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História Livrai-nos do mal, amém! - A tua vara e o teu cajado me consolam. - História escrita por DanshinQueen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Livrai-nos do mal, amém! - A tua vara e o teu cajado me consolam.


Escrita por: DanshinQueen

Notas do Autor


Primeiramente, gostaria de dizer que fiquei muito feliz com o apoio que a fic recebeu aaaaa obrigada por cada favorito e comentário, de coração, isso ajuda bastante a motivação, saber que vocês também curtiram a ideia da fanfic <3
Estou bastante empolgada e, pelo progresso do terceiro capítulo, é bem provável que aconteça atualização semana que vem também, então fiquem ligados u.u
Enfim, vim tentar alegrar o sábado de vocês e espero que consiga os divertir com os surtos da surtadah. No mais é isso.

Boa leitura e até as notas finais!

Capítulo 2 - A tua vara e o teu cajado me consolam.


Irene imaginou que a saída ao shopping seria tranquila quando o horário disponível para Jennie e Yeri era relativamente cedo, de modo que a sessão do filme acabara pouco depois das seis. Um excelente horário, já que não havia muitas crianças chorando e atrapalhando a sessão, nem muitos adolescentes e jovens como elas que também não sabiam parar quietos durante o filme. Este que fora bom, também. Irene não costumava ser muito fã de filmes de super-heróis e tudo mais, mas aquele fora interessante, também por não ter tido visto muitos filmes de super-heroínas por aí desde que assistira Mulher Maravilha com a mãe.

E bem, Irene Bae podia ser conservadora demais para a sua idade em aspectos demais, mas ver uma mulher descendo a porrada em todo mundo na telona era muito satisfatório. Irene não necessariamente precisava concordar com cem porcento da doutrinação, não? Bem, havia discussões até mesmo entre os estudiosos dos escritos, certo? Irene ainda tinha uma consciência de classe, ainda mais presenciando as situações e fofocas pelas quais sua mãe tinha que passar.

 O shopping não estava muito cheio quando chegaram, ao contrário da hora em que saíram do cinema e se depararam com a praça de alimentação borbulhando com o falatório da multidão, e barulho incomodava Irene Bae, de modo que ela não conseguiu conter a careta de desagrado, também causada pela diferença de iluminação entre sala escura e o brilho de tantos letreiros de lanchonetes diferentes.

- E então, o que acharam? – Jennie perguntou enquanto caminhavam tranquilamente pela praça de alimentação, naquela sensação de letargia pós-filme e banquete de pipocas extremamente amanteigadas.

- Muito que bom. Eu vi as reviews e confesso que estava até com as expectativas baixas, mas nada me surpreende o povo da internet ser chato. – Yeri iniciou com o seu review. – Mas, oh, eu fui a única ou vocês também sentiram a tensão sexual entre Carol Danvers e a Maria Rambeau?

- Ah, que bom que eu não fui a única. Ou foi de propósito, ou eu quero saber que tipo de amizade os roteiristas têm com os seus amigos, porque, olha... – Jennie concordou com Yeri na mesma hora e Irene ergueu uma sobrancelha para Yeri, como se a questionasse por saber e falar em voz altas daquelas coisas.  Imagina, um bebê daquele!

- É, eu também achei meio suspeito. – Irene também deu sua opinião, de nariz torcido. – Mas, ai, por que tudo é sobre isso hoje em dia? Tudo tem que ter gay, mesmo? Eu vou assistir algo na Netflix, tem gay. Vou assistir algo no cinema, tem gay. Vou assistir novela, tem gay. Até em comercial de margarina tem gay!

- Ué, normal. Até na escola é cheio de gay. – Yeri deu de ombros e Jennie riu ao concordar. – Só está mais realístico, mas eu entendo seu ponto.

- Mas é ficção, não precisa ser igual a vida real. – Irene respondeu como se fosse óbvio. – Imagina a menininha que vai ver o filme no cinema, se identifica com a Capitã Marvel... Você sabe como é criança, eles saem do filme querendo ser super-heróis.

- Crianças? Eu estou querendo ser sequestrada por alienígenas agora mesmo. – Jennie comentou, com humor.

- Então! Imagina a criança de dez anos! Vai crescer achando que gostar de mulher vem no pacote! – A fala da Kim só pareceu fundamentar o argumento da Bae para enchê-la ainda mais de certeza.

- Então essa criança é muito fraca da cabeça. – Yeri rebateu e fez questão de se explicar ao ver a carranca de Irene direcionada a si. – Quero dizer, quando eu era pequena e via uma sapatão eu só corria mais rápido do que hoje elas correm do Gustavo Lima. – A justificativa da mais nova foi suficiente para arrancar uma risada até de Irene.

- Mas é diferente, hoje em dia parece que ser gay virou legal? – Aquilo era tão questionável para Irene que ela não conseguiu evitar que sua fala soasse como uma pergunta. – Olhem só. Ali, ali e ali... E aquela outra também! – Como evidência para sua tese, Irene apontou para quatro lanchonetes aleatórias, cada uma delas com uma representação diferente das cores do arco-íris. – Está tudo invertido, as crianças crescem com o pensamento todo errado agora!

