— O que você está fazendo aqui? — Senku pergunta em voz baixa, íris vermelhas olhando para Gen com curiosidade. Ele mal demonstrou surpresa quando o mentalista surgiu ao seu lado na árvore, mas suas pupilas que alteraram rapidamente de tamanho quando constataram sua presença não mentem.
Kohaku percebeu quando ele começou a subir, mas bastou um sorriso brilhante de Gen em sua direção para que ela bufasse de amores e voltasse sua cabeça para a batalha em uma tentativa falha de ignorar seu coração palpitante.
— Invadindo e conquistando. — Ele responde na mesma altura, porém em outro tom. — Soube de uma tal Grande Luta e vim me candidatar, pretendo ser o novo chefe da aldeia. — Ele inclina a cabeça, dramático. — Pretende me impedir?
— Nem preciso, infelizmente para você, forasteiros não são permitidos na Grande Luta, cortesia de Kohaku. — O albino diz, um sorriso sarcástico e adorável é pintado em seus lábios.
— Ei! — A loira em questão se vira indignada. — A regra que proíbe forasteiros não é minha culpa! Foi criada há décadas, na Aldeia Original, definitivamente nem um pouco relacionado a mim! — Ela estreita os olhos.
— Aldeia Original? — Senku repete.
— Seu japonês está muito bom! — Gen elogia, ao mesmo tempo.
Kohaku alterna entre encarar os dois, as engrenagens em sua linda cabecinha girando a toda velocidade. Seu japonês está realmente muito bom, mas provavelmente a junção de duas frases ao mesmo tempo, uma delas requerindo uma resposta bem especifica, a faz demorar um pouco mais que o normal.
O som de luta ao longe faz companhia durante o pequeno silêncio. Gen se segura para não soltar uma risadinha.
— Obrigada. — Ela diz, olhando para ele. Então se vira para Senku. — Nossa aldeia não é a original, esse lugar é o desejo dos Fundadores, por isso existimos aqui agora. Existem duas aldeias Ishigami, uma onde eles viveram e essa que eles queriam.
O cientista mirim franze as sobrancelhas, ele abre a boca para começar uma enchurrada de perguntas, mas a voz de um homem loiro — Gen fica impressionado com as lindas tranças na lateral de seu longo rabo de cavalo — entra no meio da arena e declara que a luta entre Chrome e Magma irá começar.
Um pequeno sorriso toma lugar no rosto de Gen, ele se esconde um pouco mais na árvore, mas continua escutando os aldeões, genuinamente feliz de entender suas palavras. Conversas paralelas e apostas, ele não reconhece uma coisa ou outra, acredita que grande parte disso eram nomes.
Sua visão foca na dupla que chama toda a atenção do lugar exatamente no momento em que Chrome xinga e mostra ambos os dedos do meio para seu inimigo, o urso loiro que havia espancado Gen e Senku semanas atrás.
A reação é bem diversa. Kohaku solta uma gargalhada, Kinrou levanta uma sobrancelha, Ginrou está dormindo — ? —, Senku balança os pés levemente, a boca de Furiru se abre vagamente em um quase sorriso que ele não parece perceber que fez. Ele nota que Suika não está por perto.
No topo de uma escadaria ornamentada e linda como se fosse de mármore, há uma garota. Duas, na verdade, e a pequena loira de óculos se protegendo de ser vista por cortinas azuis é Suika.
Ele presume que a outra, alta e curvilínea, com um belo vestido vermelho quie lhe cai como uma roupa de princesa, longos cabelos loiros ondulados — a raiz lisa, as pontas formando cachos escuros, pois aparentemente as três irmãs e o homem de antes tem essa genética curiosa — seja Ruri.
Gen apoia o queixo na mão, voando entre a batalha e as pessoas e os pássaros. A paisagem em qualquer lugar é bonita, mesmo que seja só mato mato e mato repetidamente, ele se diverte encontrando matos fofos.
Ouch. Chrome foi jogado com força para o outro lado da arena. O garoto já tem vermelhidões florescendo em seu corpo, logo serão roxos, há sangue escorrendo pelo canto direito de sua boca.
— Você tem que confiar nele. — A voz de Kohaku ressoa. Ele baixa os olhos e encontra a loira segurando o pulso de Furiru, que está claramente preocupado. Ele tenta expressar toda a sua aflição com o olhar, verde brilhando quase com desespero, mas não consegue resultado.
Fica bem sangrento muito rapidamente. Senku desvia o olhar em alguns momentos, Gen percebe pois está fazendo o mesmo. Mas não importa quantos gritos eles dêem e o quantos estalos de possíveis ossos se quebrando soem, ninguém impede a dupla.
Quando começa a torcida, ele sente que vai vomitar. É uma tradição da aldeia, eles estão acostumados com isso. Mas porra, eles ficam incomodados com palavrões e não com quase morte por espancamento?
— Chrome é o vencedor. — O homem loiro, que ele presume ser pai das irmãs loiras e portanto o chefe da aldeia, declara. O chão está manchado de sangue e todos comemoram tão alto que seus ouvidos ficam zumbindo.
Mesmo de longe ele consegue ver Furiru completamente fora da realidade. Ele olha brevemente para o céu, parecendo querer se certificar de que tudo é real, mas bastam milissegundos para que a noção tome conta e o garoto corra na direção de Chrome.
