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História Livrai-nos do mal, amém! - Se Deus é por nós, quem será contra nós? - História escrita por DanshinQueen - Spirit Fanfics e Histórias
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História Livrai-nos do mal, amém! - Se Deus é por nós, quem será contra nós?


Escrita por: DanshinQueen

Notas do Autor


Um capítulo em que moza1 disse em que as melhores partes são todas as partes, só tenho isso a dizer.

Boa leitura e até as notas finais! o/

Capítulo 12 - Se Deus é por nós, quem será contra nós?


- Sabe, vocês deviam fazer isso mais vezes. Só vão da escola para casa, da casa para o culto... Faz bem tomar um pouco de Vitamina D, respirar a maresia...

Aquela fala good vibes de Jennie Kim combinava perfeitamente com o cenário que compartilhava com as duas amigas, sentadas em um banquinho de madeira do jardim da orla da praia, com vista direta para o mar. O sol se punha às montanhas, na direção oposta, atrás daquele mar de prédios, a brisa fresca que soprava do oceano, o areão escuro, quase vazio de pessoas, as ondas quebrando no horizonte, um ruído bastante agradável... Não tinha outra sensação a não ser a de paz. Ainda mais podendo aproveitar de um picolé geladinho, no calor que ainda fazia em pleno fim de abril.

- Só tô sentindo cheiro do canal ali do lado, na real. – Irene deu de ombros, tirando o seu sorvete de morango da boca para tal.

- Caralho, mas tu consegue acabar com o clima de tudo também, viu? – Yeri reclamou, fazendo o mesmo com o picolezinho de uva dela.

- Já disse para não ficar falando palavrão porque, além de ser feio, vira vício de linguagem. – A Bae rebateu para a Kim mais nova e Jennie, que se sentava na ponta oposta, riu da interação rotineira entre as duas.

- Gente, relaxa... Imagina que tem umas gaivotas cantando ou sei lá, não um monte de pombo procurando resto de pastel na areia... – Jennie propôs o seu exercício de meditação e paz ao fechar os olhos. Foi a única, porém. Yeri estava mais ocupada dando uma mordida grande em seu sorvete, para verificar se tivera a sorte de conseguir um palito premiado, enquanto Irene torcia o nariz para a quantidade nada ideal de pombos a voar sobre as cabeças das pessoas. Pelo menos o céu estava bonito.

É, dava para entender aquele momento paz e amor da Kim e apreciar o som das ondas um tempinho, se não fosse por...

- KANG SEULGAY!

Se não fosse por gente sem noção gritando sabe-se lá o que lá na areia. E se, de repente, o “sabe-se lá” o quê não tivesse começado a fazer sentido aos ouvidos da Bae, que olhou em direção aos dois serem humanos que estavam a uns metros à frente e forçou os olhos ao tentar identificá-los. Havia a que estava sentada em baixo do guarda sol, sobre os chinelos, trajando camiseta e shorts pretos - tipo, quem vai todo de preto para a praia? -, com os cabelinhos curtos revirados pelo vento. Outra em pé, logo ao lado, shorts jeans, a parte de cima de um biquíni e um coque. Ambas de costas, mas a que estava em pé acenava com os braços e gritava em direção à água.

- VAMO EMBORA, OH, PINTO MOLHADO!

Só podia ser brincadeira...

Mas não era. Era Seulgi mesmo quem saía do mar e vinha correndo em direção às amigas, com um camisetão branco molhado, como se não pudesse ter esperado tirá-lo para poder entrar no mar; encharcada como se tivesse acabado de levar o maior caldo, dum jeito que muito provavelmente até os cabelos pingavam.

Irene esperava que a classe inteira não tivesse decidido ir à praia no sábado, ou seria o fim do retiro espiritual de Jennie Kim.

- Oxe, aquelas ali não são as amigas novas da Irene? – E não demorou para a própria Jennie perceber, pelo barulho, e logo apontar na direção do trio que então desmontava o guarda-sol. Bem, Joyce pegou as roupas que estavam penduradas nas arestas e Seulgi o tirou da areia. Wendy só continuou sentada, mesmo.

Irene preferiu permanecer calada após aquele comentário.

- São, mesmo. – Yeri arregalou ligeiramente os olhos após encontrá-las, ao olhar na direção em que a outra Kim apontava. Logo a caçula franziu a testa, porém. – É impressão minha ou a Seulgi tá ameaçando a Joyce com o guarda-sol como se fosse o cajado do Avatar?

E por mais que Irene não quisesse ter visto, para não passar vergonha alheia, não conseguiu evitar olhar outra vez na direção do grupinho. De fato, Seulgi rodopiava o guarda-sol fechado com as mãos, cheia das poses, enquanto Joyce torcia algo que deveria ser a própria camisa, a fim de usá-la como chicote, muito provavelmente. Parecia que ambas compartilhavam o mesmo neurônio? Parecia. Mas Irene admitia que era engraçadinho.

E se Seulgi apenas ameaçava Joyce, mudando a postura de dobradora para a de uma atleta de esgrima, a Park foi além e deu uma camisada – ou chicoteada – nas coxas da Kang no momento em que a mais baixa abriu a guarda. Fosse efeito dramático o fato de Seulgi ter se jogado no chão ou não, devia ter sido um tanto quanto ardido, sim, considerando o histórico de Joyce. Wendy se levantou logo em seguida, muito provavelmente cansada do showzinho das duas e arrancou o guarda-sol das mãos de Seulgi, a cutucando com o pé para que a amiga parasse de drama e se levantasse de uma vez.

Mas não foi a encheção de saco da Son que fez a Kang se levantar. Isso só aconteceu depois     que Joyce vestiu a própria camisa e sacudiu uns shorts tão alto quanto pôde, ficando na ponta dos pés. Não era preciso que ninguém fosse o gênio da olimpíada de matemática para fechar as contas. Se Joyce e Wendy estavam plenamente vestidas, a peça de roupa que a Park balançava só podia ser de Seulgi.

Hipótese essa que se confirmou no momento em que Seulgi se levantou e saiu correndo atrás da Park, que vinha na frente, em direção aos chuveirinhos, mais próximos aos jardins onde o outro trio estava. E, tipo, assim... Em nenhum momento Irene tinha contado com o fato de que teria que lidar com a figura de uma Seulgi vestida pela metade e cheia de areia grudada no corpo em seu campo de visão. Nem devia estar tão ciente desse fato, para começo de conversa, mas era difícil, com Joyce sacudindo os shorts da Kang no ar enquanto corria à sua frente. E, assim, certeza absoluta que Seulgi estava de biquínis – assim como a maioria das mulheres ali na praia – por baixo da camisa, então...

Sei lá, só não fazia sentido para Irene não conseguir encarar a cena por mais de cinco segundos sem entrar em pânico por achar que estava olhando demais e para onde não devia.