- Relaxa, Irene. Todo mundo sabe que é só para arrancar dinheiro do povo. – Jennie deu uns tapinhas nos ombros da Bae, como que para consolá-la. Funcionou. Irene decidiu se calar e a revolta se dissipou aos poucos. – Vocês vão querer comer algo antes de ir embora?

- Nem. Eu ainda tô sentindo as pipocas na boca do estômago. – Yeri negou ao passar a mão pela barriga e Jennie concordou com a cabeça, em silêncio. – Só vamos, então? Meu pai disse para ligar que ele dava a carona na volta.

- Vocês podem ir, eu falei para a minha mãe que ia jantar com ela hoje, já que estou aqui. – Irene olhou em seu relógio de pulso. Seria o horário de descanso da mãe dali a meia hora, mais ou menos, a mulher que só largava do serviço após o fechamento da loja.

- Eu aceito a carona. – Jennie respondeu para Yeri, que já pegava o celular do bolso traseiro para mandar uma mensagem para o seu serviço de Uber particular. Não que fosse glamouroso.

- A gente te faz companhia até ele chegar. – Yeri disse para Irene, que assentiu com a cabeça em resposta.

...

Yeri e Jennie fizeram companhia para Irene por pouco mais de vinte minutos, então seu tempo solitário sentada na praça de alimentação não foi tão insuportável. Logo sua mãe chegou e puderam pedir o jantar em um dos restaurantes por quilo do lugar. Tiffany, como era de se esperar, perguntou sobre o filme, para o qual Irene deu uma opinião positiva sem entrar em muitos detalhes. Não valia a pena problematizar tudo outra vez.

Teve que fingir entender por um bom tempo as fofocas dos absurdos e reclamações do seu lugar de trabalho da Hwang, mas Irene não se importava muito com isso, na verdade, ela até preferia não ter que falar muito. Sem contar que sua mãe parecia muito feliz com a companhia, o sorriso que dava com os olhos sendo exibido com frequência. Irene sabia que raramente jantavam juntas, pelos horários malucos de serviço de Tiffany, então poder fazer aquilo mais do que no seu único dia de folga semanal muito provavelmente era motivo de alegria para a mais velha, o que deixava Irene muito grata e contente com a sugestão que partiu dela. Sentiu-se até orgulhosa de si mesma, como se estivesse cumprindo bem o seu papel de filha.

Ficaram por mais tempo, mesmo após a comilança, conversando até o fim do horário de descanso da Hwang. Despediram-se com um abraço e, após desejar uma boa volta ao trabalho para a mãe, Irene fez questão de ela mesma levar as bandejas até as lixeiras, antes de seguir até o andar térreo e caminhar até o ponto de ônibus. Não se esqueceu de compartilhar sua localização geográfica com a mãe pelo aplicativo de mensagens. Era o combinado, sempre que tinha de sair tarde da noite. Ainda que oito e pouca não fosse lá tão tarde assim, ainda mais no fim de semana.

O problema era que Irene não gostava muito de ficar sozinha, independentemente do horário, e certamente aquilo era reflexo do tanto de jornalismo sensacionalista que consumia na TV. Então, em qualquer situação e mesmo no ponto de ônibus, preferia se cercar de outras pessoas. No caso, as velhinhas costumavam ser a melhor opção, mesmo que a mania da terceira idade de puxar assunto às vezes a aborrecesse.

Mas, naquela noite, Irene não usou as pobres velhinhas simplesmente como escudo, mas também como esconderijo e camuflagem. O motivo? Do lado oposto do ponto de ônibus estava ninguém menos e ninguém mais do que a Tinhosa. Sério, quais eram as chances?! Às vezes Irene achava que Ele gostava de tirar sarro de sua cara e testar sua fé!

Para a sua sorte, Seulgi Kang aparentemente não tinha a notado ali. Não estava sozinha. Tinha uma sacola na mão e conversava com um moço da Kallan...? Era oriental, também, mais alto que a garota e encorpadinho, mas não forte, com pele de quem ficava muito tempo no sol. Ele não devia estar no trabalho ao invés de ficar de papinho com estudante? Tá, Seulgi devia ser de maior, mas...

Enfim, Seulgi não parecia estar nem aí, porque ria e sorria para o rapaz a todo momento, com uma intimidade que permitia toques e tapinhas o tempo todo, coisa que Irene não a via fazer nem com Joyce e muito menos com Wendy. O fato de Seulgi também estar toda arrumadinha, sem o estilo questionável das roupas que ia para a escola – normalmente blusas de anime e jogos que um dia foram pretas e de estampa com cores bem definidas – além de, mas que porra, maquiada, era chocante para Irene Bae.

Tudo isso era para encontrar – sem querer diminuir o trabalho de ninguém – um funcionário da Kallan? Que diabos! Existia coisas como Sapatão de Taubaté?! A modernidade chocava Irene cada vez mais.

Se bem que a quem Seulgi queria enganar? Podia até se passar por hétero, com um shortinho daqueles... Mas Irene Bae não era mulher de se iludir!

A não iludível, inclusive, desviou o olhar para a rua quando notou a movimentação do trio da terceira idade ao seu redor. À alguns metros vinha um ônibus e, para compensar a recente onda de mal azar da crente, era o seu.