Gen chega na conclusão que é sua hora de ir. Com certeza nada relacionado aos olhares assassinos que o chefe da aldeia manda em sua direção quando nota um instruso. Por um breve momento ele se pergunta como Senku foi capaz de estar aqui sem ninguém reclamar.
— Au revoir, Senku-chan! — Ele se despede de forma teatral, dedos indicador e do meio na testa imitando um sinal reconhecível.
— Au revuar? — Ele escuta Kohaku indagando.
Dá uma risadinha e desce as escadas presentes na beira da ilha. Há um corrimão de madeira, mas ele pode ver cordas e lascas despedaçadas no chão, os habitantes devem ter que reformar as construções recorrentemente por causa da umidade no ar.
Caminhando, quase saltitando pela passarela até a outra ilha, ele admira. É um grande deck, tábuas rangendo conforme seus pés tocam, muitas de cores diferentes que remetem a constante troca.
Há barcos tracados em um canto, nem em um milhão de anos Gen seria capaz de pensar — sequer construir — algo assim. Detalhes e entalhes, tecidos coloridos mas sem um simbolo no meio, tem até pontos de observação no mastro!
Ele passa a mão suavemente no casco, tomando cuidado com onde a madeira tem a vibe de ferpas. Está sempre de olho em onde pisa para não ter nenhum palito enfiado no pé, mesmo correr sobre pedrinhas dói graças a sua baixa resistência.
Gen não entra na casa na árvore, ele fica no laboratório ao invés disso, cutucando curiosamente tudo o que lhe parece brilhante.
Suas pernas não latejam de dor graças a imensa caminhada como faziam nos primeiros dias após a despetricação. Ir do Império Tsukasa para o Reino da Ciência pela primeira vez foi um terror, ele tinha que fazer pausas constantemente.
Ele com certeza nunca vai se acostumar a dormir na terra, não importa quantas vezes o faça. Mas caminhar muito em pouco tempo? Meio chato sem músicas estourando em seus ouvidos, porém tolerável.
— Mentalista. — Senku aparece na porta, o brilho do sol enfeitando sua silhueta. Ele nota as mãos do outro em um pote de barro cheio até a tampa com folhas de coentro.
— Senku-chan! — Ele sorri em resposta, voltando os dedos para dentro de sua manga. — Chrome-chan ganhou?
— Sim. — Ele responde, se aproximando. — Vamos, temos muito o que ajeitar e fazer. Queria começar o trabalho imediatamente, mas Chrome desmaiou no colo de Ruri.
— Legal da sua parte deixar ele ficar com a... esposa — Furiru, que havia adentrado o lugar, faz uma pausa, esperando por uma correção, quando não a recebe, continua. — por algum tempo antes de trabalhar no remédio. Mas temos tempo para isso?
— Claro que temos. — O albino dá de ombros. — Vamos terminar o remédio amanhã de qualquer forma, além de que posso usar isso contra ele como chantagem depois.
O garoto ri, o que leva Gen a rir também. Então Chrome e Ruri estão casados, ele se pergunta como o garoto deve estar se sentindo. Afinal, ele se tornou o novo chefe da aldeia.
— Espera, amanhã? — Furiru pergunta, parando de rir repentinamente. — Amanhã tipo závtra?
— Sim, amanhã tipo závtra. — Senku responde, divertido. Então olha para a porta, como se esperasse mais alguém. — Onde está a Kohaku?
— Na aldeia, ela tá aproveitando o máximo possível pra jogar na cara dos guardas o sobre poder estar ali. — Ele responde, gesticulando. — Mas não troca de assunto não! A gente mal fez nada para o remédio, como pode ficar pronto amanhã?
— Nada? — Senku cruza os braços, claramente dizendo com os olhos de que eles fizeram tudo menos nada.
— Acho que nada é uma palavra forte, Furiru-chan. — Gen sorri de forma apaziguante. — Agora, se não podemos trabalhar na parte principal, que tal organizar os materiais? Deixar tudo pronto para começar.
— Soa como uma boa ideia. Vamos ver... — Senku responde, e caminha pelas prateleiras, passando os dedos na madeira lixada enquanto murmura baixo para si mesmo.
Furiru passa a mão pelo rosto, ele está cansado. Seu cabelo está bagunçado, há suor em sua testa, suas roupas estão amassadas e sujas. Gen demora para notar os sapatos em sua mão.
São as sandálias que muitos aldeões utilizam, de longe parecem feitas de pedra mas agora ele tem quase certeza de que é argila. Parece extremamente desconfortável de se usar, talvez por isso o menino esteja descalço.
Pelo menos não são como as sandálias que ele viu Suika usando, que tem literalmente saltos. Tem algum motivo para ela os usar? Ele não se lembra de outra pessoa usando algo parecido.
— Você tá bem? — Furiru pergunta, tentando não deixar um silêncio estranho.
— Uhum! — Gen se vira pra ele, mantendo sua postura levemente curvada para que não haja uma diferença de altura notável.
Embora ela vá existir de qualquer forma, Furiru é mais baixo que Senku. Os aldeões não são um exemplo de altura mas pelo que ele chuta de idade- Por que chutar, mesmo?
— Furiru-chan, quantos anos você tem? — Íris verde brilha com emoções que ele não consegue identificar.