Então era melhor fingir que nem vira, para começo de conversa.

- Queria ter autoconfiança de fazer essas coisas em público. – Yeri comentou antes de dar mais uma mordida em seu sorvetinho.

- De fato. De energia eu tô só a Wendy. Ó lá, as outras já tão se lavando e ela ainda vem se arrastando na metade do caminho. – Jennie disse também e Irene confirmou o cansaço aparente da Son. Parecia mais que estava atravessando o deserto do Saara, pela dificuldade com que caminhava. Quanto às outras... Bem, preferiu não conferir se já estavam de fato se lavando.

- Vou chamar elas para cá. – Yeri disse, já preparando a mão livre ao lado da boca para ampliar sua voz.

- Pra quê?! – Irene enfim abriu a boca, depois de algum tempo, arregalando tanto os olhos que eles quase saltaram para fora.

- OH, SEULGI! – E de nada adiantou, pois enquanto a caçula gritou, a outra Kim começou a abanar uma das mãos para atrair a atenção das garotas. Irene se protegeu como pôde daquela barulheira, encostando o ouvido ao ombro e torcendo a cara como se o grito de Yeri tivesse reverberado em seu cérebro. – CHEGUEM MAIS, AS TRÊS!

Irene enfim arriscou olhar na direção dos chuveiros públicos. Seulgi e Joyce pareciam igualmente espantadas ao olharem em sua direção. Felizmente, Seulgi já ajeitava os shorts no lugar enquanto tirava a blusa encharcada de dentro deles. E realmente vieram em direção a elas, depois de Wendy ter as alcançado e lavado os pés cheios de areia em um dos chuveiros.

- Ué, o que vocês tão fazendo aqui? – Joyce, que vinha liderando o grupo, foi a primeira a se expressar.

- Oxe, a praia é só tua agora? – Wendy, que vinha logo atrás, ao lado de Seulgi, indagou logo em seguida.

- Normal, essas duas mal saem de casa. Eu teria perguntado a mesma coisa. – Jennie concordou com um sorriso. Yeri, que ria da pergunta da Son até então, parou para olhar feio para a outra Kim. Jennie não deu a mínima. – Só toparam porque eu disse que pagava o sorvete.

- Óbvio. – Seulgi ouviu Irene responder com a honestidade brutal de sempre, seguida de risadinha das outras. Não soube dizer se foi porque foi a única a não rir ou se era porque observava a garota, mas a Bae a encarou de volta ao dar uma mordida em seu picolé cor de rosa. Seulgi não teve certeza se o que deu foi um sorriso, mas foi o que tentou fazer antes de olhar para trás, como se tivesse perdido algo na areia.

- Pois se sentem, cabe mais uma ainda aqui. – Yeri tomou a inciativa de fazer o convite, apontando para o espaço vago à esquerda de Irene, que parou de chupar o pedaço de gelo em sua boca na mesma hora. Seulgi, que tinha voltado a olhar para frente, viu que as duas amigas se entreolhavam. Só tinha a impressão de que ela era o alvo na maioria das vezes que seus olhares se cruzavam, o que era um tanto quanto...

- Eu tô pingando, não quero deixar ninguém molhado. – Seulgi deu sua desculpa ao coçar a cabeça, como se seus cabelos já não estivessem despenteados o suficiente. Esperou que tivesse sido educada o bastante ao recusar, ainda mais depois de ouvir uma quantidade exagerada de ar sair pelo nariz de alguém.

- Eita, eu espirrei. – Yeri se desculpou ao passar o antebraço pelo nariz. Todo mundo pareceu ter olhado em uma direção diferente após a fala da caçula, porém.

- Toma. – Exceto Irene, que tirara um guardanapo do bolso para entregar para a garota à sua direita.

- Oxe, tu anda com guardanapo no bolso? – Yeri aceitou o pedaço de papel mesmo assim. Estava sentindo a própria boca toda grudenta, de qualquer forma.

- Eu pedi para o tio do sorvete, para prevenir. – Irene se explicou. A cara da Bae aquilo, aliás.

- Bem, já que vocês não querem... – A senhora do grupo, vulgo Wendy Son, deu de ombros e tomou a iniciativa para se sentar no lugar vago, então. Até gemeu como uma velha ao se abaixar, apoiando o guarda-sol ao seu lado. – A gente não vai poder ir embora tão cedo, de qualquer jeito. Se a Seulgi entrar assim no ônibus vão expulsar nós três. Eu disse que era pra trazer toalha.

- Tu tem certeza que torceu essa camisa direito? – Joyce perguntou para a amiga que assentiu. – Quem mandou entrar com ela, então?

- Eu? Tu que me jogou desse jeito na água! – Seulgi reclamou de volta, falhando em perceber tão cedo a tentativa da Park de lhe encher a paciência.

- Vocês perderam minha cena jogando a Seulgi no mar, parecia um saco de batata. – Joyce comentou ao rir, ignorando por completo o soquinho que levara no ombro. Provavelmente Seulgi usara aquela mesma força para torcer a camisa ainda úmida. Não que Seulgi tivesse coragem de bater em Joyce de verdade, porém, porque, como sempre, estava a rir de si mesma, junto com as outras. Inclusive Irene. Isso porque Seulgi pegou a Bae a encarando outra vez. Não que Seulgi tivesse procurado pela reação da Bae, foi só pressentimento. Mas logo Irene desviou o olhar para baixo e Seulgi olhou para a sua direita, como se tivesse algo a se ver de diferente naquela direção.

- Mas, oh, se a gente tivesse combinado de se ver, não tinha dado tão certo. – Jennie começou, atraindo a atenção das presentes para ela. – Ouvi a Joyce gritando e fiquei bem “não pode ser...” quando vi a Wendy e a Seulgi também.

- Ah, a gente tem que aproveitar a praia quando acaba a temporada. Fica até mais bonita sem turista, olha só. – Joyce foi quem respondeu. Sorriu, exibindo a vista da praia com os braços como se fosse Secretária de Turismo do município.

- Isso é verdade. – E, ainda que não fosse lá muito fã de ir à praia, Irene podia admitir a beleza do lugar, quando não estava cheio de gente e lixo. Percebeu também que não foi a única a concordar, porque Seulgi também assentiu ao dar uma olhadinha na vista atrás de si. Só devia estar um pouquinho incomodada pela brisa, já que parecia encolhida, com os braços cruzados. Era justificável, já que era a única molhada da cabeça aos pés. Tipo, a camiseta insistia em colar ao corpo da Kang independente de quantas vezes tentasse soltá-la, as pontas dos cabelos de fato pingavam vez ou outra, e haviam gotinhas menores ainda em seu corpo, não grandes o suficiente para que escorressem, mas que eram visíveis, principalmente contra a luz do pôr-do-sol.