Irene se apressou no meio das velhinhas para entrar no busão tão rápido quanto pôde, para não ser notada ali. Se pensou que àquela hora pegaria o ônibus um pouco menos cheio, se enganou, pois ficou lotado como se fosse cinco ou seis da tarde, depois de parar em frente ao ponto do shopping. Era horrível, porque era desconfortável, mas era bom porque as chances de ser vista diminuíam consideravelmente. E Irene também teve a sorte de conseguir seu lugar preferido, mais à frente, segurando na barra do último banco solitário antes do espaço reservado aos cadeirantes. As chances de ficarem esbarrando nela diminuíam bastante ali.

Mas a Bae não conseguiu conter a curiosidade por muito tempo. Por cima daquele mar de cabeças – a maioria delas atrapalhando seu campo de visão – procurou discretamente por Seulgi Kang. Engoliu em seco ao perceber que a garota não estava tão longe quanto gostaria. Encontrava-se sozinha com as costas apoiadas na divisória de vidro entre a roleta e o primeiro assento, a sacola amarrada no braço e distraidamente ria enquanto digitava no celular. A garota tinha que ter um equilíbrio admirável ou muita força nas pernas, porque, se o motorista tivesse o pé pesado, ia voar para a frente numa cena e tanto, uma que Irene não evitou rir discretamente ao imaginar.

Só que Irene se arrependeu e percebeu tarde demais que Seulgi olhava de testa franzida em sua direção. Dizer que a Bae entrou em pânico seria eufemismo. Irene teve que coibir um gritinho pelo susto e desviou rapidamente o olhar para a frente. Irene sequer piscava, e segurava a barra de alumínio com tanta força que as juntas de seus dedos ficaram esbranquiçadas. Só respirou de novo quando a falta de ar foi denúncia de que seu corpo ainda precisava de oxigênio regularmente para funcionar.

Irene pôde se acalmar depois que algumas quadras ficaram para trás e não houve reação alguma da outra garota, o que a Bae agradeceu com uma prece mental. Já tinha passado vergonha o suficiente, e mesmo assim não conseguiu evitar olhar de novo na direção da Kang, com mais temor e cuidado dessa vez. A Kang ainda tinha o celular na mão, mas olhava séria para um canto aleatório que não era o aparelho. Não sabia se aquilo era uma Seulgi pensativa no que dizer ou em interpretar a mensagem que recebera – lerda do jeito que era -, mas Irene se contentou em não ter uma resposta. Tinha aprendido a não olhar por mais que um segundo da primeira vez, obrigada.

Mas a impressão que Irene tinha de que faria uma viagem pacífica e segura até a sua casa acabou assim que uma voz se destacou entre as demais conversas paralelas do veículo. O pior de tudo: chamando seu nome.

- Ah, Irene, você está aqui! – Irene tentou ignorar, e ela jurou em sua cabeça por tudo que era mais sagrado, mas, novamente, não conseguiu. Seulgi estava a encarando com um sorriso tão brilhante que parecia que ter a encontrado ali era motivo para sentir toda a felicidade do mundo. Todas as sensações de um estado de pânico voltaram ao seu corpo no momento que se deu conta de que Seulgi vinha sorridente em sua direção, pedindo licença para as pessoas entre elas. – Por que não me avisou que estava no shopping? A gente podia ter dado uma volta!

- Q-quê?! Tá maluca?! – Irene tentou colocar sua melhor pior carranca na cara, mas o nervoso era tão grande que provavelmente falhou em conseguir. Sua única reação foi se colar ainda mais na barra em que estava, sem se importar com o olhar feio da velhinha que estava sentada a sua frente, que agora tinha que lidar com uma adolescente maluca encostando nela. Mas de jeito algum que a Bae podia deixar Seulgi ficar roçando em si! Já que a garota estacionou bem ali atrás, apoiando-se nas barras logo acima e ainda tinha aquele sorriso maníaco no rosto. Irene estava prestes a gritar pela polícia no meio de um busão lotado quando Seulgi aproximou o rosto do dela, mas a voz da Bae não saiu, assim como nenhum músculo seu se móvel, exceto que outra vez poderia partir a barra de alumínio do ônibus, se alguém duvidasse.

- Só finge que não me odeia por um segundo. – Seulgi sussurrou ao seu ouvido e Irene.exe por pouco não parou de funcionar. Primeiro que o arzinho quente, transmitindo todo tipo de vírus em sua orelha, fez cosquinhas o suficiente para um calafrio percorrer sua nuca. Depois porque não sabia se estava mais pálida por novamente estar precisando de oxigênio ou se estava vermelha porque o coração resolvera bombear mais sangue do que era necessário. – Então, como está sua mãe?

- Garota, olha aqui... – Irene estava pronta para o descer o cacete em Seulgi e testar se sem os dentes continuaria com aquele sorrisinho, mas a Kang logo desviou o olhar dela para o fundo do ônibus, olhando em alguma direção com uma cara tão enfezada que Irene nunca tinha visto antes, nem quando Seulgi ficava brava com a encheção de saco das amigas.

Irene se perguntou mentalmente como alguém podia mudar tão rápido de Ursinhos Carinhosos para um olhar tão... lascivo, em poucos segundos.