— Dezesseis invernos. — Ele diz com um pequeno sorriso, seria arriscado chamar de triste, mas Gen adora brincar com riscos. — Eu e Chrome somos mais novos que a Kohaku.
— Você diz invernos porquê nasceu no inverno? — Ele pergunta, Furiru acena com a cabeça. — Presumo que eu tenho dezenove invernos. Ou vinte. — Ele dá uma risadinha. — Esse negócio de petrificação deixa tudo um pouco mais confuso.
Ele ri em concordância, talvez alguns segundos a mais do que o socialmente aceitável. Mas hey, eles só tem a si mesmos como sociedade, é surpreendente que as diferenças sociais não estejam sendo um problema.
— Segura. — Senku surge na frende deles, sem mais nem menos, e entrega uma caixa para Gen. Ele ergue os braços sem hesitar e recebe os suprimentos.
O albino pega outra caixa, que estava em cima da mesa, e coloca nos braços de Furiru antes de pegar uma terceira para si mesmo.
— Vamos. — Ele diz e passa no meio deles como uma mãe patinho guiando os filhotes. Furiru e Gen se entreolham, um rápido bufo de diversão e logo ambos estão seguindo o cientista mirim pela grama.
Eles se organizam no chão em uma roda para separar os materiais e montar as estações. O sol brilha alto no céu, suficiente para que eles precisem se esconder na sombra de uma árvore durante todo o tempo.
O tempo passa lentamente, mas não é incômodo. Diferente da primeira vez em que Gen esteve na aldeia, agora Furiru consegue se comunicar muito melhor em japonês.
Seu tom no japonês e huelva é diferente, o de Senku também e Gen tem certeza de que ele não é exceção. Isso é algo normal entre falar mais de um idioma, entonações diferentes e tal.
É um detalhe interessante que ele adora prestar atenção. O jeito que eles puxam certas sílabas de forma diferente, precisam de alguns segundos para assimilar frases muito rápidas, gírias que são uma mistura entre os dois idiomas.
Idiomas são muito legais, Gen decide. É simplesmente tão impressionante o jeito que dá para se comunicar com letras repetidas infinitamente se organizadas de diferentes formas.
Furiru toca seu polegar do pé no mindinho de Gen. Ele levanta a cabeça para encontrar um sorriso brincalhão no rosto sardento do menino. Um dente quebrado entre os da frente dá um ar infantil adorável.
Kohaku aparece saltitante e rindo alto. Ela conta maravilhada e em uma velocidade muito rápido sobre como o rosto de todos na aldeia estavam hilários e que ela adorou não ser perseguida por lanças.
— Quantos guardas há na aldeia? — Gen pergunta, curioso. Senku levanta a cabeça e a inclina, considerando a questão algo interessante de se saber.
— Em torno de dez? — Kohaku puxa a própria roupa. — Todos que usam azul são protetores, não necessariamente guardas. Jasper e Turquoise por exemplo, que deixaram de ser há tempos, mas que cuidam de Ruri e Suika agora, então usam azul.
— Então os aldeões comuns tons como verde, marrom, cinza... — Ela acena com a cabeça em concordância. — Protetores usam azul. E vermelho?
— A linhagem principal. Eu usava antes, parei quando fui deserdada. Ruri, Suika e meu pai usam. Jasper não pode mais usar e no futuro, quando Ruri tiver filhos, Suika também não. — Ela explica.
— Ah, mas ela poderia usar lilóvêy. É a cor que Jasper usaria se não usasse azul. — Furiru fala, sem se tocar que eles não fazem a menor ideia de que cor é essa. — São várias cores, pensando agora.
— Lilóvêy? — Senku repete. Furiru franze a sobrancelha, olha para a Kohaku em busca de ajuda mas a loira só dá de ombros, também sem saber como explicar.
Ele olha em volta, procurando alguma coisa que seja da cor lilóvêy, mas não encontra. Que diabos de cor é essa, rosa? E se for, como ele explicaria, de qualquer forma?
— Azul! — Furiru decide. — Azul e vermelho. — Ele amassa as mãos. — Mistura. — Então ele para. — Céus, eu me senti como uma criança por um momento, esqueci que posso falar frases completas.
Gen sente um sorrisinho subindo em seu rosto. O garoto fica vermelho, deve ter pensado que ele estava rindo de sua situação. E Gen está. Mas porquê é fofo.
— Roxo, então. — Ele conclue. Furiru repete "iro" algumas vezes, como para se fixar a palavra na mente. — Tem mais excessões?
— Nada que eu consiga pensar. Tem algumas vezes em que usam rozávêy- vermelho misturado com branco, para as crianças da linhagem principal, mas não é nada obrigatório.
— São poucas pessoas que vi de laranja ou amarelo. — Senku diz. — Embora já tenha visto muito creme. — Ele aponta para a própria roupa, que é desse tom.
— Laranja e amarelo são muito fortes, difícil de achar corante. — Kohaku diz. — Eu pessoalmente acho adorável. — Gen se lembra de já ter a visto de laranja meses atrás. No momento ela está com um vestido marrom, que realça seu cabelo e olhos.
— Ei, dá um cheirão nessa planta — Furiru estende na direção deles com um sorriso maroto, sem especificar alguém, só oferecendo a chance.
