História Live A Dream - Vila Olímpica.

Dois dias depois...

Após mais uma manhã longa de treino nos gramados do Maracanã, finalmente estávamos de volta a Vila Olímpica. Eu dividia o apartamento com, como sempre, Bia e Andressinha. Havíamos acabado de entrar e eu agradecia mentalmente por ter um banheiro no quarto em que eu estava. Peguei outra roupa de concentração e tomei um banho quente e relaxante. Após sair, me vesti e deixei meu cabelo solto mesmo, me jogando na cama do quarto.

Eu estava meio exausta do treino e a semifinal já era depois de amanhã, contra a Suécia, aqui mesmo no Maracanã. E apesar de tudo, eu gosto de me sentir assim. Além de ser a realização de um sonho, estar representando meu país em uma Olimpíadas, é o que eu amo fazer. Eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja jogar futebol. Simplesmente não tem sentido pra mim. Ah, e fora que eu não estava cansada apenas do treino. Fiquei até tarde acordada na noite passada vendo mais um jogo do Brasil, contra a Colômbia. Os meninos ganharam de 2-0, com gols do Ney e do Luan. Eles também estavam classificados para a semifinal e o país inteiro estava feliz e empolgado com isso. Inclusive eu. Portanto, acabei acordando cansada e quase levei uma bronca do Davão.

Fui tirada dos meus pensamentos com duas batidas na porta do quarto.

— Entra — Eu gritei.

— Nós vamos lá em baixo no quarto das meninas. Quer ir? — Bia perguntou.

— Pode ir na frente, eu já vou — Eu disse.

— Ok — Ela respondeu e fechou a porta de novo.

Fiquei mais alguns minutos deitada enrolando. Eu não levantaria daqui nunca mais, não estava com sono, só estava cansada. Mas, provavelmente ainda teria mais alguma atividade física ainda hoje pela parte da tarde. Levantei da cama ao escutar alguém bater na porta. Não estava trancada, só podia ser alguma das outras meninas. Caminhei pela sala enquanto prendia meu cabelo em um coque. Assim que cheguei abri a porta.

— Eu só quero ficar na minha cama, meninas — Eu disse quando abri.

Quando foquei realmente em o que tinha em minha frente, eu vi Gabriel com um ar de riso. Ele usava a camisa azul de concentração da seleção e um boné amarelo pra trás. Eu sorri pra ele e depois disso acabei por rir.

— Mas que menina preguiçosa em — Ele disse fazendo uma careta e riu.

— Eu não sabia que era você — Eu disse e pulei em seu colo.

Ele riu e segurou em minhas coxas para que eu não caísse. Ele em seguida entrou, fechando a porta.

— Eu tava com saudade — Eu disse ainda em seu colo, enquanto meu rosto estava na curva do seu pescoço, inalando seu perfume maravilhoso.

— Eu também meu amor — Ele disse me apertando contra meus braços.

Eu desci de cima dele e passei meus braços em torno da sua nuca, lhe abraçando mais uma vez. Ele riu contra o meu pescoço e passou seus braços fortes em torno da minha cintura. Quando ele desfez o abraço, selou nossos lábios. Um beijo carinho e repleto de saudades. Eu não sei o quanto realmente ele durou, mas foi o suficiente para a falta de ar se fazer presente. Então, ele me abraçou forte novamente.

— Como me achou? — Eu perguntei puxando ele para sentar no sofá.

— Não foi muito difícil — Ele disse passando um braço em torno do meu pescoço. Eu me ajeitei mais em seu peito — Eu estou por aqui também, mas no sétimo andar. Eu só precisei ir na recepção e perguntar em que andar a seleção feminina estava, e ai vi algumas de suas amigas saindo daqui e acabei por perguntar.

— Menino esperto — Eu disse e rimos.

— Como você está? Parece que não te vejo a meses — Ele disse me apertando em seus braços. Eu sorri largo.

— Eu tô bem, meu amor. E você? — Eu inclinei a cabeça pro lado para lhe fitar.

— Agora tô melhor — Ele me deu um selinho longo — Ei, o Ney quer te ver. Quer ir lá?

— Quero — Eu disse e ele riu.

Nos levantamos e eu ajeitei meu cabelo. Peguei o boné dele e coloquei em mim virado pra trás. Ele entrelaçou nossas mãos me fazendo sorrir, enquanto lembrava como nossas mãos se encaixam perfeitamente uma na outra. Nós saímos dali e eu deixei a porta destrancada mesmo, aqui é super tranquilo. Entramos no elevador e ele apertou o sétimo andar, então começamos a subir. Em mais alguns segundos, as portas foram abertas.