Não que Irene estivesse encarando, admirando ou coisa assim, longe disso! Ela só estava tentando se lembrar do que ia dizer! Só que Seulgi foi mais rápida a voltar a olhar para ela, negando irritada com a cabeça.

- Você tem que começar a prestar mais atenção na vida. – Seulgi disse aquilo com um tom de decepção, mas sua postura ia relaxando aos poucos, ao contrário da Bae, que continuava retraída em seu canto, só que ainda mais confusa. – Na sua, no caso.

- Desde quando você para os outros no ônibus para os ofender gratuitamente? – Irene engoliu o nervoso a seco, tentando recuperar a confiança habitual ao erguer uma sobrancelha.

-  Tinha um maluco te encarando desde que tu subiu no ônibus e a bonita fica viajando, olhando pra paisagem. – Seulgi reclamou e Irene gelou por um segundo, lançando um olhar quase desacreditado para a Kang. Curiosidade nula de procurar o tal moço da companhia de luz. – É, de nada. Tu não pega muito ônibus não, né?

- Claro que sim, é que... – Irene decidiu não dar a sua justificativa. Quiçá fosse pior do que se passar por desatenta. – Ai, tanto faz. E mesmo se eu estivesse distraída, a culpa é minha?! – A resposta indignada, como ela esperava, foi suficiente para silenciar a Kang.

- ... foi mal. – Irene só não esperava pelo pedido de desculpas, sinceramente, o que a deixou um tantinho incomodada. Não o incômodo que a deixava irritada, como sempre, mas um incômodo que causava uma pitadinha de culpa na sua consciência...?

- Ave, passa essa sacola para cá, antes que você dê com ela na minha cabeça. – Irene pediu e viu Seulgi a encarar com aquela cara de falsa lesada dela. Era isso, ou era surda.

- Quê?

- Essa sacola, não quero esse treco me acertando! – Irene esbravejou e mesmo estranhando, Seulgi passou sua sacola de compras daquela mesma loja de sapatos para a garota da frente, isso porque ficou com um pouquinho de medo também.

- Valeu...? – Irene ouviu Seulgi agradecer, ainda que cheia de dúvidas, e respondeu com silêncio. Não é como se tivesse decidido tratar aquela ali bem, de uma hora para outra, era sua forma de agradecer sem precisar o dizer em voz alta.

Sabendo que não levaria uma caixada de sapato na cabeça – presente, talvez? – Irene pôde relaxar sua postura e se acomodar de modo mais confortável no seu lugar, com uma distância segura, claro, para que a outra não começasse a pensar coisa errada. Mas o silêncio também não era muito tranquilizador, porque não tinha como ignorar o fato de que Seulgi estava ali, logo atrás dela (sentia o calor e o perfumezinho que não era nenhum Kaiak com fragrância de sabe-se lá o que, e sim um cheirinho de pêssego gostosinho), sem contar que podia ver o reflexo da outra na janela do busão, encarando todo canto, mas a ignorando por completo.

Então, sim, era contraditório. Irene estava confortável e desconfortável ao mesmo tempo.

- Você desce no mesmo ponto? – Irene perguntou consciente de que Seulgi, por razões duvidosas, sabia onde ela morava. Era sua tentativa de quebrar um pouquinho o gelo. Não que precisasse, ela só estava de bom humor após sair com as amigas e jantar com a mãe.

- Normalmente, sim. – Viu Seulgi assentir, após erguer as sobrancelhas em uma discreta reação de surpresa à pergunta. – Sabe a Loja Maçônica na Xavier Pinheiro? Eu moro num prédio ali perto. – Irene assentiu mais lentamente do que gostaria, porque aparentemente Seulgi morava perto demais dela. – É mó estranho usar isso de referência, eu sei. Mas eu queria ser rica só para ver o que acontece ali.

- Você podia ser o Bill Gates, a maioria não aceita mulher. – Irene constatou e viu Seulgi torcer o nariz pelo reflexo da janela.

- Que bosta... – A Kang lamentou e Irene cobriu discretamente a boca, coçando a garganta para coibir a vontade de rir. – Mas hoje eu desço um ponto antes, Wendy acabou de me chamar para um rolê aleatório. Alguém que ia com ela deve ter dado para trás, certeza.

- Hm... – Irene concordou com a cabeça lentamente outra vez. Rolê às quase nove horas? Nada tão tarde cheirava bem para a Bae, nada muito enriquecedor para o espírito, pelo menos. – Só me avise quando for descer.

...

- É claro que não foi surto, mana, eu te juro que vi com os meus próprios olhos!

- Devia estar escuro e tu alucinou, porque eu não sei se acredito nisso, não!

Assim que Seulgi chegou à escola na segunda-feira de manhã, após um triste fim de semana tendo que ouvir Wendy chorar suas pitangas naquele bar de rock capenga que frequentava, tudo por conta de um pitelzinho que conhecera no mesmo lugar e aparentemente só havia brincado com seus sentimentos... Enfim. Seulgi mal tinha passado pela a porta e já estava escutando as amigas a encrencar uma com a outra, o que por si só não era nenhuma novidade.

- Aff, eu devia ter tirado foto! – Joyce lamentou para si mesma.