Senku, que não estava totalmente integrado na conversa, quase todo momento com a cabeça baixa separando fios de cobre, aceita o risco. Seu nariz se mexe levemente de forma adorável.
— Tem um cheiro meio doce. — Ele responde. — Caso tenha sido isso que você mencionou, não sei se entendi a palavra.
— Yeah. — Ele não muda a mão de lugar. — Agora coloca na boca.
Senku estreita os olhos, mas o faz de qualquer forma. Ele pega a folha e come como se fosse completamente normal. O que é, Gen pode dizer de cabeça milhões de pratos com flores ou ervas.
Bem, o cientista mirim não tem uma reação ruim. Ele fica alguns segundos mastigando para entender o gosto, nada demais.
— É salgado. — Ele decide, enfim. Furiru acena com a cabeça super animado. — Estava misturado com alguma planta de cheiro doce e acabou pegando, eu presumo.
— Wow, isso foi assustadoramente certeiro. — O garoto ri, mas acena com a cabeça animado. — É dente de leão, a única parte salgada nele são as folhas. Eu deveria fazer chá dele algum dia para todos provarmos. — Ele sorri com carinho pela planta.
— Sua favorita? — Gen pergunta.
— Com certeza. — Ele diz. — Mãe dizia que cada fiapo era uma fada. Lembro de divagar sobre a Tink- fadas. Fadas, por dias!
O erro foi simples. Poderia ser descartado como uma palavra em Huelva que ele se lembrou no ultimo momento de acertar em japonês.
Mas então por que pareceu tanto que ele ia dizer "Tinker Bell"?
Um Chrome bem acordado, com uma capa vermelha nos ombros e sandálias de salto que o fazem tropeçar a cada passo aparece com energia demais para alguém que foi nocauteado, aparece na sombra.
Sério, qual o critério para usar essas coisas? Gen tem certeza de que ele usava sandálias normais até ontem.
— Foi mal a demora! — Ele diz. — Eles me seguraram por mais tempo do que eu imaginei, e cara! Estar com o chefe Kokuyo já é estranho, mas agora ele está me chamando de chefe e eu podia sentir o desgosto dele a todo momento e-
— Senta pra separar plantas e depois você continua narrando sua aventura com o sogro. — Kohaku bate levemente no chão ao seu lado em um claro sinal de "senta aqui".
— Sim, senhora! — Ele sorri e Gen pode ver Furiru revirando os olhos com carinho enquanto observa a troca.
— Podemos começar? — Senku pergunta olhando para eles. — Amanhã é longe, mas não tanto.
E começa outra rodada de choques sobre o quão rápido a fabricação vai terminar. De alguma forma, eles conseguem se organizar para dar continuidade no trabalho.
Gen adoraria poder explicar todo o processo da fabricação do remédio, mas ele realmente não prestou atenção. Grande parte de seu cérebro estava ocupada com qualquer outra coisa que não exigisse tanto raciocínio.
Como, por exemplo, o fato de Furiru ter cheiro de grama e Senku não ter um cheiro fixo. Muda dependendo de qual material ele está usando no momento. Com certeza muito mais interessante que misturar carvão com ácido.
Oh, carvão. Esse é o cheiro do Senku agora.
•••
Finalmente.
Senku derrama grãos brancos, coisinhas tão pequenas quanto açúcar refinado, em um recipiente de vidro. Um velhinho simpático chamado Kaseki é quem ensinou a tropa a moldar vidro, ele é um artesão há décadas.
Pelo jeito que seu rosto brilha em animação toda vez que encontra um desafio na modelagem, Gen acredita que ele adora esse trabalho mais do que tudo.
Chrome, que passou o dia ocupado entre aprender a ser o novo chefe da aldeia — recebendo aulas pessoalmente com Kokuyo — e continuar ajudando na produção do remédio da Ruri, solta um alto e longo-
— WOOOOOOOOOAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH! — Os ouvidos de todos doem um pouco, mas não mais do que as bochechas que sustentam sorrisos imensos.
— Agora... — Kohaku passa a língua nos lábios, o coração claramente disparado em euforia. — Agora podemos- — Sua voz falha, mas ela se recusa a soluçar. — lechit' Ruri...
— Muito cedo para já estar chorando, leoa. — Senku interrompe a loira, que estava tão sentimental que começou uma frase em Huelva. Curar Ruri, foi o que ela havia dito. — Deixa pra fazer isso quando ela realmente estiver curada.
— Quem disse que eu estou chorando?! — Kohaku devolve com o rosto vermelho e olhos lacrimejantes. Ela parece ter noção de sua situação, pois cruzou os braços e fez um "hunf" de criança mimada.
Furiru, que está ao lado dela, move o braço de forma que seu torço esteja livre para ser alcançado. Ela não recusa a chance oferecida e se joga em um abraço. Chrome se joga em cima. Os três riem.
Gen observa.
Senku está mexendo no recipiente. Kaseki já se levantou para esticar seus ossos, o corpo surpreendentemente funcional apesar da idade avançada. O homem literalmente já está na fase de ficar mais baixo.
Ele espera que isso não aconteça consigo, soa humilhante ficar mais baixo quando velho, mesmo que sua altura seja acima da média.
Sem que ele perceba, todos estão no começo da ponte, indo para aldeia pois Ruri finalmente será curada. Gen hesita no último momento. Seu pé mal toca a tábua.