A luz que estava bastante favorável para Seulgi, aliás. Assim, combinava com o tom de pele dela, um pouquinho mais vermelha que o normal, provavelmente por conta da exposição ao sol, mas...

- Explicado por que tu pega guardanapo. Olha, parece criança, se baba toda. Come isso logo antes que caia na tua roupa. - Além de ter se assustado com Yeri a esfregar um pedaço de papel na sua bochecha, enquanto a própria Bae tentava dar mais uma mordida em seu picolé, um fato importantíssimo deixou Irene ainda mais revoltada.

- Tu tá esfregando na minha cara o guardanapo que usou para limpar o nariz?! – Irene reclamou e todas ao seu redor riram. Yeri inclusive, que teve que lidar com o papel sujo que foi lançado em seu colo. – Não dá para eu comer mais rápido que isso, meu dente dói!

- Ah, eu sei como é. – Wendy concordou, num surto de empatia, massageando a bochecha só de se imaginar dando uma mordida em um negócio gelado daqueles.

- Pois é, mó nojeira te ver tomando sorvete. Só chupa, tanto que o negócio chega brilha de baba. – Joyce, como sempre, não pôde perder a oportunidade de tirar uma com a cara da Son. Geral riu, como esperado, e Wendy revirou os olhos antes de negar com a cabeça. Ato esse que a fez notar um grupinho de umas quatro garotas que se aproximava do próximo banca à sua esquerda. O pior de tudo, com uma caixa de som enorme que requeria até um carrinho para ser carregado.

- Ah, pronto. Chegaram as amigas da Joy para acabar com a nossa paz. – Wendy reclamou e cruzou os braços ao estalar a língua.

- Se começarem a tocar funk com aquele trambolho eu mesma vou lá ensinar as crianças a terem consideração pelas pessoas. – Irene foi quem reclamou logo em seguida e a Son riu. Isso porque não duvidava de nada, considerando o histórico de barraqueira da Bae. Não que Wendy fosse reclamar, daquela vez. Até aplaudiria.

- Que? Funk? Um monte de menina de treze anos, branca, com moletom da Supreme, vai tocar funk? Aposto dez conto que é... como é o nome das fãs dos famosinhos da Coreia? – Joyce cutucou Seulgi para que lhe desse a resposta.

- Army? – Seulgi respondeu e Joyce estalou o dedo antes de apontar para a Kang.

- Isso aí. – E aquele pequeno diálogo foi tempo para, aparentemente, as tais garotas sentarem e conectarem o celular ao falante, que acendeu com uns LEDs azuis bastante bregas quando a música do comercial de celular começou a tocar. Bem, funk não era, para a tristeza da Park. – Falei?! A partir de agora estão todas me devendo dez reais.

- Bicha, ninguém apostou nada contigo. – Wendy disse ao franzir a testa e olhar a Park de cima a baixo.

- Oxe, se é k-pop por que é em inglês? – Jennie questionou, assim, do nada mesmo.

- Ué, a Anitta canta em espanhol. – E aquela relação parecia ter feito muito sentido na cabeça da outra Kim.

- Só podiam deixar o volume mais baixo, dá para escutar o som delas lá na Zona Noroeste. – Irene reclamou, enfiando o dedo da mão livre no ouvido. Sim, ela ainda estava com a porra do picolé derretendo na mão direita.

- Seulgi. – Wendy atraiu atenção das outras quando disse aquilo do mesmo jeito que uma mãe o diz quando vê que sua criança está prestes a fazer merda. Seulgi, que se balançava discretamente no ritmo da música, parou o que fazia para encarar a Son. – Não. Nem pense nisso.

- É, eu tô ouvindo tu sussurrando esse bagulho, pode parar. – Joyce também advertiu e o que Seulgi fez? Esperou chegar na parte dos “na-na-nas" para fazer uma performance sem vergonha da coreografia, jogando as mãos e uma das pernas de um lado para o outro e depois explodindo pequenas bombas com uma das mãos.

É, era daquele jeito que Seulgi enchia o saco das amigas. Fazendo ambas passarem vergonha.

- Miga, pelo amor de Deus, pare já com isso antes que elas te vejam e ache que a gente é k-popper. – Joyce falou, passando para o lado oposto da Kang para encobri-la da visão de suas vizinhas de banco, ao mesmo tempo em que a guiava em direção de Wendy. – Segura ela, Wendy, que eu não quero passar esse papelão.

- Ai, miga, sinceramente, tem vez que eu não posso te defender. – Entendendo o recado, Wendy puxou Seulgi para sentar em seu colo, a contendo ali com os braços ao redor da cintura da Kang. – A senhora ouse sair daí que eu te jogo lá no meio delas e saio correndo.

- Tu vai ficar toda molhada também. – Seulgi, que estava ocupada demais rindo da própria situação finalmente se expressou, mas a Son apenas deu de ombros. Foi o que a Kang viu, ao olhar para trás. E Irene, que estava a encarar sua cintura até perceber que estava sendo observada. Foi quando Irene ergueu a cabeça e seus olhares se cruzaram que ambas desviaram o olhar para frente outra vez. Bem, Seulgi o fez primeiro, então, quanto a Bae, foi apenas uma suposição.

- Isso me deixou nostálgica... – Joyce disse, com um ar sonhador, como se fosse protagonista de novela a ter um flashback. – Lembra na sétima série, primeiro ano, quando a gente ia no Anime Summer?

- Iam onde? – Yeri perguntou, encarando Wendy, a quem Joyce havia direcionado a pergunta. Irene, por sua vez, estava começando a entender a dinâmica. Não é que Seulgi falasse de menos junto com as amigas. É que Wendy e Joyce não davam oportunidade para mais ninguém abrir a boca, na realidade.

- Anime Summer, um evento de nerd que rola aqui. – Wendy explicou da maneira mais sucinta e honesta que pôde. – O que tem o Anime Summer?

- Nada. Só lembrando do quanto eu sofria. Tu comprando um monte de camiseta preta tudo igual, com umas bandas que eu nunca ouvi falar, e indo embora cheia de sacola como se tivesse saído da C&A... – É, pela facilidade com que explicou, Joyce tinha aquelas memórias bem claras. – A Seulgi também. Tinha até fã-clube na sala de k-pop.

- Eu acho que vai chover... – Seulgi mandou do nada, olhando para o céu perfeitamente limpo.

- Não desconversa que é verdade. - Joyce reclamou, mas a Kang continuou a fingir que não era com ela. - Proto-sapatão e suas cadelinhas.

- Na real, ninguém te obrigava a ir junto... – Seulgi quis tentar se defender. Tão raro que era que até Jennie e Yeri soltaram uns “uooou", sem todo o complemento tipicamente usado por Joyce.

- Verdade. Mas o Yakisoba de lá era top e tinha uns nerds bonitinhos. Era fácil dar umas bitoquinhas sem muito esforço. O trabalho era só achar, mesmo. – A Park deu de ombros, inabalada com a tentativa de tirada. Bem, era Seulgi querendo tirar sarro de alguém, façam-lhe um favor.