- Bom dia! - Seulgi largou sua mochila em cima da carteira e se jogou no seu lugar, sentada de lado para poder entrar na discussão das duas de trás. – Foto de quem?

- Nem ouve, é teoria da conspiração. – Wendy balançou a mão, sem dar importância. Seulgi ficou feliz em ver que a aparência de viúva da amiga havia melhorado consideravelmente.

- Então, domingo eu fui numa matinê. – Joyce sussurrou, ignorando a Son, que revirava os olhos para ela.

- Com o Sérgio? – Seulgi perguntou, interrompendo o fluxo de narrativa da outra.

- Não, a gente terminou, ele era muito chato. – Joyce fez carinha de desgosto ao balançar a mão negativamente.

- Eu falei que Sérgio não presta. – Wendy cruzou os braços e a Park lançou um olhar julgador em silêncio para ela, antes de voltar sua atenção para Seulgi.

- Enfim. Eu fui com minha prima e umas amigas dela para passar o tempo e tal, dia das garotas, sem macho, e adivinha quem eu encontrei lá? – Joyce voltou a sussurrar, como quem fosse contar um segredo de Estado.

- Sei não. – Seulgi nem se deu o trabalho de pensar. Joyce conhecia tanta gente que as chances de acertar eram mínimas.

- Aquela amiga da crente que fica com ela no intervalo, a novinha, como é o nome dela? – Joyce franzia a testa tentando se lembrar. Tinha acabado de falar, porra...

- Um bagulho tipo Yuri, Yari... Yeri! Yeri sei lá das quantas. – Wendy respondeu, mesmo que não estivesse incentivando a divulgação de fake news. – Se não for Silva é Kim.

- Isso, isso, isso. – Joyce balançou o indicador como um famoso personagem mexicano.

- Tá, esse é o escândalo? – Seulgi perguntou sem entender nada. Desde quando crente ir para a balada era proibido?

Talvez fosse, ela não sabia de nada.

- Quê? Claro que não. – Joyce deu uma risadinha, daquelas que quem sabe demais dá para tirar vantagem de algo. – Fica pagando de santa e falando merda dos outros junto com a Pastor Everaldo, catei ela nos mó beijão e pasme... – Joyce fez a pausa dramática dela, Wendy negou com a cabeça e Seulgi indicou com a cabeça para que prosseguisse. – Tava metendo a língua mesmo na boca duma menina aleatória lá, se era da escola eu não reconheci.

- Quê? – Seulgi deixou o queixo cair e os olhos se arregalarem mais do que o normal.

- Eu disse, é teoria da conspiração. Ela deve ter confundido ou tá inventando história, pagando de Leo Dias. – Ainda que o relato da Park fosse interessante, era interessante demais para ser verdade e, nesses casos, Wendy preferia ter um pé atrás.

- Tá me chamando de 171? Se a gente tivesse no Bom Retiro, tudo bem. Mas aqui na Baixada não tem tanta gente com a cara da Yeri assim para eu confundir. – Joyce argumentou e, ainda que Wendy tivesse parecido ceder um pouco, a expressão de desinteresse permaneceu em seu rosto.

- Carai... – Enquanto isso, Seulgi só conseguia cobrir a própria boca, abismada. – Eita, será que a Irene sabe?

- Minha filha, se soubesse... Eu duvido! – Joyce ergueu o indicador até o céu para enfatizar. – Ai, ai. Essa Yeri.

- Ela viu que tu viu? – Seulgi perguntou e Wendy desistiu de não prestar atenção. Já que Seulgi tinha acreditado na história, talvez fanficar um pouquinho não fosse tão ruim assim.

- Não, mas eu não sou besta, né? – Joyce deu um sorrisinho que encheu o rabo das outras duas de medo. – Só esperei a troca de saliva das duas acabar e passei do ladinho dela sorrindo bem plena, indo na direção do banheiro. A bicha ficou mais pálida que o Michael Jackson! – Joy cobriu a boca ao gargalhar, jogando o corpo para todos os lados ao se lembrar da cena. – Fiquem de olho nela no intervalo, cês vão ver a definição de alguém que está com o cu na mão. Sorte dela que eu sou boazinha.

...

O clima entre as Kim e a Bae era um tanto quanto confuso, ali na hora do lanchinho da metade da manhã. Na verdade, era mais estranho para a Jennie e Irene, que o observavam Yeri comer seu mistinho em constante estado de alerta, num silêncio de monastério que a Bae já tinha visto no dia anterior, quando foram ao tradicional culto de domingo. Yeri ficou em silêncio antes, durante e depois da pregação, mesmo quando Irene ou sua mãe tentavam puxar assunto, o que era assustador. Ali mesmo, no refeitório, estava há quase vinte minutos sem falar. Irene olhou para Jennie, que olhou de volta para ela, como se concordasse que havia caroço naquele angu.

- Hm... Yeri? – Irene tomou a iniciativa de chamar a atenção da mais nova, que engoliu em seco olhando em uma direção fixa, antes de seus olhos assustados recaírem sobre os da Bae.

- Oi?

