Mais um dia normal em que eu voltava pra casa após passar a tarde com o Gabriel. Na verdade, já era quase noite quando eu finalmente estacionei o carro no estacionamento do condomínio. Eu sai do carro e caminhei em direção ao elevador, entrando em seguida e apertando o número do meu andar. As portas já estavam se fechando quando alguém colocou as mãos, me assustando.
— Ah! — Soltei um grito abafado.
Olhei pra frente e vi o loiro entrar no elevador com um sorriso divertido em lábios.
— Desculpa, não queria te assustar — Roger Guedes disse. Sim, o jogador do Palmeiras.
Mas o que ele estava fazendo por aqui eu não sei!
— Tudo bem — Eu forcei um sorriso. Mas um que eu não gostava daquele time.
— Não imaginava que te encontraria aqui — Ele disse.
— Me conhece?
— Claro. Já vi alguns jogos da seleção feminina — Ele sorri.
— Hum, que desagradável — Eu disse sincera e ele gargalhou.
— É um prazer em te conhecer também — Ele disse — Cadê seu namoradinho?
— Não te interessa — Eu disse erguendo as sobrancelhas.
— Nossa, que menina educada — Ele diz irônico.
— Pra quê quer saber? — Eu revirei os olhos.
— Curiosidade. Saber como ele comemorou o vice dele.
— Ah vá te ferrar, garoto — Eu disse.
Agradeci mentalmente quando as portas do elevador se abriram e eu sai dali. Que garoto folgado, idiota. Nunca gostei dele, só me deu mais motivos. Entrei rápido no meu apartamento e fechei a porta, trancando a mesma. Bufei por ter a infelicidade de encontrar logo um jogador do Palmeiras em meu condomínio. É muito azar – no meu ponto de vista.
Suspirei sentindo ainda a cólica, mas dessa vez bem mais leve. Caminhei até meu quarto e peguei uma roupa confortável, então tomei um banho quente. Após isso, me deitei e enrolei-me debaixo das cobertas, em minha cama bem macia. Ainda era cedo, mas por algum motivo – talvez a dor –, eu acabei adormecendo sem nem jantar.
(...)
Geralmente o resultado de dormir cedo, é acordar cedo. Mas, pelo menos hoje, isso não foi o que aconteceu comigo. Já era quase onze da manhã e eu sentia vergonha por ter dormido tanto. Mas, o lado bom disso tudo, é que eu estava relaxada e sem nenhuma cólica.
Me levantei e fui fazer minhas higienes, depois disso, coloquei uma roupa boa e confortável para passar minhas próximas pelo menos duas horas na academia aqui do prédio. Depois disso, comi apenas uma fruta e bebi um pouco de suco. Encaixei meus fones no celular e coloquei minha playlist para tocar, em seguida sai de casa.
— Bom dia, tio — Eu disse já na portaria.
— Bom dia, senhorita Clarissa — Ele diz.
— A chave da academia está ai?
— Não. Na verdade um morador veio buscar a pouco — Ele disse.
Eu estranhei. Ninguém além de mim usava essa academia na parte da manhã.
— Ok. Eu vou pra lá então. Obrigada — Eu sorri.
— De nada — Ele diz.
Sai dali e segui para a academia. Antes que eu pudesse entrar, vi pela porta de vidro ninguém menos que Roger Guedes na esteira. Era só o que me faltava. Novamente, eu estranhava a parte do seu Antônio quando disse "um morador veio buscar a pouco". Ignorei esse pensamento e coloquei novamente meus fones, deixando no volume máximo, em seguida entrei na academia.
Percebi ele olhar e sorrir, mas novamente ignorei. Se eu já não gostava dele, depois de ontem até sua respiração ofegante me irritava. Me deixei levar pela música que tocava em meu celular. Mercy – Shawn Mendes tocava bem alto me deixando relaxada e me fazendo ignorar tudo o que acontecia ao meu redor. Liguei uma outra esteira e subi, começando a caminhar bem devagar. Eu cantarola baixinho.
— Please have mercy on me. Take it easy on my heart. Even though you don't mean to hurt me. You keep tearing me apart. Would you please have mercy. Mercy on my heart — Eu continuava cantarolando.
Logo a música acabou e não começou outra, não entendi e tive que parar de correr para pegar o celular.
— Até que pra uma jogadora você canta bem — Escutei a voz de Roger Guedes.
— Eu estava cantando alto? — Eu arregalei os olhos.
— O suficiente pra que eu conseguisse ouvir — Ele disse e eu apenas assenti.
Continuei focada em meu celular e coloquei para tocar Uptown Funk do Bruno Mars. Quando ia começar, escutei Roger falar.
— Eu queria pedir desculpa por ontem.
— Você o que? — Perguntei tirando o fone.
— Quero pedir desculpa — Ele diz. Dei os ombros — E se a gente fosse sair hoje em forma de desculpa?! — Ele disse e eu gargalhei alto e ironicamente — O que foi?
— Você não deveria me chamar pra sair.
— Por que não?