- Real. Todo santo ano tinha uma hora que tu simplesmente sumia. – Wendy fez uma careta com a revelação. Bem, não é como se não esperasse, mas... – Mas realmente, o yakisoba era top.

- Real. Me deu até fome. Super toparia um pastel agora. – Joyce olhou para a sua direita. Para muito além das pré-adolescentes barulhentas, havia um quiosque ainda aberto. Só tinha um problema. – O foda é que eu só tô com o dinheiro da passagem.

- Duas... – Seulgi disse pesarosa, fazendo um biquinho ao olhar na mesma direção.

- Mentira que vocês saem de casa e não trazem nem um trocado a mais? – Wendy se indignou. Joyce deu de ombros e Seulgi riu culpada. – Eu empresto, aproveitem e tragam uma breja para mim.

- Por isso a senhora é deus. – Joyce sorriu contente e foi de mãos abertas até a Son. – Só que, Seulgi, eu só sei comer sentada.

- E? – Seulgi perguntou, sem saber o que ela tinha a ver com aquilo.

- E que eu vou precisar do colo da Wendy. – Joyce se explicou, o sorriso aumentando ainda mais após Wendy deixar vintão na palma de suas mãos.

- Ah, tá, aí eu fico em pé? – A Seulgi questionou e viu Park rir de sua cara em antecedência.

- Aí tu senta na Irene. – E foi só Joyce dar a sua resposta que, novamente, o som de uma bufada pelo nariz foi ouvido de novo.

- Eita, que eu espirrei de novo. Cruzes! – E bastou que Yeri se justificasse outra vez para que o mesmo som fosse ouvido mais duas ou três vezes, de diferentes direções.

- Nossa que atacou a rinite de todo mundo. – Wendy rapidamente se desculpou, coçando o nariz com força como forma de conter que mais um riso a escapasse. E se Seulgi preferiu seguir o lento movimento das poucas nuvens do céu a ter que se colocar no nível daquela baixaria de quinta série, Irene encarava cada uma das garotas, mais perdida só se estivesse em Alagoinha.

- É a maresia. – E após ouvir a explicação tosca de Jennie, Seulgi resolveu se levantar.

- Vamos comprar o pastel, vamos? – Seulgi deu uns tapinhas no braço de Joyce para que a acompanhasse até o maldito quiosque urgentemente, já que a situação, aparentemente, só iria ladeira à baixo.

Joyce não protestou e deixou que Seulgi a arrastasse na direção que queria, com o mesmo sorriso estúpido ainda na cara, porém. Wendy ficou a observar as duas se afastarem, negando com a cabeça. A Son que pareceu se dar conta de que havia sido largada sozinha com Irene e sua turma pela primeira vez. Assim, não era mais incomum que se cumprimentassem ou trocassem umas palavras na escola, mas, geralmente, ao menos Seulgi estava presente. Estar sozinha e bem ao lado da Bae ainda era meio...

Curiosa e cuidadosa, Wendy deu uma olhada de rabo de olho para a garota à sua direita. Irene também tinha atenção nas costas das garotas que se seguiam em direção aos jardins enquanto, enfim, terminava o maldito do picolé. Wendy tinha alguma ideia do que deveria fazer, algo que queria havia algum tempo, mas esperou que a Bae entregasse o palito melecado para que Jennie o jogasse na lixeira ali ao lado, para abrir a boca.

- Essas duas só me fazem passar vergonha... – Wendy comentou alto, como quem não queria nada. Percebeu que Irene entendeu que falava com ela, pois a Bae ergueu ligeiramente as sobrancelhas.

- Bem, vendo de fora, é engraçado. Mas acho que entendo. – Irene concordou com a cabeça, sorrindo com o canto dos lábios. – Às vezes fazem muito barulho, mas...

- Ah, a Joyce berra, mesmo. – Wendy concordou. Não é porque convivia que curtia perder parte de sua audição cada vez que a Park abria a boca, mas não era sobre Joyce que queria falar com a Bae. – A Seulgi só vai na onda, tadinha...

- É, eu percebi. Pra Park persuadir ela é só... – Irene completou a sua fala ao juntar o dedo médio com o polegar e estalar ambos. Wendy riu junto ao concordar com a cabeça outra vez. – E quando tenta enfrentar acaba sendo de um jeito tão bobinho que acaba sendo bonitinho.

- Pois é, imagino alguém xingando a mãe e ela respondendo “espero que você vá no banheiro e não tenha papel higiênico”, ou algo assim. – E Wendy seguiu a conversa, fazendo a egípcia para os comentários de Irene, já que o plano era justamente deixar a Bae falar. Ou, no caso, rir alto. – Por isso eu nunca entendi tua implicância meio doida com ela.

- É, eu tinha a impressão errada, mas... eu tô tentando me desculpar quanto a isso. – Irene falou ao cruzar os braços. Não que Wendy não soubesse, mas era bom ouvir a Bae dizer aquilo por si própria. – Foi mal também, aliás.

- Não esquenta com isso. – Wendy balançou a mão, para que Irene não desse importância. – Se vocês estão se dando melhor, então por mim tudo bem. A Seulgi me disse que tu tá sendo da hora com ela, então... – A Son deu de ombros antes de continuar. – Se ela diz que tu é gente fina, eu acredito.

- Ela disse? – Irene perguntou e Wendy reafirmou com a cabeça. Irene também balançou a cabeça positivamente, mais lentamente, como se processasse a informação. Não passou despercebido pela Son como a Bae cruzou as pernas e começou a beliscar discretamente o antebraço com uma das mãos nos segundos em que se manteve em um silencio muito provavelmente pensativo.

- É. Ela é legal, também.

Irene disse aquilo sem encará-la e ainda mais baixo do que normalmente já falava. Mas mesmo assim, Wendy deu um sorriso bastante satisfeito diante da resposta, já que não achava que conseguiria fazer a Bae dizer algo que fosse muito além daquilo. Só que Wendy não teve nem tempo de achar o novo silêncio incômodo, ou tentar entender a conversa paralela que acontecia entre Jennie e Yeri, pois logo Joyce e Seulgi entraram em seu campo de visão, cada uma mordendo o seu respectivo pastel gorduroso.

- Ué, e o meu? – Wendy perguntou assim que ambas estavam próximas o suficiente. Joyce a entregou o troco antes de se sentar em seu colo. Ótimo. Agora a Son estava sem bebida, sem vista para o mar e, se Joyce continuasse sentada ali por muito tempo, logo estaria sem circulação nas pernas também.

- O moço não acreditou que a Seulgi era maior de idade e não quis vender. – Joyce explicou e ouviu risos. Provavelmente de Yeri e da própria Kang. – Eu devia ter ido sozinha, o povo sempre acha que eu tenho mais de dezoito. Agora fodeu, se alguma de nós for, ele vai é chamar o conselho tutelar. Nunca vi ninguém obedecer lei nenhuma na praia.