- Que tá pegando? – Irene franziu a testa e olhou para trás, tentando adivinhar para onde a Kim olhava. Não havia nada demais acontecendo ali, e a única coisa que chamou sua atenção foi Joyce acenando e sorrindo para ela, como sempre... espera. – Ela fez algo pra ti? Me diz que não, porque se foi eu encho a cara da vaga –

- Oi? Quê? Não! – Yeri rapidamente negou com a cabeça rapidamente e colocou sua mão por cima da Bae, antes que a amiga iniciasse algum barraco ou enchesse alguém de porrada. De qualquer forma sobraria para ela. – Eu estou preocupada com a prova de física, é só isso! Na última eu saí com nota vermelha e se eu não recuperar minha mãe me dá uma coça, você sabe.

Irene ergueu uma das sobrancelhas para a tentativa de Yeri em fazer aquilo parecer casual. Yeri nunca ficava nervosa com provas, levando castigos ou não, mas, por ora, a Bae decidiu deixar passar. Ficaria de olho, mesmo assim.

- Se você diz... Mas olha, se alguém mexer contigo, não deixa passar, não, me avisa. Ainda mais aquela folgada da Dig-Dig-Joy. – Irene zombou fazendo referência ao apelido ridículo da grandona. A Bae acabou rindo ao ouvir a risada de Jennie, mas não houve reação de quem mais queria. Yeri ficou a entreolhar as duas, desentendida.

- Era para eu rir também?

- Não pegou a referência? – Jennie perguntou e a outra Kim negou com a cabeça. – Sandy e Júnior, Yeri!

- Desculpa, mas eu nasci nesse século. – Yeri argumentou, como se as outras duas também não o tivessem. Irene não se importou em defender sua idade, dessa vez, porque ver Yeri agir um pouquinho como ela mesma a tranquilizou um tanto.

Irene também não teria muito tempo de resmungar a favor de si própria, pois poucos segundos depois o sinal que indicava o fim do intervalo soou pelo pátio. Yeri teve que terminar o seu misto quente, que mais parecia infinito, com pressa, para então se despedir das duas mais velhas, seguindo em uma direção oposta.

Jennie não retomou o assunto da estranheza de Yeri, e Irene preferiu também guardar os seus questionamentos a si própria. Seguiu em silêncio até o seu lugar e se reservou junto aos seus pensamentos, seu olhar recaindo sob as três recém-chegadas, terroristas da sanidade mental alheia, que passaram pela sua frente rumo aos seus lugares, num papo tão descontraído, como que se eximir de responsabilidade fosse invejavelmente fácil.

Irene costumava ignorar. Tá, de vez em quando ela ignorava. Mas aquele era o caso de impor respeito, para relembrá-las de que não era boa ideia mexer com ela ou suas amigas. Por isso, Irene direcionou seu pior melhor olhar para cada uma delas. Wendy Son, que reproduzia mil memes por segundo em sua expressão facial em reação às besteiras que Dig-Dig-Joyce Park lhe contava, tudo fuleragem.

E a pior de todas, que assim o era porque se fazia de inocente e boa moça salvadora de outras moças, Seulgi Kang. Essa que nem prestava atenção nas duas amigas logo atrás. Estava virada para frente, com um cabo de pirulito para fora da boca e um calombo estático na bochecha direita – como se elas já não fossem grandes o suficiente, agora de fato Seulgi parecia mais um esquilo.

Mas não foi por causa de calombo, esquilo ou pirulito que Irene engoliu em seco, isso porque Seulgi nem mexia o maxilar, nem a bochecha. Céus, nem ao menos piscava. Tinha uma expressão séria no rosto e, o pior de tudo, para Irene, estava com os olhos voltados para ela, numa cara de pau e falta de vergonha que nem Irene erguer uma sobrancelha foi suficiente para Seulgi disfarçar, e aquilo fez Irene prender a respiração, sentindo que outra vez entrava em estado de pânico.

Esperava tudo e qualquer coisa de Seulgi, honestamente, tinha zero expectativas. Mas secá-la daquele jeito no meio de uma sala de aula lotada? Irene nem queria saber que tipo de pensamento nefasto se passava por aquela cabeça! Sentia até um calor subir por suas bochechas ao imaginar o que aquele olhar penetrante significava, muito certamente alguma fantasia promíscua que a envolvia, só podia ser... Tipo assim... Irene tinha consciência de que era linda, mas isso não queria dizer que qualquer uma pudesse ficar pensando em dar uns pegas nela nos matinhos atrás da escola porque bem entendia...

A imagem em si era aterrorizante o suficiente para Irene sentir o calor descer de suas bochechas para os seus braços e, antes que seguisse caminho pelo resto de seu corpo, Irene negou com a cabeça tão rápido que se sentiu tonta. Cobriu o rosto com as mãos e deu leves tapinhas na própria cara até que a cena se dissipasse por completo e desaparecesse de seus olhos. Seu coração também já poderia se acalmar, para ajudá-la. Fora só um pesadelo que tivera acordada, não havia nada para temer. Mesmo que ainda estivesse de olho nela, Seulgi estava longe o suficiente para deixar de configurar qualquer ameaça.

Quem de fato a encarava, entretanto, era Jennie Kim, numa expressão que misturava a preocupação que exibira por Yeri, mas que ainda questionava a sanidade mental da sempre aparentemente tão plena Irene. Olhou discretamente para trás, e constatou que Seulgi continuava com o olhar desfocado em uma direção qualquer. Faltava só babar.