— Clari — Escutei a voz do Thi, que estava no meio do corredor.

— Thiago — Eu sorri largo soltando a mão do Gabriel e correndo até ele.

— Minha pequena, que saudade — Ele disse me apertando em seus braços.

— Eu também estava — Eu disse.

Assim que sai de perto dele, Gabriel passou seu braço em minha cintura, me puxando pra mais perto. A gente trocava algumas palavras e eu soltava risadas, como sempre ao lado deles. Nós caminhamos até um dos apartamento daquele corredor e logo entramos. Percebi Ney sentado no sofá enquanto mexia em seu celular. Sorri e andei discretamente em sua direção.

— Ney — Eu disse pulando em cima dele. O mesmo quase deixou o celular cair no chão e isso me fez rir.

— Moça bonita, que susto — Ele disse com os olhos arregalados e parecia mesmo assustado. Eu ri mais uma vez.

— Boa, Clari — Thi disse levantando a mão. Eu sorri e bati na mão dele.

— Vocês dois... Vai ter troco — Ney disse apontando o dedo pra nós dois.

Eu sorri enquanto via Gabriel sentar no outro sofá também rindo. Me levantei sentando no sofá mesmo.

— Eu sinto saudades e você faz isso comigo, Clarissa. Vai ter volta — Ele disse rindo.

— Também senti saudades, menino Ney — Eu disse. Ele sorriu fofo e beijou minha bochecha.

Me levantei e sentei ao lado do Gabriel, que passou seu braço em torno do meu ombro. Me encheguei mais em seu peito e quando voltei a olhar pra frente, Neymar e Thiago fingiam segurar uma vela. Eu e Gabriel rimos.

— Vocês são ridículos — Falei brincando com a outra mão livre do Gabriel.

— Vocês falam demais, viu? — Eu ouvi uma voz familiar entrando na sala. Olhei pro lado e vi Gabriel Jesus — Ah, agora entendi. Oi Clarissa.

— Oi — Eu disse fazendo um toque em sua mão.

Eu não tinha mais nada contra ele. Acabei me acostumando. É uma boa pessoa, bem simpático e engraçado. E importante destacar, jogador do Palmeiras por pouco tempo agora.

— Cheguem pra lá, seus obesos — Jesus disse pro Thi e o Ney que estavam largados no sofá. Eu ri.

— Ei, podem sentar aqui. Eu não mordo não — Eu disse rindo.

— Deixa que eu sento — Eu escutei outra voz masculina, enquanto o ser já pulava pro sofá.

Quantos homens tem nesse apartamento?

Olhei pro lado e dessa vez vi Marquinhos, o zagueiro. Arregalei levemente os olhos e ele riu.

— Oi Clarissa — Ele disse.

— Oi — Sorri tímida — O melhor zagueiro do mundo tá falando comigo. Socorro — Eu disse e eles riram.

— Piqué riu disso — Ney disse fazendo o Marquinhos lançar um olhar mortal pra ele. Eu gargalhei.

— O Marquinhos nunca levou um chapéu de calcanhar do Cristiano Ronaldo — Eu sorri sarcástica.

Sim, sou torcedora do Barcelona e amo o clube catalão. Mas, não gosto muito do Piqué.

— Eu já amo essa menina — Marquinhos disse me fazendo rir novamente.

— Eu tô zoando. Marquinhos é moleque bom — Ney disse rindo.

— Cadê o Renato? — Perguntei.

— No apartamento que ele está dividindo com os outros caras. Vai lá? — Gabriel perguntou.

— Não, eu nem sou chegada nos outros assim — Eu disse deitando minha cabeça em seu peito.

— O Zeca tá lá — Gabriel disse.

— Zequinha! Quero — Eu disse e ele riu.

— Vamo lá perturbar eles — Marquinhos disse se levantando.

— Vocês já treinaram hoje? — Eu perguntei me levantando.

— Chegamos hoje de manhã — Gabriel disse me abraçando por trás — Vamos treinar de noite.

— Aonde? — Perguntei sentindo sua respiração em minha nuca, então começamos a andar.

— No Ninho do Urubu — Neymar respondeu.

— Ah, o CT do Flamengo — Eu disse e eles assentiram.