- Pra tu teria que chamar mesmo, oh, sem vergonha. – Wendy repreendeu a Park com um merecido peteleco na nuca, bem no ossinho do pescoço, o que acabou machucando mais o dedo da própria Son do que qualquer outra coisa. – Me dá pelo menos uma mordida desse teu pastel aí, então. A gente vaza assim que as bonitas terminarem.

E fizeram como planejado. Jennie propôs que esperassem as bonitas acabassem de comer para que pudessem ir para o ponto de ônibus todas juntas. Seulgi só recusou em todas as vezes que ofereceram espaço para que ela sentasse por motivos de que, bem, não precisava ser lembrada a todo tempo das risadinhas de quinta série da Kim caçula. Ao menos o tempo que levaram para comer, em conjunto com a brisa forte que soprava, foi o suficiente para que ficasse um pouquinho mais sequinha e garantir que não seria expulsa do ônibus. Só se preocupou um pouco com o estado do seu cabelo e, apesar de as garotas garantirem que não estava ruim, Seulgi podia apostar que chegaria em casa parecendo um leãozinho.

Outra que expressou sua preocupação, já no ponto de ônibus, foi Jennie. Indagou se tanta adolescente entrar duma vez no busão não ia fazer todo mundo pensar se tratar de um arrastão, ou se teria lugar para todo mundo ficar junto em algum canto. Mas, de acordo com a Park, tirando a si própria, as outras cinco caberiam em “qualquer cantinho”. A maioria riu, ofendidas ou não. Tirando Wendy, que acertou sua canela numa tentativa de lhe acertar um chute no rosto. Isso também de acordo com a própria Joyce.

Porém, ninguém teve que se preocupar com espaço, já que, por algum milagre, havia mais do que lugares o suficiente para que todas se sentassem. Tipo, caberia ali dentro umas cinquenta Wendys, fácil, fácil, tirando a meia dúzia de velhos que ocupavam os assentos preferenciais. O grupo seguiu direto para os cinco assentos que estavam livres, no fundão. Exceto Seulgi. A Kang ainda achava muito divertido se sentar nas cadeiras mais altas e, vendo que estavam livres ao lado direito, apressou-se em garantir o lugar da janelinha. E se Irene pensou que conseguiria se sentar no último lugar livre do fundo do ônibus, ironicamente ao lado de sua vizinha, foi trouxa.

- Oh, tu vai deixar a Seulgi ir sozinha lá na frente mesmo? – Yeri tentou apelar para o coração que diziam que a Bae tinha, fazendo biquinho e tudo. Jennie, ao seu lado, prendeu os lábios juntos e desviou o olhar para Joyce e Wendy, fingindo fazer parte da conversa ao assentir. Irene só não notou o comportamento atípico da colega de sala porque olhou para trás assim que Yeri fez a pergunta. – Vacilona.

- Não é isso, para mim tanto faz. – Irene deu de ombros. Viu que Yeri continuou a encará-la e suspirou ao negar com a cabeça. – Por que eu tenho a impressão de que tu tá me expulsando?

- Porque eu já tô do teu lado o dia inteiro e enjoei da tua cara. – Yeri sorriu amarelo. Depois de ouvir aquela, a Bae não precisou de mais nada para se mandar para o par de bancos um pouco mais à frente. – Isso, vai lá fazer companhia.

E se Seulgi estava bem sussa, suave na nave, fuçando na galeria do seu celular, desviou a atenção para a sua direita ao que reparou que alguém havia se sentado no lugar vago. Ao mesmo tempo em que ficou agradecida por ser Irene, bem, era Irene, e imaginava bem o motivo de a Bae ter se sentado ali, no fim das contas.

- Te expulsaram para cá? – A Kang perguntou, para confirmar a sua hipótese.

- Foi. – Irene respondeu com uma risadinha breve, a qual Seulgi respondeu, mas logo desviou a atenção de volta para o aparelho em sua mão. Assim, nada de errado em interagir com Irene, era bem de boa. O problema era quando havia, com certeza absoluta, quatro pares de olhos voltados para as suas costas. Seulgi definitivamente não gostava da audiência. – Um pouquinho para não te deixar sozinha. Mas só um pouco.

- De boa. Eu estava fugindo da bagunça. – Ou da tiração de sarro. Não funcionou tão bem, aparentemente. Bem, pelo menos Seulgi não teria que lidar diretamente com aquilo. Era melhor do que ter que ficar sozinha, também. Podia aproveitar a companhia da Bae se ignorasse a existência daqueles quatro seres vivos a uns bancos atrás delas. – Já que você está aqui, me ajude a decidir qual foto postar.

- Uhum. – Irene respondeu junto a um acenar de cabeça, e a inclinou um pouco para o lado para que pudesse melhor observar a tela, enquanto Seulgi arrastava o polegar da direita para a esquerda. Eram fotos de diferentes cenários e ângulos da paisagem, uns focavam no horizonte, outras misturavam a praia com os jardins ao fundo, algumas das silhuetas dos prédios com o pôr-do-sol ao fundo... É, as típicas fotos conceituais do feed do Instagram da Kang, em sua maioria.

- Ops, essas não. – Seulgi riu sem graça e o seu dedão correu para fazer o caminho inverso, repassando as fotos que havia acabado de mostrar.

- Ué, por que não? – Irene indagou e não pediu licença. Usou o indicador para desfazer o caminho feito por Seulgi e voltar a partir das fotos em que Seulgi havia parado, uma sequência de selfies de diferentes ângulos em que a pose das mãos também variava. Aparentemente tiradas depois de Joyce já ter a atirado no mar. – Essas estão boas também.

- Que? Nah, essas eu tirei de bobeira. – Seulgi riu baixinho enquanto seu polegar tentou fazer mais uma vez o caminho contrário. Arrependeu-se no mesmo instante em que viu Irene fechar a cara para ela. Entendendo a repreensão, deixou a Bae visualizar as fotos. Seulgi por pouco não largou o celular e respondeu com um “sim, senhora”, por puro impulso, para vocês terem noção do impacto.

- Sinto muito, mas ninguém liga para fotos de paisagem no Instagram. – Irene argumentou e, realmente, foi difícil para Seulgi refutar aquilo. Deixou que a Bae navegasse pelas fotos e por alguns segundos se sentiu um tripé humano, já que sua única função era segurar o celular. Deixaria Irene escolher o que quer que fosse e não expressaria opinião, para não levar outro xingo, por precaução. – Essa aqui.

- Certeza? – Seulgi franziu a testa ao aproximar o celular ao seu rosto. – Se eu soubesse que ia acabar postando selfie eu tinha dado uma ajeitadinha no cabelo...