— Infelizmente eu não posso entrar na aldeia. — Ele escutou vagamente sobre as façanhas de Furiru para permitir que Senku e Kohaku pudessem entrar no dia anterior, mas ele não estava incluído nisso.
— Então o que, vai ficar no laboratório esperando? — Senku olha para ele como se fosse um idiota. Gen dá uma risadinha sem graça.
— Sim? — Ele dá de ombros, dando seu máximo para não expressar qualquer sentimento negativo. — É uma pena que eu não possa me juntar a vocês na comemoração. Me tragam comida, por favor~
Uma piscadela divertida no final da frase para acentuar seu comportamento de bobo da corte. Então eles se viram para ir embora sem ele e-
— Então... — Chrome, que não havia se movido, abre a boca. Ninguém se moveu. Ele pensou que eles iam se mover, não ficar parados o olhando. — Eu sou o chefe.
É nesse momento que Gen percebe que ninguém parecia incomodado com o clima estranho, cujo aparentemente só ele sentia. Todos estão tão leves quanto qualquer outro dia, só um pouco nervosos e ansiosos com o futuro.
Senku está o encarando com a mesma expressão de sempre, que parecia tão arrogante no começo mas agora é claro que ele só não tem energia para expressar qualquer coisa em momentos que não exigem isso.
Furiru, que está carregando uma caixa cheia de suprimentos — Senku a colocou em seus braços e ele não perguntou, só aceitou carregar — pisca inocentemente, sem ter ideia do que está havendo.
Kohaku mexe um pouco na franja, seu cabelo está crescendo e ela reclamou disso pelo menos dez vezes hoje. Toda uma questão de honra de guerreiro e que ela prefere cabelo curto do que longo e preso. A loira não está nem um pouco na conversa.
— E sendo o chefe — Chrome continua, sorrindo igual bobo. — Eu tenho autoridade para deixar você, Senku e Kohaku entrarem na aldeia. Mesmo que eu não possa fazer de vocês aldeões. Isso só com casamento, mesmo.
— Você não tá quebrando nenhuma regra por isso, não? — Ele pergunta, o garoto balança a cabeça. — Inteligente. Bem, imagino que você é o primeiro a ser amigo de forasteiros, e por isso não tem nada indo contra.
Furiru e Chrome se entreolham com um conhecimento muito especifico rolando entre eles. Kohaku mexe na unha, mas está atenta.
Senku encara os irmãos e então olha para Gen. Eles tem coisinhas a perguntar e descobrir, mas mais tarde. Por agora, Ruri é a coisa mais importante.
— Bem, o que estamos esperando, então? — Gen sorri e pisa na primeira tábua. Ele caminha, sentindo a madeira em seus pés, mas não se preocupando tanto quanto deveria com a questão das farpas.
Chrome é recebido por todos e ele está tão claramente desconfortável com isso que quase dói fisicamente. Ninguém impede quando Ruri se aproxima dele, os dois se olham, faíscas brilhando entre si como uma cena saída de filmes.
— Fizemos o remédio. — Ele diz. Ela acena com a cabeça. Então ele franze as sobrancelhas em preocupação. — Oh, eu não sei se tem um gosto bom-
— Chrome. — Ruri ri levemente, colocando a mão no rosto dele. — Vai ter o gosto do esforço e carinho que você e os outros colocaram enquanto faziam.
Chrome, aquele que ganhou a Grande Luta, o mais novo chefe da Aldeia Ishigami, cora igual uma beterraba. Ele sorri de volta de uma forma tão doce que Gen pensa por um momento que vai ter cáries se continuar vendo esses dois.
— Bem, hora da ciência. — Senku diz, interrompendo eles. Kohaku dá um soco que não pareceu muito fraco se for considerar a careta que o albino faz. — O que? Ela tem que ser curada!
— Ele tem razão. — Ruri concorda, com uma risadinha.
Há aldeões se reunindo para assistir. O cabelo de Suika é o que chama a atenção de Gen para o topo da casa principal, olhinhos castanhos analisando se há como ela descer e se juntar a eles.
— O que estamos esperando, então? — Kohaku puxa o braço da irmã, a colocando sentada em uma cadeira que magicamente surgiu no ambiente.
Ruri tosse. Ela cobre a boca com o punho, não parecendo incomodada, somente cansada.
Furiru pousa a caixa de suprimentos, Chrome e Senku se aproximam dela para pegar os instrumentos que precisam. Iniciando com um pote de vidro que contém o remédio.
Eles trocam o recipiente para uma folha de forma que seja mais fácil de fazer com que a garota engula tudo sem derramar. É um montinho de grãos e não uma pílula, então fica difícil tomar a partir do pote redondo.
— Aqui. — Furiru oferece um cantil de água para ela logo em seguida. Ruri toma sem hesitar. O garoto estende a mão. — Consegue ficar de pé? Senku vai te examinar, tudo bem?
O albino não espera por uma resposta, ele se aproxima com um copo medidor na mão e vai até as costas da garota. Ela se assusta, talvez com a ação ou com o gelado do como, mas seu salto não impede que ele continue a análise.
— Diga "aaah" — Senku pede e espera pacientemente enquanto ela processa a situação. Gen assiste enquanto Ruri timidamente faz "aaah" e as sobrancelhas do cientista mirim se franzem.
