As semanas se passaram rapidamente desde a minha convocação para as Olimpíadas. Tudo aconteceu muito rápido. Eu treinei normalmente pelo Santos durante as duas semanas e joguei os dois últimos jogos. Gabriel também teve sua convocação paras as Olimpíadas, assim como Thiago e Zequinha. Gustavo também foi convocado, mas como suplente para caso de alguma lesão. A seleção brasileira iria forte para o Rio 2016 em busca do ouro. A expectativa e a pressão eram grandes e milhares de ingressos já foram vendidos antecipadamente. Tanto nos jogos do futebol feminino, quanto no do futebol masculino. E várias outras modalidades. Eu por exemplo, se tivesse tempo, gostaria de assistir a Ginástica Artística, eu amo tanto. Com certeza assistiria Atletismo, obviamente pra ver Usain Bolt. O cara é um monstro. Eu estava também ansiosa pra ir até a Vila Olímpica e quem sabe encontrar alguns representantes do Brasil.
Eu já estava na concentração no Rio de Janeiro. Em apenas mais duas semanas, a seleção já estaria estreando nas Olimpíadas contra a China, antes mesmo da abertura oficial dos jogos Olímpicos no Marcanã. Fui uma das primeiras a chegar e já usava o uniforme de concentração da seleção. Meu cabelo estava solto e eu estava, por enquanto, sozinha no quarto. Eu usava meu celular e conversava com o Gabriel, já que ele só se apresentaria amanhã. Estava deitada na cama do hotel. Estava cansada e com sono, mas a ansiedade me deixava desperta. Escutei duas batidas na porta e em seguida ela foi aberta, então eu vi Andressinha. Sorri largo.
— Amor, daqui a pouco eu te ligo — Eu disse.
— Tá bom, meu anjo. Se cuida. Eu amo você — Ele disse.
— Pode deixar. Também te amo — Eu disse e encerrei a chamada.
— Meu Deus, que mel em — Andressinha disse se jogando pra trás na cama.
— Para de ser carente, garota — Eu disse e ela me olhou.
— Eu não sou carente — Ela disse e riu.
— Aham — Concordei irônica.
Ela revirou os olhos e se levantou. Veio em minha direção e então, me abraçou forte.
— Que saudades de ti, menina — Ela disse.
— Também senti saudades tuas — Eu respondi sorrindo.
— Como estão as coisas em Santos?
— Tudo normal. Quero saber no Estados Unidos. Como está lá? Já arrumou um boy americano? — Eu perguntei e ela riu.
— Vou colocar a camisa de concentração e já volto.
— Você não vai fugir de mim, só pra deixar claro — Eu disse e escutei sua risada.
— Não vou fugir. Aliás, nem tem como. Vou ter que te aturar por quase um mês. Mas tá muito calor, a gente precisa sair desse quarto agora — Ela disse saindo do banheiro, enquanto ainda vestia sua camisa de concentração.
— Chegou mais alguém com você? — Perguntei.
— Chegou a Bia — Ela respondeu.
— Vamos pra lá então — Sorri.
Após ela terminar de vestir a camisa de concentração, peguei meu celular e o coloquei no bolso da calça jeans. Nós saímos do quarto e entramos no elevador. Bia estava em um quarto no andar debaixo. Enquanto estávamos indo, a gente conversava sobre algumas coisas. Sobre a ansiedade, o nervosismo, tudo! Todos estavam esperando a medalha de ouro e querendo ou não, a pressão era grande.
Gabriel Pov's
— Já se decidiu, meu filho? — Minha mãe sentou ao meu lado.
— Não — Eu disse e suspirei pesado.
— Eu sei que essa parte não é a mais difícil pra você — Ela disse.
— Tem a Clarissa — Eu disse passando a mão no rosto.
— É a sua carreira, Gabriel — Meu pai disse.
— Mas a Clarissa é a minha namorada — Eu respondi.
— Por que não pede pra ela ir com você pra Europa? — Minha mãe perguntou.