- Para de frescura. – Irene revirou os olhos e a empurrou de leve com o peso dos próprios ombros. – Dá até um pouco de raiva. Eu não sei como você fez para ficar bonita com o cabelo encharcado desse jeito, mas parabéns.

- Hehe. – E não foi nem “eita” a única coisa que Seulgi conseguiu responder. Assim, não era nada demais, mas podia ser, ou não podia, mas tinha como não ficar nervousan? Não, não tinha. Porque, tipo assim, do nada, meu... Até ontem Seulgi era “esquisita”. – Não acho que é pra tanto, mas valeu.

- É que eu fico muito a Samara recém-saída do poço. – Irene se explicou e, bem, daquela vez Seulgi conseguiu rir de verdade, pela comparação. A Bae, então, ficou a observar o que a Kang faria com a foto, por não ter algo melhor para fazer e, de fato, Seulgi usava o Snow para edição. Mas ao invés de ir direto para os filtros prontos ou os famosos recursos de reboco digital, passou para as ferramentas de iluminação e cores. Coisa demais para ajustar, a Bae pensou. Não tinha aquela paciência. – O que está fazendo?

- Tentando deixar a água mais azul sem me deixar com cara de zumbi. – Seulgi respondeu e Irene riu soprado. Tanto pela comparação exótica quanto pela missão impossível.

- Para deixar aquela água preta, azul, nem com um balde de tinta. – Seulgi ouviu Irene dizer e foi sua vez de rir baixinho.

- Bem, pelo menos deixar as sombras um pouquinho mais azuladas... – Seulgi argumentou e, estranhando o silêncio da Bae, olhou em sua direção. Como esperado, Irene franzia a testa para ela.

- Que fixação com azul.

- É o básico, sombra verde-azulado, luz laranja... – Seulgi se justificou, piscando algumas vezes antes de ter sua resposta.

- Mas aí vai destruir a vibe pôr-do-sol da foto. – E, de novo, Irene argumentou contra. – É você mesmo que edita as fotos que posta?

- É claro que sim! – Seulgi se defendeu, um tanto quanto ofendida. A Kang tinha certo orgulho de seu sento estético, no fim das contas.

- Não parece. – Irene respondeu e Seulgi nem teve tempo de reclamar. Isso porque, além de vir com aquele dedo intrometido no seu celular mais uma vez, desfazendo tudo o que a Kang tinha alterado até então, Irene chegou mais perto dela. Assim, bem mais perto. Tanto que Seulgi teve dificuldade até mesmo de engolir em seco. Quase engasgou com a própria baba quando a Bae apoiou o queixo em seu ombro. Tudo bem que era para poder ver a tela do celular, mas...

Seulgi sabia que se não fossem por conspirações de Joyce e companhia ela estaria levando aquilo numa boa, porque não costumava ser tão... emocionada. Mas, infelizmente, tinha dado ouvidos o suficiente para que uma situação daquelas desencadeasse uma reação em cadeia não lá muito legal. Era a mesma sempre que Seulgi se via ansiosa com algo: começava a morder o interior das bochechas, a chacoalhar a perna contra a sua vontade, o coração começava a bater mais rápido e as mãos, a suar frio.

Geralmente eram coisas que Seulgi conseguia ignorar, as que a deixavam naquele estado. Tipo provas do dia seguinte e coisas do tipo. Agora, Irene... Bem, para estarem mais próximas só se a Bae estivesse... enfim! Era impossível ignorar o calor do corpo alheio, principalmente quando este estava colado ao seu. E tinha um cheirinho de coco que provavelmente vinha dos cabelos de Irene, normalmente já em muito melhor estado do que os seus. Na verdade, era até vergonhoso, porque Irene estava toda arrumadinha e cheirosinha, e ela estava praticamente a antítese daquilo.

Outro contraste evidente é que, quando Seulgi arriscou olhar para Irene, se deu conta do quão serena a Bae se encontrava ao testar filtro a filtro em sua foto. Era bom, porque queria dizer que Irene estava completamente alheia ao seu estado de espírito e ao fato de que tentava secar a mão nos shorts. Era ruim, porque Seulgi não devia ter ficado tão em choque apenas por encará-la por mais do que cinco segundos.

Era só mulher bonita, Kang Seulgi, pelo amor de Sana.

Seulgi não era Wendy Son para estar toda emocionada daquele jeito, definitivamente não. Wendy e a trupe do fundão que muito provavelmente deviam estar se matando de rir de sua cara, naquele momento, por isso a Kang nem arriscou olhar para trás. E era provavelmente aquilo que estava a deixando tão pilhada: Seulgi não era nada boa com plateia, principalmente quando tal plateia fazia de tudo para jogar a garota à sua direita para cima dela. Assim, como se a Bae já não estivesse em cima dela o suficiente. Mas também não precisava estar mais e tal.

Enfim, os refletores da praia estavam sendo ligados à medida que escurecia. Olhe que vista bonita, a da janela do ônibus, Seulgi!

- Pronto. – Mas Seulgi foi obrigada a voltar a olhar o lado oposto ao ouvir a voz da Bae, que apontava para a foto como se fosse sua obra de arte. – Ficou bom assim.

- Você só colocou um filtro já pronto. – Seulgi brincou, como se precisasse descontrair alguém além de si própria.

- E? – Irene deu de ombros e Seulgi riu ao negar com a cabeça. Ok, a Irene “normal” estava de volta. Ainda muito perto, mas de volta.

- Nada, muito obrigada. – Seulgi respondeu, com uma pitadinha de sarcasmo que fez Irene rir soprado. A Bae que ficou em silêncio enquanto ela postou a foto do jeito que estava, adicionando apenas um emoji de sol na descrição. Nada muito criativo, mas Seulgi nunca o era, para legendas. Só que, antes de fechar o aplicativo por completo, Seulgi deslizou a tela para a esquerda, abrindo o aplicativo da câmera e erguendo a uma altura boa o suficiente para enquadrá-las.

- O que cê tá fazendo? – Irene enfim desencostou o queixo de seus ombros para lhe lançar um olhar questionador. Bem, foi o que Seulgi viu a Bae fazer pela tela do celular.

- Agradecendo publicamente a minha editora. – Seulgi respondeu, fazendo um sinal de paz para a câmera. Viu Irene revirar os olhos e rir para o que tinha dito, mas, no fim das contas, a Bae também posou para a câmera, erguendo apenas o indicador e polegar logo abaixo do queixo.

É, o resultado foi bom.  Seulgi abaixou o celular para escrever a legenda para os stories, mas, antes de começar a fazê-lo, sentiu o toque suave de Irene em seu antebraço, o que a levou a interromper imediatamente o que fazia para encarar a Bae ao seu lado. Na verdade, interrompeu o funcionamento do seu sistema operacional todo.

- Hm... salva a foto e me manda depois?