Ele volta para a caixa, todos ficam olhando. Gen mexe nas mangas de sua blusa, sem saber bem o que ele deveria fazer.
Então uma mãozinha puxa a barra de sua roupa. Ele move a cabeça para encontrar uma melancia. Seus olhos amaciam quando ele se abaixa para conversar com Suika.
— Como você está, Suika-chan? — Gen pergunta em japonês, equilibrando a planta dos pés no chão com cuidado.
— Com sono. — Ela responde, olhos castanhos pouco visíveis pelo vidro do capacete por culpa do sol brilhando na direção deles. — Vocês vão curar a Ruri?
— Sim, Senku-chan acabou de dar o remédio para ela e vamos ver se funciona. — Ele explica. Ela faz um hmm de entendimento, e se balança em seus sapatos de salto, de alguma forma sem desequilibrar.
Diferente de quando ela está na casa principal, agora a garotinha usa uma manga verde que cobre todo o corpo, tem o mesmo tom da melancia. Não há nem uma pitada de vermelho ou de seu cabelo reconhecível.
É um disfarce, ele percebe. Mas também percebe que os sapatos estragam isso, Ruri e o ex-chefe Kokuyo estão usando as mesmas sandálias, e qualquer outro aldeão não.
Talvez seja porquê ela se acostumou a os utilizar? Ou porquê ela precisa se acostumar então precisa estar o usando mesmo que quando disfarçada.
Gen não sabe e realmente não se incomoda em perguntar no momento. Ele escuta deixando sua expressão cuidadosamente moldada para mostrar carinho enquanto ela fala sobre ter feito as tranças que Ruri está usando no momento.
— Vamos voltar para a casa na árvore? — Kohaku pergunta para Senku, quando ele finalmente termina de fazer quaisquer exames que precisava.
— Não, Ruri vai ter um ataque de tosse a qualquer momento. — Ele diz. — Precisamos de sorte agora, pois se ela tiver tuberculose, o remédio não vai ajudar em nada.
— O que você quer dizer com o remédio não vai ajudar?! — Kokuyo dá um passo a frente, falando em japonês? O sotaque lembra o jeito que Kohaku falava quando eles se conheceram.
— Para tudo tem um limite, não tem como eu fazer um remédio que literalmente cura tudo com os materiais que temos disponíveis agora. — Senku se vira para ele, engrenagens em sua cabeça rodando tão forte que quase da para escutar.
— Então tudo isso foi para nada? — O homem está uma mistura de furioso, preocupado e extremamente arrasado.
— Nada? — Senku cruza os braços. — Talvez. Se ela tiver tuberculose, então sim. Mas se ela tiver pneumonia, e é nisso que estou apostando, então vai ser curada.
— Senku, como você chegou nessas conclusões mesmo? — Gen pergunta sem ter a menor ideia de que era possível ter noção da doença de alguém por uma análise com copos de medição.
— Autópsia em um rato. — Ele responde, sem mais nem menos. — A doença é passada por ratos, e eu presumo que está na aldeia há muito tempo. — Kokuyo abaixa a cabeça. O trio da casa da árvore fica claramente com um humor ruim.
— É bastante coisa para se descobrir abrindo um rato. — Ele murmura para si mesmo, não confiando em piadinhas para aliviar o clima.
— Pai, eu confio em Senku. — Ruri se aproximou do homem com uma serenidade que quase parecia deslocada. — Eu sei que você compartilha da mesma teoria que eu, especialmente considerando o idioma que estamos usando para conversar.
— Eu sei. Eu só... — Kokuyo apertou a ponte do nariz, a mão trêmula revelando o turbilhão de emoções que o consumia. — Acho que não estou preparado. Ele representa tanto para o nosso passado e futuro, mas... você, Ruri... não consigo suportar a ideia de te perder.
Gen percebe o medo profundo nos olhos do homem, um medo que parece consumir sua alma. Ruri estende a mão, tentando transmitir alguma confiança.
— Nós precisamos acreditar na fé que ele tinha. — Ela sorri. — Não importa o que aconteça, eu sei que vai ficar tudo bem. Você tem Kohaku e Suika, também Chrome e Furiru, todos da aldeia, sei que você se importa mais do que qualquer um.
— Ruri — Kokuyo ergueu os olhos, cheios de um brilho intenso. — Não fale como se fosse o fim. Você vai ficar bem. — Ele apertou suas mãos com uma força que traía seu desespero. — Eu vou dar um jeito nisso, nem que seja a última coisa que eu faça.
A voz dele se quebra, e ele dá um passo para trás, como se o peso do medo fosse esmagá-lo.
— Pai. — Ela soa tão calma. — Os fundadores acreditavam que poderíamos reconstruir o mundo, e nós precisamos honrar isso, não com medo, mas com esperança.
— Ao custo de você? — Ele fecha os olhos. — Aprendemos com tentativa e erro, não quero que você seja o primeiro erro para que depois ele acerte.
— Não vai dar errado. — Ruri disse, com uma certeza inabalável. Ela realmente acreditava em Senku. — Pelo futuro que eles acreditavam e pelo nosso próprio futuro, nós vamos conseguir.
Kokuyo levantou a cabeça, os olhos castanhos, como os de Suika, brilhando com lágrimas não derramadas. Sua dor era palpável, um peso que ele mal conseguia suportar.