— Não é assim, mãe. Clarissa tem a carreira dela aqui no Santos também. Eu não posso simplesmente pedir pra ela largar tudo e ir comigo pra Europa — Eu disse.
— E você também tem a sua carreira. Ela também tem que entender — Meu pai disse.
— A Clarissa entenderia. Ela sempre me apoiou em tudo. Mas vai ser difícil ir pra Europa e deixar ela aqui — Eu disse.
— Você precisa tomar uma decisão, Gabriel. Você viaja amanhã para as Olimpíadas e nós precisamos acertar a transferência — Wagner falou.
— Filho, toma uma decisão e depois conversa com calma com o Cla — Minha mãe disse colocando uma mão em meu ombro.
— Me falem de novo sobre as propostas — Eu disse após um suspiro pesado.
Desde o início do mês, quando a janela de transferência da Europa se abriu, tenho recebido propostas de clubes europeus. Propostas boas, de clubes da Itália, da Espanha e Inglaterra. Eles estão dispostos a pagar a multa do meu contrato com o Santos. As propostas são boas tanto pra mim, quanto pro time. Sempre foi meu sonho jogar em um clube grande da Europa. Jogar partidas de uma Champions League, jogar campeonatos diferentes, desafios diferentes. Conquistar o mundo e se tudo der certo, quem sabe não receber a Bola de Ouro. É o sonho de todo boleiro, todo jogador de futebol. É óbvio que tem o receio, que tem o nervosismo do que pode acontecer. Mas quando se trata dos sonhos, só tem que entregar nas mãos de Deus e ir fundo. As chances estavam aqui, batendo na minha porta. Meu contrato com o Santos já está chegando ao fim e essas eram boas oportunidades.
Teria a fase de adaptação, dependendo do país. Na Europa é mais frio. Teria que me adaptar a cidade, o clima, o idioma, ao futebol. Praticamente começaria do zero. Teria que ir aos poucos, conquistar meu espaço, a confiança do técnico. Eu estou disposto a passar por isso tudo. Estou disposto a passar por cada etapa. Mas não estou disposto a ir e deixar Clarissa aqui no Brasil. Foi como eu disse, Cla tem sua carreira aqui no Santos. Eu não posso simplesmente pedir pra ela largar tudo e ir comigo. Seria egoísmo da minha parte. Eu sei que ela não terminaria comigo e muito menos eu com ela, mas ela vai ficar chateada. E eu também. Eu tenho medo do que essa distância pode causar. Eu não vou estar aqui pra proteger ela, pra ver se vai ter algum cara arrastando as asas para a minha garota. Simplesmente porque vou estar praticamente do outro lado do mundo.
Meus dias sem ela serão tão vazios e sem graça. Sem o sorriso dela pra iluminar meu dia. Sem os braços dela todas as noites. Sem ela pra me receber em casa, seja festejando em dia de vitória, seja me consolando em dia de derrota. Não vou ter sua risada, nem sua voz rouca todas as manhãs. Vai ser tudo completamente diferente. Vou sentir falta dos seus ciúmes, das briguinhas atoa. Eu quero ir, mas quero ir com ela. Quero conhecer tudo e passar por isso tudo com ela. Eu realmente não vejo minha vida, nem daqui a cinquenta anos, sem a Clarissa. Eu pensei em pedi-la em casamento. Morariamos juntos. Mas Clarissa é uma mulher independente, se recusaria a ser sustentada por um homem. E eu não aceitaria que ela largasse a carreira dela pra ir comigo. Não é fácil conseguir um clube na Europa, assim, do nada.
Minha cabeça está cheia, chega a doer. Tenho que resolver se fico no Santos ou se aceito uma proposta de um clube europeu. Tenho que pensar, se eu for, como contar pra Clarissa. E além disso, ainda tenho que estar na Granja amanhã com a seleção. Preciso, antes de tudo, me concentrar nas Olimpíadas, que também é um sonho, e trazer esse ouro pro Brasil. Eu estava tenso, sem saber o que fazer e meus pais junto com o Wagner me olhavam, esperando uma decisão.