Ok, Seulgi devia começar a se controlar melhor toda vez que Irene dissesse aquele tipo de coisa ou fizesse o mínimo contato físico com ela. Não dava para ficar entrando em estado de pânico a todo momento, ou começaria a achar que havia algo de errado com ela também.

Seulgi respondeu com um simples aceno de cabeça acompanhado de um pequeno sorriso, que foi retribuído por Irene. A Bae que logo desviou o olhar para a frente. Seulgi fez o que foi pedido e, por alguns segundos, até se esqueceu do que iria escrever sobre a foto, para começo de conversa. O silêncio que se seguiu foi longo o suficiente para que se lembrasse, porém.

- Hm... Seulgi? – Irene chamou outra vez. A Kang a respondeu com um igual murmúrio, mas em tom de dúvida, enquanto digitava. Percebendo que Seulgi estava ocupada demais para encará-la, Irene prosseguiu, estalando os dedos das próprias mãos ao continuar a falar. – Quer terminar a série, semana que vem? Eu falei com Yeri e ela topou. A gente começa mais cedo e vê tudo duma vez. Se você puder, se não a gente marca outro dia.

- Eu tô livre. – Seulgi enfim a encarou para responder, enquanto balançava a cabeça positivamente. Irene também sorriu e assentiu lentamente.

- Ok, então. – A Bae respondeu quando Seulgi voltou sua atenção para o celular, para enfim postar os stories. Irene também voltou a olhar para frente ao entrelaçar os dedos de suas mãos, apertando-os uns contra os outros, com um sorriso evidentemente satisfeito no rosto surgindo ao mesmo tempo em que um suspiro aliviado lhe escapou dos lábios.

Só tinha que falar com Yeri, mas na Kim Irene daria um jeito.

...

Yeri Kim sabia que seriam tombadas. Foi contra a sua vontade, mas as redes sociais haviam lhe dado spoilers suficientes para que soubesse que um surto real aconteceria naquela tarde de sábado. Empanturravam-se de salgadinhos daquela vez e, pela paz de espírito das outras duas – assim, continuavam com as conversinhas paralelas no meio dos episódios, mas quanto aquilo, nada Yeri poderia fazer – nenhuma tinha consciência do que estava para acontecer. Provavelmente Seulgi nem teria sugerido que começassem a assistir aquilo juntas. Diferentemente de Yeri, a Kang não era tão maléfica.

Por isso, Yeri estava preparada para contenção de desastres, se Irene começasse a xingar os roteiristas, Seulgi ou a própria Kim. Yeri já tinha montado todo o script de falsa inocência em sua cabeça para acalmar a Bae. Na verdade, toda a tensão de Yeri para o tal momento estava sendo muito divertida. Isso porque lembrava de como, há uns sábados, gostou de cutucar ambas as amigas dizendo coisas como “a protagonista e a mina que ela não gosta parecem vocês duas quando não se suportavam”. Acabava apanhando de Irene, Seulgi, invariavelmente, apenas ria. Mas, ah, cada pescotapa que a Kim levara valeria a pena... Deviam ter comprado pipoca em vez de salgadinho, na verdade, porque a reviravolta que aconteceria ali, bem na sala, seria muito mais interessante do que a da própria série.

Yeri só não achou que o tombo viria tão cedo, tipo, no final do primeiro episódio que viram no dia. E foi impagável. Meio torturante para Yeri também porque, poxa, a bichinha teve que se segurar tão forte para não rir que achou que fosse falhar em sua missão. Mas o que ela poderia fazer, se pimenta no rabo dos outros era bastante refrescante.

Yeri só teve tempo de espiar o que acontecia à sua direita por alguns segundos. Se Irene estava paralisada, com uma batatinha ainda entre os lábios, antes de morder, sem nem parecer que a bichinha respirava, Seulgi estava olhando para dentro do pacote de salgadinho, como se procurasse algo ou verificasse se sua cabeça caberia ali.

Só que, assim, como também era esperado, acabou sobrando para Yeri também, que teve que lidar com uma mão suja de Irene aos poucos se esgueirando para os seus olhos. Yeri nem ia reclamar de perder a cena – a do sofá; a da série, whatever – isso porque estava fazendo contagem regressiva para o primeiro surto do dia de Irene. Só não veio exatamente como ela esperava, já que, assim que o episódio acabou, Irene começou a xingar a Netflix. Sim, a Netflix. Não ela, nem Seulgi. Isso porque o serviço de streaming tinha que rever seu sistema de classificação etária, porque Yeri não tinha idade nem para saber que esse tipo de coisa existe e blá, blá, blá, tudo aquilo enquanto Yeri ainda tinha que lidar com uma mão cheia de sal e gordura em seu tão lindo rosto.

E se Yeri achou que não iria passar uma dose de vergonha, foi trouxa, porque se Irene estava tão empenhada em defender sua tão imaculada inocência das garras de uma corporação do Vale do Silício norte-americano, Seulgi começou a rir dos argumentos da Bae, assim, na cara dura. O que deixou a Bae puta. O único lado bom foi Irene ter enfim tirado a mão de seu rosto, pois tudo o que Yeri jamais pensara ouvir na vida era Irene e Seulgi brigando por causa de siririca. Não sabia se era pior ouvir Seulgi rindo e alegando que a caçula estava na “flor da idade” enquanto levava almofadadas, ou se era Irene em modo de fúria ao defende-la de Seulgi - e da Netflix - como se Yeri tivesse cinco aninhos.

Yeri jurou a si mesma que era a última vez na vida que assistia algo junto com aquelas duas.

Como sempre, coube a Yeri confiscar almofadas e quaisquer objetos cortantes ou asfixiantes, acabando com o UFC antes que alguém fosse nocauteada. Muito provavelmente Seulgi. E, sinceramente? Yeri estava cansada de ter que resolver tretas da terceira idade – fosse Irene e Jennie, Irene e Seulgi, ou Irene e algum irmão da igreja – e depois não ser levada a sério. Qual é, ela era a prova viva de que idade não reflete maturidade, as suas evidências já eram quase científicas.

Não foi muito difícil acabar com a picuinha entre as duas. E, se a confusão teve um lado positivo, foi que o silêncio enfim reinou quando prosseguiram para o episódio seguinte. E, bem, se o climão já não estava bom, só ficava melhor. Compensava qualquer vergonha alheia que Yeri pudesse passar aquela tarde, porque isso tinha quase certeza que passaria. Era maravilhoso, e Irene e Seulgi ainda ficavam caladas, sem soltar um pio! Quem diria que o homossexualismo seria a sua salvação! Não sabia se eram melhores os pânicos da protagonista da série, os de Irene, que não parecia encontrar posição confortável no sofá, ou Seulgi, que do nada começava a ler os ingredientes do pacote e soltava uns fatos aleatórios, tipo “oh, cês sabem quanto de sódio tem num pacote desses?”.