— Porque eu tenho namorado?! — Eu disse como se fosse óbvio. E era.
— Amigos também saem juntos — Ele disse.
— A diferença é que não somos amigos — Eu disse.
— Mas podemos ser — Ele sorriu.
— Eu recuso o seu convite e tentativa de ter uma amizade legal — Falei e voltei a por meus fones, subindo novamente na esteira.
— Pra quê tentar dar de difícil em? — Ele perguntou após de tirar meu fone.
— Não estou me fazendo de difícil e eu não sou obrigada a sair com você — Eu disse.
— Mas você quer.
— Quem te iludiu?! — Falei irônica.
— Qualquer uma aceitaria — Ele diz sorrindo sarcástico.
— Eu não sou qualquer uma. Eu sou uma mulher comprometida e gostaria que você respeitasse — Eu disse e ele revirou os olhos — Me dá licença — Falei e continuei a correr.
Fala sério, que garoto folgado. Ele que não venha atrapalhar minha vida e princialmente meu relacionamento com Gabriel que está muito bem – apesar do que aconteceu ontem.
Ah, por falar nisso, Beatrice disse pra Dhio que estava arrependida e envergonhada e por isso foi embora sem que ninguém a visse. Eu não acreditei e acho que ela pode voltar, acho que ai tem coisa. Quando eu e Gabriel acordamos, ela já tinha ido e isso me agradecer mentalmente. Com certeza Dhio contaria aquilo pra sua mãe, afinal, dona Lindavel sempre gostou muito da menina e a tratava como uma outra filha. Mas tudo o que recebeu em troca foi uma decepção.
As horas se passaram rápido e eu novamente soava muito, a ponto de escorrer em meu rosto. Fiz uma cara de nojo com aquilo e ri sozinha. Desliguei a esteira que eu estava usando antes e sai de cima da mesma. Tirei um dos fones e abri a porta, pra sair. Mas fui interrompida pelo ser loiro segurando meu braço.
— O que tu quer? — Perguntei.
— Eu já disse o que eu quero — Ele falou.
— E eu já disse que não vou, Guedes. Que saco — Eu revirei os olhos.
— Por que?
— Mas você é insistente em. Por que eu não quero e acima de tudo respeito o meu namorado. Não sairia que outro homem, você nem me conhece — Eu disse.
— Essa é a intenção. Te conhecer melhor — Ele disse.
— Esquece — Eu disse soltando meu braço de sua mão e saindo dali.
Suspirei fundo tentando manter a calma, mas aquele idiota já estava me irritando. Ele é insistente e folgado. Eu não gosto dele – mas não diria isso pois sou bem educada – e nem sairia com ele. É difícil de entender ou vou ter que desenhar?!
Entrei no elevador e assim que cheguei no apartamento, fui direto tomar um banho bem longo e quente pra tirar todo aquele suor. Depois coloquei uma roupa confortável e sai de novo, dessa vez batendo na porta da Soph.
— Já vai — Escutei a voz grossa do Thiago. Eu ri fraco.
Demorou alguns longos segundos, mas logo Thiago abriu a porta e como sempre tinha um sorriso no rosto. Eu sorri também.
— Oi meu amor — Ele disse e me abraçou forte.
— Oi, Thi. Tudo bem? — Eu perguntei e ele assentiu — Que bom.
— E você, tampinha. Tudo bem? — Ele perguntou me dando espaço pra entrar.
— Tô bem — Eu disse entrando — E a Soph?
— Tá no banho. Depois vamos para a sessão de fisio — Ele disse fechando a porta.
— Como ela tem ido? — Perguntei, já que na maioria das vezes quem acompanha ela, é o Thi.
Mas por que ele não me deixa ir, sempre insisti pra que ele mesmo acompanhe Soph. Eu acabo cedendo, é muito bom para os dois.
— Muito bem — Ele sorriu — Se tudo continuar assim, semana que vem mesmo ela já pode tirar a bota e ai começam as sessões sem ela.
— Graças a Deus — Eu disse sorrindo.
— Thiago, cadê o meu... — Soph apareceu na sala, mas parou quando me viu — Cla — Sorriu largo e veio me abraçar.
Isso por que a gente não se vê a dois dias.
— Soph — Sorri largo a abraçando forte — Como você está?
— Bem, e você amiga? Você sumiu — Ela disse desfazendo o abraço.
— Eu tô bem — Falei rindo — E precisamos conversar.
— Pra ontem — Ela disse — O Gabriel vem ai hoje?
— Ele vem mais tarde — Eu disse.
— Então vamos jantar aqui, tá?! Os meninos fazem qualquer coisa e a gente conversa — Ela disse.
— Eu aprovo — Eu disse — Vou trazer alguma coisa. Um doce, talvez.
— Boa ideia, quero — Thiago disse nos fazendo rir.
— Mas é gordo mesmo — Eu disse e me joguei em cima dele, que estava sentado no sofá.
— Au — Ele disse me fazendo rir.