— Eu só... não quero te perder, Ruri. — Ele sussurrou, a voz embargada pela emoção. — Não posso perder ainda mais.
Ruri o abraçou, envolvendo-o com seus braços. Kokuyo demorou alguns segundos, mas finalmente relaxou no abraço da filha.
Gen não percebeu quando Suika saiu de seu lado, mas a pequena havia largado a melancia no chão e corrido para se juntar ao abraço familiar. Kohaku também estava lá, seus olhos cheios de determinação e tristeza.
Kokuyo, no centro, foi envolvido pelos braços de todas, sentindo o calor e o apoio de sua família. Ele respirou fundo, um suspiro audível que parecia carregar o peso do mundo.
Gen desvia o olhar, somente para encontrar Chrome e Furiru lado a lado, as cabeças apoiadas uma contra a outra.
— Quer um abraço em família também, Senku-chan? — Gen brinca, ao lado do albino. Ele levanta os olhos vermelhos em sua direção como se dissesse "sério?" e nem se deu o trabalho de responder.
Foi aí que Ruri tossiu.
Começou como qualquer outro momento, porém logo se tornou desconfortável de se escutar. Com certeza horrível de se sentir. Gen poderia jurar que seu peito estava sendo rasgado por dentro.
Cada respiração requeria esforço e a cada nova tosse, todos viam o corpo da garota se curvar de dor. Foi ficando mais violenta a cada segundo, os ombros tremendo, ela apertou os braços ao redor do corpo.
O som seco reverberou, uma mistura de agonia e desespero. Ruri se inclinou, o rosto contorcido em dor. Todos se envolveram ao redor dela, chamando seu nome com preocupação desenfreada. Ela só pôde chorar em resposta.
Suas mãos tremiam, e o suor brilhava em sua testa. Seus lábios estavam pálidos, saliva avermelhada escorreu pelo canto de sua boca.
— Você. — Kokuyo avançou em Senku. — O que seu remédio fez?! Ela só piorou. Eu juro, juro que se você matar a minha filha, não importa o que os ancestrais-
— O remédio tá funcionando. — Senku responde, não fugindo da mão imensa agarrando seu pulso com força o suficiente para deixar marcado. — O corpo dela está lutando por dentro, eu falei que ela teria um ataque de tosse.
E continuava, cada vez aparentava piorar. Ruri tentou falar, mas apenas conseguiu emitir um gemido fraco antes de ser novamente dominada pela tosse. Cada novo acesso parecia roubar-lhe o ar, e ela arfava, tentando desesperadamente respirar.
Segundos dolorosos e demorados passaram. Ela arfou, mas conseguiu se recuperar. Todos ao redor relaxaram visivelmente.
— Vamos organizar os suplementos para Ruri. Ela precisa tomar o remédio duas vezes por dia, vai demorar um pouco para que ela melhore.
— Tá na mão! — Chrome mostra uma cesta cheia de saquinhos com o remédio. Sulfa-alguma-coisa! Gen passou o tempo todo chamando de remédio em sua cabeça pois não conseguia se lembrar nem o começo do nome.
— A gente pode repetir isso dos ancestrais? Por que eu acho que perdi alguns capítulos da lore. — Gen se aproxima do cientista mirim e pede desconcertado.
Ele percebeu o tanto de vezes que Senku se afiou quando ancestrais ou fundadores eram mencionados, mas não entendeu o motivo.
Parecia alguma coisa nos detalhes de toda a história que ele não pegou. Isso o incomoda um pouco. Não saber algo.
— Vou reconfirmar a história antes, para conferir se tudo o que pensei está certo. — Senku responde, ele sorri triste. — Tenho quase dez bilhões por cento de certeza de que estou, porém.
Gen pode não ser o melhor de todos em esperar — side eye para Senku, aquele que contou os segundos por quase quatro mil anos —, mas ele consegue aguentar.
•••
— Então somos seus parentes? — Kohaku pergunta, surpresa. — Achei estranho as pontas escuras do seu cabelo, mas não imaginava que realmente era nossa genética!
— Ah, não. Isso é coincidência. — Senku descarta com um movimento de mão. — Eu não sou realmente filho do Byakuya, ele me adotou quando criança. Então não temos o mesmo sangue nem nada.
— Você é filho dele. — Chrome frisa, parte do grupo o encara confuso. — Crianças adotadas não devem ser tratadas como se não fossem reais. Sangue não significa nada nessa situação.
— Ele tá super certo. — Kohaku acena, os braços cruzados. — Mas bem, acho que se eu tivesse me interessado mais em saber sobre os Cem Contos, a gente teria descoberto isso muito antes.
— Suika queria conhecer essa história também, papai disse que só ia contar quando ela fosse mais velha. — Suika resmunga, tristinha por também ter tido a chance de descobrir tudo isso muito antes.
— Pelo que Kokuyo me contou, o centésimo conto é o conto escondido, então eles só ensinam na maioridade pois não pode ser compartilhado. — Senku explica.
— Sim, ele só me contou quando eu completei quinze anos. — Ruri acena com a cabeça. — Mas tivemos que repetir a história todas as noites pois é a mais importante das cem. Acho que a idade ajuda nisso também.