Era possível que Jennie fora a única que resolveu se comportar normalmente naquele dia?

...

- Dá um tapão na nuca dela para mim, por favor. – Wendy estava irritada de falhar em chamar a atenção da Kang para a conversa. Era sempre isso. – Nunca vi brisar que nem essa. Tem que fumar escondido, só pode. Vou fuçar a mochila dela qualquer dia, porque, olha...

- Menina, se ela fumasse, ia ser a própria tartaruga do Nemo. Nunca nem ofereça que eu não tenho paciência para esse nível de nóia. – O que Joyce obedeceu de fato foi trazer Seulgi de volta à vida com um pescotapa. Sempre funcionava, e isso Joyce constatou quando Seulgi virou a cabeça em direção a elas. – Deixa para viajar na maionese quando a professora chegar, vamos bater papo. Que tu pensa tanto?

- Nada. Não tem nada para pensar. – Seulgi respondeu honestamente, dando uma olhada no pirulito azul após tirá-lo da boca. Ainda faltava um pouco, mas já podia enxergar o chiclete ali dentro.

- Cê ainda tem bala? – Wendy perguntou e Seulgi assentiu ao oferecer o saquinho de papel pardo que comprara na cantina para as duas de trás, que enfiaram a mão ali atrás de doces, sem muita cerimônia. – Não sei como você não engorda, só come besteira.

- Eu faço exercício. – Seulgi deu de ombros, devolvendo o seu pacotinho de balas para a mochila. Wendy entendeu aquilo como uma indireta para sua falta de vontade de viver, inclusive.

- Tu devia começar a fazer academia comigo, sabia? – Joyce comentou para a Kang. Não era a primeira vez que chamava as amigas para puxar ferro com ela, e nem seria a última. - Para encorpar e ficar gostosa. Se tu ficar só correndo todo dia vai chegar uma hora que eu não vou mais conseguir perceber se tu tá de frente ou se tá de lado.

- Obrigada pela parte que me toca. – Seulgi agradeceu sarcasticamente e Joyce sorriu amarelo. – Aliás, sei que vocês não falaram nada, mas... – E então a Kang levantou o pé direito e o colocou sobre a mesa da Park, que não pôde reclamar da amiga colocando aquele All Star fedido e surrado em sua mesa, porque Seulgi não estava de All Star. – Ta-ram!

- Tá dando pra quem? – Wendy enfim resolveu indagar o que tinha deixado quieto no sábado, ao notar o tênis de treino novinho em folha nos pés da amiga, que estava mais próximo do seu rosto do que ela gostaria. Pelo menos ainda tinha cheiro de sapato novo.

- Eu não disse que meu irmão começou a trabalhar numa loja do shopping? – Seulgi perguntou e viu as outras assentirem. – Ele pediu para eu ir escolher um e me deu de presente.

- Foi metade do salário do coitado, tadinho... – Joyce lamentou ao dar um tapa na canela da Kang, para que tirasse a pata da sua mesa.

- Que nada, todo mundo sabe como essa daí é mimada por geral. – Wendy disse, de nariz torcido. Seulgi ter uns trocados para comprar todo dia coisa na cantina era coisa de gente mimada. Seulgi nem tentou se defender, apenas riu sem um pinguinho de culpa.

- Pois é. E eu achando que tu tinha potencial para ser sugar daddy, mó baby girl da porra. – Joyce concordou com a Son, por algum motivo, a Park parecia decepcionada com a Kang, que só fazia cara de nojo para ela.

- Mó errado esse lance de daddy aí, credo. – Sem paciência para com o pirulito, Seulgi disse aquilo de forma embolada enquanto tentava quebra-lo ou o dente. – Mas nada contra uma sugar mommy.

- Qual a diferença? – Wendy questionou com uma sobrancelha erguida e Seulgi deu de ombros.

- Toda. – Se aquilo fazia diferença na cabeça da Kang, Wendy e muito menos Joyce iriam rebater.

- Explicado porque tu só se mete nuns rolo onde não é chamada. – Joyce comentou e Seulgi não deu a mínima. A careta de Wendy se contorcia ao ouvir a amiga mastigando aquele treco duro. – Oh, sabe quem tem cabeça e nome de senhora de meia idade e fica te secando?

- Nem começa. – Seulgi resmungou, para a felicidade e riso de Joyce. Só por curiosidade, Seulgi deu uma olhadinha para a frente da sala de aula. A crente bipolar batia papo com a amiga do lado de trás e, antes que atraísse a atenção da Bae para si, Seulgi desviou o olhar. Estava enigmaticamente quietinha, naquele dia.

- Oh, eu estava pensando aqui. – Wendy chamou a atenção das duas, que instantaneamente voltaram seus olhos para ela. Wendy pensando nunca significava boa coisa. – Se esse pirulito pinta a língua depois que você chupa... O que aconteceria caso depois você –

- Nem começa digo eu, agora. Por favor, eu não acordo cedo e venho para esse lugar para ouvir falar de pepeca azul. – Joyce ergueu a mão antes que Wendy terminasse a pergunta que a própria Park completou. De alguma forma, tudo soava pior quando saía da boca da Son. Enquanto Wendy ficou a encarar Joyce indignada, porém, Seulgi franzia a testa como se buscasse uma resposta plausível para a pergunta. – Cansei de vocês por hoje, viu? Vamos voltar a fingir que a gente vem para a escola estudar.