— Vou terminar de me trocar. Se comportem ou vão arrumar tudo depois — Soph disse e riu antes de sair.
— Minha mãe ta com saudade de você — Thiago disse.
— Sua mãe sabe que você só quer saber de Soph agora? — Perguntei me ajeitando e deitando no sofá e apoiando minha cabeça em sua coxa.
— Que mentira — Ele fez uma careta — Você que só fica na casa do Gabriel.
— Não! — Eu revirei os olhos rindo.
— Ainda bem que é o Gabriel. Por que se você me trocar por outro...
— Eita ciúmes, em. Tá pior que eu — Eu disse e ele riu — Você é meu irmão, Thiago Maia.
— Não vai trocar nem pelo Bueno?
— Ai é um caso a se pensar — Eu disse e ele fez uma careta — É brincadeira. Tanto você quanto Vítor são muito importantes pra mim.
— Tá. Vou me contentar com isso — Ele diz e rimos.
— Diz pra sua mãe marcar um almoço que eu vou lá — Falei.
— E se fosse de tarde?
— Ai eu não quero — Eu disse.
— Oshi, por que?
— Por que eu quero comer a comida da sua mãe — Eu disse e ele riu.
— Tá. Eu vou falar com ela — Ele disse sorrindo.
Nós continuamos conversando sobre várias coisas, até Soph terminar de se vestir para a fisio e eles seguirem pra lá. E eu, voltei para o meu apartamento.
(...)
O resto do meu dia foi um saco. Eu basicamente fiquei o dia todo assistindo minhas séries. Troquei algumas mensagens e respondi algumas pessoas no twitter pro tempo passar mais rápido. Até fiz um snapchat por pedido de algumas meninas. Eu achei um aplicativo legal, Gabriel fez o dele a um tempo e sempre disse que era pra eu fazer um, mas eu ficava com preguiça.
Quando já era de noite, eu me levantei e fui pra cozinha. Eu iria fazer o doce que disse que levaria para a casa de Soph daqui a pouco. Fiquei alguns longos minutos pensando no que fazer, e por fim, decidi preparar a sobremesa que fiz uma vez e Soph e Thiago amaram, já Gabriel ainda não experimentou. Eu decidi fazer pavê de maracujá. Peguei tudo o que precisaria para fazer o doce e comecei. Ele não é um doce demorado, então levei em torno de vinte minutos no máximo. Já estava prestes a colocar na geladeira quando ouvi meu celular tocar. Era Gabriel.
— Oi amor — Eu disse.
— Só liguei pra avisar que acabei de sair da casa do Alison. Daqui a pouco eu chego ai — Ele disse.
— Tá. Nós vamos jantar na Soph e eu vou agora arrumar a cozinha. Então, vou deixar a porta aberta — Falei.
— Ok. Não vou demorar — Ele disse.
— Tá bom, até depois — Eu sorri e desliguei.
Deixei novamente o celular em cima do balcão e coloquei o doce na geladeira. Depois disso, fui lavar a louça do que tinha sujado, e não era pouca coisa. Estava distraída, quando escutei passos atrás de mim.
— Ué, você chegou rápido — Eu disse me virando.
Eu pensava que era Gabriel, mas ao contrário disso – bem ao contrário –, vi atrás de mim uma criança. Era uma menina e ela era bem loirinha, seus olhos eram castanhos e ela parecia meio assustada por me ver ali. Deveria ter no mínimo uns três anos. Franzi o cenho confusa.
— Oi, moça. Você tá perdida? — Eu perguntei me agachando em sua frente.
Antes que ela pudesse responder, eu escutei mais passos.
— Sara, eu disse pra você nã...
Antes que pudesse terminar, Roger Guedes me viu e sorriu sem graça.
— Ela é sua? — Perguntei me levantando.
— É. Quer dizer, na verdade é minha prima — Ele disse — Me desculpe, eu disse pra ela não entrar, mas...
— Tudo bem. Ela parece meio assustada — Eu disse rindo fraco.
— Por que percebeu que esse apartamento não é o dela — Ele disse chamando a atenção da pequena.
— A Roger, deixa ela. É só um bebê — Eu ri fraco — Quantos anos ela tem?
— Quase três — Ele sorriu.
— Você é um primo bem babão em — Eu disse e ele riu.
— Devo confessar que realmente amo crianças.
— Isso era a última coisa que esperava de você — Falei me levantando.
— Então esperava coisas de mim?! — Ele sorriu sarcástico.
— Para de ser ridículo — Eu revirei os olhos e ri — Você só não tem cara de quem gosta de crianças.
— É, mas gosto sim — Ele disse rindo — Bom, eu e a Sara já vamos. Né Sara?! — Pegou a mão da pequena e a mesma sorriu assentindo, ainda tímida — Me desculpe de novo.
— Relaxa, ta tudo bem — Sorri pra ele.
Ele sorriu de volta e pegou a criança no colo.
— Amor, cheguei — Eu ouvi a voz do Gabriel e ele logo entrou na cozinha — O que ele está fazendo aqui?
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