Nós saímos dali e eles também deixaram a porta destrancada. Ajeitei o boné na minha cabeça, enquanto conversava com Gabriel e Marquinhos sobre os jogos. Os outros andavam na frente conversando entre si. Bati duas vezes na porta quando chegamos e quem atendeu foi justamente o Zeca.

— Clarissinha — Ele abriu os braços.

— Zequinha — Eu pulei em cima dele — Que saudade.

— Tudo bem? — Beijou minha bochecha. Eu assenti sorrindo.

— Vou denunciar todos por invasão de privacidade — Douglas Santos apareceu na sala.

— Eita — Eu disse rindo alto.

Eles eram tão carismáticos. Queria guardar todos num potinho.

— Oi Clarissa, que prazer você por aqui — Ele disse vindo em minha direção.

— Que educado, esse menino — Sorri e lhe abracei — Prazer, viu?!

— Prazer, moça — Ele riu fraco — Tudo bem?

— Tudo ótimo, e você?

— Melhor agora que o seu namorado vai parar de encher o saco — Ele disse e recebeu um tapinha na cabeça do Gabriel. Eu gargalhei.

Claramente Douglas Santos é fofo e meio tímido.

— Para de graça com a minha menina — Gabriel me abraçou por trás e rimos.

Aos poucos, todos já estavam espalhados pelo o apartamento. Uns no sofá, outros na cozinha e uns simplesmente parados no meio do nada conversando.

— Que bagunça é essa aqui? — Eu escutei a voz de Renato Augusto.

Eu, que estava abraçada com Gabriel, olhei pro lado vendo ele aparecer com uma xícara nas mãos. Ele olhava toda aquela bagunça em volta, enquanto fazia uma cara de reprovação. Eu acabei por rir discretamente.

— Renato — Eu sorri tímida eu sua direção.

— Clarissa, quanto tempo — Ele deixou a xícara em cima da mesinha de centro, deixando um sorriso no rosto e veio em minha direção — E ai craque, como você está?

— Bem, Augusto. E você? — Eu perguntei abraçando ele.

O mesmo riu, provavelmente pelo "Augusto".

— Muito bem — Ele sorriu desfazendo o abraço eu apenas assenti sorrindo.

— Eu tô com fome — Neymar gritou.

Depois disso, todos eles começaram a falar juntos, inclusive Gabriel que já estava jogando alguma coisa no IPad com o Marquinhos, Douglas e Jesus. Estava uma bagunça ali. Eu ri passando a mão na testa e neguei com a cabeça.

16 de agosto de 2016, 15:21, terça-feira – semifinal das Olimpíadas Rio 2016 – Maracanã.

O Maracanã estava simplesmente lotado. Não cabia nem mais uma alma ali dentro. Estava calor, o sol realmente não perdoava. O jogo estava tenso, e para "ajuda" tudo, iria novamente para os pênaltis. Infelizmente, dessa vez, eu estava no banco. Comecei o primeiro tempo em campo, mas logo no início so segundo, sai sentindo dor no tornozelo – o mesmo da lesão so ano passado –, por uma entrada forte e Cristiane, que até então estava sendo poupada, entrou.

Ainda tinha um saco de gelo prensado contra o meu tornozelo e preso ali, para que eu pudesse conseguir andar normalmente. Estava nervosa, mas Davão tentava nos passar tranquilidade. Logo a lista e ordem de quem cobraria os pênaltis foi passada e as capitães foram decidir de que lado começaria. O Brasil começaria com Marta.

Foi-se a goleira da Suécia pro gol e Marta ajeitava a bola na marca do pênalti. Em mais alguns segundos, a juíza autorizou, Marta correu e marcou para o Brasil. Vibramos. A primeira cobrança da Suécia também foi cobrada. Era novamente a vez do Brasil, então lá se foi a Cristiane. Ela tomou distância, bateu e acabou errado.

Nem tudo está perdido, eu pensei.

A Suécia se preparou para a segunda cobrança também, e felizmente Bárbara pegou. Era a vez da Andressa, que novamente acertou para o Brasil. Suécia acertou e o Brasil voltou a ficar na frente com Rafaelle. Estava 3-3 e a próxima cobrança seria com a Andressinha. Ela tomou distância e infelizmente errou. A Suécia precisava errar essa cobrança ou o Brasil estava fora da final. A jogadora se posicionou, bateu e comemorou a classificado para a final.

Pro Brasil, o sonho do ouro tinha acabado ali.