...

- Até amanhã, Irene!

- Até! – Irene acenou ao que Jennie passava pelo portão de saída da escola. A Bae ficou ali, observando os alunos se mandarem em direção às suas casas enquanto esperava Yeri Kim para acompanha-la – o que acontecia sempre, exceto quando chovia, aparentemente. Não demorou muito para a Kim aparecer, com sua mochilinha de unicórnio nas costas, sorrindo para ela. É, estava parecendo um pouco mais com a Yeri de sempre.

- Bora? – Yeri perguntou ao se aproximar e Irene assentiu ao segui-la, enfim deixando os muros do seu purgatório para trás. A Bae deu uma espiada na garota ao seu lado, que observava curiosa o movimento da rua. Parecia tranquila, mas Irene não conseguiu conter a curiosidade, como sempre. Devia começar a trabalhar melhor no seu autocontrole.

- Yeri, promete que responde sério dessa vez? Estamos aqui só nós duas. – Irene perguntou e Yeri assentiu, ainda que parecendo confusa. – Tem certeza que ela não fez nada para ti? Eu prometo que não faço barraco se você não quiser, só não precisa esconder nada de mim.

- Eu sei! E é verdade, ela não fez nada! São só as provas! – Yeri riu para Irene, dando uma leve cotovelada em seu braço quando pararam para olhar para os lados, antes de atravessar a rua.

A longa caminhada que faziam para chegar em casa...

- Certeza? – Irene ergueu uma das sobrancelhas para a Kim, mais preocupada em encontrar a chave do portão em sua mochila, mas ainda questionando se o riso de Yeri soara forçado ou era sua cabeça querendo confirmar que havia com a outra algo de errado.

- Certeza. Juro de pé junto. – Yeri ergueu o dedinho para enfatizar. Irene respirou um pouquinho mais tranquila ao abrir o portão e dar passagem para a amiga entrar também. Decidiu dar sua confiança para Yeri. - Eu entendo você ficar desconfiada porque a Joyce não é exemplo de nada e tal, mas, eu estava pensando... Será que a gente devia ficar implicando tanto assim com elas, mesmo?

- Quê? – Irene mal fechara o portão e foi tomada de surpresa com aquele questionamento tão aleatório que ela precisou encarar Yeri por no mínimo cinco segundos, para ter certeza de que realmente falava sério.

- Quero dizer, a gente se estressa sozinha e elas nem ligam... – A Kim rapidamente acrescentou, com medo de ter soado séria demais com aquela sugestão. Deu de ombros, como que se desse pouca importância para o que estava prestes a falar. – Quantas vezes você já tentou conversar com elas realmente? Não brigar, conversar. Pode ser que não sejam tão ruins assim.

- Você tem razão quanto a primeira parte, mas... – Recuperada de sua surpresa, Irene caminhou até a segunda porta, suspirando fundo ao destrancá-la também. – O que eu ganharia trocando papo furado com elas? Prefiro evitar, obrigada.

- Sei lá, vai que, né? – Yeri deu de ombros e, no minuto que pôs os pés para o lado de dentro, deu de cara com Irene erguendo a sobrancelha para ela, de novo.

- Que bicho te mordeu? – Irene indagou e Yeri deu de ombros, seguindo caminho escadaria acima e obrigando Irene a segui-la.

- O da bondade, talvez. – Yeri parou assim que chegaram ao primeiro andar. Havia duas portas. A dos Kim à esquerda, a das Bae à direita. Yeri ofereceu para a mais velha um de seus típicos sorrisos ao destrancar a porta do seu apartamento. – Até mais, Irene.

- Até mais... – Mesmo que ainda em dúvida quanto aquele tal surto de bondade da Kim, Irene deixou aquela passar e destrancou a porta do próprio apartamento, entrando antes que o vira-lata dos vizinhos fugisse e viesse cheirar suas pernas.

- Mãe, cheguei!

Irene avisou em voz alta, já que não encontrou a mãe pela sala. Provavelmente estava terminando o almoço ou no banho, se arrumando para sair para o trabalho. De qualquer forma, Irene retirou os sapatos e seguiu para dentro, coçando a cabeça e perdida em pensamentos. Talvez devesse seguir os conselhos de Yeri pela próxima semana e ver no que aquilo podia dar? Tinha certeza que as implicações continuariam, do outro lado, mas não custava nada tentar, não?

Testaria aquilo primeiro, perguntaria os motivos de Yeri depois.


Notas Finais


Irene surtar não vai ser novidade por aqui, mas parece que Yeri foi pega aprontando, ai, ai essa Yeri (meme do pica pau passando pano aqui). Aparentemente a bicha sentiu o cookie jar dela fechar, mas será que a Irene vai levar os seus conselhos em consideração ou Yeri vai precisar agir a respeito também? Tudo isso e muito mais no próximo capítulo -q

Como sempre, revisei, então relevem alguns errinhos TuT
E pros shippers seuldy, amanhã tem de novo.

Até o próximo capítulo e beijos no heart! *3*


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