gente chega a tempo, Cla. Por favor. Só uma ida na cantina e eu volto pra comer aqui mesmo — Ela diz.
— Tá — Eu ri da sua insistência.
Nos levantamos e saímos da arquibancada facilmente, seguindo pelos corredores da Vila.
— Ai eu não quero ir embora daqui. Quando chegar em casa vou ter que viajar pra Brasília — Lih murmurou meio chateada.
— Ah, Lih, não fica assim. Pode ser uma viagem boa — Eu disse sorrindo.
— Lá é um lugar tão chato, já fui algumas vezes. Não tem nada pra fazer, sério — Ela disse nos fazendo rir.
— Eu viajo em dois dias e ainda não arrumei minhas malas — Soph disse.
— Estamos na mesma, mas eu viajo em quatro dias — Falei e ri fraco — Vai ser incrível ir pra Miami — Eu disse e sorri largo.
— Aproveita aquelas praias maravilhosas por mim — Soph disse.
— Prefiro as praias de Cancun — Eu disse rindo.
— Eu iria pra qualquer lugar que não fosse Brasília — Lih revirou os olhos e nós rimos de novo.
Em fim, chegamos até a cantina. Eu não estava com fome, então peguei apenas uma lata de refrigerante. Lih pegou um pacote de pipoca e Soph, bem, ela comprou coxinhas. Estava mesmo com fome. Nós voltamos rápido para as arquibancadas e a bola já estava rolando, com a torcida fazendo festa.
Olhei ao telão e o jogo já tinha dez minutos. É, a intenção não era demorar, mas demoramos. Prendi meu cabelo em coque sentindo o suor começando a escorrer, mesmo sem o sol por ali. Dois minutos depois que chegamos, o Atlético-PR abriu o placar com Cleberson, mas, em mais dois minutos Geuvanio empatou o jogo na Vila Belmiro. Quinze minutos depois, o Santos virou o placar com um gol do Gabriel.
Ele correu em direção a torcida, bem perto de onde eu estava, e apontou pra torcida do Santos, fazendo um coração e a reverenciando. Eu achei bem fofo. O placar do primeiro tempo se encerrou assim, 2-1 pro Santos.
Peguei meu celular no bolso do short jeans e levantei o mesmo, com a câmera ligada.
— Meninas — Chamei as mesmas, que estavam distraídas.
Elas olharam e sorriram. Soph estava com o coque totalmente bagunçado, mas fofo. Lih deixava seu cabelo solto somente para um lado e eu, com o cabelo solto normalmente. Eu bati a foto e logo e seguida postei no Instagram, de legenda apenas um coração e marquei as meninas.
O segundo tempo começou, e com quatorze minutos saiu mais um gol do Santos, mais um do Gabriel que ampliava o placar pro Peixe. O jogo logo foi interrompido para substituições, em campo agora estavam Vítor Bueno e Alison. Dois minutos depois da entrada do Bueno, ele recebeu um belo passe e marcou mais um gol. Em mais alguns minutos, o Santos ampliou com outro de Geuvanio. Por fim, o Santos teve uma vitória por 5-1 em cima do Atlético-PR pelo seu último jogo do ano.
(...)
Eu estava no estacionamento da Vila, dentro do meu carro. Lih estava no banco de trás, por opção dela e conversava com a mãe no celular. Soph tinha ido pro seu carro, já que esperava Thiago lá. Eu esperava Gabriel, Lih estava comigo por que eu tinha prometido para a mãe dela que a deixaria em casa.
— Tá, mãe. Já tô chegando, só estamos esperando o namorado da Cla — Ela disse e eu percebi que estava meio nervosa.
Talvez por saber que vai encontrar Gabriel novamente depois daquele dia na academia.
— Minhas malas já estão prontas. O vôo é só quatro horas da tarde, da tempo de almoçar e ir pro aeroporto — Ela disse revirando os olhos.
Segurei uma risada, não seria muito educado rir naquela momento.
— Tá, mãe. Tchau — Ela disse sem paciência e desligou — Essas férias serão terríveis.
— Por que?
— Minha mãe tá um saco depois que minha irmã se separou. É por isso que vamos pra Brasília. Talvez minha irmã volte a morar com a gente — Ela disse.
— Sinto muito — Eu disse e sorri.
— Não sinta! O marido dela era insuportável — Ela disse me fazendo gargalhar.
— Deve ser legal ter irmã — Eu disse.
— Você é filha única? — Ela perguntou e eu assenti — Ah, nem sempre. São muitas brigas, implicâncias, ter que dividir tudo. Mas o lado bom é o companheirismo, amizade, guardar segredos, cobrir merdas — Ela disse me fazendo rir.
— Essas partes sempre ficaram com os meus primos. Principalmente Julian — Eu disse e ri, lembrando de tudo que já aprontamos.
Olhei pro lado e percebi Gabriel se aproximar. Ele estava sorrindo e cantarolando alguma música. Sempre muito bem humorado. Ele deu a volta e entrou no carro.
— Boa tarde, meninas — Ele disse e beijou minha bochecha, enquanto eu ligava o carro.
— Boa tarde, goleador — Eu sorri pra ele.
— B-Boa tarde — Lih disse e eu ri, isso fez ela me lançar um olhar mortal.
— Tudo bem com vocês? — Ele puxou o espelho em cima dele, ajeitando o cabelo. Eu ri fraco e assenti.
Gabriel estava mesmo animado, durante todo o caminho até a casa de Lívia conversamos bem, e depois disso fomos para a casa dele, aonde teria o famoso almoço de domingo.
— Vamos pra Disney, vamos pra Disney — Eu disse animada batendo as mãos no volante. Gabriel riu divertido.
— Coitada da Disney, que não tem uma princesa como a minha — Ele disse me fazendo sorrir tímida.
— E nenhum príncipe é mais maravilhoso que o meu — Eu disse e ri.
— Isso e muito gay, Clarissa — Ele disse e gargalhamos.
— Foi você quem começou — Falei e ri — E pelo menos eu tenho sorte — Falei sorrindo.
Estacionei o carro em frente a casa dele e saímos. Ele andava em minha frente com a sua "bolsa" que carregava suas coisas do Santos. Pulei nas costas dele, o que o fez cambalear pra frente, mas se manteve de pé. Entramos assim na casa dele e eu logo desci.
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