Yeri teria que passar a madrugada inteira rindo para compensar o seu esforço em ficar calada perto daquelas duas, para não levantar suspeitas. Sério, metade do tempo ela teve que ou ficar com a mão sobre a boca, ou mastigando, para que não fosse pega. Dava nervoso só de imaginar o nervoso alheio.

Para vocês terem noção do estado de choque, Irene não soltou um pio nem quando a discussão na série se tornou um tanto quanto... bíblica. E Yeri sabia o quanto Irene virava palestrinha sempre que alguém tentava mudar as interpretações que ela própria havia dado para as passagens. Botando viadagem no meio então? Irene virava no Jiraya! O silêncio, porém, foi tão grande que dava até para ouvir a mastigação das duas ao seu lado se tornar mais lenta à medida que o diálogo prosseguia.

E se Yeri achou que teria que aguardar mais uns cinquenta minutos para que no próximo episódio as coisas ficassem melhores, foi novamente enganada. Foi aos cinquenta e cinco do segundo tempo? Foi. Para ela, passou num piscar de olhos? Passou. Mas teve impacto? Teve. Tanto que o episódio acabou, o próximo começou e Yeri não viu nada.

Isso porque não tinha roteiro de Netflix que superasse a cena à sua direita. Irene resolveu seu problema da coluna, de se inclinar cada vez mais à direita, num instante, arrumando a postura no sofá e aumentando a distância entre ela e a Kang discretamente, como quem não quer nada, antes de enfiar a cara num copo de coca e beber tanto tão rápido que quase se afogou com o refrigerante, isso porque a Bae literalmente se engasgou e fez de tudo para disfarçar a própria tosse. Já Seulgi, bem, se não tinha notado, se fazia de besta, olhando para o teto ao se empanturrar de salgadinho, invariavelmente deixando uma ou outra batatinha cair em sua blusa antes mesmo de chegar a boca.

Yeri não sabia dizer se estavam mais quentes as orelhas de Irene, as bochechas de Seulgi, ou sua cara. Prender riso faz mal à saúde? Yeri esperava que não. Só sabia que era uma situação boa demais para presenciar sozinha. Por isso, pegou o seu celular, daquela vez com o melhor dos espíritos para compartilhas as notícias com o grupo.

“Yeri: Atenção, cambada, plot twist gay aqui, me salvem antes que eu dê um berro”

“Jennie: Ih, que rolou, as duas tão se pegando bem na frente da sua salada?”

“Joyce: TIRE ESTA PECADORA DE CIMA DE MINHA AMIGA JÁ!!!”

“Joyce: WENDY ACORDA MDS ESSA MULHER SÓ DORME!”

 “Yeri: foi na série, crlh, cê acha que eu deixo acontecer um bagulho desse na minha frente?”

“Jennie: acho”

“Joyce: acho, ninguém te respeita”

“Wendy: Puts.”

“Yeri: deixa eu contar o que rolou.”

“Yeri: começou a rolar um beijão sáfico na série, né”

“Joyce: Aí a tua amiga santa começou a passar a mão na minha, eu já vi isso acontecer”

“Wendy: ai que  exagerada.”

“Joyce: EU EXAGERADA???”

“Jennie: kkkkkkkkkkkkk”

“Yeri: Posso terminar de explicar?”

“Joyce: Pois é amigos agora que a Wendy tá virando amiguinha da Bae só sobra eu de lúcida nesse grupo”

“Wendy: Eu n to virando amiguinha da homofobica, deus me livre”

“Joyce: Viu? Já ta falando até em nome de deus.”

“Jennie: Amém”

“Yeri: Mas meu caralho, sempre eu tentando contar o negócio importante e vocês se ocupando com coisa inútil”

“Wendy: é modo de expressão”

“Jennie: Vou contar pra Irene que tu fala palavrão no zap”

“Joyce: Eu quero só ver o modo de expressão quando AS DUAS SE PEGAREM E VC NÃO ESTIVER LÁ COMIGO PARA PROTEGER A NOSSA NENÊ”

“Jennie: cês ficam com esse papo de Seulgi nenê e pá, mas ela bem que tá lá”

“Joyce: A GENTE VAI SER OBRIGADA A BRIGAR, JENNIE”

“Wendy: Liga pra ela não, Jennie. Até pq eu duvido que isso aconteça.”

“Joyce: Tu vai mesmo disfarçar as evidências depois de tudo o que a gente passou?”

“Wendy: Não tô negando nada.”

“Joyce: Pois se explique.”

 “Wendy: A Seulgi é bundona, a Irene tá em Nárnia e não sabe, vão ficar nesse chove e não molha pra sempre e não vai acontecer nada, marquem minhas palavras”

“Joyce: Tá em Nárnia, mas é safada.”

“Jennie: De onde tu tirou essa história de que Irene é safada? Faz cem anos que ela tá em celibato, dá até dó”

“Joyce: Exatamente por isso, fogo reprimido.”

“Jennie: eu vou fingir que não li isso”

“Joyce: Marquem minhas palavras, quem vai tomar a atitude vai ser a virgem maria da Jennie, observem. Nessa história eu nunca estive errada.”

“Wendy: ata.”

“Joyce: Quer apostar?”

“Wendy: Quero”

“Joyce: pois se essas duas não se pegarem ainda esse mês eu tatuo uma estrela de henna  no cóxis.”

“Jennie: pqp kkkkkkkkkkkkkkkkk”

“Wendy: Tá. Se acontecer eu sla platino a cabeça”

“Joyce: se prepare, então, vai ficar parecendo o pintinho amarelinho nhom nhom cabe aqui na minha mão”

“Wendy: vo falar o que cabe na sua mão”

“Jennie: nuss kkkkkkkkkk”

“Yeri: eu desisto.” 


Notas Finais


Me julguem, mas dynamite >>> boy with luv. BE foi para agradar fãs jurássicas como eu.
Referências de papel higiênico, quem pegou pegou.
Cês pediram react seulrene e eu entreguei, satisfeitas?

E essa semana aconteceu algo muito legal que dona @Hyoyana fez uma fanart da Joyce nessa fic que ficou aaaaaa maravilhosa, muito obrigada, mais uma vez <3 Vão lá biscoitar pq ficou mt linda e merece todos os corações do mundo: https://twitter.com/rxndevilrxn/status/1336406481600647170?s=19
Aliás, as famosas Anas da categoria do garotas geração têm uma fic maravilhosa para quem curte snsd, gfriend e resident evil, assim como eu: https://www.spiritfanfiction.com/historia/a-devastacao-de-raccoon-19342150

Sobre o próximo, só digo uma coisa: seulrene para cacete e duas aparições bastante especiais. Uma cês já conhecem e consideram pacas, a outra, cês vão conhecer e considerar pacas também.

É aquele famoso meme: vem aí?!

Até o próximo capítulo e beijos no heart! *3*


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