— Ei! — Ginrou aparece na porta, provavelmente fugindo do trabalho mais uma vez. — Vocês ainda não começaram a se arrumar?
— Se arrumar...? — Gen repete na espera de que alguém, especificamente o loiro, especifique.
Ele está usando roupas azuis com entalhes bonitos, algo que facilmente seria usado em filmes retratando rituais de tribos.
— Já está na hora?! — Furiru olha para Chrome e Ruri e nem tem energia para colocar entonação de pergunta na frase. — Por que diabos vocês estão aqui.
— Porquê faltam horas e o Ginrou decidiu brincar com vocês. — Kinrou coloca seu queixo no topo da cabeça do irmão. — Porém eles realmente pediram para virmos buscar Chrome e Ruri.
— O que vai acontecer? — Senku pergunta, tão confuso quanto Gen. — É o casamento de vocês agora, ou algo assim?
— Sim. — Chrome diz, corando. Gen não tem palavras. — Deveria ter acontecido no dia em que ganhei a Grande Luta, mas adiamos por causa da questão do remédio.
— Legal que ele fala isso super tranquilo. — Furiru aponta. — Mas ele esteve surtando a semana toda antes de dormir.
— A Ruri também! Ela fica repetindo o conto da cegonha porquê não consegue dormir. As vezes mesmo dormindo, é engraçado. — Suika ri, mas a garota mencionada fica tão vermelha quanto suas roupas.
— Para de pegar no pé dela, Suika. — Kohaku diz, mas sem nenhum tom de repreensão. Na verdade ela estava rindo do começo ao fim.
— Vão, vão, pombinhos. — Gen chama, apontando para os gêmeos na porta esperando. — Vocês tem que se arrumar para seu ca-sa-men-to~
Os dois continuam vermelhos por toda a provocação, mas sorriem. Eles se levantam e saem do cômodo de mais dadas, suas vozes são audíveis conversando com a outra dupla até que eles se afastem o suficiente.
— Nós deveríamos nos arrumar também. — Kohaku levanta sem colocar as mãos no chão, como uma bailarina. — Vamos arranjar roupas para Senku e Gen.
— Precisamos ver comida para levarmos. — Furiru menciona, se virando para onde deve ficar a cozinha. — Eu vou-
— Você vai cuidar da roupa. — Kohaku sorri nada ameaçadora, segurando o ombro dele. — Não vamos ter outra noite passando mal depois que você meteu a mão naquela sopa de peixe.
— Mas alguém tinha que fazer algo! — Ele retruca enquanto ambos caminham pelo corredor.
— Quando o assunto é comida, alguém significa qualquer um, menos você, gatinho. — A garota dá um tapinha amoroso na cabeça dele.
Eles desaparecem pelas paredes. Suika balança em seu lugar onde está sentada, não fazendo nenhum esforço para sair de lá. Senku e Gen se entreolham, sem ter certeza do que deveriam fazer.
— Já foi em um casamento antes, Senku-chan? — Ele pergunta, é chance de conhecer mais sobre o passado do garoto.
— Não. — Ele responde. — Nunca fui muito de festas, Taiju era a única pessoa que eu fazia esforço. Dez bilhões por cento mais fácil ficar em casa construindo foguetes.
— Sua ideia de fácil é realmente interessante. — Gen sorri. — E você, Suika-chan. Já teve uma festa de casamento para algum outro aldeão?
— Hmm... — Ela está sem a melancia, o grande óculos redondo amaciando seu rosto. Coloca o dedinho no queixo enquanto pensa. — Suika gostava de ficar sempre com a Ruri, então nunca vi muito da aldeia.
— Entendi. Parece que vai ser o primeiro casamento de todos nós, então! — Ele bate as palmas, animado. — Tem alguma roupa em específico que deveríamos usar? Ginrou-chan estava com desenhos bonitos na roupa.
— Uhum, ouvi meu pai e Jasper falando sobre isso, são os símbolos da aldeia. A terra, o mar e o espaço. — Ela diz, levantando três dedos conforme fala. — O espaço pois é de onde os fundadores vieram, então são tipo nossas origens origens.
— Terra porquê é onde estamos agora, e mar porquê é por onde vieram? — Ele pergunta, e ela arregala os olhos em surpresa.
— Sim! Exatamente isso. — Ela diz. — Uau, Gen-chan, você é muito bom em descobrir as coisas.
— Faz parte do trabalho de ser um mentalista. — Ele sorri docemente para ela. Suika balança os braços em animação.
— Como eu faço para ser uma mentalista também? — Ela pergunta, mas então se vira para Senku. — Ah! Eu também quero ser cientista! Quero ser os dois. São tão legais e eu não vou ser sacerdotisa e eu não quero ser protetora como Jasper e Turquoise.
— Bem, tenho certeza de que nós podemos te ensinar a ser uma mentalista e uma cientista. — Gen dá uma piscadela e a Suika pula em um abraço. Ele nunca deixa de se surpreender com o quão pequena ela é e o quanto já sabe.
— Primeiro passo, não enrolar. — Senku dá um sorriso de canto, se levantando. — Vamos procurar os dois, temos que ajudar na preparação também.
— Sim! — Suika pula novamente, ela puxa o braço de Gen até que ele a siga. Pega na mão de Senku também como se fosse uma guia e começa a andar tão animada quanto os noivos. — Vamos, vamos!
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