— A melhor proposta parece a da Internazionale. Ela paga a sua multa de cláusula contratual, acerta o que o Santos pede e te da um bom salário — Wagner disse.
— Você gostaria de jogar na Inter, Gabriel? — Meu pai perguntou.
— É um grande time — Eu disse e sorri.
— Os outros são Juventus, Chelsea e mais alguns que não oferecem muito — Wagner diz.
— Mas ele tem que jogar aonde se sente confortável — Meu pai disse.
— Você precisa fazer uma escolha, Gabriel — Wagner disse.
— Dá pra vocês pararem de falar um pouco e me deixar pensar?! — Eu disse irritado.
Eles ficaram em silêncio e eu me levantei do sofá, seguindo pro meu quarto. Abri a porta na sacada e me escorei na grade. Olhei pra trás, vendo a mala pra ir pra Granja amanhã pronta. Eu preciso me concentra nas Olimpíadas e somente nisso. Preciso ajudar meus companheiros de seleção. As Olimpíadas vão ser dentro de casa, com um pressão maior. A torcida brasileira cobra muito, cai matando. Eu posso e vou trazer essa medalha junto com a seleção. Vou conseguir esse ouro inédito dentro de casa. Preciso resolver logo a transferência pra não perder o foco dentro de campo, pra não tirar minha atenção. Depois de quase uma hora pensando nisso, pensando nas propostas, pensando na Clarissa, eu me decidi.
Seria difícil, mas ela vai me entender. É o meu sonho. Eu não vou abrir mão da Clarissa. Não vou abrir mão do nosso namoro. Nem que para isso, eu precise pedi-la em casamento. Sai do meu quarto e fui até o escritório do meu pai. Bati duas vezes na porta e escutei um "entra". Ao entrar, encontrei Wagner e meu pai. Me aproximei e me sentei, soltando um suspiro longo.
— Eu já tomei uma decisão — Eu disse.
— Então nos conte — Wagner falou.
— Eu quero assinar com a Inter — Eu disse decidido.
Clarissa Pov's
Já era noite. A essa hora todas as meninas já haviam chegado aqui na concentração. Quando eu e Andressinha fomos lá em baixo, tinham alguns fãs, nós atendemos eles e tiramos fotos. Todos nos desejaram sorte e disseram que vão estar na torcida pelo ouro. Isso me deixou feliz, era mais uma grande motivação.
Eu estava feliz em poder estar ali com as meninas. Ainda era inacreditável essa convocação para jogar as Olimpíadas. Eu tremia dos pés a cabeça só de pensar na estréia em duas semanas. Ainda me sentia nervosa perto das meninas. Bárbara... Cristiane... Marta. Todas. Apesar de serem de posições diferentes, eram grandes inspirações.
— Cla, você acha que vamos começar como titulares no jogo de estréia? — Andressinha perguntou se jogando ao meu lado.
— Não sei — Eu disse e ri fraco — Eu acredito que você sim, por ser mais experiente.
— Também tem garotas mais experientes que eu aqui. Ah Clarissa, mas você também é essencial no time — Ela disse.
— Mas eu sou centroavante. Impossível disputar vaga com a Cristiane — Eu disse e ri fraco.
— Você não joga pelo meio também? — Ela perguntou.
— Sim, aonde são titulares você, a Formiga e a Marta — Falei rindo.
— Aff Clarissa, eu disputo vaga com a Thaisa — Ela disse e nós rimos — Eu tenho certeza que o Davão vai arrumar uma vaga pra você.
— Tomara que sim. Eu tô ansiosa — Eu disse.
— Eu também — Ela disse e suspirou — E tô nervosa.
— Eu também — Concordei e ri de novo — Amanhã já começam os treinos. Eu só quero jogar logo a estréia.
— Vai ser aqui no Engenhão. Provavelmente vai estar lotado — Ela diz.
— Só de pensar já dá um friozinho na barriga — Eu disse e ela riu.
— De verdade — Falou concordando.
— Como estão as coisas lá nos Estados Unidos, em Andressinha. Você ainda não me contou.
— Ah, é verdade — Ela riu se ajeitando e começou a contar.
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